Velha Infância. ( ShinoKiba) escrita por Deby Costa


Capítulo 1
Meu riso é tão feliz contigo...


Notas iniciais do capítulo

Essa história foi betada pela Amanda (Mandy) a quem eu agradeço de coração pelo carinho com a betagem.

A linda imagem que ilustra o final do capítulo foi feita pela @rasqueria por ocasião do aniversário do Kiba e do Akamaru, ocorrido no dia 07/07.


Boa leitura.



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Você é assim

Um sonho pra mim

E quando eu não te vejo

Eu penso em você

Desde o amanhecer

Até quando eu me deito.

(Velha infância - Tribalistas)

 

— Kiba amava esse lugar.

Aquela frase foi a deixa que Yamanaka Inojin precisava para estacionar a cadeira de rodas que empurrava fazia alguns minutos.

— Consigo imaginar o porquê. — O rapaz comentou após se sentar no banco de cimento localizado no meio do jardim. O advogado não conseguiu evitar o sorriso ao olhar para o patrão e ver que este estava contente ao ouvi-lo. — É realmente um lindo lugar. Mamãe costumava dizer que foi seu presente de casamento para Kiba-ojisan. 

Inojin compreendia o amor tanto de Kiba quanto de Shino pela residência de verão dos Inuzuka Aburame.  Levado pela mãe quando ainda era pirralho, caiu de amores pela construção assim que pôs os pés no lugar, em uma das inúmeras férias de verão que teve a honra de passar no local. Apesar de ambos serem bem mais novos que o Aburame, sua genitora e o seu padrasto Gaara, eram muito amigos do homem à sua frente, foi devido a isso que as duas famílias se tornaram tão próximas e o jovem teve a oportunidade de conhecer e conviver com o casal tão de perto, até o dia em que fundou sua própria empresa de advocacia e quis o destino que acabasse prestando serviços para aquele que indiretamente acabou tornando esse sonho possível. 

— Sim. Cada detalhe da construção foi pensado para fazê-lo feliz. – Shino não se referia apenas ao domicílio, mas também ao jardim e a região praiana onde a casa estava localizada. – Foi um desejo dele celebrar nossas bodas de diamante e também as de vinho aqui.  

 — Foram duas festas  lindas! — Inojin falou com sinceridade, ao  recordar as festas mais gostosas e aconchegantes que teve o prazer de participar em seus trinta e cinco anos de vida. 

 —Foi uma pena nossos pais e grande parte dos amigos que celebraram conosco o nosso enlace, não poderem ter vindo festejar. –  O idoso falou num tom jocoso antes de olhar com certo saudosismo em direção a fachada da casa, que teve participação ativa dele e de seu companheiro em cada minúcia que a compunha. Mesmo por trás das lentes escuras dava para notar que os seus olhos estavam marejados. —Ver aqueles que lhe são caros  partir antes de você, essa é a graça e maldição daqueles que vivem muito.  

O Yamanaka se emocionou ao ouvir aquela máxima. Ele ainda era jovem para compreender o significado de se ter uma vida tão longeva, mas de algo ele não duvidava: Chegar àquela idade sustentando um sorriso tão bonito na face e uma energia tão positiva na alma, era privilégio de poucos e concedido apenas àqueles que deram e receberam muito amor ao longo de suas jornadas, a exemplo do Aburame. Seu padrinho não possuía mais a mesma força e vitalidade que costumava ter. Aos noventa e sete anos, embora não aparentasse ter essa idade, também não possuía mas a rigidez e imponência de quando completou os setenta. Aquela altura o Aburame carregava consigo o desgaste natural causado pelo passar das décadas que dificilmente iria se reverter dali em diante. 

—Você trouxe os papéis?

Por isso Inojin estava ali com o seu testamento redigido apenas para que o outro pudesse fazer as últimas correções antes de assinar. Uma tarefa que jamais queria que tivesse sido designada a ele, no entanto, foi exigência do próprio padrinho que ele o fizesse. 

— Estão todos aqui. — Inojin entregou a documentação nas mãos de Shino que assinou sem nem mesmo olhar. — Shino-ojisa...

— Shh! Já li muitas vezes, sei de cor o que está escrito em cada um desses documentos e confio em você. 

— Mas...

— Estou cansado, Inojin. Pode me fazer mais um favor?

Inojin não queria aborrecer o padrinho, além de saber que a maioria das decisões descritas naquela documentação foram tomadas em conjunto entre Shino e Kiba, quando este ainda estava presente entre eles. Se tratava do último desejo de um casal amoroso e gentil. Por fim o Yamanaka acatou a ordem do outro sem mais questionar, por mais que não estivesse tão de acordo com elas.  

— Pode empurrar a minha cadeira até a varanda?

O advogado ergueu o canto dos lábios em resposta e seguiu empurrando o meio de transporte do patrão até onde lhe foi pedido.  Para o Yamanaka, Aburame Shino era mais que um patrão, era como se fosse um pai, em especial porque o seu verdadeiro pai havia falecido quando ele era somente um bebê e só na adolescência Sabaku no Gaara, seu padrasto, entrou na vida da sua mãe.

— Quer que eu peça a Yasu para trazer o seu chá da tarde? — Inojin pegou a pasta com os documentos que estavam nas mãos de Shino e colocou sobre a mesa que ficava próxima a mureta, nesse ínterim o outro se ergueu devagar e sentou-se na cadeira de balanço cativa que ficava ali.

— Eu ficaria muito grato. — Shino disse e lhe dedicou um último sorriso antes de recostar a cabeça na cadeira de balanço. O idoso certamente sentia falta de seu esposo naquele instante, ambos sentavam ali todo fim de tarde de mãos dadas,  contemplando o pôr do sol ao longe e quando anoitecia Yasu os levava para dentro. Kiba-ojisan se foi, mas seu padrinho continuava sentado ao lado daquela cadeira vazia e era como se estendesse a destra para que o outro a segurasse…

— Prometo que vou cuidar bem dessa casa quando você partir, ojisan. — O Advogado sentiu a necessidade de fazer aquela promessa. A gratidão que Inojin sentia pelo Aburame era enorme. 

A maioria dos bens do Aburame seriam dados a famílias carentes e instituições de assistência social de Konoha onde seu esposo trabalhou ou que conhecia, visto que ele e o Inuzuka não possuíam mais herdeiros diretos ou indiretos que ainda estivessem vivos. O próprio Inojin havia dedicado anos da sua vida escolhendo a dedo cada um dos que iriam receber parte da fortuna do seu padrinho. A empresa de tecnologia que era herança de família, mas que sob seu  comando tornou-se cada vez mais próspera e acolhedora, distribuiu todas as ações entre os funcionários, os  mais dedicados e antigos ficaram com a maioria das ações. Algumas de suas propriedades, incluindo a casa onde hoje ele morava, doou para os Yamanakas, Inojin acreditava que por conta do apego emocional que o homem ainda carregava com ele em relação a elas. 

— Conto com você para isso, Inojin. — Shino fechou os olhos por trás das lentes escuras e passou a impulsionar a cadeira de balanço. — Agora deixe-me descansar um pouco antes do chá. 

Inojin concordou com um breve aceno. 

Antes de se dirigir a cozinha, o Advogado só conseguia pensar no quão generoso o seu patrão era. Em toda a sua vida, jamais conheceu um homem mais benevolente. Foi por causa dele que hoje a sua família era próspera e vivia confortavelmente. O seu avô era motorista do Aburame e foi Shino quem pagou os estudos da sua mãe até que se formasse na faculdade. Hoje Yamanaka Ino era uma das engenheiras mais respeitadas de Konoha, graças a ele. Cuidar com zelo e dedicação para que seus últimos desejos fossem realizados era o mínimo que ele como afilhado poderia fazer por quem tanto lhe dedicou carinho e atenção. 

— Tudo bem, apenas descanse um pouco. 

— Sim. Agora finalmente posso descansar, meu querido afilhado…

 

Seus olhos, meu clarão

Me guiam dentro da escuridão

Seus pés me abrem o caminho

Eu sigo e nunca me sinto só…

 

— Shino! Shino!

Demorou para que o velho Aburame acordasse e mais ainda para que reconhecesse o menino que lhe tacava pedrinhas e o chamava insistentemente. Ele vestia uma linda Yukata e segurava um balão inflável em formato de peixe. No entanto, assim que o pequeno abriu o sorriso e lhe revelou as presinhas salientes, Shino o reconheceu.

— Kiba?!

— Acorda! É Tanabata Matsuri. Você está perdendo o melhor da diversão. Há, há, há.

— Espera... — Shino tentou chamar e até estendeu a mão, mas o menino, que levava por dentro do roupão e junto ao peito, um filhote de pirenéus da montanha, ligeiro disparou portão afora. — Eu não tenho mais força nas pernas.

— Tem sim...— O pequeno Kiba falou após dar uma meia parada diante do portão. — Venha logo, seu maldito! —Correu outra vez.

Receoso e com medo de cair no chão e acabar preocupando o seu afilhado, Shino se levantou da cadeira de balanço devagar, no entanto, para sua surpresa, suas pernas eram de criança outra vez, e como se não bastasse,  ele estava usando a mesma Yukata que vestia no dia em que conheceu o seu esposo. Assustado, o Aburame colocou a mão no rosto e não sentiu nenhuma ruga ali. Querendo comprovar o impossível, arrancou alguns fios do seu cabelo e os viu negros novamente.

O que estava acontecendo? Estaria delirando devido à grande saudade que sentia do seu esposo que havia partido há alguns meses?

— Vem logo, Shino! Nossos pais e nossos melhores amigos já estão nos esperando para curtir o festival! 

— Ei? Espera! — Shino, agora não mais um idoso cheio de limitações devido ao peso da idade, mas um menino cheio de energia, correu atrás do outro garotinho que se enveredava pelos portões da sua casa em direção a rua e por conseguinte a liberdade.

As risadas que o pequeno pestinha deixava ao longo do caminho era como melodia aos seus ouvidos e alento ao seu coração. Sem pensar muito e ainda sem compreender o que estava acontecendo, Shino atravessou o portão, e assim que o fez, ouviu música alta e sentiu cheiro de dangos, além de ramen e outras inúmeras iguarias gostosas e cheirosas.  Em seu caminho havia barraquinhas de brincadeiras, vendedores de balões e muita diversão. Pasmo e sem acreditar em tudo que observava ao seu redor, quase foi atropelado por transeuntes que passavam por ele rumo ao núcleo do tanabata, todos vestindo tradicionais Yukatas e exalando felicidade. 

Shino parou de súbito e olhou para cima. Sobre a sua cabeça havia um céu artificial de flâmulas e lanternas coloridas. Ele havia esquecido o quanto o festival das estrelas poderia ser encantador. Na verdade, muitas memórias da sua infância haviam se perdido em algum lugar da sua mente,  no entanto, as que remetiam a Kiba eram as únicas que permaneciam em suas memórias firmes e fortes. 

— Te peguei — Shino foi surpreendido por um beijo estalado em sua bochecha.  — Eu senti tantas saudades de você! Há, há, há! 

O gostoso som daquele sorriso. O cheiro que era somente do Inuzuka, aroma o qual tanto Shino sentia falta. A alegria única e contagiante que despertava nele os melhores sentimentos…

— Kiba é você mesmo? — O pequeno Shino tocou com carinho a bochecha alheia e ao sentir a maciez da pele trigueira, o seu coração acelerou no peito. 

Aquele era o seu Kiba

— O quê… Por quê está aqui?

— Eu te prometi, não foi? — Kiba disse e Shino ergueu uma das sobrancelhas, não entendendo aquela questão.  — Tsc! Que eu vinha para te buscar?

— Sim…  –  O Aburame recordou da promessa que seu esposo lhe fez há um ano, quando Inojin levou ambos para curtirem seu último Tanabata juntos, dia em que seu esposo completou noventa e cinco anos de vida: "Quem partir primeiro vem buscar o outro." Foi uma promessa de dedo mindinho, e feita de brincadeira, mas…  

— Você prometeu. 

Shino ergueu o dedo mindinho para afirmar que recordava do fato.  

— E você está pronto para rever nossos pais e nossos amigos? 

— Sim. — Sem hesitar, o pequeno Shino respondeu. 

O espevitado Kiba sorriu largo mostrando as presinhas salientes e o deixando ainda mais apaixonado.

 – Esperei ansioso dia após dia, durante esses seis longos meses para te ver de novo. — O Aburame disse finalmente. 

— Então, vamos? — O pequeno Kiba estendeu a mão livre, sem o balão de peixinho e esperou que o Aburame a pegasse no ar. – Você irá gostar da nossa nova casa.  É tão linda quanto  a nossa antiga, e o melhor, lá tem festival Tanabata todos os dias!

Antes de se deixar levar pelo outro em meio ao mar de cor e gente que também curtiam o festival das estrelas, Shino acariciou a cabeça de Akamaru que adorou o carinho. 

— Senti sua falta amiguinho. Da última vez que nos vimos, você não estava tão pequenininho.  — O Aburame disse ao doguinho e em seguida voltou-se para Kiba,  aceitando a mão estendida e também  o convite para viver uma nova aventura: — Vamos. — Finalmente Shino  deu a mão a seu eterno menino e deixou-se conduzir sob o túnel de vento feito de bambus altos onde estavam pendurados inúmeros e coloridos tanzakus.

 Para onde os dois garotinhos iriam? Quem sabe? Já não tinha mais tanta importância para o velho Aburame. Outra vez ao lado de Kiba, seu amigo de infância que posteriormente tornou-se seu namorado e anos depois seu esposo, com quem compartilhou, além de alegrias e tristezas,  sonhos e projetos inimagináveis por quase noventa anos de sua vida, o menino Shino estava feliz, e isso era só o que precisava sentir a partir dali. 



E a gente canta

E a gente dança

E a gente não se cansa

De ser criança

A gente brinca

Na nossa velha infância. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado

Agradeço a Amanda que, além de me ajudar com a betagem, também me ajudou com a escolha do titulo da história, pois as dicas que ela me deu me fez recordar da música, Velha Infância, dos tribalistas. Achei que essa musica combinava muito com essa one.

Também agradeço a Iara Tara (@rasqueria) por mais essa preciosa fanart, que fez com que eu me apaixonasse mais um pouquinho pelo meu casal.

É isso. Bjs a quem chegou até aqui. Até uma nova história.


O link da música no You tube:
https://www.youtube.com/watch?v=a-p3bnk928A



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