Sonhos de Julho escrita por Renan


Capítulo 2
1º de Julho




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Estreando.

Sonhei que eu era alguns anos mais nova do que sou hoje, e estava numa escola que eu estudei na primeira metade do Fundamental. A professora eu não lembro se o nome era Lucia, Luciana ou Luana, mas era “Lu” alguma coisa. Prof de artes considerada muito boa por quase todo mundo.

— Yumi, cê pode ir na sala do 7º ano ver se meu pichário tá lá? – pediu ela. Como era meio cheinha ela preferia não ficar se levantando sem necessidade.

— Vou sim. – respondi, sorrindo.

Saí da sala e dei dois, passos, mas acabei voltando.

— Onde é o 7º ano mesmo?

— No andar de cima. – respondeu ela, tranquilamente.

Subi, mas tinha múltiplas portas. Estava com vergonha de bater na porta errada e ficarem me encarando. Tive que voltar de novo.

— Qual porta? – perguntei.

— A primeira à esquerda. – respondeu ela, um tiquinho mais séria.

Fiz um aceno com a cabeça e comecei a subir de novo, mas parei no meio da escada me perguntando se ela realmente tinha dito pichário. Tudo bem que era professora de artes, mas achei que ela não ia precisar fazer uma pichação. Quis voltar pra confirmar.

— Ahm, tia Lu... – fui dizendo, ao chegar na sala.

— O que foi?! – perguntou ela, já impaciente, ao ver que voltei de mãos vazias.

— É pichário ou fichário que você quer que eu procure?

Fichário!— respondeu ela, quase gritando – Nem existe “pichário”!

Fiquei com um pouco de medo e vergonha também, já que os meus colegas estavam me olhando. Alguns sérios, outros segurando um riso.

Finalmente subi, determinada. Porém, eu parei no último degrau da escada porque estava com vergonha de errar a sala. Desci alguns degraus pra perguntar mais uma coisa, mas ao ver por um vidrinho a professora me encarando impaciente, subi de novo. Não sei explicar, mas as instruções ainda deixavam meio ambíguo entre duas portas. Felizmente uma outra professora subiu passando por mim e entrou numa das salas, que eu reconheci ser a do 7º ano. Na entrada eu coloquei a mão reta na altura das sobrancelhas, como alguém que está avistando algo distante. Pude ver um fichário na mesa da professora. Sorri e desci rapidamente.

— E então?! – perguntou ela, meio nervosa ao ouvir meus passos, se concentrando em limpar algo na mesa com a mão.

— Sim, o seu fichário está lá. – respondi, aliviada.

— E cadê?! – perguntou furiosa, olhando pra mim.

— Mas você só pediu pra eu ver se tava lá. – respondi, com a voz meio trêmula.

— MEU DEUS! – gritou ela, afundando o rosto nas mãos enquanto alguns riam – Parece portuguesa ao invés de asiática!

Eu estava envergonhada, mas também com raiva, pois isso me pareceu duplamente racista. Ou xenofóbico. Como se já não bastasse eu ser pressionada pra estar um ano afrente dos outros e acharem que descendentes de asiáticos não podem cometer erros.

— Bruxa! – falei, de maneira meio passivo-agressiva.

— Como é que é? – perguntou levantando e me fuzilando com o olhar.

Eu comecei a correr e ela veio atrás de mim. Apesar de gorda ela tinha pernas bem maiores, então eu não tinha muita vantagem. Quando estava quase me alcançando, entrei no banheiro masculino e parei em frente a uma das duas cabines que tinha. Me virei.

— Vem aqui, agora! – ordenou ela, apontando pro chão e se recusando a entrar.

— Você que tem que vir aqui. – respondi.

— Não posso entrar aí! Eu sou mulher e você também!

— Não sou mulher, sou menina. Não sou velha como você! – respondi, em cólera.

— Ah, agora chega... – foi dizendo ela, perdendo o receio de entrar.

Me virei rapidamente, dando um pulo pra entrar na privada, que não tinha tampa, provavelmente porque o colégio não era dos melhores. De repente, eu me vi não com a cara numa privada, mas com o corpo totalmente envolto em água, como se estivesse no mar. Nadei durante alguns segundos pra frente mas logo tratei de ir pra cima pra ver se podia respirar.

Não sei nadar direito, então ao alcançar uma superfície, eu comecei a bater os braços, mas um metro à frente tinha um barco e eu me segurei nele. Enquanto tentava controlar minha respiração, a pessoa que estava no barco ofereceu a mão pra mim e eu segurei. Enquanto subia, me deparei com o rosto da pessoa que estava no barco. Era a tia Lu, com roupas de pesca e uma expressão demoníaca. Tentei me soltar, mas era tarde. Ela me envolveu com um braço como se estivesse me levando pra tomar palmadas no bumbum, enquanto eu me debatia. Disse algo que eu não entendi, mas que tinha a ver com o que ia fazer comigo. E aí... o sonho acabou.

Acho importante deixar claro que não sou uma anta como o sonho pode dar a entender, eu só me confundia facilmente quando era mais nova nas vezes que eu tinha que ir pra algum lugar e me davam instruções superficiais. Quando sonho que sou mais nova é normal eu estar com a cabeça mais próxima da mesma época, fora que em sonho a gente fica meio sem-noção às vezes mesmo, tipo quando a gente não percebe que está sonhando por mais absurdo que seja o contexto. A tia Lu (que nesse sonho parecia ser de Lúcifer) nunca me bateu, só tínhamos uns problemas as vezes.

Estou pensando seriamente em evitar ficar me justificando assim mais vezes. Não faz parte das minhas intenções falar muito de mim ou explicar coisas depois que os sonhos terminam. Fora que não devo satisfações (não pense que estou dizendo isso de forma agressiva, por favor).

Apesar de tudo, gostei de escrever sobre o que sonhei, espero que amanhã seja melhor.

Estreei.


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