Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 24
Capítulo 24




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Lizzy caminhou por entre as árvores e não conseguiu encontrar o mesmo lugar que estava fazendo piquenique com os irmãos Darcy e Coronel Fitzwilliam. Mas, ela conseguiu encontrar o caminho de volta a propriedade, que já estava a vista, enquanto ela caminhava pela estrada de terra. Passou pelo da propriedade, desejando sentar-se ali e mergulhar os pés da na água, mas reconsiderou o seu desejo. Precisava encontrar um lugar ideal para esconder seu celular. Só assim sentia que estaria segura e nunca mais voltaria ao século XXI. Era a decisão mais arriscada que já tomou em sua vida, mas iria fazer isso. Ficaria com Darcy, naquele século e viveria ao lado dele. Apenas não sabia o que esperar do que teriam. O casamento era algo que ainda lhe causava pavor. Será que estaria disposta a isso? Entregar sua vida a outra pessoa e viver com ela até que a morte os separe? Era tão sério o assunto, que Lizzy quase reconsiderou suas ações, mas logo estava em frente ao pátio de entrada da mansão dos Darcy. E Darcy estava saindo pela porta da frente. Ele estacou, olhando para ela. Seu olhar era de surpresa.

 

— Senhorita Elizabeth - ele disse, com a voz um pouco aguda - Estava indo procura-la - Então, ele parecia ter relaxado, como se um peso tivesse saído de cima dele.

 

Lizzy pensou consigo mesma que talvez não devesse ter fugido daquela maneira, quando estavam conversando sobre o baile. Ele parecia ter ficado realmente preocupado devido a repentina fuga dela.

 

— Eu sinto muito se o preocupei senhor - ela pediu.

 

— Por favor, apenas não saia assim, sem alguém por perto. É perigoso se perder por aqui. A senhorita poderia ter torcido o pé, ou não achar o caminho de volta. E se for mais longe, pode encontrar a estrada e não sabemos os perigos que pode encontrar.

 

— Eu entendo. Peço seu perdão, senhor.

 

Ele anuiu com a cabeça.

 

— Bom, eu...- ela não sabia mais o que dizer no momento. E ele a encarava como se também não soubesse o que dizer. Então, ela se lembrou do celular que estava no bolso. E a ideia do que fazer veio claramente em sua mente - Senhor Darcy, o senhor tem um jardineiro em sua propriedade? Alguém que cuide das plantas ou do jardim?

 

— Sim, eu tenho. Por que a pergunta repentina?

 

— Bom, eu precisava de uma pá de jardim, ou qualquer coisa que eu pudesse usar para fazer um buraco no chão.

 

Quando ela respondeu a pergunta dele, percebeu que não devia ter se explicado tanto. Ele franziu o cenho e parecia abismado pelo pedido dela.

 

— O que pretende fazer, senhorita? - ele inquiriu, de forma séria.

 

— Eu...er...- ela puxou o celular do bolso, para mostrar a ele. Não sabia o que ele poderia estar pensando dela - Eu preciso esconder isso.

 

Ele olhou para o objeto retangular, de superficie lisa e preta.

 

— Me permite pegar, senhorita? - ele pediu.

 

— Não - ela passou o objeto para mão dele, que analisou de forma curiosa.

 

— O que seria isso? - ele perguntou, deslizando o dedo na tela. O celular não ligava faz um bom tempo, apenas funcionou no momento em que Lizzy recebeu a mensagem que com certeza era de Alexander, sobre a missão dela estar na metade.

 

— É um celular - ela respondeu, sendo sincera.

 

— Celu...perdão? - ele estava confuso.

 

— Isso meu senhor, é algo que pode permitir uma comunicação com uma pessoa que esta muito longe.

 

— Como uma carta? - ele perguntou, virando o aparelho de um lado a outro, manuseando com a mão - Como esse objeto pode oferecer esse tipo de comunicação? Não compreendo.

 

— Bom, se tiver um similar a esse em que está em sua mão, você pode sim se comunicar com alguém que está há milhas de distância. Por exemplo, se eu estiver em Londres e você aqui, em Permberley, e se tivermos cada um celular desse - ela apontou para o aparelho na mão de Darcy - Então, podemos nos comunicar. Irei conseguir ouvir sua voz e você a minha.

 

— Isso é...fascinante - ele disse, surpreso. E seus olhos estavam brilhando, ainda voltados para o celular nas mãos dele - Mas, porque nunca ouvi falar disso, se me permite perguntar, senhorita?

 

— É uma tecnologia avançada. Muito nova - Ela queria dizer, na verdade, que só viria a surgir dali mais ou menos dois séculos - Por isso, nunca ouviu falar. E isso nunca vai dar certo, sem os equipamentos certos - Como um antenas para dar sinal. Afinal, o sinal viaja por ondas de rádio. E não seria naquele século que surgiria aquela tecnologia. Ela apenas não conseguia compreender como o celular funcionava, sem isso. Afinal, Alexander se comunicou com ela duas vezes, por mensagem.

 

— Entendo. Mas, como sabe que funciona? - ele perguntou, fitando-a curioso.

 

— Bom, já funcionou. Apenas não vai funcionar agora, sem antenas. O celular passa o sinal através das ondas de rádio - ela respondeu, fazendo ele franzir o cenho ainda mais - Deixe para lá. Apenas preciso de uma pá e encontrar um lugar que ninguém encontre isso. É importante que esteja bem escondido.

 

— Se me permite perguntar, por que quer se livrar de algo tão...de um artefato interessante como esse? Na verdade, um objeto que pode nos ajudar nas comunicações a distância? Afinal, eu demoro semanas para receber uma resposta de uma carta. Se for enviar uma carta para Londres, eu tenho que esperar pelo menos quatro a cinco dias. Compreende? E se pudessemos usar esse invento? Deixar nas mãos certas, para que se desenvolva mais artefatos como esse?

 

— Darcy...- ela tentou dizer, sem saber como explicar para ele que seria impossível desenvolver aquele tipo de tecnologia, sem conhecimento sobre o assunto - Infelizmente, não será possível. Não sei como explicar isso para você, mas acredite, não há como fazer isso. Não se não formos para o local onde eu morava.

 

— E por que não podemos chegar lá? Senhorita, eu ainda não compreendo isso - ele parecia chateado, como se tivesse perdido seu brinquedo favorito.

 

— Darcy, por favor...eu não sei como te explicar. Apenas acredite em mim.

 

Ele a fitou com um olhar indeciso. Comprimiu os lábios, então assentiu com a cabeça.

 

— Está bem então - ele parecia derrotado, de repente, arriando os ombros, olhando para o celular em suas mãos - É tão importante se livrar disso?

 

— Sim, muito importante. Não é tempo do mundo saber desse invento. Ainda não há preparo, nem conhecimento para isso. Primeiro, é necessário que descubra-se as ondas eletromagnéticas, as ondas de rádio...entender de eletrônica...- ela parou de falar assim que ele parecia absorto demais nos conceitos que ela apresentou a ele - Bom, pode me ajudar com isso ou não?

 

— A esconder o celu...esse objeto?

 

— Sim.

 

— Tudo bem. Venha comigo.

 

Depois que Darcy encontrou o jardineiro, pediu a pá emprestada e caminhou com Lizzy até se afastaram da propriedade. O local em que ele escolheu parecia ser pessoal para ele. Era alguns passos de um memorial, com um banco. Entre as árvores. Enquanto ele escavava o chão, pois ele afirmou veemente que Lizzy não iria machucar suas mãos tentando abrir um buraco na terra, ela se afastou para ver o memória. Havia uma inscrição e duas datas diferentes. Uma de 1787 e outra em 1790.

 

"Em memória de George e Anne Darcy. Pais muito amados e queridos. Sempre serão eternamente lembrados. Que a graça de Deus possa se estender sobre eles."

 

Lizzy compreendeu que as datas seriam das mortes dos pais de Georgiana e Darcy. Ela engoliu a seco, tentando conter as lágrimas. Somente ela sabia como era perder seus pais. E Darcy deveria ser tão jovem na época. Não percebeu, enquanto limpava o rosto com o dorso da mão que Darcy se aproximou por trás dela. Apenas percebeu, quando virou a cabeça para trás. Ele segurava a pá com a mão direita e olhava por cima do ombro dela, com uma expressão angustiada. Ela se virou para ele, querendo abraça-lo. Hesitou em tomar aquela atitude. Era um gesto tão intimo. Mas, deu um passo a frente, dizimando a distância entre os dois e o abraçou pela cintura. Por um momento, ele ficou retesado, mas relaxou em seguida, passando um braço no ombro de Lizzy, repousando o queixo no topo de cabeça dela.

 

— Eu sinto muito - ela disse, com a cabeça recostada no peito dele.

 

O coração de Darcy batia de forma rápida. Não era diferente de como ela estava no momento. Abraça-lo era tão intimo quanto beija-lo.

 

— Obrigado - ele disse.

 

Ficaram em silêncio, pelo que parecia um bom tempo, apenas abraçados um ao outro. Um consolando a dor do outro, de fato. Afinal, Lizzy perdeu seus pais e depois, se perdeu naquele século que ela não pertencia. E Darcy havia perdido seus pais há anos, cuidando de uma jovem debutante, talvez, sem saber o que fazer a respeito da educação dela no começo.

 

— Foi difícil, Darcy? Se adaptar a tudo isso?

 

— Eu não sei se foi...eu...Tinha meus tios. O conde de Matlock me ajudou muito nessa fase. Eu já sabia cuidar dos deveres que meu pai delegou a mim. Ele me preparou para isso desde o início. Apenas era um garoto quando ele me ensinou a como cuidar das propriedades, como lidar com as terras, com a contabilidade, entre tantas outras coisas. Eu fui para Eton, depois para Cambridge cursar Direito. Nunca exerci a profissão, mas era o que meu pai queria. Que eu estudasse e fosse um homem inteligente. Ao menos, nessa questão, na parte financeira e das responsabilidades quanto as terras, eu soube lidar bem. Mas, Georgiana...ela...eu nunca soube como lidar com ela. Seu lado sentimental me deixava apreensivo. Ela chorava tanto, sabe? Eu não sou uma pessoa que se rende a isso. Eu simplesmente...eu não consigo chorar...

 

Lizzy o abraço ainda mais. Mas, a voz de Darcy era tão calma e racional. Apesar de haver algumas pausas enquanto ele falava, como se fosse difícil recordar, mesmo não contendo tanta emoção ao relatar sobre seu passado.

 

— Eu as vezes acreditei no que disseram sobre mim. Sobre eu ser frio e impessoal. De não ter um coração.

 

— Ora, mas quem foi o idiota que disse isso? - Lizzy não moderou nas palavras. Estava com raiva do sujeito que falou isso de Darcy. Ele era sério. Isso era um fato. Mas, não era sem coração. Era bom, gentil e se preocupava com os outros.

 

— Ah...Caroline Bingley já me disse isso - Lizzy ferveu de raiva por dentro - Ela queria se casar comigo...até mesmo fez o pedido...algo que achei tão estranho. Eu recusei na hora, afinal, não a amava. Nem a amo. E também, Charles Bingley, meu melhor amigo disse isso, quando nós brigamos...nós...eu sem pensar afastei ele da senhorita Jane Bennet. É tudo culpa minha. Eu acreditei que ela não era ideal para ele, devido as conexões, a família agia de forma pouco apropriada, sabe? Sempre envergonhando a senhorita Bennet. Ela não era reprovável, na verdade, tinha uma ótima educação. Era inteligente, mas eu não via seu amor por ele. Depois que Charles brigou comigo, pela minha opinião nada lisonjeira, ele me deu razão. Ele não devia ter feito isso, sabe? Agora ele perdeu a chance de casar com ela. Tudo por minha culpa. Talvez, eu fosse mesmo sem coração e apenas preocupado com as aparências. Meu orgulho tirou tudo de bom que meu amigo poderia ter. E depois, bom, Georgiana também me acusou de ser frio. De não desejar a felicidade dela. Eu tentei tanto protege-la, mas me esqueci de dar atenção a ela. De dar a ela amor. Eu tentei consertar tudo, sabe? Ajudando a senhorita Bennet com a questão da fuga da senhorita Ligia Bennet e George Wickham. Fiz isso porque estava me sentindo mal. Era culpa minha de não ter alertado a família Bennet sobre Wichkam. Eu simplesmente vi ele entrar na vida dos Bennet, sem fazer absolutamente nada. Acreditando que não era meu problema...mas era...sempre foi...

 

Ele respirou profusamente e dessa vez, parecia nervosa. Se afastou dos braços de Lizzy, deixando a pá no chão. Começou a andar de um lado a outro, de repente. Talvez, tentando dissipar pensamentos conflitantes sobre o passado. O vento fresco balançava seus cabelos negros e suas vestes. Ele olhava para frente, como se ainda visse todo o acontecimento em sua frente.

 

— Elizabeth...eu...não...- ele parou e a olhou, de repente. Atordoado. E Lizzy pode sentir sua dor. Queria tanto ajuda-lo com isso, mas o que poderia fazer? Somente poderia dar o amor que sentia por ele - Acredita que sou sem coração?

 

— Não Darcy. Você tem um coração muito bom. As vezes as pessoas podem não compreende-lo por não ser bajulador. Por ter a face sempre séria, quase uma carranca - ela deu uma risada, para quebrar o clima doloroso que pairava no ar. E isso o fez sorrir levemente, suavizando sua expressão franzida e tensa - E sabe como sei disso? - ele negou com a cabeça - Porque você me ajudou, sem se esquivar de mim. Me acolheu em sua casa, tentando entender minha situação, mas não me enxotando para fora. Você é bom, Darcy. Apenas não é como os outros jovens da sua idade, mais efusivos. Não é como Bingley. Mas, isso não te faz um homem sem coração e frio. Você é apenas introspectivo. Talvez, timido. Mas, um bom homem.

 

Ele soltou o ar que parecia prender e sorriu para ela, abertamente.

 

— É a primeira vez que acredito nisso, sabia? - ele confessou - Georgiana me disse isso, um bom tempo depois, quando voltamos a nos falar. Depois da...bom, depois de um problema sério que tivemos. E eu acreditei que fosse apenas por querer se desculpar. Mas, mesmo assim, talvez, em toda minha vida eu fui egoísta demais para ver os outros. Acredito que você tenha me mudado Elizabeth. Eu aprendi muito mais no espaço de tempo em que a conheço, do que em anos de experiência. Eu deixei minha arrogância de lado, quando resolvi ajuda-la. Eu poderia simplesmente deixa-la sozinha, sem ajudar, porque afinal, eu não te conhecia. Não sabia quem era. Você não tem referências e isso te afastaria de muitas pessoas, ainda mais do meu círculo social. Não quero que pense que você que acredito nisso, pois não acredito mais. As aparências pode enganar. Você poderia tanto ser uma ameaça, como uma pessoa apenas necessitando de ajuda. Eu simplesmente me dei a chance de conhece-la. Eu senti...na verdade, eu sabia que estava fazendo o certo. Por isso, talvez eu não tenha mudado. Apenas a ajudei com a certeza de que era o correto a se fazer, pois senti que você estava destinada a mim. Então, ainda posso ser muito egoísta Elizabeth. Eu não sou tão bom assim...mas, por você, eu posso ser. E sinto que sou melhor, na verdade.

 

— Darcy...isso...não sei nem o que dizer - ela estava desconsertada pela confissão dele. Ele acreditava que ela estava destinada a ele? Seria possível isso?

 

— Não diga nada - ele disse, se aproximando novamente de Lizzy. Dessa vez, sua expressão era carregada de ternura. Então, levou a mão ao rosto dela, acariciando. Ela deixou um suspiro escapar pelo toque suave da mão dele - Eu apenas...eu...

 

Ele a fitou, com incerteza. Parecia estar pensando em algo. Provavelmente o que faria a seguir. E o que veio a seguir não era o que Lizzy esperava. Darcy aproximou os lábios dos dela, beijando-a de forma hesitante. Mas, depois, de forma intensa, puxando a cintura dela, para que Lizzy colasse seu corpo ao dele. E ela gemeu em prazer, por sentir seu toque. Por sentir seus lábios. Ela poderia fazer isso todos os dias de sua vida, que nunca se cansaria. Nunca se cansaria de estar nos braços dele.


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