Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 8
Capítulo 8




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Lizzy entrou em seu quarto e fechou a porta, sentindo coração disparado. Era apenas um dia, um dia e já estava caindo de amores por Fitzwilliam Darcy. Ela passou a mão no pescoço, sentindo a tensão em seu corpo. Aquele homem tinha os olhos azuis mais bonitos que já vira. E ele tinha um rosto quadrado que parecia ter sido esculpido pelos deuses! Ora essa, que pensamento era aquele? Sentia-se tola. Muito tola. Mal tinha passado vinte e quatro horas que ela esta na presença daquele homem e já estava suspirando?

Ela sentou-se na cama. Observou que havia um candelabro com duas velas que iluminava o local, repousado sobre mesinha de cabeceira. Então, seu olhar foi atraido para seu cachoro. Escutou Boris se espreguiçar e balançar o rabo. Ele se aproximou da cama dela, com os olhos manhosos.

— Boris, você acha que estou sendo como as damas desse século? - ela inquiriu. O cachorro simplesmente colocou o focinho em cima da perna dela, pedindo carinho. Ela acariciou seus pelos, pensativa - Não posso acreditar que já cai de amores por Darcy. Eu me sinto uma completa idiota - O cachorro parecia ignorar seu monólogo, apenas pedindo carinho na barriga. O que ela não negou. Acariciou a barriga de Boris, mas distraida - Não acha que sou uma idiota, Boris? Ele é só um homem. E muito bonito. Talvez, seja isso. Sua beleza...como se diz por aqui...é cativante.

Ela gargalhou e escutou alguém bater na porta.

— Entre - ela convidou, com o coração disparado. Será que alguém ouvira sua conversa com Boris?

Era Georgiana acompanhada da criada. Seu nome era Lucia.

— Trouxe a senhorita Lucia para ajuda-la a se trocar - Georgiana disse, solicita.

— Ah, é claro. Mas, não precisava se incomodar comigo, Georgiana - Lizzy disse.

— Não é nenhum incomodo - Georgiana assegurou - É um prazer ajuda-la, Elizabeth.

Lizzy ficou agradecida pela ajuda. Deixou que Lucia a despisse e Georgiana ajudou a retirar a maquiagem com água e sabão. Ela havia trazido uma bacia com água, sabão e um pano. Foi então que Lizzy se perguntou como as mulheres lavavam os cabelos naquele tempo. Ela perguntou a Georgiana, que explicou que damas com posse tinha sua própria banheira e que os criados teriam que apenas esquentar a água para o banho. E que usavam o sabonete para lavar os cabelos. E o normal era que se demorasse um pouco para lava-los. Por volta de duas semanas, mais ou menos. Isso deixou Lizzy estarrecida.

— Eu preciso lavar com frequência meus cabelos. Meus cabelos são tão oleosos - Georgiana comentou, enquanto observava Lucia vestir Lizzy com a camisola - A cada uma semana os lavo. Mas, você já sabia disso, não sabia?

— Er...bem...é que de onde eu venho, consigo lavar os cabelos com mais facilidade. Seria três vezes por semana e o banho é diário - Lizzy respondeu.

— Ora, mas que surpresa - Georgiana parecia maravilhada com a resposta de Lizzy - É quase impossível lavar os cabelos sem deixa-los ressecados, Lizzy. E noto que seu cabelo é brilhante e vistoso. Não concorda, Lucia?

— Sim, senhorita Darcy. É muito bonito - Lucia concordou. E no momento, escovava os cabelos de Lizzy com uma escova de cerdas duras, mas a criada tinha as mãos leves ao desembaraçar os fios de cabelo de Lizzy, que batiam na altura dos ombros.

— É interessante que seus cabelos sejam mais curtos que o normal - Georgiana comentou - A senhorita não gosta deles longos?

— É mais fácil para cuidar assim - Lizzy comentou - Mas, acredito que eu irei precisar corta-los ainda mais curtos agora que sei que não terei condicionador.

Condi...perdão? - Georgiana perguntou, franzindo o cenho.

— Ah, é um produto cosmético - Lizzy respondeu e notou que Georgiana estava ainda mais confusa com a resposta dela - É um produto que se passa no cabelo, como o seu sabonete. Mas, ele não lava, apenas deixa os fios mais soltos.

— Ah, como o óleo que a senhorita Darcy usa - Lucia comentou, trançando o cabelo de Lizzy.

— Sim, exatamente. Mas, então, vocês tem óleo? - Lizzy perguntou, esperançosa.

— Sim, mas eu uso somente quando meu cabelo está muito seco - Georgiana respondeu - O que demora para acontecer. Você precisa, Elizabeth?

— Sim, preciso muito - E de uma chapinha, de um secador, ela pensou, desesperada por dentro. Afinal, seu cabelo não era tão liso. Era ondulado.

Depois que ela estava pronta para dormir, Georgiana se despediu, desejando boa noite a Lizzy. Lucia apagou as velas e fechou a porta, mergulhando o quarto em uma escuridão profunda. Lizzy se encolheu na cama, sentindo Boris encostado as suas costas. Foi então que Lizzy percebeu o quanto ela estava exausta e ao mesmo tempo, com medo do futuro. Nunca esteve tão longe da sua casa e da sua zona de conforto. Somente quando seus pais morreram, ela precisou se acostumar com uma nova realidade, a qual a deixou devastada. Precisou cuidar de Jane e engolir as lágrimas que a sufocaram. De fato, Lizzy não chorou com a morte deles. Ela continuou seguindo com a vida, pensando que se chorasse, não resolveria seus problemas. E foi com esse pensamento que ela dormiu. Prometeu a si mesma que logo estaria em casa e que voltaria para sua irmã Jane. Nada iria a impedir de fazer isso.

*

A manhã veio com o céu limpo e azul, tão bonito a visão dos habitantes de Londres. E para Lizzy, veio como uma constatação da realidade dura e implacável. Ela não estava mais em seu apartamento, mas em um quarto de hospedes, com cama de dossel, na casa dos Darcy. Ao menos, foi acolhida e tinha que agradecer a Darcy por isso. Ele poderia ser um cavalheiro taciturno e que não era sociável, mas ao menos a ajudou com seu problema.

Ela se levantou, já tendo a visita de Lucia, que a ajudou com a toalete, que consistia basicamente e se lavar com o uso de um paninho úmido, embebido em óleos aromáticos. Lucia comentou que era algo muito útil e que Georgiana tivera a ideia, copiando de uma amiga francesa. Depois, a criada ajudou Lizzy a entrar em um dos vestidos de Georgiana. Era um de musselina, de cor amarela. Lizzy quase sufocou ao ter que usar o espartilho. Aquela peça era uma maldição. Nunca mais Lizzy iria reclamar do sutiã em sua vida. Por último, ela teve os cabelos modelados em coque, com tranças laterais, presos em forquilhas, que machucavam seu coro cabeludo.

— Está muito bonita, senhorita Elizabeth - Lucia elogiou, enquanto Lizzy se olhava no espelho de corpo inteiro.

Realmente, ela estava, mas seus pés estavam doendo dentro daquele sapato de tecido, com salto de cinco centimetros. No jantar, ela já sofrera com os sapatos que não parecia encaixar perfeitamente em seus pés. Com certeza, o o molde não era como em seu tempo. Devia ser feito para o pé de cada pessoa por alguém que confeccionasse sapatos.

— Obrigada, Lucia - ela agradeceu, fazendo uma careta ao andar - Será que Georgiana não tem botas?

— Botas? - Lucia perguntou - Não, senhorita. Georgiana somente tem esses sapatos delicados. Uma dama deve ter sapatos bonitos, não acha?

— E a senhorita tem botas? - Lizzy perguntou, ignorando a pergunta de Lucia. Sentou-se na cama, tirando o sapato, massageando os pés - Por favor, me diga que tem. Esse sapato é muito apertado.

Lucia parecia confusa e ao mesmo tempo, exasperada, apertando as mãos nas saias de cor cinza. Lizzy notou que ela tinha uma beleza deslumbrante, com seus cabelos negros e olhos castanhos. A pele era clara, como a de Georgiana. A diferença estava nas poucas rugas de expressão, além de algumas manchas nos bochechas. A vida de Lucia não deveria ser fácil, como a de uma dama.

— Senhorita, eu tenho uma. Mas, é meu único par, fora os sapatos que estou usando hoje - Lucia respondeu, sem fita-la. Parecia incomodada - E a senhorita vai tirar a graça e elegância do seu vestido se fizer uso das botas.

— Mas, eu preciso, Lucia. Eu prometo devolver seus sapatos intactos - Lizzy disse, para que Lucia não pensasse que ela iria destruir seus únicos calçados - Eu irei comprar sapatos para mim - Com que dinheiro, ela não sabia - E irei devolver os seus. Irei até comprar alguns para você.

Lucia corou.

— Não, senhorita. Não precisa me comprar nada - ela negou veemente com a cabeça, ainda evitando o olhar de Lizzy.

— Ora, será um prazer, Lucia. Me diga, vai me emprestar suas botas? Diga que sim. É questão de vida ou morte.

Lucia deixou uma risadinha escapar.

— A senhorita tem um senso de humor peculiar - Lucia disse, colocando a mão na boca, com um olhar de culpa - Eu sinto muito, senhorita. Fui muito atrevida na minha observação.

— Não deve me pedir desculpas, afinal, eu tenho mesmo - Lizzy concordou.

— A senhorita é uma joia rara. Irei providenciar as botas - Lucia disse, fazendo uma reverência e saindo do quarto, deixando a porta aberta.

Lizzy estava tão agradecida e pode respirar fundo, mas isso somente a deixou com dores nas costelas. Era terrível respirar com aquele espartilho. Ela precisava afrouxar o aperto das cordas e foi com esse pensamento que se levantou da cama. Contudo, assim que estava de frente para o espelho, ela percebeu que teria que tirar o vestido de cima. Ela se abaixou, com dificuldade, devido ao espartilho. Estava levantando a barra da saia com a mão, prestes a puxar o tecido, quando escutou passos. Ela se levantou, abruptamente, sentindo as costelas doerem mais, devido a força que fez para se erguer. E nada poderia ser mais vergonhoso do que ver Darcy parado a alguns passos do seu quarto, com uma expressão solene.

— Bom dia, senhorita...Vejo que a senhorita acordou cedo - ele comentou, com as mãos atrás das costas.

Lizzy ajeitou o vestido e estava sentindo o rosto queimar de vergonha.

— Bom dia, senhor Darcy - ela o cumprimentou, com uma leve reverência, pois era o que seu espartilho permitia - Sim, mas não tenho ideia de que horas são.

— São sete e meia da manhã - Darcy respondeu, parecendo satisfeito - A senhorita me daria a honra de fazer o desjejum? Minha irmã custa acordar cedo e eu sempre tomo o café sozinho.

Lizzy ficou surpresa com o convite. Esperava que ele fosse manter a distância dela, afinal, ele apenas a salvou. Não precisava fazer mais nada por ela.

— O senhor é muito gentil ao me convidar - ela disse, surpresa.

— Não é gentileza, se quer saber a verdade - ele disse, com um sorriso pequeno nos lábios - Eu apenas estou curioso para saber mais sobre a senhorita. Me diga, aceitara meu pedido?

Então era isso. Ele apenas queria saber com quem estava lidando. Era óbvio que ele faria uma investigação minuciosa sobre ela. Lizzy tentou não ficar desanimada. E talvez, estivesse demonstrando isso, pois Darcy perguntou:

— Minha companhia não agrada a senhorita? - ele perguntou, parecendo decepcionado.

— Não, não. Quero dizer, sua companhia não é desagradável. Eu apenas...eu...- ela tentou encontrar uma desculpa, pois não queria demonstrar que estava chateada por saber que a intenção dele em pedir para tomar o café junto era para investiga-la - Eu aceito - ela disse por fim.

— Ótimo. Eu posso acompanha-la?

Ela queria aceitar, mas estava esperando Lucia voltar com suas botas.

— Eu o encontrarei lá, senhor Darcy. Ainda não terminei de me arrumar. Se não se importar, é claro – ela acrescentou.

— Ah, claro. Eu a esperarei, então. Peça a Lucia para mostrar a sala do café da manhã – ele disse, fazendo uma reverência curta e saiu do campo de visão dela.

Lizzy aguardou Lucia voltar. O que não demorou muito. A criada ainda dizia que o sapato que ela estava usando era ideal para combinar com o seu vestido, mas Lizzy esta irredutível, afinal, ela não iria sentir dores o dia inteiro para caminhar e sua intenção ao usar as botas era conseguir encontrar o paradeiro de Alexander. Mas, nem sabia por onde começar. Como conhecia Londres como sua palma da mão, poderia tentar em pontos turísticos e se guiar depois por outros lugares. Não poderia se afastar muito do centro, mas no dia seguinte faria a busca, eliminando os bairros que conhecia. Parecia um bom plano, mas o risco de não encontra-lo era maior. Isso a desanimou profundamente e quando chegou à sala do café da manhã, estava alheia. Sentou-se a mesa, olhando a quantidade de pratos que tinha, mas estava sem fome. Até mesmo esqueceu de pedir a Lucia para afrouxar o espartilho.

— A senhorita está bem? – Darcy perguntou, a tirando dos seus devaneios melancólicos.

Ela sentiu que nunca voltaria para casa. Estava sentindo desesperança. Mirou os olhos azuis de Darcy e sentiu o coração bater mais rápido. Ele demonstrou ser um cavalheiro tão sério, mas naquele instante parecia genuinamente preocupado com ela.

— Estou bem, senhor. Obrigada por perguntar – ela respondeu.

— Não parece – ele apontou – A senhorita não gostou dos pratos? Gostaria que a cozinheira fizesse algo especial para que possa comer?

— Não. Não é necessário. Eu agradeço sua preocupação.

O silêncio predominou no ambiente. Lizzy se forçou a tomar o chá preto, comer a broa e os ovos mexidos, mas tudo tinha gosto de serragem. Ela estava tão nervosa para encontrar Alexander, que mal conseguia comer. Então, ela voltou seus olhos para o anfitrião, que a estudava longamente. Ele parecia estar a olhando há um bom tempo. O que a deixou desconsertada. Mas, ele não demonstrava nada, apenas a estudava.

Será que ela estava fazendo tudo errado à mesa?

— Algo o desagrada, senhor Darcy? – ela perguntou, na defensiva.

— De modo algum – ele respondeu, prontamente, mas estava corando. E isso chamou a atenção dela. Não pode deixar de sorrir, o que o fez comprimir os lábios – A senhorita apenas...eu... – ele respirou fundo – A senhorita parece triste.

— Eu estou, de fato – ela confessou, mexendo nos ovos com o garfo – Eu queria voltar para casa, senhor Darcy.

— Eu entendo – ele disse, com pesar – Eu ficaria muito triste longe de casa e sem Georgiana. Para mim, ficar longe dela é um martírio. Todas as vezes que precisei viajar a Londres a negócios, foi penoso. Eu voltava para casa sempre preocupado com ela. Mas, agora que minha irmã pode debutar, eu posso ficar mais perto dela – Ele sorriu o que cativou Lizzy. Ela notou que ele tinha uma expressão muito bonita quando sorria – Posso ajuda-la a encontrar sua casa – ele propôs - Como veio parar aqui, senhorita? Alguém a forçar a estar aqui? – sua voz ficou grave, na última pergunta. Até sua expressão se tornou sombria.

— Eu...de certa forma fui obrigada sim – ela respondeu, o mais próximo da verdade – E tenho uma irmã, como você. Preciso voltar para ela o mais breve possível. Ela deve estar desesperada sem minha presença.

— Ó, entendo – ele disse, com a voz falha – Eu acredito que podemos encontrar a pessoa que a fez vir para cá forçosamente e puni-lo. E posso leva-la de volta, senhorita. É para Yorkshire?

— Não, não é lá. Na verdade, o local que moro é de difícil acesso. Na verdade, quem me trouxe é a única pessoa que pode me fazer voltar – Darcy franziu o cenho, confuso.

Lizzy não iria explicar mais nada a ele, afinal, como explicaria que ela morava em Londres no século 21?

— E como essa pessoa pode leva-la de volta, senhorita? Eu não poderia? – ele perguntou, parecendo indignado – Afinal, quem a trouxe causou uma confusão tremenda. É melhor que a senhorita não chegue perto dessa pessoa - Lizzy engoliu a seco, vendo ele tão preocupado e irritado ao mesmo tempo - Quem a trouxe, senhorita? – ele exigiu saber.

Lizzy mordiscou os lábios. Darcy parecia furioso. E tudo estava fugindo do seu controle. Não poderia deixa-lo chegar perto de Alexander. Ele poderia mata-lo e talvez, a pior das hipóteses, poderia acusa-los de bruxaria, devido a Alexander ser estranho e incomum, carregando um celular, que não era um objeto que existiria no tempo de Darcy. E Lizzy, seria encarada ou como uma mulher louca ou como bruxa.

Lizzy pensou consigo mesma se as pessoas em Londres tinham um pensamento mais avançado quanto a comportamentos estranhos. E se ainda existia o tribunal da inquisição, mas pela Inglaterra ser protestante, talvez ela não fosse acusada de bruxaria e queimada na fogueira. Mas havia a possibilidade de ser internada em um hospício. Ela não sabia qual era a opção pior.

— Foi um homem.  Mas, tudo que posso dizer é que não o conheço. Se eu puder encontra-lo, com certeza ele me dará o que preciso para voltar para casa – ela respondeu, esperando que Darcy não a questionasse mais.

— Mas, quem é ele, senhorita? – Darcy insistiu – Preciso saber. Ele é um traficante de mulheres? Por Deus...- Darcy passou a mão no rosto, mortificado – Ele é, senhorita?

— Não, não é, senhor. Não se preocupe – Lizzy tentou acalma-lo.

Darcy balançou a cabeça, irritado.

— Por que a senhorita está acobertando esse homem? Diga-me? – ele insistiu. Ela não respondeu, pois não sabia o que dizer. Darcy estava com os punhos cerrados sobre a mesa, com os ombros retos, parecendo maior do que era – A senhorita tem um caso com ele, é isso? Por isso, não pode voltar?

— Não, é claro que não – Lizzy respondeu, enjoada. Ele apenas pensava mal dela, o que era ruim. Muito ruim.

— Senhorita, preciso saber...estou abrigando a senhorita em minha casa e não quero ter a reputação da minha irmã arruinada – Darcy parecia irredutível e não iria parar de perguntar, até que Lizzy fosse sincera.

— Ele não é meu amante – ela insistiu, irritada dessa vez – Somente ele tem o celular para que eu possa voltar para meu tempo – ela deixou escapar.

Ele franziu o cenho, confuso.

— Celular? O que é isso?  - ele perguntou – Que palavra estranha.

— Er...é algo que vai me ajudar a voltar para casa. E não é por meio de uma carruagem que irei senhor. Eu moro em um lugar de difícil acesso e somente com esse objeto eu conseguirei ir – ela tentou explicar de forma que fosse o mais próximo da verdade.

Darcy balançou a cabeça, não parecendo convencido.

— A senhorita ainda me esconde algo. Está falando em enigmas. E não entendo por qual motivo acoberta esse homem – ele disse sério.

Lizzy suspirou. Se ele continuasse com as perguntas, ela não poderia permanecer naquela casa.

— Senhor, é tudo que posso lhe dizer. Se não for o bastante, eu irei embora – Pois, afinal, se ela era um incomodo, deveria se retirar. Mesmo que lhe causasse mais problemas a ela. Mas, não ficaria ali sendo questionada e sofrendo pela desconfiança dele.

Darcy suspirou, passando a mão pelo rosto. Parecia contrariado.

— Parece que a senhorita gosta de fugir, pois já é a segunda vez que menciona querer ir embora da minha casa – ele disse, em voz baixa e a fitou com os olhos penetrantes – Mas, não é necessário partir. Pode ficar, mas preciso saber quem é esse homem que a trouxe para cá. E não vou desistir. Acredito que ele esteja a coagindo. Ele fez mal à senhorita?

 - Arg....como você é insistente! – Dessa vez ela não conseguiu controlar o temperamento. E o tom da sua voz deixou Darcy surpreso, o que a fez pedir desculpas – Me desculpe senhor.

— Eu...ninguém nunca me tratou com tanta descortesia – ele franziu os lábios, mas foi então que ela se surpreendeu. Ele estava sorrindo – A senhorita é petulante e teimosa como uma mula.

Lizzy gargalhou, sem o menor pudor. Ela sabia que uma dama não deveria fazer isso, mas ela não era uma dama. Os olhos de Darcy ficaram surpresos e depois, risonhos.

— A senhorita não vai me deixar ajuda-la? – ele insistiu – Eu insisto, pois não é somente por Georgiana, mas vejo que a senhorita é boa. E fico horrorizado somente de pensar que pode ter acontecido algo ruim com a senhorita.

As palavras dele, ditas de forma tão preocupadas, aqueceram o coração de Lizzy. Ela desviou o olhar, mirando os pratos sobre a mesa, tentando controlar a pulsação que estava disparada. Aquele homem mexia com seus sentidos. Mas, ela tentou se lembrar de que estava ali apenas por pouco tempo e não iria dar asas a imaginação. Nem ficar sonhando com aqueles lábios lindos e sorridentes dele.

— Eu agradeço sua preocupação, senhor. De verdade – ela garantiu e levou a mão dela sobre a dele, na intenção de conforta-lo. Mas, quem de fato precisava ser confortada ela era. Darcy olhou para a mão dela, surpreso, mas ele não retirou se afastou – E juro que nada me aconteceu de grave. Esse homem não me fez mal algum. Mas, insiste que eu fique aqui e cumpra minha jornada, a qual eu ainda não sei.

— A senhorita ainda me fala em enigmas – ele disse, com a voz baixa – Eu não consigo compreender.

— Nem eu – ela confessou, com um risinho fraco.

E foi então que ela escutou o som mais lindo do mundo. A risada de Darcy.

*

Depois do café da manhã agitado, Lizzy se retirou, alegando que precisava sair um pouco, para um passeio. Mas, Darcy não permitiu que ela fosse sozinha. Ela deveria levar alguém com ela. Como Georgiana não havia acordado ainda, ela concordou em levar Lucia com ela. Afinal, a criada parecia ter mais afinidade com Lizzy.

— Ainda não terminamos nossa conversa – Darcy disse, quando ela estava indo para a porta de saída da casa – A senhorita ainda me deve muitas explicações.

Lizzy bufou.

— Pois, vai ficar sem – ela rebateu, indo para a porta que foi aberta pelo mordomo, que era calado e distante.

— Então, eu acredito que irei acompanha-la em seu passeio – ele disse.

Lizzy arregalou os olhos. Olhou para o céu, que estava azul. Algo estava muito errado no universo. Primeiro não estava chovendo em Londres e segundo, Darcy insistia em estar perto de uma dama. Se ela estivesse correta em seu pensamento, Darcy era tímido. Mas, essa versão dele era mandona e debatia como ninguém.

— O senhor deve estar brincando – ela murmurou – Não tem assuntos importantes hoje?

— Eu sempre tenho – ele respondeu arrogante – Mas, a senhorita é um desses assuntos importantes. Então, eu a acompanharei em sua caminhada.

Lizzy respirou fundo, controlando a raiva. E sem dizer nada, deu um passo para fora da casa, descendo as escadas da varanda. O portão já estava sendo aberto por um lacaio. E Lizzy lhe desejou bom dia, com entusiasmo. Lucia a acompanhava de perto, assim como Darcy. E ela estava alheia a tudo.

Já Darcy, estava intrigado pelo mau humor da jovem. Ela parecia tão impetuosa. E isso o instigava a segui-la. Ele queria entende-la, pois afinal, estava dando abrigo a uma estranha. Mas, sentia dentro do seu coração que ela não parecia ser alguém ruim, mas uma pessoa necessitada de ajuda. Foi por isso que a ajudou. Mas, ao mesmo tempo, ele estava confuso com os sentimentos ela provocava. Ela era a primeira dama que revidava o que ele dizia e que se recusava a ser cortês com ele. Ela nem ao menos se atirou aos seus pés. E isso ele apreciava. Uma atitude daquela dizia muito sobre uma dama.

Ele percebia que Lizzy tinha um caráter firme. Ela não estava interessada em fazer fortuna, ou enganar as pessoas. Se fosse assim, ela teria se aproveitado da sua posição como amiga de Darcy. Mas, seu objetivo era ir para casa. E ele teria o maior prazer em ajuda-la a conseguir isso. Quem sabe, ele conheceria mais sobre ela e suas origens? Não deixaria de manter contato com aquela jovem tão interessante. Mas, se preocupava se ela fosse pobre. Seria um grande problema, mas ele se recordou que a amizade não deveria ser baseada nos status e ele percebeu isso tarde demais. Ele via como seu amigo Bingley sofria em silêncio por ter desistido de cortejar a senhorita Bennet por falta de fortuna. Ele fora aconselhado pela irmã a desistir dela e até mesmo por Darcy, que apenas acreditou que a dama em questão não retribuia seus sentimentos. E não queria admitir, mas acreditou que a falta de fortuna e a falta de modos da família Bennet o deixaram receoso em deixar seu amigo casar-se com ela. Ele não queria que Bingley se arrependesse aquela união. Mas, logo percebeu ele estava sofrendo. Como Darcy poderia consertar aquilo? Teria que voltar a Hertfordshire e verificar como as coisas estavam. E se Jane Bennet gostava realmente do seu amigo. Infelizmente, era algo dificílimo, pelo fato de que não tinha amizade com ninguém daquele condado. Não haveria motivos para voltar.

Os três chegaram ao Hyde Park, depois de uma caminha de quinze minutos. A casa que Darcy locou era perto de Mayfair, o que facilitava na locomoção. Não era necessário tomar uma carruagem para tudo. De fato, o certo era que ele levasse Lizzy de carruagem, mas ela era tão teimosa, que não permitiu aquele conforto. Estava aí mais um dos motivos daquela dama ser tão interessante.

Lizzy tentou tomar distancia de Darcy no parque, contudo, era quase impossível. Ele tentou puxar seu braço, para engancha-lo no seu, repetidas vezes. Mas, ela mantinha-se sempre um passo a frente. O decoro pedia que ela ficasse ao lado dele, com o braço enganchado, mas estava tão brava com Darcy que não pensou nas consequências. Ela percebeu que os poucos passantes que ali estavam olhavam para os dois com curiosidade e julgamento.

— Senhorita Elizabeth, poderia ir mais devagar? – ele pediu, exasperado.

Ela reduziu sua marcha e ficou lado dele, deixando que ele tomasse seu braço, para enganchar ao dele. A proximidade a fez ficar quente por dentro. Era algo tão simples e ao mesmo tempo, decoroso, mas que deixava Lizzy desestabilizada. Nunca sentiu nada parecido com ninguém antes.

— Está procurando algo no parque, senhorita? – ele perguntou.

— Estou – ela respondeu, de forma seca.

Não sabia se encontraria Alexander ali, mas com Darcy por perto, era melhor não encontrar.

— É aquele homem? – ele perguntou.

— O senhor é muito insistente – ela retrucou.

— Eu preciso ser. Afinal, a senhorita está se colocando em perigo – ele justificou.

Lizzy queria gritar com Darcy e dizer que poderia se defender sozinha, mas se calou. Foi quando ela viu uma cabelereira ruiva. Era um cavalheiro vindo à direção contraria. Estava montado em um cavalo de pelagem negra. E ficou bem mais próximo, conforme ela e Darcy avançavam na trilha de terra. Então, ela o reconheceu. Era Bingley.

Ela sorriu e acenou. Ele fez o mesmo, desmontando do cavalo.

— Que agradável surpresa encontra-los aqui - ele disse, fazendo uma leve reverência, que foi imitada por Darcy e Lizzy.

— Igualmente, meu amigo – Darcy disse, com bom humor – Estava passeando com a senhorita Elizabeth. Ela parece ter um mesmo habito que o meu de acordar cedo para se exercitar.

Lizzy não era uma pessoa madrugadora, mas era necessário devido ao seu trabalho, que começava cedo. Mas, não quis corrigi-lo sobre sua observação.

— É mesmo? – Bingley perguntou, sorrindo amável, para ela – Eu e Darcy sempre acordamos cedo para cavalgar, quando estamos no campo. Em Londres é mais difícil, pois meu amigo sempre tem um compromisso. E você também não fica muito por aqui, não é Darcy?

— Não. Eu prefiro estar em Pemberley – ele respondeu.

— Devia conhecer Pemberley, senhorita Elizabeth. Ficara fascinada pela propriedade – Bingley comentou.

Se fosse como nos filmes que ela viu, com certeza seria um lugar deslumbrante. Mas, ela apenas assentiu.

— Com certeza, deve ser uma propriedade magnifica – ela concordou.

E em seguida, percebeu que alguém vinha mais distante, acompanhado de uma dama. Ela percebeu pelo terno prateado que era quem precisava encontrar. Ela desatou o braço do aperto de Darcy e pediu licença. Caminhou na direção de Alexander, decidida. Ele iria tirar ela de lá, e seria hoje.


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