Um Reino de Monstros Vol. 2 escrita por Caliel Alves
A ladra estava sentada na cadeira à frente de Letícia. Algemada e cabisbaixa, ela pensava num plano de como sair dali. Havia sido retirada da goma e posta em algemas.
De uma prisão para outra, isso já está ficando chato...
— Então quer dizer que você queria roubar a Pedra Filosofal para trocá-la por...
Tunc-tum-tunc, a porta foi aberta após a permissão sair da boca da general-brigadeiro.
Dois soldados acompanhados de um garoto de olhos lacrimosos, um suspeito mascarado e uma criatura roliça deixaram a alquimista em prontidão.
— O que é isso, mais fugitivos?
— Permissão para falar, senhora?
— Permissão concedida.
— Eles não são mais fugitivos, eles são os enviados de Flande.
Rosicler se virou da cadeira, corada, tremendo de medo, ela exclamou:
— Tell, Saragat!
Os olhares dos dois penetraram a sua pele como facas. Ela suspirou desapontada.
O garoto se esquecendo de onde estava, foi até a ladina e a encarou bem nos olhos.
— Acha que nós esquecemos o que você fez? Deixou-nos lá, sozinhos, como se nós três fôssemos cachorros.
— Eu não podia... eu...
Rosicler baixou a cabeça a ponto de o queixo tocar a sua clavícula. Lágrimas rolaram em seu belo rosto. Os lábios carnudos e rosáceos se contorceram trêmulos.
— Eu admito, Tell, eu menti e usei vocês para chegar até Alfonsim. Desde o começo eu só andei com vocês para garantir a minha própria segurança...
— E o que mais, a nossa vida vale menos do que a sua ganância?
Saragat parecia muito interessado nas motivações da garota. Ela continuou:
— Eu fui recrutada por Anhangá, o general atroz do Batalhão Espectral. Os monstros subordinados a ele têm um grande papel: Serviço Secreto. Todas as pessoas capturadas pelos monstros são enviadas à Fortaleza do Crepúsculo, lugar onde as pessoas são torturadas até a exaustão... é horrível!
— Não me diga que quer voltar para lá?
— Não, Saragat, você não entendeu. O meu irmão mais velho continua preso lá! Só eu posso salvá-lo, eu tenho que salvá-lo...
Letícia expirou o ar de modo pesado. O cansaço físico e mental já se acentuava de modo muito evidente, mesmo assim, manteve a postura e perguntou:
— Então seu plano era trocar algo de valor pela vida do seu irmão mais velho?
— Eu não confio em você, Rosicler, OLHE PARA MIM!
O comportamento de Tell chocou até mesmo o Guardião do Monstronomicom que se escondeu atrás do mascarado. A ladina evitava a todo custo olhá-lo diretamente.
Gritando e gesticulando muito, Rosicler soluçava. Letícia pediu calma ao mago-espadachim. O Lisliboux se exaltou ainda mais.
— Me acalmar? Como é que eu vou me acalmar? Ela poderia ter colocado tudo a perder...
— Ela agiu por impulso, quem não perdeu alguém para a Horda?
O garoto virou-se para a ladra. Ele não pôde mais continuar com as suas acusações, nem mesmo ele saberia o que fazer para ter os seus pais e avô de volta. Misericordiosamente, o Lisliboux abraçou a gatuna de modo terno e carinhoso.
Letícia sorriu ao ver a cena, secou algumas lágrimas teimosas com as dobras dos dedos. A general-brigadeiro deu ordens aos soldados para que retirasse as algemas da presa.
Tell pegou o Monstronomicom e deu-o a oficial. Ela alisou a capa do livro espantada.
Esse é o Monstronomicom? A arma definitiva contra os monstros!
— Sendo vocês enviados do Baronato de Flande, nós erramos em fazê-los prisioneiros. Rosicler, tem o meu perdão por ter tentado impedir a retirada da Pedra Filosofal pelo conde Verdramungo do comando-geral. Agora e-eu, uaaaaagh...
Letícia bocejou gravemente e desabou na cadeira com a cabeça pendendo para o lado.
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