Lily Apaixonada escrita por Bianca Vivas


Capítulo 5
O encontro inesperado




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A música voava em espirais pelas janelas abertas do carro. A casa ficava em um bairro cosmopolita da cidade. Era grande e vários carros estavam estacionados em frente a ela. A porta estava convidativamente aberta. Pessoas entravam e saiam, e Lilian perguntava-se como os vizinhos ainda não haviam reclamado do barulho. Antes de descer do carro, sentiu a atmosfera do local, já se preparando para o que iria encontrar.

No entanto, no local onde costumam ficar sofás e poltronas, encontrou apenas alguns casais conversando.

— A festa de verdade é lá dentro — Frank disse, puxando Lilian e a namorada em direção ao quintal.

Gramado, música, piscina e pessoas mais velhas que ela: a festa poderia ser resumida assim. Em um ou outro ponto, avistou pessoas conhecidas. Em sua maioria, gente do terceiro ano.

— Ei! — Uma menina alta caminhou até eles. — Não sabia que você vinha, Lilian! — Ela gritou, sorrindo. — Querem tomar alguma coisa?

A menina os conduziu ao lugar onde estavam guardadas as bebidas. Aparentemente, era ela quem dava a festa. Havia algo, porém, que Lilian não compreendia. Como uma garota que nunca vira na vida sabia seu nome? A questão a incomodou por alguns instantes, mas foi completamente esquecida quando depositaram uma garrafa de cerveja em sua mão.

Lilian nunca havia bebido nada alcóolico em sua vida antes. A menina piscou para ela e murmurou um “não conte ao seu pai”. Diante da lembrança do pai, Lilian pensou em recusar a bebida, mas, em seguida, desistiu. Apenas afastou-se, sem impedimentos, com a cerveja na mão, deixando Alice e Frank com a estranha que sabia seu nome.

Caminhou pelo espaço da festa, ouvindo uma música que não gostava. Meia hora já passara e a única coisa que sentia era sono e arrependimento. Não estava se divertindo. A garrafa já estava quente em sua mão, e quase não fora tocada. Continuou andando sem rumo, até encontrar a sala pela qual chegara ao jardim.

Muitos outros casais estavam ali. Lilian abriu caminho por entre eles e foi para a porta. Sentou no passeio. Ficou ali, observando a rua e as casas modernas enquanto bebericava a cerveja quente. Em algum momento, soltou os fios ruivos e fechou os olhos verdes, perdendo-se em seus próprios pensamentos. Quando os abriu novamente viu que alguém lhe fazia companhia.

A princípio, não o reconheceu. Porém, ao olhar com mais atenção soube exatamente quem era. O cabelo desgrenhado, os óculos redondos e os tênues lábios não deixavam engano. Era aquela a pessoa que ela menos esperava encontrar naquele local.

James falava com alguém ao telefone. Aparentemente, a pessoa do outro lado da linha não dizia coisas agradáveis. Toda vez que seu rosto encontrava um ponto de luz, Lilian via nele irritação. Quando a chamada foi encerrada, ele descansou a cabeça nos joelhos. Passou a mão pelos fios escuros e olhou para o lado. Só então pareceu notar Lilian.

— D-desculpe... Ficar ouvindo sua conversa... — Lilian fitou o chão, envergonhada.

— Não... Tudo bem. — James piscou algumas vezes e então sorriu — Não sabia que vinha a este tipo de festa.

— Eu não venho. — Lilian respondeu rapidamente, percebendo que ele não acreditara muito nela. — Só estou aqui por que...

James riu.

— Entendo — disse, mesmo sem entender. — Está esperando alguém?

— Alice e Frank. Vim com eles. ― Ela explicou, apontando para a festa atrás deles.

Agora, desejava ardentemente que seus amigos saíssem de lá e decidissem voltar para casa.

— Você quer ir embora, não é? — Ele perguntou, pondo a mão no antebraço da garota, que assentiu. — Se quiser, te dou uma carona.

A menina pensou por alguns segundos. Tudo o que queria era ir para casa. Não com James. James não estava nos seus planos, não agora. Se fosse por ela, ele nunca estaria em seus planos. Ainda assim, alguma força estranha, saída dos mais recônditos cantos de sua consciência irracional, a impeliu a aceitar o convite.

— Vai ter que me ajudar a procurá-los, para avisar que vou embora — disse, já se levantando e esperando que ele a seguisse.

Alice e Frank não estavam na sala. Tampouco no quintal. Procuraram nos cômodos do térreo, mas não os encontraram. James sugeriu que olhassem mais uma vez no gramado atrás da casa. Havia muitas pessoas ali e podiam não ter percebido que eles estavam lá.

Em algum ponto da busca, James segurou a mão de Lilian. A menina não sentiu arrepios ou choques elétricos como contam os livros. O toque proporcionou-lhe paz. Calmaria. Um tantinho de felicidade também. A mão dele parecia ser o lugar certo para a sua repousar. E assim caminharam até encontrar o casal procurado.

Estavam rindo descontroladamente ao lado da menina misteriosa. Os lábios de Alice estavam vermelhos como se ela acabasse de beijar alguém voluptuosamente, enquanto os fios do cabelo de Frank estavam emaranhados. O vestido da garota desconhecida estava amarrotado e amassado. O trio tentava se recompor ligeiramente enquanto Lilian e James caminhavam até eles.

Lilian explicou rapidamente que iria para casa com James e saiu. Os olhares curiosos de Alice morreram assim que eles se misturaram aos convidados, mas Alice não era a única pessoa conhecida ali. Outros colegas também reparavam no par de mãos grudadas.

— Acho que pensam que estamos juntos. — Lilian forçou uma risada, como se aquela fosse uma grande piada.

— Tecnicamente, estamos. — Ele não sorriu, mas sentiu certa alegria com o provável pensamento dos outros.

Já fora da casa, James a conduziu para uma moto preta. Lilian não tinha certeza se as mesmas leis que proibiam menores de dirigir carros valiam para motos, mas já havia quebrado um número razoável de regras a ponto de não se importar mais. Apenas sentou atrás dele, pôs o capacete na cabeça e segurou firmemente a camisa preta do menino quando ele deu a partida.

O vento fazia alguns fios grudarem em seu rosto. O fato de o vestido ser sem alça também não a protegia do frio. Tudo o que podia fazer era agarrar-se mais ainda a ele, na esperança de aquecer-se. Fechou os olhos durante a viagem. Quando sentiu a moto parar abriu-os novamente.

Estavam em um lugar desconhecido. Um estacionamento recheado de pessoas e barraquinhas de doces. Lilian ia perguntar onde estavam, mas avistou uma roda-gigante. Não precisou que ninguém lhe dissesse nada. Só não fazia ideia do motivo de estar ali.

— Bom — James encolheu os ombros, respondendo à pergunta mental dela —, esta é a ideia que tenho de um encontro.

— Não sabia que estávamos em um encontro — a voz de Lilian soou áspera até para ela própria.

— Você é livre para ir embora — James respondeu. — Mas eu gostaria que você ficasse.

O garoto entrelaçou os próprios dedos aos de Lilian, e a garota decidiu acompanhá-lo.

***

Aquela não fora uma noite mágica. O coração de Lilian não disparou nenhuma única vez. Suas pernas não ficaram bambas, seus olhos não brilhavam e seu rosto não possuía um sorriso estampado. Mesmo assim, ela se divertiu como nunca se divertira antes.

Comeram carne no espeto e beberam muito refrigerante, entre um brinquedo e outro. Conversaram sobre as experiências que tiveram em outros parques, riram das piadas contadas por um idoso que acompanhava seus dois netos na fila da montanha-russa e, depois da terceira rodada seguida no carrinho bate-bate, Lilian convenceu James a levá-la para casa.

Dessa vez, ela não sentiu medo ou frio. O ar estava mais gelado, contudo a adrenalina ainda corria em suas artérias, esquentando-a. Sentiu-se, então, mais à vontade na viagem de volta. E pareceu-lhe que a velocidade da moto era menor. Incrivelmente, apreciou o novo ritmo.

O leve caminhar do automóvel permitia-lhe observar as estrelas e sentir toda a atmosfera da noite. Era diferente de passear trancada em um carro, onde tudo o que se vê é através de um vidro. A moto dava-lhe liberdade. Agora que não sentia mais medo, percebeu que gostava de ser livre.

A moto parou finalmente. Entretanto, mais uma vez, não era a sua casa. Estavam na Avenida Noturna. Uma rua cheia de bares e restaurantes. Um ponto muito frequentado por jovens. Ela desceu e encarou seriamente James.

— O que estamos fazendo aqui, Potter? — O cenho estava franzido e ela abria e fechava as mãos. — Você disse que me levaria para casa.

Ele já estava na frente dela, tentando segurar sua mão. Porém, Lilian o afastava toda vez que ele se aproximava.

— Achei que deveríamos comer ― James explicou. ― Passamos bastante tempo naquele parque e a gente só comeu uns espetinhos.

— Você disse que me levaria para casa. — Lilian repetiu, solenemente.

— É... Mas eu não disse que te levaria direto pra casa — James sorriu, apoiando-se na moto. — Ah, vamos lá, Lily. Apenas um pouco de comida.

— Eu quero ir para casa, Potter.

James suspirou. Poderia passar a noite inteira discutindo com ela. Provavelmente, conseguiria convencê-la. Lilian não poderia estar tão decidida como demonstrava. Porém, para não arruinar a noite, cedeu à vontade dela.

— Acho que eles entregam sushi em casa — disse, subindo na moto.

— Quem disse que eu te convidei para ir pra minha casa, Potter? — Ela o acompanhou, demonstrando irritação.

— Não preciso de convites, Evans ― James respondeu, acelerando a moto.

 


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