Era uma quinta-feira a noite quando retornei daquele maldito retiro espiritual que a minha gentil agente havia me inscrito, e eu aceitei ir na esperança de que um pouco de paz e um período longe dos holofotes dos jornalista trariam a minha inspiração de volta. Meu nome é Simon tenho 35 anos e há cerca de 6 meses eu passei por algo que qualquer romântico a moda antiga jamais imaginaria. 

Eu cresci em uma família cheia de amor, com 6 irmãos e irmãs, fomos todos adotados pelos nosso pais no mesmo orfanato em que morávamos desde que eu me lembro. Meus pais eram o tipo de casal que você encontra em qualquer filme de romance, se conheceram no colégio e nunca mais se separaram. Quando eu tinha 13 anos de idade minha mãe foi diagnosticado com um câncer no pulmão, e foi ali naquele momento de desespero que eu vi o sentido do amor.

Meu pai passou os últimos dias de vida sentado a beira da cama do hospital em que minha mãe estava internada, ela sempre foi uma mulher bela e vaidosa, com longos cabelos pretos e os olhos azuis mais lindos que eu já havia visto no mundo, e mesmo após sua aparência definhar junto com o câncer que a consumia, meu pai ainda olhava para ela com o mesmo amor de quando eram adolescentes. Todos os dias pela manhã ele levava flores para ela, dizia que a amava e que ela era a mulher mais bonita desse mundo. Foi na manhã de natal do dia 25 de dezembro, após a noite mais difícil que já teve que ela nos deixou, em paz e dormindo, enquanto meu pai segurava a sua mão mais uma vez. 

No dia do seu enterro eu já havia me revoltado com Deus e toda e qualquer força superior que habitava aquele mundo, eu nunca poderia entender como alguém tão pura poderia ser tirada de nós em meio aquele sofrimento. Meu pai não derramou uma lágrima, pelo menos não na nossa frente, e enquanto eu o olhava alisar a cabeça de minha mãe já sem os cabelos, devido as várias sessões de quimioterapia que ela realizou, eu o vi sorrindo. Não pude evitar me aproximar já enfurecido e perguntar por que ele sorria enquanto todos ali choravam?

— Meu filho, talvez agora você não entenda por ser jovem e nunca ter amado alguém antes - Ele disse enquanto tocava o meu ombro, - Mas sua mãe foi o meu primeiro e único amor, nós dividimos a vida juntos, criamos nosso filhos, realizamos nossos sonhos e agora ela nos deixou, e nem em seus piores dias de vida ela deixou de amar a mim ou você e seus irmãos, o amor meu filho é a cura para toda e qualquer doença, física ou mental. Sua mãe pode ter partido por causa de uma doença, mas durante todo o seu caminho ela amou, ela curou pessoas e ela partiu sabendo que era amada. Isso meu filho não é motivo para chorar, mas para sorrir pois cada um que ela amou irá carregar um pouco dela consigo. 

Desde aquele dia a minha vida mudou, e eu soube que ela só faria sentido quando encontrasse um amor tão puro e verdadeiro com o de meus pais. Eu achei que havia encontrado quando conheci a Emanuele, nós nos apaixonamos ainda na faculdade, nos casamos em uma cerimônia linda em uma tarde de verão, e enquanto eu a olhava naquele vestido branco eu tinha a certeza de que minha vida iria mudar. E realmente mudou quando 1 ano depois eu descobri que ela vinha mantendo um caso com o porteiro do nosso prédio, dá para acreditar? Enquanto eu passava as horas do meu dia trancado no escritório escrevendo, ela fodia com o funcionário no armário da lavanderia. 

Passamos por um longo período de um divorcio conturbado, pois após nos separamos meu livro Cartas um Amor Distante explodiu em vendas na editora, em 6 meses eu me tornei um dos autores mas lidos do país, com uma história de amor a distância e superação, e a minha adorável ex esposa achou que devia levar algum crédito pelo meu sucesso e tentou abocanhar uma pequena fortuna dos meus ganhos. Quando tudo acabou e os papeis foram assinados, Elisa minha agente decidiu que eu deveria ir em um desses retiros para pessoas fracassadas, me afastar da vida agitada da cidade e tentar achar inspiração para o meu próximo sucesso. 

Bom aqui estou eu em plena quinta-feira sentado na minha cafeteria favorita, essa mesa tem uma vista linda do central park, eu sempre venho aqui quando quero buscar inspiração, sentado aqui com meu notebook em minha frente eu observo pela janela o mundo, as pessoas, vejo amores surgindo, pedidos de casamento, vejo amizades e as vezes desafeto e sempre tenho esperança de que, observar a vida das pessoas me traga a inspiração que eu procuro. E é quando meus olhos param em uma figura de cabelos tão vermelhos quanto o fogo, ela esta gesticulando no celular e chorando desesperadamente. 

Minha primeira reação é retirar os fones de ouvido para observar melhor. A garota não deve ter mais de 25 anos, está usando um jeans escuro rasgados, botas de cano curto e uma regata que deixa seus braços a mostra, e eu só consigo pensar quem em sã consciência está andando pelas ruas geladas de Nova York a essa hora sem agasalho? Ela então desliga o telefone e começa a caminhar pela calçada de um lado para o outro enquanto olha para a rua procurando algo, preocupado eu me levanto para ir até ela na esperança de oferecer ajuda, e só tenho poucos segundos até perceber o que ela estava prestes a fazer. 

Ela da o primeiro passo em direção a rua enquanto um caminhão de entrega vem descendo a avenida desgovernado, ela para e então virá a cabeça em minha direção, por um instante eu consigo enxergar em seus olhos um pedido de ajuda, ele se aproxima em uma velocidade que eu tenho certeza que se atingi-la terão que raspar seus miolos do chão, meu único instinto naquele momento foi correr e me jogar sobre ela na esperança de salva-la.