The Hurting. The Healing. The Loving. escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 16
Capítulo 15




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Como imaginava, Wanda realmente ficara doente depois de toda aquela chuva que parara de precipitar sobre eles tão logo o choro dela contra seu ombro também foi se findando. O fato não mudava muita coisa, porém, uma vez que estavam encharcados por todo o caminho de carro até o pé da Montanha de Wundagore.

Encolhida contra si mesma, a ruiva se recusara a dizer uma palavra, somente encarando a janela de braços cruzados e olhos marejados. Passaram por Novi Grad sem qualquer parada e seguiram direto para a cabana, onde ela se trancara em seu próprio quarto até o dia seguinte, sem se preocupar com o jantar ou qualquer do tipo.

Ela não estava bem e há muito tempo, não era necessário ser um expert em linguagem corporal para chegar à tal conclusão, refletiu enquanto terminava de lavar a pouca louça que sujara durante o jantar. Porém, o repentino movimento junto à porta ainda aberta da cabana o fez se virar, em completo alerta, até abaixar os olhos para o pequeno animal que escorregava sala adentro.

O gato era tão branco, que poderia ser albino, mas parecia tão mal cuidado em detrimento da montanha de pelos espetados, que poderia se passar por um animal selvagem, não fosse a forma mansa como se esgueirou da porta até os pés da mesa, miando muito baixo. Fez contato visual com o animal, como se fosse um inimigo, imaginando de onde poderia ter surgido, uma vez que a civilização definitivamente não era próxima.

Franziu o cenho, notando que teria passado por alguns percalços para chegar até ali a julgar pelos espaços no couro onde faltava pelo e só restava a pele muito clara. Notando como o olhava à espera de algo, suspirou balançando a cabeça e olhou ao redor, decidindo pegar a forma com restos de carne de cordeiro e colocar no chão. 

O gato miou novamente, muito baixo, e ainda hesitou para seguir até a comida. Então, Bucky se afastou do armário da pia e deu a volta à mesa, ainda com um olhar no animal. Nunca fora exatamente um apreciador de gatos durante a juventude, no Brooklyn. Para Bucky, sempre foram espécimes de animais ardilosos e exigentes, além de estarem por todo o lugar naquela época, como uma epidemia. Costumava preferir os cães, especialmente aqueles que não tinham noção do próprio tamanho.

Porém, não negaria comida à criatura miúda de fome e, agora, tanto tempo depois, talvez até apreciasse a desconfiança silenciosa dos gatos. Deixando de lado o pano de prato, então, pegou suas coisas e se dirigiu ao banheiro. Nada havia mudado ao sair, exceto que o gato agora se encontrava acomodado no canto da cozinha, mais sentado que deitado, em completa atenção aos seus movimentos, como se Bucky fosse uma ameaça a se temer. 

— Não me dê esse olhar. – Estreitou os olhos para ele. – Eu vivo aqui, você não. 

Bufou exasperado e se deitou no sofá após desligar todas as luzes. Havia sido um dia longo e exaustivo, definitivamente. Nem mesmo Wanda esperava aqueles desdobramentos da viagem ao que restara de sua antiga cidade. Além disso, se ela não usava seus poderes daquela forma desde Westview deveria ter realmente ficado chocada pela força de sua reação. 

O fato de não saber lidar com ela o frustrava, de certa forma. Bucky estava acostumado a consertar coisas e situações sob as ordens dos outros e não entendia como não conseguia identificar o problema ali e, simplesmente, agir – como normalmente faria. Tudo em Wanda soava atípico e muito maior do que... Ele. 

Foi com esses pensamentos que conseguiu pegar no sono. Dessa vez, não houve sonhos relacionados ao Soldado Invernal, mas a íris escarlate e uma criança ruiva, que vagava perdida gritando por ajuda. Não era nada comparado aos pesadelos com seu próprio passado, mas a sensação angustiante ainda estava instalada em seu peito quando acordou no dia seguinte, ouvindo o espirro baixo do lado de fora. 

Havia uma chaleira com água no fogão, que ainda parecia muito quente, e podia sentir o cheiro de chá de ervas se espalhando por todo o ambiente. Jogando a manta para o lado, então, se arrastou ainda de moletom e meia até a porta principal da cabana. A claridade da manhã o fez estreitar os olhos, mas fixou a atenção na mulher encolhida na cadeira de balanço, as pernas junto do corpo, um casaco comprido e um cobertor realmente quente a rodeando. 

Julgou que fosse o início do Outono começando a se instalar na manhã fria daquele dia, mas Wanda também aparentava olheiras, a ponta do nariz vermelha e a face cansada enquanto beliscava aquelas frutas cristalizadas horríveis de que gostava enquanto os dedos rodeavam uma xícara quente de chá. Definitivamente, a aparência de uma pessoa doente. 

— Uau. – Seu tom chamou a atenção da ruiva, que se voltou para ele, contrariada. – Aquela chuva acabou com você. 

Ela estreitou os olhos inchados por um momento antes de suspirar e voltar a encarar o terreno gramado à frente, determinada a ignorá-lo ao levar uma fruta à boca. 

— Minha imunidade deve estar baixa. 

A voz rouca e até arranhada o fez levantar as sobrancelhas. Não imaginava que alguém como ela pudesse ser realmente acometida por algo tão... Mundano, mas os sintomas de resfriado eram mesmo reais. Além disso, o movimento chamou a atenção de Bucky para as marcas nos nós dos dedos muito finos e brancos. A surra que dera na outra acabara com as mãos de Wanda, com alguns pontos arroxeados e outros realmente lacerados, com os ferimentos à mostra. Não sabia como a mulher não estava morta, a julgar pelo estado de seu rosto. 

— O que aconteceu ontem? 

Ela pareceu imediatamente tensa, mas irredutível em sua postura distante. Abaixou os olhos por um instante, examinando as próprias mãos ansiosas no colo.

— Elas queriam algo que eu tenho. 

Estava começando também a detestar as respostas evasivas que Wanda o concedia, especialmente, porque queria compreender tudo o que parecia acontecer ao redor sem que, simplesmente, visse, pois não estava habituado a deixar qualquer detalhe passar. 

— É sobre seus poderes? 

— De certa forma, sim. - Wanda se virou para olhá-lo denovo piscando lentamente, enquanto ele simplesmente escondia as mãos nos bolsos do moletom. Não estava acostumado a ter realmente a atenção dela. Havia deixado que ficasse ali, mas soava sempre concentrada demais em suas próprias questões para se preocupar com sua presença. – Não devia ter se intrometido daquele jeito. Eu poderia ter te machucado, de verdade. 

Voltou a encarar as mãos claramente feridas, especialmente a direita, inclusive inchada nos lugares mais próximos aos nós. Realmente, sabia que ela podia matá-lo com muito pouco, apesar de suas habilidades sobre-humanas, mas, por mais que a visse perder o controle naquele instante, sabia que aquela também era a pessoa que vivia se martirizando por conta disso. 

— Está doendo? – Sinalizou em direção à mão, no que ela deu de ombros, voltando a atenção para o local levemente trêmulo ao estímulo de movimentos. 

— Um pouco. 

Então, Bucky se virou para a cozinha e foi até a geladeira de aparência antiga, onde encontrou uma forma com gelo. Colocando algumas pedras num amontoado sobre o pano de prato, fechou numa pequena trouxa e voltou à varanda. Se aproximou de Wanda, estendendo a mão para segurar a direita dela, que ainda hesitou por um instante para ceder. 

Antes de colocar os dedos sobre os nós machucados, fez questão de esticá-los sem muito tato, algo que ela claramente evitava fazer a julgar pela leve reclamação e a retenção do corpo. A mão de Wanda, apesar do estado em que se encontrava, ainda parecia... Mística em forma, tão enigmática quanto ao usar seus poderes, embora naquele dia a energia escarlate fosse mais brutal e física do que normalmente.

— Não acho que me machucaria. – Ela levantou os olhos com aparente curiosidade. – Você me viu, não é? Sabia quem era... Sabia que eu não... A forçaria a nada.

— Não é tão simples assim. 

Wanda terminou num tom de que não continuaria a discutir o assunto, mas não se afastou ou a mão sobre a qual segurava o gelo. Podia sentir a tensão e até a desconfiança que vinha dela, um pouco mais baixa na cadeira, o olhando com aqueles olhos avermelhados e apáticos. Imaginou o que ela conjecturara em torno da situação, que talvez não fosse realmente verdade, mas não podia fazer muito além disso, afinal sequer sabia o que acontecera por trás das portas do antigo castelo. 

Então, levantou os olhos para os dela, engolindo em seco ao notar a avaliação da imensidão verde que aparentavam àquela manhã. Já havia percebido que, às vezes, ela soava invasiva exatamente porque queria causar a sensação, o que não deixava de ser menos intimidador.

— Está lendo a minha mente? 

— Porquê está cuidando de mim? – Bucky apenas abaixou os olhos novamente, quando ela retrucou com outra pergunta. – Porquê está cuidando de mim assim? 

Ainda que se perguntasse exatamente a mesma coisa a todo o instante desde que chegara, Bucky também sabia que era o correto a se fazer. O que os Vingadores estariam fazendo por Maximoff depois do que ela fez por eles, pelo mundo, se a abandonassem à própria sorte, sozinha, depois da bagunça que tudo se tornou com o estalo? É como se houvessem mostrado a ela, especialmente através de Visão, o que era ter algo parecido com uma família, depois de a garota perder tudo, e se afastado abruptamente quando realmente precisava. 

— Você é uma criança. – Ela meneou a cabeça confusa. – Era o que Steve sempre dizia sobre você. Sua confusão com os poderes. Suas escolhas.

Wanda apertou os lábios, ciente que ele estava se referindo à H.Y.D.R.A. O Capitão sempre dizia que ela era apenas uma criança confusa, completamente à mercê das mentiras da organização devido ao passado traumático – especialmente se as mentiras envolviam Stark. Mesmo depois de tudo, o sobrenome e a pessoa ainda eram apelativos à mulher que se tornara. 

— Não sou uma criança. – Decidiu, parecendo um pouco indignada. – Não era uma quando decidi me juntar a H.Y.D.R.A. e, certamente, não sou uma agora. 

— Seus motivos eram os de uma criança. – Quanto a isso, ela não teve o que contestar. Os motivos estavam naquela menina, soterrada pela destruição causada por um míssil Stark. – Steve sempre teve jeito para... Lidar com essas coisas. 

Bucky retirou o gelo, franzindo o cenho para os nós molhados e arroxeados começando a desincharem, embora os sinais da breve luta não fossem sumir de uma hora para a outra. Se ela soubesse realmente bater em alguém, não estariam ali, divagou brevemente. 

— Isso não responde por quê está cuidando de mim.

Voltou a olhá-la de maneira resignada, dessa vez deliberadamente apertando a trouxa de gelo mais forte contra a mão dela, o que Wanda notou com um estreitar de olhos, embora não tivesse tentado puxar o braço ou reclamado de dor. 

— Ainda parece uma criança, que ficou sozinha por muito tempo. 

Notou que a ruiva hesitou e alcançou a outra mão dela para que segurasse o gelo invés dele, então Bucky se afastou, também absorvendo a sinceridade latente demais de suas próprias palavras. Entretanto, chegando à porta da varanda, a ruiva se pronunciou mantendo os olhos na imensidão do jardim de um mundo que parecia só dela. 

— Ontem... Eu não vi que era você. – Bucky notou os olhos muito esverdeados no perfil bem desenhado, de mandíbula delicada e nariz pequeno sob os fios ruivos. – Eu te ouvi. Na minha mente. É estranho que sua voz tenha soado mais... Contundente que as demais.


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Notas finais do capítulo

Ei, voltando com mais um capítulo e este eu AMEI ter escrito!
Tem uma tensão e até um humor inerente às interações desconfiadas deles que eu adorei ter explorado, além de ser mais um passinho a mais neste relacionamento. O que acharam?

Me deixem saber se estão curtindo também! O feedback é sempre importante!

Aliás, postei uma one nova sobre eles inspirada em 'Hold My Hand' da Lady Gaga, centrada em um acontecimento alternativo que, do nada, veio à minha mente! Fica aqui o link: https://fanfiction.com.br/historia/809116/I_heard_from_the_heavens/

Até breve ♥



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