O Bailarino escrita por Mayara Silva


Capítulo 3
Baile da Noite - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♡ ♡ ♡



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Ele. O mesmo bailarino.

 

Estava ali, quieto, parado, apenas observando a lua cheia enquanto saboreava uma taça de vinho. Anelise engoliu seco, perguntou-se o que diabos aquele desconhecido estava fazendo no corredor para os quartos, mas não tentou formular alguma resposta, ele precisava sair imediatamente.

 

— Ei!

 

Sem nenhum pudor, apressou o passo para intimidá-lo. Percebeu que não funcionou quando não o viu sequer se mexer, o seu olhar ainda estava no lindo satélite natural da Terra. Lentamente parou de caminhar assim que se aproximou o suficiente, sentiu-se um pouco contrariada, não sabia sequer como deveria abordá-lo.

 

— Er… esse corredor é particular, não é pra você estar aqui, senhor.

 

Disse-lhe. Sim, era louca, era rebelde, mas com aqueles que conhecia. A influência dos seus pais e a insistência de sua mãe para ser uma "boa menina" martelavam em sua mente de vez em quando. No entanto, ele não se moveu. Tomou mais um gole do seu vinho tinto e, então, repousou a taça na soleira da janela.

 

Percebendo como nada adiantava, ela resolveu dar uma de louca pelo menos uma vez naquele dia. Suspirou e passou a olhar a lua com aquele estranho.

 

— Foi a primeira vez que eu vi a sua apresentação.

 

Murmurou, sem muita certeza do porquê estar conversando sobre aquilo. Novamente ele não reagiu, o que a fez continuar, já um pouco conformada.

 

— Eu sei um pouco de balé… mas estou enferrujada. Foi bom ver os passos de novo, tive boas recordações.

 

Levou as mãos à soleira da janela. Encarou o dançarino de soslaio e, enfim, percebeu que ele a observava com uma sobrancelha arqueada. Pelo visto, falar dos seus interesses era o mais ideal.

 

Por fim, o homem tomou o resto de sua taça e a deixou lá. Tornou a caminhar. Anelise o olhou com confusão.

 

— Ei, a saída não é aí!

 

Ele apressou o passo, e ela, enfim, percebeu que estava tramando alguma coisa. Pensou em voltar e contar aos guardas do pai, mas aí era exigir demais de sua boa noção. Sua mãe que a perdoasse, era mais divertido não seguir as regras.

 

Curiosa, seguiu o homem, quis ver o que ele estava pensando em aprontar.

 

Enquanto o acompanhava, refletia sobre o que ele estava fazendo. O dançarino se movia meticulosamente, como um felino em um ambiente de caça. Contorcia-se ao virar os corredores, como se estivesse tentando evitar dar de cara com mais companhias, e todos aqueles movimentos teatrais muito intrigavam a garota. Seguiu até os jardins faraônicos, parecia saber exatamente para onde queria ir. Quando passou pelos portões de vidro, seguiu em direção às belíssimas sebes que formavam um labirinto florido no qual Anelise conhecia de cor e salteado. Logo foi em sua direção.

 

Se achava maluca por se meter no mato com um estranho, mas não tanto quanto ele próprio invadir os jardins de um cliente. Anelise o seguiu até, enfim, perdê-lo de vista. A pouca iluminação e suas vestes escuras a impediram de acompanhá-lo por muito tempo. Suspirou. Agora, estava sozinha.

 

— Pastel…

 

Resmungou. Estava prestes a voltar, sabia como sair daquele labirinto, mas, cercado por uma parede de folhagens, um pouco distante estava ele, banhado pela luz da lua. O corpo novamente posicionado para uma apresentação, a postura ereta, o peito estufado, o rosto levemente abaixado, os braços para trás. Anelise lentamente se aproximou, não escondeu o seu olhar intrigado.

 

E, então, quando chegou perto, ele estendeu-lhe a mão. Ela franziu o cenho.

 

— O quê?

 

O homem imitou brevemente o gesto de ficar na ponta dos pés, mostrando-lhe quais eram suas intenções. Ela, enfim, havia entendido.

 

— O quê?! Não, não, eu não danço há um tempo…

 

Ele não parecia abalado com aquela resposta, pois sua mão continuou ali, esperando por ela. Anelise ora encarava o homem, ora os seus dedos cobertos pela luva negra, até enfim aceitar ver do que ainda era capaz.

 

Entrelaçou os dedos finos nos dele. Logo, aquele misterioso artista a conduziu para um balé suave, abstendo-se da complexidade dos seus passos anteriores. Anelise se lembrava de cada regra, cada etapa, eram os movimentos básicos de uma dança com um acompanhante. Naturalmente o passo seguinte vinha à sua memória, e o bailarino a conduzia em cada momento.

 

— Plié… Relevé… A la seconde…

 

Quando tentou arrebitar, mesmo que em meia ponta, o salto que não era apropriado para isso cedeu.

 

— Ai!

 

A ruiva já estava esperando dar com o narizinho no chão, todavia, sentiu as mãos daquele homem envolverem a sua cintura e segurá-la. Sentiu os seus dedos lentamente deslizarem sobre a perna erguida dela, que conseguiu manter um A la seconde apesar das dificuldades. Sentiu um arrepio quando a luva negra do desconhecido roçou carinhosamente em sua tíbia, até que, quando enfim percebeu, estava arrebitada como uma bailarina, com a perna ao alto, a outra — ereta — a apoiar-se no chão, o tronco inclinado e o rosto erguido. Sentiu as mãos daquele homem envolverem as suas e a segurar, até que, enfim, ela desfez a pose e virou-se para ele, sem dizer uma palavra.

 

Anelise estava assombrada. Há muito tempo não dançava, e, por alguma razão, aquele artista havia conseguido resgatar suas memórias. Olhou mais uma vez em seus olhos, tentou recordar se já havia o visto antes, mas ele não permitiu que seus pensamentos prosseguissem.

 

Ainda com as mãos nas dela, a puxou carinhosamente para perto. Ao notar, Anelise prontamente se afastou.

 

— Não… — murmurou, em seguida pigarreou — Eu sou uma… uma dama solteira. Eu não devia nem estar falando contigo.

 

Novamente ele não reagiu, nada nas palavras da ruiva realmente o pareciam abalar. Tornou a puxá-la para perto de si, dessa vez com maior delicadeza, enquanto seus olhos escuros profundamente admiravam os dela, que eram claros como a água cristalina. Anelise queria recuar mais uma vez, contudo, não conseguiu. Era louca, era curiosa, e aquele dançarino era um transgressor de regras, era perceptível a rebeldia nos seus atos, nos seus trejeitos, sempre se negando a fazer o socialmente aceito. Anelise estava encantada e essa sensação ia além da arte: ele era tudo o que ela queria ser. Ele era livre.

 

Deixou que ele a conduzisse até estarem próximos o suficiente. Desconhecia suas intenções, mas tinha a suspeita de que aquele seria o seu primeiro beijo. Estava nervosa, sentia-se uma rebelde, mas não conseguia negar para si mesma que queria aquilo, queria ver até onde iria aquilo.

 

Contudo, ao contrário do que pensava, o bailarino não tinha pressa alguma.

 

Segurou suas mãos e as guiou até o próprio corpo. Anelise congelou quando seus dedos tocaram o peitoral dele.

Estava pensativa. Era uma moça resguardada para o casamento, era virgem e sequer imaginava como poderia ser um corpo masculino. Não sabia nada, exceto o que via por fora, mas tocar era algo impensável até mesmo para o seu adormecido espírito livre. Acariciou discretamente o seu peitoral com as palmas, mas não conseguiu sentir muita coisa, os seus trajes de dança inibiam os detalhes. Percebendo aquela situação, o dançarino, não satisfeito, desabotoou o colete e retornou a guiar os dedos curiosos de Anelise até o seu corpo, permitindo que a curiosidade dela coordenasse suas ações.

 

— Ah!

 

Suspirou, assustada. Sentiu o seu peito em todos os pormenores. Era liso, quente, sentiu o seu coração palpitar. O olhar daquele homem era inexpressivo, mas o seu peito entregava a adrenalina a correr pelo seu corpo. Anelise sentiu as mãos fortes do bailarino, que eram grandes de dedos esguios, envolver o dorso das suas enquanto estas exploravam o tórax, e aquele toque lhe trouxe, junto ao medo, sensações desconhecidas, arrepios que nunca havia se permitido sentir.

 

Desceu as palmas e não foi muito longe. Estagnou quando sentiu a áspera textura da aréola do seu mamilo. Seus olhinhos azuis dilataram e o bailarino percebeu isso, pressionou as palmas dela em seu peito e a guiou para outra direção. Mais abaixo, Anelise conseguiu sentir os músculos pouco proeminentes de seu abdome magro. Deslizou o indicador e o médio voluntariamente até encontrar o seu umbigo e notou como era saltado, diferente do próprio, indagou a si mesma se isso era uma característica de todos os homens.

 

— Uau…

 

Murmurou baixinho, mas sua reação não escapou dos ouvidos atentos do artista. Anelise deslizou os dedos para ainda mais baixo, curiosa até mais do que o esperado, porém encontrou apenas o início da meia-calça escura do homem. Aquilo a fez repousar as mãos em seus quadris e as manter ali. Olhou para baixo, pensou duas vezes, ela estava tocando em seu corpo e ele não havia posto limites. Deslizou os dedos para até sua virilha, pensou que seria bloqueada por ele, mas o homem não a repeliu e aquilo a assombrou.

 

— Ah…

 

Ela murmurou, sentindo as bochechas arderem. Não sabia muito o que fazer, seus dedos começaram a fazer movimentos circulares em torno das coxas fortes do rapaz, contudo, paralisou completamente quando sentiu aquelas mãos fortes envolverem as suas novamente. Anelise não tirou os olhos daquele ato, viu aquele homem lentamente guiar os seus dedinhos curiosos até a própria pelve, estava perto de tocar o que havia ali…

 

… mas então…

 

— Anelise!!

 

A ruiva prontamente afastou suas mãos e só então percebeu como seu peito arfava, sua respiração estava fora de sintonia. O bailarino, nada assustado, apenas olhou em seus olhos uma última vez antes de se afastar e sumir pelos corredores daquele labirinto.

 

Anelise saiu sem maiores dificuldades. Da entrada da sebe, ao longe, pôde contemplar a condessa Matilda acompanhada de uma empregada.

 

— Menina, saia daí! Eu disse para ficar com sua irmã. Não saia de perto dela!

 

— Sim…

 

Murmurou a garota, logo levantando a barra do vestido para correr sem o risco de tropeçar. Seu rosto ainda estava queimando em rubor, mas buscou não olhar para a mulher, talvez conseguisse disfarçar dessa forma.

 

— Malcriada… Se me desobedecer novamente, vai ficar de castigo!

 

A ruiva normalmente debocharia daquilo, porém nada do que a mulher falasse a ela naquele momento seria suficiente para desviar o seu pensamento do que acabara de acontecer. Anelise quase havia ultrapassado os limites do tolerável, ela estava dançando na corda-bamba… e como ela adorava isso.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:

A ruiva suspirou.

— Acho que estou apaixonada.

Ao ouvir exatamente aquelas palavras, Sofia abriu um sorriso largo e extravagante, um tanto provocativo, seguido de um olhar cúmplice.

— Humm, tá apaixonada!

— Shh, quieta!

— Você não é a mulher livre de maridos, que quer viver a vida longe da sombra de um homem?

— Eu sei! Mas ele é diferente, Sofi, ele é rebelde! Ele é um transgressor de regras, rebelde. Ele perambulou por uma casa que não é dele, me levou aos jardins... Eu disse que era solteira e sabe o que ele fez? Segurou minhas mãos… olhou nos meus olhos… deixou que eu tocasse o seu corpo. Ele fez de propósito, ele é mau… Sofia, eu quero vê-lo de novo.



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