Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 30
Capítulo 30




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Há certas coisas na vida que não podem ser evitadas. A morte de um parente amado, a própria morte e uma inevitável briga. Não quando as duas partes são tão irracionais.

Quando Lizzy entrou na biblioteca, ela não imaginava que iria encontra-la ocupada já, por nada mais, nada menos que sua futura cunhada e o coronel Fiztwilliam. Era algo que ela imaginou ser improvável afinal Georgiana demonstrou ter decidido desistir dele. E Richard não demonstrou qualquer interesse nela. Mas, pelo visto, Lizzy estava enganada. Realmente, ela não sabia julgar os outros e não sabia o que as pessoas guardavam em seu intimo. Estava feliz pela situação dos dois, contudo, como era algo impróprio se encontrar as escondidas no século XVIII, Richard e Georgiana iriam sofrer pelas consequências do seu ato impensado.

Darcy ao trovejar ao entrar na biblioteca iluminada por apenas um candelabro, sobre um aparador, avançou sobre o primo, que já estava de pé. Georgiana estava afastada dele, se abraçando, como se tivesse cometido um erro vergonhoso e digno de um castigo severo. Seu olhar rondava do irmão, para seu primo e para Lizzy, que não sabia se a amparava ou afastava Darcy de Richard.

Foi inevitável parar o golpe que Darcy desferiu no maxilar do primo. E foi inevitável que Richard caísse sobre a poltrona, que estava sentado há alguns instantes, antes de ser flagrado aos beijos com Georgiana.

— Seu bastardo! - Darcy vociferou - Como se atreve a encostar na minha irmã? Não percebe que tem o dobro da idade dela? E ainda a envergonha dessa maneira?

Ele mirou um olhar irado de Richard para Georgiana. Seu maxilar estava trincado e Lizzy nunca o viu tão violento quanto naquele momento. Talvez, apenas com Alexander. Ela deu graças por ele não estar ali.

— Darcy, por favor, vamos tentar resolver essa situação sem uma briga - Lizzy tentou intervir.

— Elizabeth, eu não pedi sua opinião! - Darcy se virou para ela, com um semblante furioso.

Ela gostaria de ser uma pessoa racional naquele momento e não levar pelo lado pessoal a forma como ele a tratou, com tanta rispidez. Mas, era impossível. Seu ego ficou inflamado pela forma como foi tratada ela queria uma reparação pela forma como foi tratada. Contudo, Darcy deu as costas para ela, voltando-se para seu primo.

Lizzy resolveu engolir seu orgulho, por enquanto e fechar a porta da biblioteca, antes que alguém aparecesse. Fechou as portas duplas e se aproximou novamente do seu noivo e de Richard, que encolhia os ombros, ouvindo o sermão de Darcy. Lizzy não queria estar na pele dele.

Ela se aproximou de Georgiana que tremia da cabeça aos pés e a puxou para si. A jovem dama se aproximou de Lizzy, sem o menor intento de fugir. Lizzy a guiou para ficar atrás de algumas estantes, mas era impossível não ouvir a voz severa de Darcy. Ele falava, mas não permitia Richard contestar ou se defender.

— Eu não posso acreditar que deixei você cuidar da minha irmã. Há quanto tempo isso vem acontecendo, Richard?

— Eu juro que isso nunca tinha acontecido. Eu...

— Não, eu não desejo ouvir suas desculpas - Darcy interrompeu, de forma abrupta - Eu sinceramente não acreditaria em nenhuma palavra que viesse de você. Afinal, sabe que uma dama não deve estar em uma biblioteca, com um cavalheiro, correndo risco de serem descobertos e terem a reputação manchada!

— Darcy...eu...

— Não, eu não quero ouvi-lo. Sua voz inflama ainda mais minha ira - Darcy o cortou, de forma grosseira - Eu temo de que terei de desafia-lo para um duelo. Não vou permitir essa sem falta de vergonha sobre meu teto.

— Não! - Georgiana gritou. Estava abraçada a Lizzy, mas se desvencilhou dos braços dela e saiu de trás da estante. Lizzy a acompanhou, procurando o olhar do noivo, mas ele evitava olha-la. Seu olhar era dirigido a Georgiana e qualquer um que tivesse bom senso, iria baixar a cabeça diante do olhar frio e imponente dele. Mas, esse não era o caso de Lizzy e Georgiana parecia ter recuperado sua coragem. Richard, no entando, apenas balançava a cabeça, comprimindo os lábios e tinha um semblante derrotado. Estava quase encolhido sobre a poltrona, cerrando os punhos sobre os joelhos - Você não pode fazer tal coisa! Não atire esse desafio ao seu próprio primo!

A voz de Georgiana era histérica. Doía aos ouvidos, mas Darcy não parecia nem um pouco comovido ou irritado com isso. Ele simplesmente a fitou com um olhar condescendente.

— Já deixei que George Wickham escapasse da punição merecida - Darcy disse, em tom frio que assustou Lizzy. Parecia ser um exagero aquilo tudo, mas será que ela deveria se meter naquele assunto? - Não farei isso mais uma vez. A partir de hoje não considero Richard da família - ele mirou o primo, que estava pálido feito cera - E nesse momento eu o desafio a um duelo, pela honra da minha irmã - Ele disse, como se fosse uma sentença de morte.

— Não, pelo amor de Deus! - Lizzy disse, com indignação. Darcy a fitou com um olhar rispido, mas ela não se importou com isso. Seu olhar apenas a deixou com vontade de estrangula-lo. Como ele podia parecer tão centrado e de repente, ser irracional daquela maneira? - Darcy, escute o que está dizendo, você simplesmente não está escutando o lado de Richard ou de Georgiana.

— Eu não vou tolerar...- Darcy estava empertigado, com os punhos cerrados e seus olhos eram duas chamas acesas.

— Ora, eu é que não vou! - ela interrompeu, assustado os presentes. Disse com tão energia, que ninguém se atreveu a interrompe-la - Darcy, eles se amam, há muito tempo. É visível que sim. Eu sei dos sentimentos de Georgiana para com Richard. E já vi várias vezes seu primo olhar com devoção para ela - Sua futura cunhada a olhou com olhos mortificados. Já Richard soltou o ar que prendia. Darcy fitava Lizzy com descrença e o cenho franzido - Eu sei que não acredita em mim, mas juro pela minha honra - Ela não acreditava que estava fazendo aquele juramento, mas era a única maneira de fazê-lo acreditar nela - Que esses dois se amam, Darcy. Por que simplesmente exigir a reparação da honra da sua irmã, se pode exigir um casamento? Os dois serão felizes assim e ninguém terá que morrer. E eu duvido muito que você saiba manusear uma pistola. Com certeza, Richard o mataria no processo e seria um assassino. É isso que quer?

— Ora, mas que insolência - Darcy disse, parecendo mortificado - A senhorita está duvidando das minhas habilidades de usar uma pistola?

Richard mordeu os lábios, parecendo segurar o riso. E Georgiana parecia incrédula, fitando Lizzy como se ela tivesse criado mais uma cabeça.

— Sim, eu ouso - Lizzy respondeu, sem pestanejar. E recebeu um olhar cortante dela - E se não pode poupar a vida do seu primo, pode esquecer o seu pedido de casamento a mim. Duvido muito que você sobreviva a esse duelo e se sobreviver, eu nunca mais irei falar com você, Darcy!

— Não pode estar falando a sério...- ele disse com a voz fraca e um olhar perdido.

— Eu falo muito a sério. Não duvide disso! - ela respondeu com rispidez e se voltou para Richard - Coronel Fitzwilliam, sei que tomei meu lado, sem consulta-lo, mas faça sua opinião presente nessa situação. O senhor deseja se casar com Georgiana?

— Sim...eu...eu sei que não a mereço, mas eu a amo - ele respondeu, com a voz falha e com um olhar culpado, olhando de Lizzy, para Darcy e Georgiana - Por favor, me perdoe Darcy. E me perdoe, Georgie. Eu deveria ter feito o pedido antes...

— Não...- Georgiana disse com a voz entrecortada - Não pode se casar comigo se esse não for seu desejo.

Lizzy queria sacudir Georgiana. Isso somente iria piorar as coisas.

— Georgiana...- ela tentou dizer, mas Richard se levantou da poltrona, apenas para ajoelhar diante da prima.

— Georgiana Darcy, você me daria a honra de ser minha esposa?

Lizzy encarava a situação sem acreditar. Olhou para Georgiana, que tinha lágrimas nos olhos e ainda estava tremula. Depois para Darcy, que tinha um semblante absorto, com a mão no queixo.

— Eu nunca imaginei...- ele sussurrou, balançando a cabeça.

— Sim, eu aceito. Mas...Richard, por favor, não faça isso por obrigação - A voz de Georgiana era tremula e era visível o quanto ela estava abalada pelos eventos e se sucederem naquela biblioteca.

Richard se ergueu e apenas puxou a mão dela, beijando-a com delicadeza. Todo amor e devoção estavam contidos naquele olhar.

— Eu te amo, Georgie. Eu nunca iria expô-la a isso, nem dar vazão a minha paixão, se realmente não sentisse isso.

— Mas...você estava distante de mim - ela disse em tom acusatório.

— Eu estava, pois eu acreditei não a merecer. E ainda não a mereço.

De repente, Lizzy se sentiu uma intrusa, ouvindo a confissão daqueles amantes e foi se afastando para a porta. Era melhor não testemunhar aquilo e deixar Darcy resolver o que tivesse que ser resolvido, afinal, Lizzy não fazia parte daquela família, de fato. Apenas faria se fosse pelo casamento.

— É isso que querem? - ela pode escutar Darcy perguntar, enquanto abriu a porta da biblioteca.

— Sim, de todo meu coração - Georgiana respondeu.

Lizzy fechou a porta, olhando para a madeira, respirando profusamente. Devia voltar para festa e mostrar que tudo estava bem. Afinal, eles eram os anfitriões. Mas, no momento, não estava bem. Não estava mesmo. Ela precisava ficar um tempo sozinha, apenas para pensar. Então, ao invés de tomar a direção para o salão de baile, ela tomou o caminho para as escadarias, indo direto para seu quarto. Estando ali, fechou a porta e sentou na cama, tentando tirar o espartilho, que parecia sufoca-la. Ou ela estava nervosa com tudo que aconteceu e por isso, sentia que o espartilho apertava seus pulmões?

Seus dedos trabalham nas cordas do espartilho, tentando tirar a força. Como era nas costas as amarras, ela quase não tinha forças para isso. Escutou o tecido rasgando de repente, mas não se importou. Quando conseguiu tirar a peça, sentiu o ar preencher seu peito. Ela respirou profundamente, uma, duas vezes. Sentia-se tonta. E não sabia o motivo para isso. Era como se estivesse tendo um ataque de pânico. Algo que não tinha há alguns anos. Não desde a morte dos seus pais. Nunca contou para sua irmã Jane que depois de alguns dias, depois do enterro dos seus pais, ela via repetidamente a cena do caixão deles sendo baixado e a terra sendo jogada para cobri-los, incessantemente. Pensou várias vezes se eles estariam com frio, com fome ou tentando sair. E ter aquele pensamento a deixou com falta de ar. Ela começou a suar frio e não conseguia respirar direito. Mas, as lágrimas não vieram. Nunca vinham. A saudade perfurava seu peito, mas nenhuma lágrima sequer.

Naquele instante, em que ela se livrava dos trajes de baile e ficava apenas com a camisola, sentiu seus olhos aguados. As lagrimas embaçando a visão. Então, o soluço veio em seguida e isso a assustou. Ela começou a rir e a chorar ao mesmo tempo, afinal, era um evento que não acontecia com ela desde a morte dos seus pais. E era bom deixar as lágrimas fluírem. Era bom ter os sentimentos represados se esvaindo dela, esgotando. Mas, por que mesmo ela estava chorando?

Lizzy sentou-se na cama, na escuridão daquele quarto, chorando baixinho, sem querer chamar a atenção de ninguém. Era um momento só seu. E depois que sentiu que não poderia mais chorar, secando o rosto com a palma da mão, ela se perguntou mais uma vez o motivo para estar chorando. Por um momento, acreditou que fosse Darcy e sua rispidez na biblioteca. Talvez, isso tivesse sido um gatilho para seu emocional. Isso a fez pensar que ela não queria estar ao lado de um homem que agisse de forma irracional, na visão dela. Mas, as ações dele eram desculpáveis, afinal, ele era um homem do século XVIII. O que mais esperar dele naquele instante? Algo que poderia ser comum para ela, banal, não seria para ele. E isso a assustava e muito. Pois, em algum momento ela faria ou diria algo que ele não iria compreender. Provavelmente isso acenderia sua ira e ela não queria isso. Mas, também, não poderia mudar a natureza dela. Lizzy não era uma dama daquele século, nunca seria. Em algum momento, ele perceberia isso. Por isso, estava chorando. Tanto pela forma como ele a tratou, quanto por saber que ela não era perfeita para ele. E ele a culparia por isso. Ele diria que deveria ter se casado com uma mulher mais recatada, que não o desafiasse ou que não fosse insolente. Eram palavras dele. Ele disse que ela era insolente, apesar disso, fora ela a provoca-lo. Diminui-lo, dizendo que ele não tinha habilidades necessárias para entrar em um duelo. Contudo, essa foi a única forma que ela encontrou para para-lo. Para que ele voltasse a si e visse o absurdo que era duelar com o próprio primo.

Seus pensamentos foram interrompidos, quando escutou um zumbido ecoar no ar, como se um zangão ou uma abelha estivesse no quarto. Ela se pôs a procurar o som, encontrando o celular em volta do tecido da saia. Havia se esquecido completamente dele. Tomou o aparelho que era gelado ao contato da pele e notou que a tela estava acesa, ilumando parte do quarto. Percebeu que tinha uma mensagem e abriu.

"Meus parabéns. Sua missão está concluída. Logo você poderá ir para casa"

— Não! - ela gritou, atirando o celular no chão, em um reflexo involuntário - Não, não, não!

Ela tentou controlar a respiração. O medo invadia seu ser, deixando sua visão nublada. Ela mal podia enxergar um palmo a sua frente, devido a escuridão do quarto, mas com as emoções afloradas, ela sentia que mal conseguia pensar. Perguntou-se o motivo para aquela mensagem. Será que ela voltaria para casa? Impossível. Não poderia ser isso. Alexander se esforçou tanto para unir ela a Darcy. Apesar disso, talvez, fosse melhor ela ir embora, pelo fato de que ele se decepcionaria com ela se levassem aquele casamento adiante. Ele iria perceber uma hora que ela era uma farsa. Que nunca foi criada para ser uma dama. E logo, todos os conhecidos dele iriam se afastar e ele iria se arrepender amargamente daquela decisão. E a culparia todos os dias de sua vida. Não, ela não poderia suportar a rejeição em seu olhar. Não poderia suportar a sua raiva. Talvez, devesse realmente voltar. Era melhor assim.

Tateou no chão, a procura do celular, pois ela sabia que esse objeto era uma máquina do tempo. Não poderia perdê-la. Era seu bilhete de volta para seu tempo. Para casa. Para Jane e seus amigos. Encontrou o objeto e levou para cama, consigo e deitou-se. Cobriu seu corpo com os lençóis e ficou ali, encolhida feito um novelo de lã, abraçando os joelhos. O celular ficara de baixo do travesseiro, para caso ele apitasse de novo ou a levasse para casa. Ela estava com tanto medo. Com tanto insegurança. Ela queria muito ir para casa. Somente chegar a sua casa, em seu apartamento e abraçar seu cachorro. Como sentia falta de Boris. Como sentia falta de Jane. Como sentia falta da segurança e do conforto que sentia em seu próprio tempo.

 

*

Batidas ecoavam. O toc-toc incessante sobre a madeira.  Lizzy comia sorvete direto do pote e ria com sua irmã Jane, enquanto viam “Como se fosse à primeira vez”. Como sentia falta de ver um filme. E sentia ainda mais falta de Jane. Sua irmã tinha uma risada tão bonita. E Boris. Boris estava no colo dela, pedindo carinho. Aquele cachorro traidor. Lizzy havia passado tanto tempo fora, que ele nem sequer lhe dava atenção. Mas, alguém estava na porta. Batendo e batendo.

— Vai atender a porta, Lizzy – Jane diz, sem desviar o olhar da TV – Deve ser Meredith e Josh.

— Vai você – Lizzy pede, pegando Boris no colo. O cachorro se aninhou no colo dela – Estou curtindo meu cachorro agora.

Jane gargalhou.

 - E seus amigos não são importantes? Faz tempo que você não vem aqui e não quer ver eles?

Era verdade. Tudo verdade. Fazia tanto tempo que não via eles. Que não via Jane. Os olhos verdes dela reluziam de forma adorável. Como sempre.

— Está bem – Lizzy suspira, deixando Boris no chão – Vou atender a porta.

— Isso ai garota. Nada de preguiça.

Lizzy ri. Típico de Jane inverter a situação, para não fazer uma tarefa e fazer com que Lizzy faça. Mas, não importava. Ela estava em casa, finalmente. Quando abriu a porta, se deparou com alguém que não imaginava que fosse ver. Ele estava vestindo sua casaca negra, com a gravata branca, enrolada no pescoço e os cabelos negros arrumados de forma elegante, para o lado. As costeletas o deixavam irresistível. E os olhos, aqueles olhos azuis... ela poderia se perder neles, sem pensar.

— Elizabeth – Darcy diz, com a voz pesarosa – Por que me deixou?

Ela sentiu falta de ar, de repente. Fez isso mesmo?

— Darcy...eu...- ela tenta se justificar. Mas, espera um pouco, com voltou para casa? Ela não se lembrava – Eu não te deixei...eu...só...

— Eu a amo ardentemente. Isso não basta?

O olhar dele é acusatório. Ele lhe da às costas.

— Darcy, espera – ela pede, saindo do apartamento, sem se lembrar de calçar os sapatos. O mais importante é alcança-lo – Darcy, por favor!

Então, ela se vê em um espaço em branco. Não há mais Darcy, não mais Jane. Nem Boris. Não há mais futuro.

— Não!

*

— Elizabeth – alguém parecia chama-la repetidamente. O toque em seu rosto era quente. Muito desconfortável.

Ela virou o rosto, tentando se esconder.

— Elizabeth.

Ela abriu os olhos, irritada. E não imaginava que fosse ver Darcy, no seu quarto, com o dia raiando lá fora. Era possível ver os raios de sol se infiltrando por entre as cortinas.

— Darcy – ela respirou fundo, sentindo o peito menos opresso. Ela não havia voltado no tempo. E ele não havia ido embora. Isso a deixou mais tranquila.

— Me perdoe – ele pediu se afastando da cama. Seu olhar era pesaroso. Algo estava errado. Muito errado – Eu queria ver como você estava, depois de ontem...Você simplesmente sumiu da festa...- Ela se sentou de forma ereta. O que estava havendo? Será que ele a deixaria?

— Eu não estava bem, só isso – ela tentou explicar.

— Eu imagino que não – ele passou a mão pela nuca, soltando o ar que prendia – Foi algo muito constrangedor...o que houve na biblioteca...Eu sinto muito. Eu sinto tanto por ter sido grosseiro com você.

Ah, então era isso. Ela deveria conversar com ele sobre isso. Tentar entendê-lo também.

— Não se preocupe, está tudo bem – ela disse, de forma ansiosa. Apenas queria que aquele desconforto dissipasse. Estava sentindo o ar tenso no quarto.

— Não, não está – ele frisou e isso a deixou temerosa.

— Não quer mais se casar comigo? – ela perguntou. E não sabia o motivo para pensar nisso. Mas, era óbvio que sim. Ela havia o desafiado ontem.

— O que?  Não – Ele parecia confuso e de repente sorriu. O que a deixou confusa – Não, Elizabeth. Eu pensei que você não iria querer se casar comigo.

— Eu pensei a mesma coisa, acredite.

Ele de repente fez algo que ela não imaginava. Ele riu. Sua risada era grave e tão bonita aos ouvidos. Ela sentiu todos os pelos do seu corpo se eriçarem.

— Oh, Elizabeth...eu sinto muito – ele disse, sentando na cama dela, a fitando com pesar – Eu entendo que não queira se casar com um homem tão pouco compreensivo. Georgiana disse que eu correria esse risco, devido à forma que lidei com toda a situação...

— Georgiana está errada – Lizzy garantiu, pegando as mãos dele, beijando-as. E isso o surpreendeu – Eu te amo e não quero um futuro sem você. Nunca, jamais.

Ele sorriu brandamente. E então, soltou a mão dela, parecendo envergonhado.

— Eu não devia ter entrado no seu quarto, sem esperar que você acordasse.

— Está tudo bem. Você vai ser meu marido. Pode entrar quando quiser.

— Não, Elizabeth. De maneira alguma. Não se preocupa com sua reputação?

Seu olhar era severo, de repente. E ela precisava dissipar isso também.

— Darcy, eu...por que entrou aqui? – Ela não pode deixar de se perguntar, afinal, era algo que ele nunca faria.

— Eu...- ele passou a mão pela nuca, olhando para a porta cerrada. E o mais surpreendente era que a porta estava realmente fechada. O que ele estava pretendendo? O que quer que fosse ela toparia – Eu ouvi seu grito, enquanto batia na porta. Fiquei com medo de que algo estivesse acontecendo, mas você estava apenas tendo um pesadelo. Por isso, entrei e tentei acorda-la.

— Ah – ela disse, entendendo a situação. Deveria ter gritado por causa do sonho estranho que teve. Vê-lo partir deixou seu coração em pedaços. E se realmente isso acontecesse, seu coração nunca poderia se reparado. Não poderia colar as partes quebradas. Nada poderia curar a dor que ela sentiria se nunca mais pudesse vê-lo. Devido a isso, havia tomado à decisão de não voltar para casa. Pediria a Alexander que não a mandasse de volta, pois não era o que ela queria. Mas, onde encontra-lo? Precisaria estar com celular, para caso quisesse se comunicar com ele.

— Por curiosidade – Darcy interrompeu seus pensamentos e ela voltou seu olhar para ele. Então percebeu que suas roupas estavam espalhadas no chão e que estava coberta apenas por uma fina camisola. Não que estivesse desconfortável com isso e com ele. Mas, era estranho Darcy não ter saído ainda do quarto dela, devido ao decoro. Faria de tudo para não deixa-lo pensar nisso – Por que você gritou? Que sonho você teve?

Ela mordiscou os lábios, tensa. Não queria contar para ele que o viu partir.

— Era só um sonho ruim – ela respondeu de forma evasiva. Não iria contar que seu maior medo era perder ele, assim como perdeu seus pais.

— Tudo bem...quando estiver confortável em me contar, eu irei entender a situação – ele disse, com um sorriso decepcionado.

— Eu prometo que irei contar. Um dia.

Ele assentiu. Então, os dois se encaram em silêncio, por alguns segundos, ou minutos. Lizzy não sabia. Ela apenas segurou a respiração, sentindo todo seu corpo inflamando, pelo olhar dele. Ele descia seus olhos pelo rosto dela, perscrutando e voltou-se para sua boca. Ela sabia que ele queria beija-la. E era o que ela mais queria. Mas, sabia que ele nunca tomaria a iniciativa. Por isso, se aproximou dele na cama e o colou sua boca na dele. Por um instante, ele retesou, sem retribuir, mas logo relaxou e puxou sua nuca com a mão. O beijou se tornou urgente, quase como se os dois precisassem termina-lo o mais rápido possível. Mas, ela não permitiu isso. Sem parar de beija-lo, ela sentou-se em seu colo, passando uma perna de cada lado da cintura dele. O que o fez grunhir de prazer.

— Elizabeth...o que... – ele se afastou, parecendo confuso, segurando-a pelo ombro – Não podemos fazer isso.

— Não podemos, mas não importa. Eu amo você. E só quero demonstrar isso agora – ela ignorou o olhar de advertência dele e apertou suas pernas em volta dele e começou a beija-lo no pescoço, com os braços em volta, acariciando seus cabelos com os dedos.

— Elizabeth...o que você faz comigo...eu...

A voz dele estava entrecortada, rouca. E seu coração batia com força no peito. Ela sentia isso, pois estava com seu corpo colado ao dele. Estava adorando vê-lo daquela forma, entregue. Voltou sua boca a dele, procurando-o com sofreguidão e ele respondeu a investida dela de forma avida. Ela pode sentir seu desejo e o quanto ele a queria.

— Elizabeth – ele parou de beija-la, segurando-a na cintura, com as duas mãos. Seu olhar era intenso e isso a deixava com os sentimentos ainda mais aflorados. E estava frustrada que ele tivesse parado de beija-la – Não podemos fazer isso aqui. Não vou comprometê-la.

— Darcy...não – ela pediu.

— De maneira alguma isso vai acontecer aqui – ele disse com veemência dessa vez e puxou-a para que ela ficasse em pé.

Ela abraçou a si mesma, fulminando-o com o olhar. E ele fazia o mesmo, o que era irritante.

— Elizabeth, esperemos até o casamento. É o mais correto.

— Isso tudo é tão antiquado – ela deixou escapar.

— Como assim? Por que é antiquado? É o correto, Elizabeth.

Dessa vez ele estava de pé, com um olhar desconfiado para ela. Então, foi o momento em que ela percebeu que havia falado demais.

— Eu somente acho que quando duas pessoas se amam, não importa se elas querem extravasar isso antes do casamento.

Sua justificativa parecia ter tornado a situação ainda pior. Ele a fulminava com o olhar, com os braços cruzados.

— O que quer dizer, Elizabeth? Existiu outro homem em sua vida?

— Eu...não... – Ela balbuciou.

Ele soltou o ar, parecendo ainda mais irritado. Descruzou os braços, passando a mão pelos cabelos escuros, tenso. O maxilar retesado.

— Diga-me se serei seu primeiro, Elizabeth.

Ela não poderia responder com uma mentira. Por isso, se calou. Omitir não era o mesmo que mentir.

— Diga! – ele exigiu e isso a deixou assustada.

Não iria responder aquilo.

— Entendo – ele disse, crispando os lábios.

E fez como havia feito no sonho, se afastou dela, lhe dando as costas, indo direto para a porta. Ela o seguiu em desespero.

— Não, Darcy. Por favor! – ela pediu – Não vá embora.

— Eu só preciso pensar – ele pediu, com a mão na maçaneta – E não quero que saia assim, com essas roupas...Apenas se vista, vá fazer seu desjejum. Nos encontramos mais tarde.

Ele disse tudo isso, sem se dignar a se virar. A porta ficou aberta. E ela pode vê-lo se afastar com as costas retesadas. Por que tinha que estragar tudo daquela maneira, se atirando nos braços dele, sem pensar?

*

Lizzy tomou o café da manhã, de forma forçada. Não sentia fome. Não sentia o gosto do pão de broa, nem do arenque defumado. Nem dos ovos ou do bacon. Os aromas daquelas comidas se misturavam no ar, a deixando enjoada. Ela pediu licença para a família Gardner, a Georgiana e a Richard, para sair da sala. Sua desculpa era de que estava enjoada e precisava repousar. Nem esperou uma resposta deles.

Não voltou para o seu quarto. Ao invés disso, escolheu caminhar, mesmo que o tempo estivesse nublado. Pensava em Darcy e no quanto ele parecia decepcionado. Mesmo não tendo contado a ele nada sobre seu passado, era óbvio que no momento em que casasse, ele notaria que ela não era mais virgem. O que seria um grande problema. Era visível que ele estava abalado sem uma resposta dela sobre aquele assunto. Se ela confirmasse ou se casasse sem contar nada, talvez, ele a odiasse.

Ela suspirou, cansada demais. Não aguentava toda aquela pressão. Não nasceu para ser uma dama. E não nasceu para ser recatada. Como ela pode achar que os dois poderiam dar certo? Seria tolice achar que ele iria compreendê-la. Seria pedir demais dele. Ele fora criado em um universo paralelo ao dela. E os costumes e os hábitos dela eram contrários aos dele. Eles nunca poderiam dar certo.

Parou no momento em que iria dar um passo para dentro do lago. Estava tão distraída que não percebeu isso. Nem que estava sendo observada.

— Srta. Elizabeth – a voz de Darcy soou atrás dela – Podemos conversar?

— Sim, é claro – ela respondeu, com o coração a mil, devido a natureza da conversa e por ter sido surpreendida por ele.

Os dois caminharam lado a lado, seguindo pela trilha, que era rodeada por árvores. Era por ali que a carruagem veio. E era por aquela estrada de terra que eles caminharam alguns dias atrás, quando tudo parecia certo. Quando tudo parecia tão perfeito. E naquele instante, tudo parecia que iria desmoronar como um castelo de cartas, atingido pela simples brisa.

— Elizabeth, eu sinto muito pelo meu comportamento em seu quarto. Eu nunca deveria ter entrado e nem encorajado qualquer avanço que tivemos essa...manhã.

Ele parecia desconfortável, com as mãos dentro do bolso da calça de cor creme.

— Está tudo bem. Foi culpa minha.

— Não, foi culpa minha ter permitido esse comportamento – ele retorquiu. O que a deixou irritada. A honra que ele tinha começava a deixa-la muito irritada – O que me leva a questionar que vida a senhorita levou durante esse tempo que não nos conhecemos. Pois, a senhorita é desinibida. Nada do que uma dama deveria ser. E me preocupo com sua resposta quanto a minha pergunta dessa manhã. Eu não queria abordar o assunto, mas me vejo na obrigação de saber, afinal, mal nos conhecemos. Eu nada sei sobre suas origens. E você sabe mais de mim do que eu poderia saber de você.

Era justo ele questionar aquilo. Então, ela abriria o jogo e seria verdadeira com ele.

— Darcy, eu não sou a dama que você espera ou sonha que eu seja – ela começou a falar e pode ouvi-lo suspirar. Parou de andar e ele fez o mesmo. Precisava olhar em seus olhos. E ela pode ver a apreensão neles – Não sou uma pessoa de má índole, se quer saber. Mas, meu passado não é como você deve estar supondo. Eu vim de um lugar diferente. Com costumes e hábitos diferentes. Onde uma mulher pode ser livre, trabalhar. Além disso, pode casar e ter filhos no momento em que desejar – Ele franziu o cenho, incrédulo e cruzou os braços. Mas, isso não desencorajou de continuar a explicar para ele sobre sua vida – O que estou tentando dizer é que seus costumes e forma de ser não condizem com o que sou. E eu sempre vivi sozinha, Darcy. Sempre trabalhei. E tive namorados. Eu não sou virgem.

Ele abriu e fechou a boca. E seu rosto e seu pescoço adquiriram um tom avermelhado. Era óbvio que estava envergonhado com a admissão dela e muito irritado. Ele havia trincado o maxilar e o seu olhar era enciumado. Ela percebeu que devia ter começado a falar de outra maneira sobre o assunto. Mas, não poderia mentir mais para ele.

— Então, você precisa aceitar meu passado. Se não for possível, não precisamos nos casar. Podemos esquecer esse assunto agora mesmo.

O silêncio que tomou o ambiente era excruciante. Ele abriu e fechou a boca, parecendo estático. Ela sentiu todo seu corpo rígido, como medo da resposta dele. Prendeu a respiração, esperando uma resposta definitiva dele. Aquela que iria decidir todo o futuro deles. O seu futuro.

— Diga-me quem foi o canalha que fez isso com você.

A pergunta dele a deixou pasma.

— Espera o que? – Ele estava preocupado apenas com isso? Com o homem com quem ela se envolveu? Bom, era óbvio que ele estaria.

— Quem foi o cavalheiro sem honra que tomou sua virtude, Elizabeth? Exijo saber o nome dele, para reparar sua reputação. Será minha esposa e quero me assegurar de que ele nunca mais vai tocar em um fio de cabelo seu.

Era tão doce ouvir aquelas palavras. Mas, era uma situação cômica. Ele estava apenas preocupado com ela, o que a comoveu.

— Ah, Darcy – ela disse comovida, colocando a mão sobre o braço dele. Ele a fitou com preocupação genuína e tocou seu rosto com carinho – Não precisa se preocupar com isso. Foi há muito tempo. E lembra que eu lhe disse que era uma mulher independente? Eu não queria me casar com ele, nem como ninguém. Exceto por você.

— Não consigo compreender isso – ele respondeu de forma franca, sem deixar de acariciar a bochecha dela – Não posso deixar de me preocupar com isso. Uma dama deve ter sua reputação resguardada e se casar. E ter relações apenas com seu marido. É o correto.

— Mas, eu não sou uma dama. De onde venho, não é assim.

— Esse lugar não pode existir – ele disse, com certa veemência, balançando a cabeça e soltando a mão ao lado do quadril – Sinto muito se não posso acreditar em você, Elizabeth. Mas, nunca ouvi falar de uma cidade, província, reinado ou país republicano que tenha essa visão. Apenas Mary Wollstonecraft poderia ter pensado nisso, afinal, ela defende os direitos das mulheres – ele fez uma careta ao dizer isso. O que a fez rir – Mas, se quer saber, minha querida, eu vou aceitar seu passado, para que possamos construir um futuro juntos. Porque eu amo você, de todo meu coração. E me enche de ciúme saber que um homem pode engana-la e usa-la de tal maneira. Isso nunca, jamais vai acontecer com você, de novo.

Ele tomou a cintura dela. Lizzy sentiu-se muito feliz e com o coração derretido por ouvir aquela declaração dele. Ele não era um homem em prol do progresso e dos direitos das mulheres, mas ele aceita-la como ela era já era o suficiente. Já era o bastante.

— Obrigada por me amar assim, Darcy – ela agradeceu, se equilibrando nas pontas dos pés para lhe dar um selinho. Ele retribuiu de volta, corando – Eu o amo tanto.

— Eu também. Eu te amo para sempre, Elizabeth – ele disse como se fosse necessário fazer uma promessa e isso tocou profundamente sua alma – Sempre vou ama-la. Eu não quero nunca perdê-la.

Eles ficaram abraçados, então. Parecia dançar uma dança silenciosa, que o compasso era a batida dos corações deles. Batiam de forma apressada, mas de repente, se acalmaram pela forma como estavam entregues um ao outro. Apenas abraçados, como se isso fosse à coisa mais importante do mundo.

Um zumbido ecoou no ar, de repente. Lizzy ficou tensa. Ela se afastou dele. O olhar de Darcy era cheio de confusão. Ele procurava o som, mas vinha de um aparelho peculiar. Ela puxou de dentro do bolso o celular, olhando para a tela e se afastando de Darcy de forma involuntária, como se pudesse protegê-lo daquela invenção.

— O que é isso? – ele olhou curioso, para o objeto que estava na mão dela.

— Eu devia ter sumido com isso – ela disse mais para si mesma, do que para ele.

Com as mãos tremulas, abriu a mensagem que havia chegado.

“Missão concluída com sucesso!”

O que poderia ser aquela mensagem? Ela havia cumprido com sua missão? Mas, que missão? Ela não conseguia compreender se era sobre Darcy, ou sobre ela. Olhou incrédula para ele, que a fitava expectante.

— Deixe-me ver – ele pediu, estendendo a mão – Por que está carregando isso?

— Eu...- ela teria respondido, mas um clarão irrompeu.

Vinha do celular, agora ela sabia de onde vinha. Darcy deu alguns passos para trás, tapando os olhos e ela largou o celular no chão, assustada, ela não iria embora. De maneira alguma. Mas, era tarde demais. Muito tarde.

Quando o clarão diminuiu, ela tentou focar os olhos. E seu estomago embrulhou. Tudo que via era uma estrada asfaltada. Algumas árvores ao redor. E a frente dela, a mansão Darcy, com uma fila de pessoas, na entrada que dá para o térreo. E algumas nas escadarias de entrada.

— Cadê? – ela perguntou em ninguém em particular, olhando para o chão. O celular estava no chão. Ela pegou e procurou mais mensagens, mas não havia nenhuma – Darcy?

Ela olhou ao redor. Darcy não estava mais ali. Ela estava sozinha. E a buzina de um carro a fez saltar.

— Saia da rua, sua louca! – alguém vociferou dentro de um sedan preto, passando ao lado dela.

Havia, então, atrás dela, uma fila de carros indo direto para a propriedade dos Darcy. O que eles faziam ali? Lizzy atravessou a rua, indo direto para a grama. Olhou ao redor, vendo que algumas coisas haviam mudado com o tempo. O lago não existia mais, em frente à propriedade. Havia poucas árvores ao redor. A mansão Darcy estava mais envelhecida, mesmo com aspecto de ter sido preservada com o tempo. O tom creme não estava mais ali. Era um pouco mais amarelado. Ela olhou para o céu, com nuvens e azul. Sem sinal de chuva.

Voltara no tempo. Não havia como negar isso. Mas, ela só queria se ajoelhar no chão e chorar.


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