Terça-feira, pôr-do-sol…

Sakura tinha ido até a pousada onde o irmão estava hospedado para se despedir, ele partiria em um ônibus para a capital naquela noite e dentro de alguns dias estaria voando para os Estados Unidos.

Ficaria um tempo sem vê-lo.

— Se cuida – ele falou, terminando de organizar a bagagem. – E vê se atende esse celular quando eu ligar, ou pelo responda as minhas mensagens – avisou.

— Tá – ela revirou os olhos, enquanto estava de braços cruzados encostada no batente da porta.

— E não revira esses olhos pra mim – ele reclamou.

— Tá – ela atirou de novo.

— Ah se eu tivesse nascido com esses olhos verdes – ele lamentou –, esse mundo não seria páreo pra mim.

Em seguida Sasori a surpreendeu com um abraço.

— Se a mãe e o pai aparecerem e te encherem o saco pode ameaçar eles dizendo que vai mandar eles pra cadeia de novo. E me liga que eu mesmo converso com eles.

Sakura só acenou a cabeça encostada no ombro dele.

— Boa sorte – ela desejou.

Depois que saiu da pousada Sakura não estava mais pensando nos pais ou no irmão – tinha certeza que ele ia se dar bem nos Estados Unidos, Sasori era um espírito indomável – e sim na lua cheia do dia seguinte. Nem Ino nem Hinata conseguiram a casa livre em plena quarta-feira, então elas teriam que ficar no trailer de Sakura, o que para a garota de cabelos rosa parecia uma péssima ideia por inúmeras razões.

. . .

Quarta-feira, a caminho da lanchonete do Jiraya…

— É perfeito – Ino retrucou pegando o celular na bolsa.

— É cheio de aberturas, fora o canal, a lua reflete nele tá?! É só a gente pular e já era, vamos pro mar ou pra qualquer outro lugar que a lua quiser – Sakura discordou ajeitando a mochila nas costas.

— A lua só pega uma de nós por vez, não todas juntas – Hinata tentou apaziguar a situação. – É só a gente tomar cuidado e se acontecer alguma coisa, uma ajuda a outra – falou calmamente.

— É – Ino acrescentou. – A gente assiste um filme e vai dormir cedo, pronto, problema resolvido.

Não era tão simples.

E o tempo delas estava apertado, elas tinham que sair da lanchonete imediatamente e praticamente correr para o trailer da amiga de cabelos rosa antes que a lua emergisse.

Tanto Ino quando Hinata estavam com mochilas prontas naquela manhã para deixarem no trailer de Sakura antes de irem para a escola.

Sakura balançou a cabeça, discordando das duas. Por algum motivo não conseguia deixar de se sentir inquieta, mas não era só pela lua daquela noite…

— A lua não pegou nós três juntas ainda— a garota de cabelos rosa ressaltou.

— A gente não precisa se preocupar, o Naruto vai estar lá pra ajudar a gente – Hinata disse assim que passaram pela porta da lanchonete.

— Então Naruto vai estar na sua festa do pijama, mas eu não posso ir? – Infelizmente Sasuke tinha ouvido a sentença de Hinata. E ele não foi o único, Gaara também estava lá.

Sakura lançou um olhar irritado para Hinata.

— Não vai ter festa do pijama nenhuma – Sakura reclamou antes de ir para o vestiário para colocar o uniforme.

Ino e Hinata trocaram um olhar.

— O Naruto só vai ajudar a gente em um projeto – disse Hinata tentando apaziguar a situação.

Gaara até podia engolir a desculpa, mas Sasuke não.

— E que projeto é esse? Porque nossos trabalhos do semestre foram entregues na semana passada – ele cruzou os braços.

— É particular – Hinata ressaltou.

Ino mordeu os lábios apreensivamente. Por sorte, Sakura saiu do vestiário a tempo de intervir.

— Ainda estão falando sobre isso? Ino e eu temos que trabalhar – ela tentou encerrar o assunto.

Mas Sasuke não estava disposto a colaborar.

— Eu fiz alguma coisa pra você? – ele a questionou se colocando no caminho dela.

— Eu não sei, você fez? – ela retrucou cruzando os braços.

— Você ainda tá brava com aquilo?

— Olha Sasuke, aqui não é hora nem lugar – ela o avisou.

— E quando vai ser a hora ou o lugar? – ele perguntou nervoso.

— Eu não sei! – ela exclamou chamando a atenção de alguns clientes e, percebendo isso, abaixou o tom. – Só me deixa com as minhas amigas por hoje, tá legal?

— Você consegue ser impossível às vezes – ele disse antes de sair da lanchonete.

— Vocês brigaram? – Ino perguntou apreensiva. – Logo hoje?

— A gente tem mais com o que se preocupar hoje – Sakura a avisou, não querendo falar sobre ela e Sasuke.

E era verdade.

As meninas passaram o dia apreensivas, a lua cheia surgiria menos de quinze minutos depois do expediente de Ino e Sakura, então as duas ficaram de olho no relógio o tempo todo, quando o horário delas encerrou, correram para o vestiário e se trocaram na velocidade da luz.

— Um minuto é um recorde – disse Sakura admirada.

— Vamos – chamou Ino, apressada.

— Já vai? – Gaara se colocou em frente de Ino.

Sakura segurou o suspiro alarmada. Hinata acenou do lado de fora da lanchonete. Elas não tinham tempo para isso.

— Já – Ino tentou passar por ele.

— Não vai me dar nem um beijo? – ele sorriu para ela.

— Olha só pombinho – Sakura o interrompeu, puxando Ino –, a gente tem que ir.

— Pra que toda essa pressa? – ele reclamou atrás delas.

— Dez minutos – Hinata disse assim que as duas saíram.

As três andaram devagar, tentando não chamar a atenção, Gaara ainda as podia ver da lanchonete e nunca se sabia quando Sasuke apareceria ou se alguém contaria para ele, mas quando chegaram na orla dos trailers, Hinata disse:

— Cinco minutos – fazendo com que as três corressem rapidamente.

Sakura tinha dado a chave do trailer para que Naruto tapasse qualquer fresta de luz possível enquanto estavam na lanchonete, Hinata havia ajudado e corrido para ir buscar as meninas.

— Um minuto – disse Hinata, ofegante por conta da corrida.

— Entrem, entrem, entrem – Naruto acenou da porta do trailer de Sakura.

As três deslizaram atrás da porta assim que passaram por ela.

— Tudo certo? – Sakura perguntou depois que se recuperou um pouco.

— Sim, tudo tampado e verificado – disse o loiro. – Eu trouxe ventiladores caso dê calor – olhou para Sakura. – O encanamento está fechado. A água para beber só em garrafas térmicas – apontou para a pia da cozinha de Sakura. – Não é para termos qualquer tipo de problemas.

E então o celular de Naruto soou em um alarme.

— A lua tá no céu pessoal – ele avisou.

Mas tanto o celular de Sakura quanto o de Ino apitaram ao mesmo tempo.

Naruto podia ter se preparado para enfrentar a lua, mas não conseguiria enfrentar os namorados.

. . . 

— O que a gente faz? – Ino perguntou angustiada olhando para a quinta mensagem que Gaara havia lhe enviado. – Se a gente não responder é capaz deles virem até aqui.

— O que é que deu neles, afinal? – Sakura olhava irritada para a tela do próprio celular. – O Gaara eu até entendo, afinal, vocês começaram a namorar mal tem três dias, estão na fase da lua de mel, mas o Sasuke não é um grude desse jeito.

Ino se indignou com a resposta da garota.

— Ah, o Sasuke não é um grude? Pois eu sou capaz de apostar que ele tá se roendo de ciúmes do Naruto. Pelo menos o meu namorado não é ciumento! – a loira atirou.

— Rá, pelo menos o meu namorado não me apressou pra me apresentar a família, vocês nem tem uma semana de namoro sequer, o que é, já vão casar? – a de cabelos rosa retrucou.

Aquela briga estava escalonando muito rápido para o gosto de Naruto.

— Garotas! – o loiro gritou se colocando no meio das duas. – Se acalmem! A lua é o problema aqui, estão lembradas? – reforçou.

— Não – disse Hinata e Naruto respirou aliviado achando que a amiga estava do lado dele. – Você é que é o problema aqui! – Hinata gritou e começou a chorar, o que preocupou Naruto, lágrimas eram água, certo? Era o suficiente para fazer ela se transformar?

— Olha só o que você fez! – disse Ino para o garoto e foi abraçar Hinata.

— Dá o fora agora Naruto! – Sakura apontou para a porta antes de também abraçar a amiga.

A briga sem sentido de alguns segundos atrás foi completamente esquecida. Naruto engoliu em seco, percebendo que aquelas ali não eram suas amigas e sim o lado sereias delas se manifestando, era melhor obedecer.

— Tudo bem, eu estou indo, me liguem se precisarem – ele mostrou o celular.

— DÁ O FORA! – As três gritaram de uma vez.

— Que barulho todo é esse? – uma das vizinhas questionou o garoto assim que ele saiu do trailer.

— TPM – Naruto respondeu sem graça. O que mais podia fazer?

. . .

Não muito mais tarde…

Naruto ficou andando pela praia, próximo dos trailers, esperando que as garotas estivessem bem, a lua já brilhava alta no céu e rezou para que a lua as deixassem em paz, pelo menos uma vez.

Mas aparentemente, não era o que a lua queria.

Não tinha contado para elas, mas naquela noite não era uma lua cheia comum que estava no céu, e sim uma Lua Azul, que, segundo suas pesquisas, era muito mais forte e que aparecia de tempos em tempos.

Não queria preocupar as amigas mais do que elas já estavam preocupadas.

Gaara apareceu não muito tempo depois e Naruto olhou para o relógio no pulso, já tinha passado do horário da lanchonete fechar e resolveu se esconder, ia parecer estranho se o ruivo o visse perambulando por ali aquela hora da noite.

Foi então que viu o ruivo paralisar olhando para o mar e então balançar a cabeça de um lado para o outro.

— Você só tá cansado Gaara, precisa dormir – Naruto o ouviu murmurar.

O loiro achou estranho, mas esperou ele continuar o caminho antes de sair de seu esconderijo e olhar para onde o ruivo estava olhando antes, não encontrando nada, mas ao longe viu algo que o arrepiou: uma cauda.

— Merda – soltou antes de correr em direção ao trailer de Sakura e ver a porta fechada, como havia deixado. Tinha sido sua imaginação, certo? – Oi? – bateu na porta, mas não houve resposta. – Meninas? – chamou aflito, mas nada.

Naruto lembrou que havia uma porta nos fundos que dava para o canal e rogou: 

— Por favor, que elas só tenham dormido.

Mas é claro que não, a porta dos fundos estava entreaberta e nenhum sinal das meninas. Correu de volta para a orla da praia, indo em direção ao cais onde estava seu barco, mas não tinha chances de sequer ir atrás delas, primeiro que uma tempestade ameaçava ao redor da Ilha Mako e, segundo, o motor de seu barco não queria funcionar, estava muito escuro para olhar, mas apostava que as meninas tinham um dedo naquilo.

Naruto suspirou e desistiu olhando em direção a Ilha Mako, torcendo para que elas ficassem bem.

. . . 

No dia seguinte…

— O que? … — Hinata murmurou balançando a cauda.

— Ai – Ino também murmurou, balançando a cauda dela também.

— Ah não – soltou Sakura reparando no redor, elas estavam na piscina da lua. – O que eu aprontei ontem? — perguntou temerosa.

— Como assim o que você aprontou? – Ino virou para a de cabelos rosa. – Eu não me lembro de nada.

Então as duas se viraram para Hinata, que murmurou:

— Eu também não lembro de nada.

— A gente foi pega pela lua ao mesmo tempo? — Sakura soltou abismada.

As três sentiram os corpos se arrepiarem. Tinham até medo de pensar no que podia ter acontecido.

— Será que é seguro sair? – perguntou Hinata.

Já estava claro, o que significava que já era dia e a lua devia estar fora de órbita então.

Ino tomou a frente indo em direção a saída da caverna, mas paralisou, Hinata e Sakura que vinham atrás dela olharam por sobre o ombro da loira e entenderam: o mar estava cheio de sombras de cascos barcos e mergulhadores nadavam não muito longe da ilha.

As três voltaram rapidamente para cima da piscina.

— Droga — Sakura soltou. – Por que será que o mar tá tão cheio?

— Eu espero que não estejam atrás da gente – Hinata choramingou.

— Não é hora pra isso – disse Ino, balançando a cauda nervosa. – Rápido, vamos ter que ir pelas cavernas, depois a gente vê o que faz.

As três subiram nas pedras e esperaram o corpo se transformar de volta na forma humana, nenhuma arriscou usar os poderes, elas sempre se sentiam instáveis depois de serem pegas pela lua.

Caminharam rapidamente pelos túneis, indo em direção a saída das pedras, sequer ousaram respirar alto com medo de que tivesse algum explorador desavisado. Assim que saíram correram mata abaixo até saírem perto da praia.

— Não dá pra gente sair assim, vamos chamar a atenção – Sakura percebeu.

— Tô preocupada com todos esses barcos – disse Ino observando que o número era maior do que o normal.

— Então a gente tá presa aqui? – Hinata perguntou preocupada.

O tempo começou a fechar em cima das três assim que Hinata falou.

— E agora parece que vai chover – disse Sakura começando a se sentir irritada.

Ao longe um raio caiu. O que assustou as meninas.

— Eu não diria isso – uma voz familiar disse.

— Naruto! – Hinata correu até o garoto e o abraçou, surpreendendo ele.

O que surpreendeu as outras duas garotas foi o fato de que assim que Hinata abraçou Naruto, qualquer possibilidade de chuva se dissipou, com o sol voltando a raiar.

De uma maneira não natural.

Sakura viu uma poça d’água e fechou os olhos, se concentrando no sentimento de antes, o que não era difícil, já que se sentia irritada e desnorteada, então abriu a mão e a fechou calmamente como fazia quando usava os poderes.

O resultado daquela vez foi surpreendente.

Ao invés da poça evaporar como de costume, um raio caiu no lugar fazendo os quatro gritarem assustados.

— Você acabou de soltar um raio com a sua mão? – Ino exclamou incrédula para Sakura.