O Landau Vermelho escrita por Matheus Braga


Capítulo 13
Capítulo 12




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807167/chapter/13

Adam entrou correndo no armazém para escapar da chuva. Estava retirando o casaco que usava quando foi interpelado por Fernanda.

— Boa tarde, bonitão.

Ele se virou.

— Ei, baby. Como vai? — Ele devolveu, dobrando o casaco.

— Tirando a correria, estou bem. — Ela aproximou-se de Adam enquanto caminhavam em direção ao mezanino e notou um sorriso quase infantil no rosto dele — Mas e você? Parece animado com seu carro novo.

— E estou. Viu como ele ficou lindo? — Ele sorriu ainda mais, entusiasmado, enquanto balançava a chave do Landau no ar — Eu o levei para uma restauradora na semana passada e acabei de tirá-lo de lá. Não tinha muito o que fazer nele, na verdade. Parece que acabou de sair da fábrica.

— Realmente, ficou muito bonito.

— Quem não gostou muito foi aquele seu amigo, o Bruno. — Adam emendou, num tom maroto — Ainda não peguei o jeito para manobrar aquela banheira, e quase acertei o carro dele.

— É, ele me contou. Chegou aqui cuspindo marimbondos. — Chegaram à sala dele e a encarregada escorou o corpo no batente da porta — Mas e aí, quando é que você vai me convidar para dar uma voltinha nele?

— Estou livre hoje à noite. — Ele contornou sua mesa e sentou-se, encarando-a de forma convidativa — Passe lá em casa.

— Tudo bem. — Fernanda finalizou — Passo na sua casa às oito.

— Ótimo. — Ele cruzou as mãos sobre a mesa — Mulheres com atitude são excitantes, sabia?

Ela deu de ombros, fazendo-se de esnobe.

— É, eu sei.

E virou-se, voltando para o armazém, passando pela área de carregamento e seguindo na direção de sua sala. Bruno estava lá, com cara de fuinha, mas Fernanda achou melhor não conversar com ele enquanto o humor dele não melhorasse.

Nesse sentimento, passou-se o dia. O gestor de frota não melhorou o humor e foi embora de cara amarrada, mas Fernanda nem questionou. Era melhor deixá-lo resolver seus problemas em seu próprio tempo. Foi pensando nisso que a encarregada desceu para o estacionamento para pegar seu Fiat Idea para ir embora. O Landau de Adam ainda estava lá, imponente e sóbrio, e Fernanda não resistiu em se aproximar do veículo para dar uma espiada.

Adam não havia mentido. O sedã realmente parecia ter saído da linha de montagem há poucos dias. Ainda era possível sentir o cheiro suave do vinil recém-fabricado da capota e ver de longe o brilho do verniz novo aplicado sobre a lataria. Os pneus, outrora murchos e ressecados, haviam sido substituídos por quatro Khumo com faixa branca novinhos em folha, e os detalhes cromados da carroceria brilhavam como prata reluzente. O revestimento do interior do veículo, em veludo e madeira de jacarandá, parecia ter sido cuidadosamente montado por um artesão com décadas de experiência. Fernanda não podia ver, mas apostava que por baixo do capô um motor V8 cuidadosamente retificado aguardava ansiosamente para ser ligado.

A encarregada soltou um assobio baixinho e voltou para seu carro, dirigindo de volta para casa. Tomou um café simples e seguiu para o banho, pensando no que Adam prepararia para aquela noite. Não esperava um programa muito elaborado, porque ela não esperava nem que ele levasse a sério a brincadeira dela. Saindo do banho, vestiu uma calça jeans e uma camiseta de malha e calçou um par de sapatilhas simples. Depois, pegou sua carteira, trancou a casa e saiu, dando a volta no quarteirão e descendo para a casa de Adam.

O portão estava aberto, como da última vez em que ela havia estado lá. O Landau e o Toro do gerente estavam parados lado a lado na garagem, mas o destaque do local era o sedã de cor bordô, enorme como um navio encalhado. A encarregada subiu em direção à casa e entrou, passando pela copa e seguindo para a sala de estar, onde novamente encontrou Adam treinando kung fu. O gerente ainda usava o terno cinza com que havia ido trabalhar, mas parecia não se incomodar com isso. Extremamente concentrado, ele executava sequencialmente complicados movimentos de mãos, desferindo socos em pleno ar e espalmando as mãos em direção ao nada.

Fernanda deixou-se observar o namorado. Por um instante, Adam assumiu a posição mapu, a postura do cavalo, e pareceu ter finalizado sua série. A encarregada apenas começou a formular uma pergunta quando o gerente saiu de seu torpor momentâneo e deu início a uma nova sequência de movimentos rítmicos e enérgicos, mesclando-os com as posições básicas daquela incrível arte macial: kun ma, a postura de arco e flecha, til key ma, a postura do gato, kei long ma, o passo cruzado do dragão, e terminando com a tam tei ma, a postura do cavalo empinado. Por fim, pôs a mão direita fechada contra a esquerda espalmada e baixou a cabeça.

A saudação kin lai.

— Fantástico. — Fernanda comentou, quebrando o silêncio.

O gerente baixou os braços e olhou-a de canto.

— Obrigado.

— Você é incrível. — Ela comentou, aproximando-se dele — Sério, você pratica kung fu de roupa social como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

Adam deu uma risadinha e olhou para o terno que usava.

— Para mim não faz diferença. Já me acostumei a usar social. — Ele ajeitou o paletó e o abotoou — Vamos?

— Estou por sua conta. — Fernanda deu de ombros.

O gerente se aproximou dela e puxou-a pela cintura, colando seus corpos e dando um beijo leve nos lábios dela.

— Por mim, a gente nem saía.

Fernanda riu e deu um leve tapa no ombro dele.

— Besta. — Ela se afastou, ainda rindo — Eu quero é comer.

Ele alteou uma sobrancelha e sorriu, com ar travesso.

— Eu também.

Ela entendeu a insinuação e franziu a testa, mas não conseguiu esconder o sorriso.

— Idiota. — E deu outro tapa no ombro dele.

Desta vez foi Adam que riu.

— Tudo bem, a gente conversa sobre essa comida mais tarde. — Ele pegou a chave do Landau e sua carteira sobre a mesa — Vamos.

Saíram.

Desceram até a garagem e pegaram o Landau. E enquanto o sedã manobrava pela rua, fazendo com que o som borbulhante de seu motor atraísse a atenção dos vizinhos, Fernanda entendeu o porquê do entusiasmo de Adam em relação àquele carro. Aquele som grave e ritmado que provinha do escapamento era extremamente tentador e instigava o motorista a acelerar, e foi bastante ver o gerente pressionar o acelerador para sentir o V8 despejar toda a sua potência nas rodas traseiras, fazendo o Landau se mover com agilidade a despeito de seu tamanho gigantesco.

O conforto do sedã foi outro ponto que chamou a atenção da encarregada. O estofamento dos bancos era macio e o toque do tecido era suave. O acabamento em madeira e cromados no painel e nas portas era de extremo bom gosto e remetia a uma época em que carros eram verdadeiras obras de arte sobre rodas, e não apenas meios de transporte compactos e sem graça.

Não foram muito longe, na verdade. Adam seguiu pela Avenida João César de Oliveira, contornou a Praça Paulo Pinheiro Chagas e desceu pela Avenida Dr. João Augusto Fonseca, estacionando o Landau próximo a uma pracinha. Desceram e se dirigiram ao Xico do Churrasco, provavelmente a churrascaria mais famosa da cidade. Entraram e se sentaram num canto mais afastado, onde poderiam conversar com mais privacidade.

— Me desculpe por não te levar a um lugar melhor. — Adam foi dizendo — É que foi de última hora, então...

— Imagina, Adam. Está ótimo. — Fernanda interrompeu-o — O que importa para mim, mesmo, é ter um tempo só com você.

Aquilo pareceu comovê-lo. Ele abriu um sorriso estreito e baixou a cabeça, corando.

— Que bom. — Ele disse, cruzando os dedos com certo nervosismo — Porque eu quero... Quero te oferecer o melhor. O meu melhor.

Fernanda achou aquilo fofo.

— Basta ser você mesmo. — Ela emendou.

Um garçom apareceu com um cardápio e ofereceu-se para anotar o pedido deles. Adam informou que se serviriam no rodízio de carnes, mas pediu um refrigerante com limão para si e um suco de abacaxi com morango, que ele sabia que Fernanda adorava. E ela, mais uma vez, foi pega de surpresa. Mesmo após tanto tempo, ele não havia se esquecido dos pequenos detalhes. Quando ele finalizou o pedido e se virou para olhá-la, percebeu a expressão contemplativa dela e franziu a testa.

— O que foi? — Perguntou.

— Você.

— Eu o quê?

— É lindo.

Ele abriu um sorriso largo e riu baixinho, baixando a cabeça novamente. Quando levantou os olhos, a emoção em seu olhar não podia ser descrita. Ele se adiantou e segurou a mão da encarregada.

— Eu poderia te dizer mil coisas, Fernanda. Poderia fazer as declarações mais lindas do mundo, ou te levar para conhecer lugares fantásticos. — Ele falou, acariciando os dedos dela com suavidade e assumindo um ar mais melancólico — Mas o que eu quero mesmo é te agradecer por acreditar em mim novamente. Por acreditar em nós.

A encarregada nem teve tempo de ensaiar uma resposta. A voz desagradável e irritante de Jefferson se fez ouvir.

— Estão vendo, rapazes? Eu disse que ele tinha voltado.

Adam nem se dignou a olhar, apenas fechou os olhos e balançou a cabeça em negativa, bufando, num ato de total ridicularização. Fernanda, entretanto, se virou e percebeu Jefferson e outros três homens parados a pouco mais de três metros da mesa onde estavam, encarando-os com semblantes nem um pouco amigáveis. A encarregada reconheceu os outros três como jogadores do time de futebol do colégio onde haviam cursado o ensino médio, mas não se recordou do nome de nenhum deles. Mas os nomes não eram importantes. Se ela se lembrava bem, eles também eram desafetos de Adam, por um motivo que ela ignorava.

Um sentimento azedo subiu pela garganta de Fernanda. O momento entre Adam e ela estava sendo perfeito, mas aqueles quatro miseráveis tinham de estragá-lo. Não podiam simplesmente observá-los de longe e se contentarem em falar mal deles pelas costas.

— Pensei que depois daquele dia no shopping, você tinha tomado vergonha na cara e sumido daqui. — Jefferson continuou.

— Pensei que depois daquele dia no shopping, não fosse o Adam quem precisasse tomar vergonha na cara. — Fernanda devolveu no mesmo tom, um misto de veneno e deboche.

Adam encarou-a de repente.

— Fernanda, não... — Ele disse, baixinho.

— É, Fernanda. Não. — Jefferson emendou.

— Escuta aqui, Jefferson. — A encarregada ignorou e prosseguiu — É melhor você nos deixar em paz, porque eu...

Ela sentiu a mão de Adam pousar em seu braço. Olhando-o nos olhos, percebeu que o gesto era um pedido para que ela não entrasse no jogo deles. Adam parecia cansado e era evidente que não queria confusão.

— Tudo bem. — Ela assentiu.

O gerente suspirou, encarou os quatro homens de pé e se levantou. Por um instante Fernanda pensou que ele fosse tirar satisfações, mas Adam apenas ajeitou a gravata, abotoou o paletó e deixou uma nota de 50 reais sobre a mesa.

— Vamos, Fernanda. — Ele estendeu o braço para que ela segurasse, suspirando novamente.

A encarregada se levantou também, segurando o braço do namorado. Passaram pelos quatro e caminharam em direção à saída, mas Jefferson não se deu por satisfeito.

— O que foi que eu disse, rapazes? Ele sempre faz isso. Vira as costas e vai embora. — O moreno soltou, elevando o tom de voz — Não sabe resolver as coisas como homem.

A fala de Jefferson chamou a atenção das pessoas ao redor, e Adam estacou. Subitamente, viu diante de si a situação perfeita. Ele apenas encarou Fernanda de canto e ela entendeu o recado, soltando-se dele e afastando-se alguns passos. O gerente baixou os braços e se recordou da cena mais famosa de Kingsman: Serviço Secreto, seu filme preferido, onde um grupo de meliantes provocava o personagem vivido por Colin Firth em um pub.

Adam nunca pensou que usaria a frase clássica do filme na vida real, mas foi inevitável. Ela se encaixava perfeitamente àquela situação.

— A conduta define o homem. — Ele recitou num tom firme e pausado, dando as devidas ênfases — Sabem o que isso significa?

— Não fazemos questão, mauricinho. — Jefferson respondeu, arrancando risadas dos demais.

— Ótimo. — O gerente finalizou, virando a cabeça ligeiramente para a esquerda e notando uma lata de cerveja sobre a mesa mais próxima — Vou mostrar a vocês.

Adam girou o corpo num movimento fluido e ergueu a perna direita. O bico de seu sapato mal tocou a lata de cerveja, mas foi o suficiente para fazê-la voar pelo local e aterrissar na testa de um dos colegas de Jefferson, jogando-o para trás. Ainda com o corpo em movimento, o gerente puxou uma pesada caneta Mont Blanc do bolso de seu paletó com a mão direita e atirou-a como um dardo certeiramente no olho direito de outro dos rapazes, também fazendo-o recuar.

Tudo aconteceu em pouco mais de um segundo, e todos foram pegos de surpresa. Fernanda deu mais dois passos para trás. Ver Adam treinando kung fu em sua sala de estar era uma coisa. Vê-lo colocando a arte marcial em prática era algo completamente diferente. Diferente e excitante.

Enquanto todos ainda tentavam entender o que havia acontecido, Adam veio caminhando lentamente na direção de Jefferson. Estava a poucos passos de distância quando o moreno notou sua presença.

— Desgraçado! — Ele berrou, avançando sobre o gerente.

Num gesto simples e saído diretamente de algum filme de Bruce Lee, Adam virou o corpo de lado e estendeu o braço direito, agarrando Jefferson pelo tórax. Com velocidade e força incríveis, ergueu o braço e girou o corpo do moreno do ar, deixando-o cair sobre uma mesa e transformando-a em madeira destroçada. O outro rapaz, também despertado de seu momento de torpor, aproveitou-se e agarrou Adam pelo pescoço, dando-lhe uma “gravata” por trás.

Fernanda gritou e ameaçou avançar sobre eles, mas um gesto de mão do gerente a impediu. Ele tinha controle sobre a situação. Jogando os braços para trás e agarrando seu agressor pelo pescoço, Adam dobrou a perna esquerda e baixou os ombros rapidamente, fazendo com que o outro homem rolasse sobre ele e caísse para frente, de costas contra o chão de concreto. A queda produziu um som seco e o homem ficou instantaneamente desacordado.

Os frequentadores da churrascaria se colocaram de pé e se afastaram, assustados, e um funcionário correu para o telefone do balcão. Adam percebeu.

— Fernanda, vamos embora. — Ele chamou, estendendo a mão para que ela segurasse.

Ela prontamente obedeceu, segurando a mão dele e caminhando apressada em direção à saída. Mas Adam ainda estava atento à situação. Uma movimentação rápida às suas costas chamou-lhe a atenção, e ele reagiu por instinto. Virou o corpo, vendo que Jefferson corria de encontro a ele, e levantou o punho direito, enterrando-o sobre o nariz do moreno com toda a força que seu braço lhe permitiu.

Jefferson foi jogado para trás novamente, desta vez com um riacho de sangue correndo-lhe pelas narinas e o septo entortado num ângulo anormal. O gerente percebeu que dois dos outros homens já vinham em sua direção mais uma vez e chegou a esboçar reação, mas viu que o funcionário da churrascaria já falava desesperadamente ao telefone, provavelmente com a Polícia.

Ajeitando o paletó e a gravata e suspirando mais uma vez, virou-se em direção à saída e caminhou de volta para seu Ford Landau, onde Fernanda já o esperava.

 

o—o—o

 

Guilherme bocejou pela enésima vez naquela noite. Já havia perdido a conta de quantos copos de café havia tomado, mas ainda assim suas pálpebras insistiam em se fazer pesadas. Ele havia ligado para a esposa, avisando-a que iria estender o expediente naquele dia e pedindo que ela não o esperasse, e agora encontrava-se debruçado sobre as fichas que Amanda havia conseguido a pedido dele, relendo-as mais uma vez. Cansado após dirigir quase o dia inteiro e com o sono caindo sobre ele, o detetive esforçava-se para permanecer concentrado nos arquivos.

Amanda havia feito um trabalho excepcional. Ela havia conseguido não apenas a ficha completa de cada uma das vítimas junto à Polícia e ao Departamento de Trânsito, mas também informações pessoais como filiação, cônjuges, escolaridade e seus respectivos empregos. O detetive já havia estudado cada mínimo detalhe de cada ficha dos envolvidos no “caso do Landau vermelho”, mas até o momento havia conseguido um único detalhe novo. Das cinco mortes, três haviam sido causadas por um Ford Landau de cor bordô e as outras duas por um veículo de mesma cor, mas isso ele já sabia. O que ele percebeu após examinar aqueles arquivos, entretanto, é que quatro das cinco vítimas possuíam a mesma faixa etária, na casa dos trinta anos. Apenas o delegado Lacerda era bem mais velho.

Já é um padrão para começar a investigar, ele havia pensado consigo mesmo. Mas isso havia sido horas antes. Depois disso, os arquivos não lhe revelaram mais nenhum detalhe relevante.

Guilherme já havia elaborado mil teorias diferentes para explicar a ação de um possível serial killer, mas ainda não havia conseguido nada que sustentasse tal afirmação. Depois tentou descobrir algo que o levasse a crer em premeditação, mas também não conseguiu sustentar esta hipótese. Pensou em mais três ou quatro justificativas diferentes, mas estava cansado demais para se concentrar em qualquer uma delas. Havia pensado tanto que faltava sair fumaça de sua cabeça.

— Chega. Eu sei que estou perto de alguma coisa. Eu sei. — Ele bateu as mãos espalmadas sobre a mesa e se pôs de pé, respirando fundo e falando consigo mesmo — Eu preciso relaxar um pouco.

Ele saiu de sua sala e seguiu até a máquina de café no fim do corredor, massageando os olhos e alongando os ombros. Começou a servir-se de um espresso comum, mas acabou optando por um cappuccino cremoso com canela para adoçar a boca. E enquanto voltava para sua sala, Guilherme decidiu parar de pensar no caso em que estava trabalhando e desligar a cabeça um pouco. Apenas sentou-se por trás da mesa, fechou os olhos e aproveitou seu cappuccino.

Após beber, o detetive ainda ficou algum tempo com os olhos fechados e a cabeça reclinada para trás, relaxando. Depois, baixou os olhos e encarou sua mesa. Os papéis que ele estivera lendo estavam espalhados de forma desleixada, e ele decidiu organizá-los. Não iria mais trabalhar naquele dia. Iria para casa e teria uma boa noite de sono. No dia seguinte ele voltaria a estudar os arquivos e, ele esperava, encontraria mais alguma novidade para o caso.

Guilherme se levantou, abriu as pastas com os documentos de cada vítima e colocou-as lado a lado sobre a mesa, passando depois a alocar cada arquivo estudado em sua respectiva pasta. Demorou um tempo com isso, pois havia lido e relido os documentos tantas vezes que alguns deles acabaram se misturando. Depois de alguns minutos, no entanto, conseguiu finalmente colocar as folhas de rosto sobre os arquivos e finalizar a organização.

E só então a ligação entre as vítimas, que ele tanto procurava, o atingiu como um tapa na cara. De repente, sono, cansaço e indisposição não existiam mais. Sentindo-se quase nauseado após tanto esforço, o detetive finalmente entendeu porque não havia conseguido ligar as vítimas umas às outras até então.

As folhas de rosto dos arquivos eram nada mais do que um resumo da vida de cada vítima, mencionando informações gerais sobre cada uma delas. E dispostas assim, uma ao lado da outra, permitiram que Guilherme percebesse pela primeira vez que, à exceção do delegado Lacerda, todas as demais vítimas haviam concluído o ensino médio na mesma escola. Mais do que isso, percebeu que todos os falecidos também haviam sido citados em um mesmo inquérito policial doze anos antes. Inquérito esse conduzido pelo então delegado em exercício Geraldo Lacerda e que havia investigado a morte do estudante Alan Peixoto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!