A Deusa da Morte escrita por Aline Lupin
Os dias passam lentamente para Emily depois disso. Adam a visita quase todos os dias e a leva para passeios. Mas, nunca estão sozinhos. Flora ou Mikael fazem companhia ao casal, para evitar as fofocas sobre eles. E Emily nunca se lembrava de perguntar sobre a família do noivo e Adam não lhe falava sobre si. Sempre discutiam outros temas.
Na semana seguinte, Emma sai para caminhar sozinha e vai até a livraria. Vasculha as prateleiras, procurando um livro que fale mais sobre a família Stanley, pois a carta não saia da sua cabeça. Ela não queria perguntar para sua mãe. Não queria deixa-la mais preocupada.
— Senhor Fletcher - ela disse, indo até o balcão - Há algum livro falando sobre a família Stanley?
Fletcher pensa, coçando seu queixo.
— Não senhorita, não me lembro de ter algum livro sobre eles. Se puder me dizer do que se trata, quem sabe eu a ajude...
Ele foi interrompido pela porta da frente se abrindo. O barulho do sino tocando abafou o final da sua frase. Um homem de cabelos castanhos, olhos azuis entra no local. Ele tinha um ar imponente e fazia todos ao seu redor olharem surpresos. A damas cochichavam sobre ele e os cavaleiros desejavam ser ele.
— Milorde - cumprimenta Fletcher, um pouco nervoso.
Emily dá um passo para o lado, irritada com a presença daquele homem. Ela se sentiu ultrajada por ele passar na sua frente. Afastou-se e continuou sua caçada ao livro da família Stanley.
— Chegou o meu pedido, senhor Fletcher? - perguntou o cavaleiro, com superioridade.
— Si...sim, Milorde. Eu volto em um instante - responde Fletcher, indo para os fundos da loja buscar a encomenda.
O cavaleiro espera e vê Emily puxar alguns livros de uma prateleira, no fundo da loja. Ele a percebeu por seus cabelos negros e seu rosto angelical. Aproxima-se e a fita com interesse.
— Nos encontramos de novo, senhorita Emily - ele diz.
Emily se sobressalta, derrubando os livros no chão, chamando a atenção de outras pessoas que estavam na livraria. Ela fita os olhos azuis do homem, mas não o reconhece. Ele possuía um rosto belo, queixo quadrado e sobrancelhas escuras. Ela não se recordava de conhecê-lo, mas lhe parecia familiar.
— Desculpe-me senhor, mas quem é você? - ela pergunta e se agacha para recolher os livros.
Ele ri, achando graça do fato de ela não o reconhecer e também pelo fato de que todos o conheciam. Isso era bom para ele. Ele a ajuda a pegar os livros e a auxilia a recoloca-los na prateleira.
— Eu me chamo Tristan Harris - ele diz, fazendo uma reverência - Nos conhecemos no baile de lorde Derby.
Ela tem uma centelha de reconhecimento.
— Então era o senhor que estava me observando? E que conversou comigo na mesa de bebidas? - ela pergunta, franzindo o cenho.
— Exato. E não me esqueci do quanto à senhorita toca divinamente o violino - ele diz, chegando mais próximo dela.
Emily fica desconfortável, pela aproximação e por olhar penetrante. Quer fugir da livraria e não estar em sua presença. As pessoas que estão no local escutam ávidas, para saber do que se trata a conversa.
— Milorde, aqui está - Fletcher diz, voltando ao balcão.
Ele presencia a cena do cavaleiro conversando com a senhorita Emily e fica preocupado. Aquele homem era um libertino e não seria bom ela estar tão próxima dele.
— Senhor? - ele insiste.
Tristan olha para Fletcher com raiva.
— Queira me perdoar, senhorita - ele diz e vai até o balcão.
Enquanto Tristan está pagando por seus livros, Emily aproveita e sai da livraria, com o coração acelerado. Sentia medo do olhar dele. E ele parecia muito mais importante do que havia se apresentado. Todos o chamavam por milorde. Era um aristocrata, com certeza, ela pensou. Estava trêmula e andou lentamente pelas ruas. Uma carruagem passou próxima a ela e o condutor parou os cavalos. A porta se abriu e lá dentro Emily pode perceber que era Tristan.
— Senhorita, permita-me que eu a leve para casa - ele se propõe, com a amabilidade.
Emily quer negar, quer correr daquele homem. Teme por sua vida.
— Obrigada, senhor. Mas eu estarei bem a pé - ela recusa e começa a andar.
O céu escurece e a chuva começa. Emily controla sua língua, pois deseja praguejar.
— Insiste em recusar minha ajuda, senhorita? - Tristan diz, com tom magoado.
Ela continua a andar e chuva ensopa seu vestido fino. A roupa fica colocada em seu corpo, mostrando suas curvas. A carruagem anda, conforme o passo dela.
— Senhorita, irá adoecer assim. Seus pulmões ficaram fracos. Entre em minha carruagem, eu lhe suplico - ele pede mais uma vez.
Emily, sabendo que será uma longa caminhada até sua casa, além de Tristan estar correto com a probabilidade de ela poder adoecer, aceita relutante.
— Muito bem, eu aceito. Mas, saiba que estou noiva e não tenho nenhum interesse no senhor - ela diz, com veemência.
Ele ri da afirmação dela. O condutor para a carruagem e Tristan abre a porta. Ela adentra com sua ajuda e senta de frente para ele. Ele bate no teto da carruagem e o veículo começa a andar.
— Aqui, fique com isso - ele retira seu casaco preto e estende para ela. Emily faz uma careta e não o pega. Contudo, não consegue controlar os tremores pelo frio e por estar com as roupas encharcadas - Por favor, não me trate como se eu estivesse amaldiçoado.
Ela aceita o casaco e coloca sobre seus ombros. O cheiro almiscarado dele impregna seu olfato.
— Está buscando algo, na livraria, senhorita? - ele pergunta, puxando conversa.
— Apenas um livro. Sobre as famílias nobres da Inglaterra - ela responde, fitando a janela.
— Interessante. E qual família você buscava?
Ela se sente incomodada pelas perguntas dele.
— Senhor Harris, isso é um interrogatório?
Ele gargalha. Gostava da forma petulante que Emily se portava com ele.
— Hum, deixe-me ver - ele diz, tocando o queixo - E se for?
Emily engole seco. Ele parecia amistoso, mas sua pergunta parecia uma advertência. Parecia lhe dizer que se o provocasse, ele responderia a altura.
— Eu não gosto de interrogatórios, senhor - ela diz fitando-o com intensidade. Por dentro tremia, mas queria mostrar que não tinha medo.
— Oh, sinto muito - ele finge se arrepender - Mas, eu gosto desvendar mistérios. E você, minha cara, é um mistério que estou disposto a desvendar.
Emily morde a bochecha, contendo a raiva. Aquele homem se mostrava irritante.
— Não sou em nada parecida com as damas que se relaciona meu senhor - ela diz, irritada - E não lhe dei o direito de me tratar assim.
Ele dá de ombros e se recosta no banco preto e estofado.
— Eu apenas estou tentando ser educado e a senhorita está alterada sem motivos - ele retorquiu, sem se abalar.
Irritada, Emily deseja descer daquele veículo.
— Pare a carruagem - ela ordena.
— O condutor não vai parar, até chegar ao seu destino - ele diz.
— Eu disse para parar. Quero descer - ela ordena, com a voz altera.
Ele não faz isso, apenas a ignora. Emily se sente em pânico. Bate no teto, mas o condutor não para. Ela olha pelo visor de vidro as suas costas e tenta bater, para que o condutor a escute, mas não consegue fazer a carruagem parar. Ela tenta abrir a porta, empurrando a maçaneta e a porta se abre. Vê a paisagem em movimento e o chão de pedra. Reluta em se jogar. Seria uma queda feia, pensou.
— De fato uma queda horrível - ele comenta.
— O quê? - ela exclama - Estava me ouvindo pensar?
— Não, eu não leio pensamentos, senhorita Emily – nega, em tom debochado - Pode fechar a porta e se acalmar? - ele pede, sem perder a paciência.
Ela fecha, irritada. Sente-se acuada e se encolhe no canto da carruagem.
— Vai me fazer mal? – perguntou, sem fita-lo.
— Se eu fosse fazer eu lhe diria? - ele rebate a pergunta.
Ela nega com a cabeça.
— Chega de perguntas tolas – Tristan diz em tom cortante - Eu não vou lhe fazer nada. Não sei o motivo para tamanha histeria.
— Eu não lhe conheço e não confio no senhor - ela se defende.
Ele gargalha, irônico.
— Eu sei, eu sei. Mas, apenas estou fazendo um favor - a carruagem para - Ah, chegamos!
— Chegamos? - ela perguntou, incrédula – Mas...eu nem disse onde moro.
A porta ao seu lado se abre. Emily vê sua casa e estranha o fato de ele saber onde ela reside.
— Pode descer, senhorita - ele diz, a despertando dos seus devaneios – E veja como sou generoso, não lhe fiz nenhum mal.
Ela sente tom de ironia e cinismo em sua voz, mas resolve não rebater. Apenas assente e desce do veículo. A porta se fecha e a carruagem parte. O céu está claro novamente, como se não tivesse chovido. O chão aos seus pés está seco. Ela vê a carruagem negra se afastar e pensa nos últimos acontecimentos. Primeiro não viu ninguém abrir a porta, segundo, aquele homem sabia para onde estava indo e terceiro, o casaco dele estava com ela.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!