The Hurting. The Healing. The Loving. escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 7
Capítulo 6




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Tudo começava naquele cruzamento deserto, se lembrava com tanta clareza que havia um sentimento em si mesmo de que, conhecendo cada detalhe do que viria a seguir, poderia tentar impedir. Todavia, também sabia, tão consciente da pele que habitava, que de nada adiantaria. O destino seguiria seu curso e ele seria capaz de reviver todas aquelas sensações novamente, como no dia em que aconteceu, tantos anos antes. 

Respirando fundo, ouviu o urro conhecido do motor do carro e colocou o capacete, fechando os dedos enluvados em torno do acelerador do guidão da moto. Praticamente não houve perseguição, foi tudo muito... Fácil. Quando se tratava de civis, especialmente os desacompanhados, era sempre fácil. Não havia nada que podiam fazer em relação a força sobrehumana do Soldado Invernal. 

O estrondo rápido do carro preencheu o ambiente e sua mente com nitidez. Então, os momentos seguintes foram como se observasse a si mesmo, como num purgatório imposto por sua própria mente. Desceu da moto sem pressa, as botas de combate preenchendo o silêncio quase fantasmagórico da estrada ladeada pela densa mata. Seria fácil. 

Lentamente, contornou o carro para encontrar Howard Stark semiconsciente. O nome dele praticamente ressonava em sua mente. Nunca fora supersticioso, mas, pensou ter ouvido, em meio à brisa repentina assaltando as folhas nas copas das árvores, um sussurro em tom de aviso. Tinha a impressão de conhecer o homem, o nome, o que ele significava, mas durou apenas um segundo. Havia sido uma vida antes. A aparência do Stark era diferente e ele não era mais Bucky, nem James. 

Fora fácil. Então, Howard parecia morto pelo efeito da colisão do carro, bem atrás do volante, como deveria ser. Maria era... Uma consequência. Ela não deveria estar com o marido naquela noite – mas estava. O eco da voz grunhida e sem forças da senhora chamando por Howard tinha mais apelo em sua mente do que a forma como fechara os dedos metálicos em torno do pescoço fino. Não havia resistência nem forças para tanto. 

Não sentia a pele quente se tornando fria, nem o sangue deixar de correr pelas artérias finas enquanto a sufocava até o coração parar. Esse tipo de sensação era mais familiar a Bucky, não ao Soldado. De alguma forma, porém, era capaz de sentir vida escapando entre seus dedos, fossem eles humanos ou não. Talvez, fosse apenas o efeito esperado de suas ações. 

Não se lembrava de ter sentido qualquer coisa do tipo quando, realmente, assassinara os pais de Stark. Porém, a gravação de Zemo o ajudava a encarar variações muito vívidas daquela noite. A brisa sussurrou novamente e, dessa vez, ele encarou as sombras da mata que ladeava a estrada. Não havia nada, apenas a sensação de ser observado. Por si mesmo, talvez, pela própria consciência pesada. 

Quando conseguiu despertar dessa vez, tão perturbado quanto sempre, sentiu mais do que a confusão mental que sempre o atormentava após um pesadelo, como se sua cabeça tivesse que se acostumar à realidade novamente. Olhos verdes o encararam de volta com certa preocupação enquanto uma mão envolta em energia escarlate pousava sobre sua têmpora suada com suavidade. 

Já havia sentido aquela energia rodeá-lo uma vez, durante a Guerra Civil. Era desconhecida, ao mesmo tempo em que etérea e pesadamente opressora. Todos temiam aquilo que vinha de Wanda, pois era... Além do que a ciência podia explicar e mais do que ela mesmo podia lidar. Apesar disso, ali, na cabana, a luz escarlate que emanava dos dedos macios parecia mais bem vinda do que qualquer outra coisa, completamente diferente do caos que sentira de perto ao quase ser morto pelas garras de T’Challa.

Ofegante, concentrou-se no fundo escarlate dos olhos esverdeados e se deixou relaxar sob o poder inexplicável de Wanda até fechar os olhos novamente. Enquanto tentava retomar o ritmo da própria respiração, progressivamente viu-se mais consciente da cabana, do fato de Sam parecer andar de lado a outro próximo à mesa da cozinha e do calor dos dedos da garota junto ao contorno de seus cabelos, logo acima do ouvido. 

Se deixou sentir e ouvir o quase silêncio tenso por mais alguns momentos, quebrado apenas pelo descompassar alto de seu coração e a respiração de Wanda, próxima e concentrada. Quando voltou a olhá-la, ajoelhada ao lado do sofá, não havia mais a sombra escarlate nos olhos nem nos dedos, apenas... Paciência. 

— Como eu disse, seus pensamentos são altos. 

Ela se afastou ao dizer e se sentou na mesinha de centro enquanto Bucky levou as mãos aos olhos, suspirando. A sensação do pesadelo já não era tão vívida quanto estava acostumado após um episódio como aquele.  

— O que você fez? – Sam perguntou a Wanda, soando preocupado.

— Eu... – A viu franzir o cenho, encarando as próprias mãos. – Eu tentei puxá-lo do pesadelo, acordá-lo, mas... É como se fosse mais que um pesadelo, está ligado a ele. 

— É uma lembrança. Do Soldado Invernal. 

Declarou ao se sentar no sofá, passando os dedos pelos cabelos úmidos antes de se levantar e buscar um copo d’água, tentando se desfazer de toda a sensação que vinha com aquela lembrança sob os olhares atentos de Sam, principalmente. Wanda... Bem, ela não parecia se importar muito com o que se tratava realmente.

— Buck, isso ainda está acontecendo? 

Tomou vários goles d’água, sentindo a tensão crescer mais no ambiente do que em si mesmo. Então, colocou o copo sobre o balcão, apoiando o peso do corpo nos braços ao se inclinar, respirando fundo. Já fazia algum tempo... Aqueles pesadelos eram uma constante em sua vida, até que foram minguando. Isso, entretanto, não queria dizer que haviam deixado de fazer parte de quem era. Como Wanda havia dito, estava ligado a eles.

— Não. Não mais. 

— Achei melhor não forçar uma retirada brusca. Seu cérebro poderia sofrer danos que eu... Não poderia prever a extensão. – Wanda se colocou de pé no momento que se voltou para fitá-la. – Então, não se preocupe, o feitiço que usei foi só para... Acalmá-lo, de certa forma. 

Ela complementou rapidamente, parecendo preocupada que pudesse se sentir ofendido com a “intromissão” em sua mente. Na verdade, a consciência da jovem sobre o que estava em sua cabeça era realmente desconfortável, mas claramente não tinha outras intenções que não ajudar. Não intenções como as da HYDRA e de Zemo. 

— Obrigado, Wanda. 

Agradeceu honestamente, no que ela apenas sorriu minimamente, ainda hesitante, antes de volta para o próprio quarto, sem insistir no assunto ou no que vira. No entanto, se sentiu mais do que dissecado pelo olhar de Sam, de braços cruzados, esperando uma resposta. 

— Porque não me contou que ainda tem esses pesadelos? 

Por um momento, se sentiu culpado de que Sam parecesse muito mais honesto sobre a amizade deles e como se importava em mantê-lo bem e saudável do que o contrário. Abaixou os olhos, apenas meneando a cabeça. Havia se acostumado a não compartilhar. Havia sido só por tempo demais. Ter uma presença tão constante em sua vida, como Steve havia sido e como Sam era agora, uma nova... Experiência. 

— Eu estou bem. – O tranquilizou da melhor forma que pode, dando de ombros. – São apenas... Resquícios de uma vida passada.

— Bucky...

— Você a chamou? – A camiseta suada o incomodou, por isso, encontrou outra em sua mochila no canto da lareira e logo a trocou. 

— Não, ela... Sentiu. – ‘Seus pensamentos eram altos’, ela não parava de dizer. Levantou os olhos para o ex-soldado, que franzia o cenho, confuso. – Eu ainda estava dormindo quando Wanda apareceu e disse que estava em... Algum tipo de dor. 

Bem, não podia negar que era um tipo de dor ou, simplesmente... Sofrimento mental. Reviver o que o atormentava costumava ser, desde que retomara suas lembranças, paralisante e embaraçoso. O que fizera naquela noite e em tantas outras, como Soldado Invernal, servia apenas para atormentá-lo, machucá-lo quase fisicamente – como se os experimentos em seu cérebro houvessem garantido que isso fosse restar, se não restasse nada que pudessem controlar.

Percebeu que o dia lá fora já amanhecia e se perguntou por quanto tempo Wanda ficou ao seu lado enquanto sonhava. Consciente de que precisava colocar as ideias no lugar, alcançou as botas, as meias e um relógio, anunciando em tom baixo a um Sam reticente. 

— Eu vou dar uma volta.


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Notas finais do capítulo

Esse é um dos meus capítulos preferidos de toda a história. Eu encaro, na verdade, como o primeiro momento de ligação entre eles e gosto muito de como Bucky fica confortável com todo o poder que sabe que emana de Wanda, embora sempre lembre a si mesmo que não conhece a extensão do que ela é.

Enfim, sigo escrevendo e e espero que continuem acompanhando. A quem comentou, muito obrigada, é sempre bom saber suas opiniões. A quem ainda não comentou, vamos debater sobre esses dois!

Até a próxima!



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