A Deusa da Morte escrita por Aline Lupin


Capítulo 5
Capítulo 5




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O baile fora um sucesso, lorde Derby estava orgulhos de sua esposa e do grande evento organizado. Seu filho não havia comparecido, o que os deixaram irritados, mas era o jeito de Perseu. Era mais preocupado com seus assuntos do que com a própria família.

Emily não dançou no salão com Adam, mas ele a observava a distância, com olhar embevecido. Assim como o homem mascarado, que a fitava, como se ela fosse sua e lhe pertencesse. Ela sentia o olhar deles e estava incomodada. Não conseguia ter a concentração para tocar. Não havia errado nem uma nota, contudo, sentia a energia densa pairando sob sua pessoa. Aquele homem não parava de fita-la e isso a deixava desconfortável.

Após o baile encerrar, lá pelas duas horas da manhã, Adam acompanhou Mikael e Emily até a casa deles. Richard se remoía de ciúmes, por ver a bela dama ser acompanhada de forma tão intima por Adam. Contudo, ele não teria como competir com ele, pois conhecia a família de Adam e ele estava muito acima da classe social de Richard. O músico apenas era de classe média a alta. Não possuía títulos e não teria grandes coisas a oferecer a Emily.

— Então, o casal está muito feliz? – Mikael perguntou, dentro da carruagem, com Adam e Emily.

Eles sorriram, com um olhar cumplice.

— Eu estou mais que feliz, Mikael – Adam diz, apertando a mão de Emily, que estava sentada ao seu lado – E agradeço por me avisar que viriam até a residência do conde.

Mikael lhe oferece um sorriso.

— Eu nunca deixaria de ajudar-lhe, meu amigo. E também ver a felicidade da minha irmã e tudo que sempre sonhei – ele diz, com sinceridade – Está na hora de sorrir mais, não é Emily?

Ela fica comovida pelo carinho que o irmão sente por ela.

— Eu sempre sorrio, seu tolo – ela diz, em tom jocoso – Mas, agradeço suas palavras. E realmente estou muito mais feliz agora.

E o clima era de harmonia. Adam os deixou em frente ao portão da residência deles e informou que voltaria pela manhã. Beijou delicadamente Emily em seu rosto e partiu. Emily não cabia em si de felicidade. Ela viu a carruagem se afastar e notou o brasão na porta da carruagem. Franziu o cenho e não sabia dizer de quem poderia ser. Adam nunca disse que era rico, ou nobre. E ela também nunca havia lhe perguntado.

— Irmão, sabe de que família Adam pertence? – ela perguntou.

Mikael ficou sem jeito.

— Acho que quem deve lhe contar é ele – Mikael responde, abrindo o portão da casa.

Eles passam pelo jardim e Mikael abre a porta da frente. Emily se sentia estranha e não sabia dizer o motivo. Ela somente não queria se casar com um nobre. Ela não tinha títulos e seria vista como uma oportunista.

— E você sabe? – perguntou ela, quando os dois deixam os instrumentos na sala de estar.

O ressinto estava escuro, sem iluminação, mas eles não pareciam se importar em acender uma vela. A lua iluminava o ambiente, permitindo que eles se locomovessem pela sala, sem esbarrar nos móveis.

— Sei, sim– ele diz, sem fita-la – Mas, pela manhã, ele lhe falará. Você será esposa dele.

Emily não estava apreciando aquele mistério.

— Eu gostaria de saber agora – ela diz, impaciente.

Mikael ri dá impaciência dela.

— Escute, minha irmã, não faz diferença de qual família ele pertence – ele diz, sentando-se no sofá e tirando seus sapatos e o casaco – O que importa é que você será feliz, somente isso.

Emily aperta os punhos, estressada.

— Claro que me importa sua origem, Mika – ela protesta – O que vão pensar de mim se me casar com um nobre? Nós não somos ricos, não temos títulos...Não quero ficar no centro das atenções de ninguém.

Mikael concordava com sua irmã, mas Adam havia demonstrado pureza em suas ações e lhe passava confiança.

— Eu sei de tudo isso – ele diz, dando de ombros e recosta no sofá, soltando um suspiro de satisfação – Mas, se recorde que nossa mãe é filha de um visconde. Então, não vamos parecer tão oportunistas assim? Não acha?

Emily suspirou. Não adiantava combater a lógica de Mikael. Ele sempre vencia, em qualquer discussão. Era bom orador e tinha uma ótima retórica.

— Tudo bem, você venceu por hoje – ela diz, cansada – Eu vou dormir, está bem?

— Claro. E eu sempre venço, Emy, eu sempre venço – ele zombou.

Ela não respondeu a aquela provocação, apenas se dirigiu ao seu quarto. Subiu as escadas, para o andar de cima e foi até o quarto de sua mãe. Notou que a porta estava aberta, mas sua mãe dormia profundamente. Foi até sua cama e lhe deu um beijo na testa. Flora não havia despertado com o carinho. Ainda dormia tranquila.

Emily se afastou, sem fazer barulho e foi para seu quarto. Bateu o pé em um móvel e controlou-se para não praguejar, devido à dor. Procurou dentro do criado mudo uma vela e o fosforo e acendeu, deixando em cima do pires, sobre o móvel. O local foi iluminado parcialmente pelas chamas e Emily pode trocar sua roupa e desfazer o penteado. Ela abriu as cortinas pesadas da janela e teve o vislumbre do seu jardim e da lua a iluminar o céu. Era lua cheia. O clima era ameno e tranquilo. Parecia que tudo estava se renovando mais uma vez em sua vida. Ela suspirou, satisfeita. Apesar de não desejar se casar com um nobre, por medo da opinião alheia, seria perfeito se casar com Adam. Eram amigos, se entendiam e suas ideias eram parecidas.

Pensando nisso, deitou em sua cama e adormeceu logo em seguida. Não lembrava ter acordado, somente caminhava por um campo de flores e via Adam lhe acenando. Ele lhe beijou os lábios, como nunca havia feito antes. O seu beijo era doce e amável. Ele lhe disse que a amava de todo coração e que nada iria separa-los. Ela sorriu, confiante. Contudo, ao fechar os olhos, para lhe dar mais um beijo, o beijo que recebeu não era o que esperava. Era possessivo. Ela abriu os olhos e viu que não era Adam que a abraçava. Era o homem que a perseguia em seus sonhos. Ele a segurava pela cintura e na nuca. Seus olhos amarelos a fitavam com luxuria e desejo. Seu rosto perfeito era perfeito, esculpido pelos deuses. Contudo, ele não era o homem que amava.

— Solte-me – ela diz, tentando empurra-lo pelo peito.

— Nunca, minha ninfa – ele diz, com a voz maliciosa – Já lhe disse que pertence a mim e mais ninguém. Casar-se-á comigo e viverá aqui.

Ele soltou sua nuca e apontou para sua direita. Havia um vale de árvores mortas e petrificadas. Muito diferente do campo vasto e bonito em que ela se encontrava.

— Não quero, eu não gosto daquele lugar – ela diz, em desespero – Por favor, tem piedade de mim.

Ele tocou sua face, acariciando-a.

— Não tem escolha – ele diz, com tom severo, apesar da sua caricia – Vais comigo por bem ou por mal.

— Por que falas dessa maneira? – ela pergunta, confusa – Por que me toca com carinho e me falas com dureza?

— Pelo motivo que desperta em mim uma paixão cega, quase indomável em meu peito – ele lhe responde – Mas, não sou doce e brando, como deseja. Não sou teu príncipe, nem teu escravo. Governo este mundo e estarás ao meu lado, mas terá que se contentar com o que lhe ofereço. Oferece-lhe esse reino, mas não meu coração.

— Não, nunca! – ela exclama.

Ela o empurra, com força e parte em outra direção. Ele não a segue e Emily continua correndo e percebe que a paisagem a sua frente se alterava. Somente cinza e escuridão quase total. O chão era árido e sem vida, contrastando com a beleza do campo em que se encontrava alguns instantes.

— Pai, pai – ela clamava.

Ajoelhou no chão, chorando em desespero. Alguém tocou sua cabeça e ela a ergueu. Seu pai estava em pé, tocando o topo da sua cabeça. Seu olhar era vazio. Mais uma vez, sua aparência era translucida. Vestia uma túnica branca e os pés estavam descalços. Seus olhos azuis estavam sem vida.

— Filha, estou aqui. Mas, precisa lutar – ele aconselha – És forte e tem todo o poder a sua disposição. Confia em ti e não se desesperai. O medo embota sua visão e suas ações.

— Por que fala em enigmas? Não lhe compreendo.

— Saberás no momento certo, por enquanto, acorde desse sonho – ele responde, desvanecendo no ar.

Emily não sabe entende seu pai, mas tenta acordar, como ele havia dito. Ela fecha os olhos com força, pedindo para acordar. Abre novamente e está no mesmo lugar, ajoelhada.

— Como acordar? Como? – ela se pergunta.

O homem que a perseguia, caminha à distância, observando-a. Ela treme de medo e se levanta aos tropeços. Sai em disparada, pedindo mentalmente para apenas acordar. Quando percebe, está por entre as árvores mortas. Ela tropeça em um nó e caiu de joelhos no chão e se sente humilhada. Lembre-se da sua força, Emily, use-a, ela escuta mentalmente. Não sabe de quem é a voz, mas tenta seguir o conselho. Ela se levanta e se imagina voltando ao seu quarto. O homem se aproxima mais rápido, com um sorriso perverso. Ela concentra-se mais, quando percebe que tudo desparece ao seu redor. Acorda sobressaltada, sentindo o corpo suado e pegajoso. Abre os olhos, lentamente e vê a lua lá fora, ainda brilhando.

— Eu não dormi quase nada – ela murmura.

Sente seu coração acelerado e respira aliviada. Era a primeira vez que tinha controle sobre seus sonhos. Não entendia os símbolos e significados por trás de tudo aquilo, mas estava mais confiante, devido ao que seu pai disse. Ela tinha poder e realmente sabia que tinha. Era seu sonho e naquela realidade, ela era rainha e comandava tudo. Não sabia dizer se o homem que a perseguia era seu próprio medo de ser controlada por alguém. Poderia ser isso, era o que pensava. Mais uma vez, movida por uma vontade de entender o que estava se passando em seu subconsciente, levantou-se da cama e retratou aquelas paisagens e rosto do homem de olhos amarelos. Sentia medo ainda por ver aquele semblante. Tocou seus lábios com as pontas dos dedos, ainda sentindo o toque frio e lascivo dele. Arrepiou-se inteira e tentou espantar aquelas sensações. Pintou até o amanhecer e guardou a tela no closet. Ela o retratou em um campo cheio de flores e ao fundo o caminho se escurecia, com a floresta das árvores petrificadas.


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