Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Eu sempre quis uma fanfic de Orgulho e Preconceito, mas não queria algo convencional, por isso resolvi trazer o universo de Perdida, da Carina Rissi, misturando as duas histórias. Enfim, espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806879/chapter/1

Ter o nome de Elizabeth Bennet era somente uma mera coincidência. Contudo, não era algo que Lizzy gostasse. Todos a comparavam a Lizzy de Orgulho e Preconceito. Ela detestava essa comparação tola, com um personagem fictício. No começo, achou interessante, afinal, a personagem principal daquele romance era forte e com opiniões diferentes da sociedade. Além de enfrentar sem medo o senhor Darcy, que era arrogante e pedante. Apesar disso, é claro que esse personagem se mostrou alguém diferente no final do livro. Lizzy é claro, era apaixonada pelo personagem ficticio. Amava com todas as suas forças, quando era uma adolescente. Mas, na fase adulta, não se pode viver das fantasias.

Atualmente, Lizzy vivia em Londres, em um apartamento comprado por seu próprio trabalho como editora de livros e revistas, tanto na publicação impressa, quanto na online. Ela não era a editora chefe, mas ainda iria tentar o máximo possível conseguir sua promoção. Por enquanto, é claro, o editor chefe, Brian O'Connor, era o editor e não parecia que iria desistir tão cedo do cargo. É claro que sempre havia outras empresas que poderiam ser melhores para seu perfil profissional. E não havia um dia que Lizzy pedia mentalmente que ele fizesse isso, por Brian era uma pedra no sapato de todos. Era um homem rabugento e mal humorado. Mesmo que ela não fosse à escolhida para ser a editora chefe, que Brian pudesse sair o quanto antes.

— Lizzy, já pedi para você verificar o arquivo que enviei por e-mail - Brian disse da porta do escritório dele.

No escritório em que trabalhavam, todos tinham sua mesa com divisória e o editor chefe tinha sua própria sala. Contudo, Brian parecia inclinado sempre a deixar a porta aberta e vigiar seus funcionários com olhos de aguia. Ele não confiava em ninguém. E se visse alguém mexendo no celular, ou fazendo outras coisas que não era seu trabalho no escritório, o funcionário poderia ser demitido. Lizzy sempre tomava o máximo de cuidado para não ser pega nessa situação. Muitos dos seus colegas foram mandados embora por causa disso. E se fosse uma ligação importante? Bom, o funcionário teria que provar sua inocência.

— Lizzy! - Brian chamou a atenção dela, que estava voltada para o computador.

Brian era um homem alto, com cabelos claros e um olhar cinzento. Contudo, não parecia ser inclinado a ser gentil. Estava sempre com o semblante fechado.

Lizzy suprimiu a vontade de bufar. Ainda estava terminando de editar um texto para a revista. Um artigo sobre moda. Não era o forte de Lizzy, não que ela não soubesse se vestir, mas Lizzy queria algo mais sério, como artigos sobre política e sobre acontecimentos ao redor do mundo. Ela nunca foi como as outras garotas. Estava sempre com um livro nas mãos, lendo e descobrindo o mundo através da escrita. Mas, também era ótima em debates. Sua oratória era algo de que ela se orgulhava.

— Sim, senhor O'Connor. Estou terminado de revistar um artigo para a revista London. Em breve iniciarei a revisão do artigo que o senhor enviou por e-mail.

Ela tentava ser o mais breve possível em suas respostas. E explicar o motivo para não estar fazendo algo. Brian não era um paciente e desconfiava de todos ao seu redor. Por isso, todo cuidado era pouco.

— Não demore! - ele disse, voltando a entrar no escritório, sem fechar a porta.

— Ele é insuportável - disse Meredith, ao lado de Lizzy.

Sua mesa era encostada na dela.

— Nem me fale - Lizzy disse, ainda com sua atenção voltada ao artigo que corrigia.

— Lizzy, não se esqueça de que temos happy hour essa noite - Meredith a lembrou.

— Eu não sei se poderei ir - Lizzy disse.

Ela não gostava de estar em multidões, muito menos em um bar cheio de pessoas, as quais ela não conhecia. Ela poderia ser expansiva, mas detestava lugares barulhentos e entabular conversas com pessoas que realmente não estavam interessadas em conhecê-la.

— Vamos Lizzy. É meu aniversário. E hoje é sexta-feira - a colega dela insistiu.

Lizzy apenas assentiu.

— Ah, não acredito que você vai mesmo! - Meredith estava tão animada que enviou mensagem para seus colegas, pelo chat do e-mail, informando que Elizabeth Bennet estaria em uma confraternização de trabalho.

Lizzy estava há dois anos naquela editora e em todas as comemorações e datas festivas, ela fugiu. Simplesmente, não aparecia. o fato era que Lizzy não gostava de estar perto de alguns colegas do seu trabalho. Pareciam muito falsos e somente queria especular sobre a vida dos outros. Lizzy estava farta de fingir educação e bons modos. Preferia estar em casa, com seu cachorro e um livro. Ou assistindo a algum filme ou série. Ela era naturalmente solitária, contudo, tinha amigos. Mas, saia com eles quando a agenda deles batia com a dela. Meredith era uma dessas amigas. E claro, Jane, sua irmã caçula. Jane estava no terceiro ano de veterinária e não tinha tempo para ficar ao lado de Lizzy. E pensar nisso a lembrou de que fazia semanas que elas não se conversavam. De fato, ela e Jane deveriam estar juntos, ainda mais devido a morte dos pais dela. Já fazia dois anos que seus pais morreram em um acidente de carro. E Jane era sua única parente viva. Bom, havia outros, mas não era com se Lizzy gostasse de conviver com eles. E nem eles com ela. Sempre houve certo distanciamento entre a família do seu pai e a família da sua mãe. Além do mais, Lizzy não fora criada perto dos primos e tios. Seu pai havia dito que o melhor era que vivessem tranquilamente em Londres, do que participar dos problemas familiares. Ele naturalmente não disse a ela que não suportava sua sogra e a irmã da sua mãe. E que não era apegado aos seus familiares. Mas, Lizzy sabia de tudo isso, pela forma como ele simplesmente evitou, em todos aqueles anos, de aproximar ela e Jane da família.

Após o expediente terminar, Lizzy havia conseguido editar o artigo sobre moda e o artigo que seu chefe havia lhe enviado. Desligou o computador e saiu do escritório, com os olhos cheios de areia. Retirou seus óculos de grau, apenas pelo fato de que seu nariz doía. O dia inteiro com aqueles óculos para miopia não era algo agradável. Seu nariz estava com marcas avermelhadas, o que não a deixava atraente. Mas, ela não queria chamar a atenção de ninguém. Lizzy era uma jovem solteira convicta. E agradecia imensamente por não viver no século XIX. Afinal, nunca se encaixaria, mesmo amando filmes de época. Se Lizzy pudesse voltar no tempo, com certeza iria ter sérios problemas com as convenções da sociedade da época. Era uma mulher com opinião formada.

— Não pense que vou deixar você escapar - Meredith disse, arrastando Lizzy para o elevador.

Lizzy deu uma risadinha.

— Você realmente me quer nessa confraternização? Eu realmente não gosto disso - ela tentou explicar a colega, enquanto entravam no elevador.

— Ora, eu sei que não, mas está na hora de sair do seu casulo - Meredith disse.

O elevador encheu de pessoas e elas se calaram. O fato era que nenhuma delas desejava que sua conversa fosse escutada pelos colegas de trabalho. Depois das duas saírem da empresa, elas foram direto a um pub local, perto da editora. Atrás delas, seus colegas de trabalho acompanhavam. Todos pareciam animados e felizes por seu uma sexta-feira. E por se verem livres de Brian O'Conner. Lizzy não poderia discordar disso. Ela amava os finais de semana e estar livre das exigências do seu chefe.

Meredith havia conseguido uma mesa para os colegas de trabalho, nos fundos do pub. Uma música folk tocava nos altos falantes e o cheiro de cerveja era pungente. Logo uma caneca de cerveja escura foi passada para a mão de Lizzy e ela sentiu o cheiro de café e malte torrado. Era realmente delicioso ao paladar e ela não iria negar somente um pouco de cerveja naquela sexta-feira. Afinal, a empresa havia batido a meta, depois de meses de estagnação. Não somente a comemoração de aniversário de Meredith. Mas, a comemoração de um mês vencido com louvor. Lizzy pensou que merecia aquela cerveja.

— Vai com calma - Meredith disse para a amiga - Você não comeu nada hoje.

— Está tudo bem - Lizzy disse, mas logo sentiu o estomago queimar um pouco.

Elas pediram porções de batata frita e esperaram na mesa, conversando. Algum dos colegas de trabalho de Lizzy tentavam puxar conversa com ela e Lizzy pela primeira vez não se sentiu constrangida. Logo o bar encheu de pessoas e já não era mais possível conversar sem ter de falar alto. Lizzy sentia sua cabeça latejando e sua voz rouca. Mas, estava se divertindo com o pessoal do trabalho. Finalmente, estava descontraída.

— Lizzy, você tem namorado? - Miguel, um dos seus colegas de trabalho perguntou a ela.

Lizzy se sentiu desconfortável. Meredith olhou para ele feio.

— Ei, é só uma pergunta - ele disse, colocando as mãos para cima, como se desejasse se defender.

— Está tudo bem - Lizzy disse, ainda sem graça.

Miguel era bonito. Tinha olhos escuros e cabelos castanhos claros. O rosto era quadrado, mas agradável. Contudo, Lizzy não estava interessada em ninguém. Na verdade, seus relacionamentos eram um fracasso. Lizzy nunca conseguia sentir nada pelos rapazes que conhecia. Teve dois namoros sérios em sua vida, que não preencheram seu coração. Não sentia falta de nenhum deles. Talvez, ela pensou o amor não fosse para ela.

— Então, não se importa se eu chama-la para sair? - Miguel perguntou a Lizzy, quando viu que ela não havia se importado com a pergunta.

Mas, Lizzy havia se importado. Ela somente não queria ser grosseira.

— Eu me importo sim, Miguel. E minha resposta é não - ela disse, com veemência.

Todos na mesa pararam sua conversa para olhar Lizzy. Alguns estavam de boca aberta e outros desdenhavam. Meredith era a única que a entendia. Miguel estava visivelmente contrariado. Ele já queria ter algo com Lizzy há um bom tempo. E ouvir sua recusa deixou seu ego ferido.

— Lizzy, poxa. Não seja tão dura assim. É só um encontro - ele insistiu, tentando pegar a mão dela sobre o tampo da mesa.

Lizzy baixou a mão para seu colo, sentindo-se incomodada. Não gostava de contato físico com estranhos.

— Pode ser somente um encontro para você, Miguel. Mas, para mim não é. Eu sei o que está passando pela sua cabeça. E eu não desejo nada disso.

Ele a encarou com desdém.

— Como você sabe o que eu quero se eu nem mesmo disse? - ele ironizou.

Algumas pessoas na mesa riram. Meredith estava prestes a bater a cabeça de Miguel na mesa. Lizzy, como era contida e mais pacifica, apenas o encarou de forma firme.

— Eu sei, pois nenhum homem chama uma mulher para sair, sem ter segundas intenções. E pelo seu tom, eu sei que sua intenção não era ser meu amigo.

Ele deu uma risada forçada.

— Lizzy, você é muito convencida.

Sua frase era para desmoraliza-la. E surtiu o efeito. Logo o burburinho fora instalado e seus colegas a julgavam em voz baixa. Lizzy olhou para todos, com os olhos magoados. Levantou-se, ajeitando sua bolsa de alça no ombro e olhou uma última vez para Miguel.

— Acredito que você esteja errado sobre mim e esteja falando de você, Miguel. Afinal, não teve a menor educação comigo e esta me expondo ao ridículo - ela olhou para Meredith - Meri, estou indo embora.

— Mas...- sua amiga tentou dizer.

— Nos vemos depois - Lizzy disse, virando as costas e saindo do bar.

Ela tentou pedir um Uber na frente do pub, mas quando estava saindo, alguém trombou com ela com força, tentando entrar no bar. O celular escapou das suas mãos e caiu no chão. Lizzy não viu quem fora o responsável por isso. Mas, olhando por cima do ombro, pode ver um homem alto, de cabelos curtos, com uma jaqueta de couro. Ele estava de costas e parecia andar apressadamente. Ela queria dizer a ele o quanto ele fora mal educado, mas resolveu deixar o assunto de lado. Pegou o celular do chão e pode ver a tela trincada, como seu fosse uma teia de aranha. Ela abriu e fechou a boca, sentindo-se decepcionada. Não era possível enxergar muito com a tela daquele jeito. Como ela faria para pedir um táxi ou um Uber? E andar de metro estava fora de cogitação. A única coisa que poderia fazer era voltar ao bar.

Ela entrou e pode ver um rapaz vindo em sua direção. Ela fingiu não ver o rapaz de cabelos escuros, com um corte curto e raspado dos lados. Mas, era impossível, devido a cicatriz em seu rosto. Ia da testa a sobrancelha. E seus olhos eram de um tom diferente. Não sabia se era pela baixa iluminação do ambiente, mas tinha certeza que eram cinza.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.