Os Segredos Do Nosso Amor escrita por Giovi Souza


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Crepúsculo não me pertence.

Olá! Essa fic faz parte do Projeto One-shot Oculta 4 em 1, onde autoras do fandom de Crepúsculo transformaram 4 imagens em uma One-shot. Confira aqui as imagens do desafio: http://bit.ly/2022poso4em1

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A feira livre em frente ao seu apartamento em New Hampshire era como uma deliciosa distração diária onde Alice conseguia escolher tecidos e rendas que dariam ideias concretas aos seus croquis.

 

Herdeira da marca de vestidos de noiva “B. Bride”, ela possuía poucas preocupações na vida, mas uma dessas tomava conta da sua vida há mais tempo do que gostaria.

 

Crescendo no mundo dos casamento, Alice viu diversas noivas passarem pela matriz da rede de lojas da sua família. Todas elas pareciam tão felizes e realizadas nos modelos que ela viu serem desenhados e a garotinha se viu idealizando a sua vez.

 

Quando completou vinte e um anos, foi até a igreja matriz marcar a data do seu casamento: nove de junho de dois mil e seis. Por ser uma igreja tão disputada, a jovem adulta não queria perder sua vaga - mesmo que ainda faltassem pouco mais de cinco anos para o grande dia.

 

Durante os anos que se seguiram, Alice recebeu diversas propostas altas em dinheiro de organizadoras de casamento enquanto seus clientes imploravam pela data que havia escolhido. No entanto, mesmo depois de diversas decepções amorosas e do medo de nunca conseguir realizar o seu sonho a tempo, a mulher nunca desistiu da sua preciosa data.

 

Faltavam pouco mais de três meses para o grande dia e ela não tinha o noivo. Àquela altura, Alice passou a considerar aquilo como um castigo por ter, de alguma forma, acabado com o dia perfeito de pessoas que tanto desejavam a sua data. Seria algum tipo de karma?

 

— Parece distraída hoje, Costureira. - Jasper, o dono dos melhores tecidos de toda aquela feira livre, chamou a sua atenção com o forte sotaque Alemão.

 

O homem loiro de olhos castanhos doces e expressivos arrancava sorrisos da mulher sem que esta se desse conta disso. Aquele havia sido um dos momentos.

 

Alice costumava passear pela feira e, quando encontrou a barraca de tecidos com rendas que a fizeram ter suas melhores ideias, nunca mais deixou de frequentá-la. Por isso, depois de quase três anos, eles já conheciam um ao outro superficialmente entre uma conversa e outra.

 

Jasper era um jovem vindo da Alemanha em busca do sonho americano. Mas não achou aqui algo além do desemprego e das dificuldades de se morar em um país estrangeiro ilegalmente.

 

Apesar dos anos de convivência e conversas breves, o homem nunca se sentiu seguro o bastante de revelar que estava ali ilegalmente para a bela jovem de olhos castanhos escuros que pareciam guardar tantos mistérios.

 

Por que estragar uma relação leve de amizade com algo tão desagradável?

 

— Você não parece muito contente também, Tecido. - Observou a mulher com os olhos sobre o tecido de chiffon que tinha em mãos. - Quer conversar sobre isso?

 

Não, ele definitivamente não queria falar sobre isso. Mas, antes que pudesse desagradar a sua cliente fiel, mostrou um tecido rendado que havia escolhido especialmente para ela. Quando viu os olhos de Alice brilharem ao tocar o tecido, sentiu o seu coração bater acelerado no peito.

 

— Se está tentando me distrair, - Alice começou, dobrando o tecido e colocando sobre o antebraço esquerdo. - saiba que está fazendo um excelente trabalho.

 

Jasper sorriu e tinha certeza de que suas bochechas estavam coradas, mas não se importava. Era um grande alívio poder contar com a descontração da sua cliente assídua.

 

Ao pagar por seus pertences, Alice tocou o pulso de Jasper antes de pegar o seu troco. Quando seus olhares se encontraram, a mulher perguntou:

 

— Nós somos tão bons amigos, você não acha?

 

— Claro. - Assentiu com um pequeno sorriso e com dificuldades de esconder o nervosismo ao ser tocado pelas mãos de fada da herdeira.

 

— Então você aceita ir a um bar comigo hoje? - Alice fez um pequeno bico antes de continuar. - Acho que nós dois estamos precisando de uma noite de porre e eu ficaria muito triste em beber sozinha.

 

Jasper apenas se perguntava o porquê daquela mulher linda, rica e inteligente estar convidando um homem como ele para beber. Mas também não queria se questionar demais e acabar perdendo a chance de sair com alguém como Alice.

 

— Tudo bem. - Concordou com um pequeno sorriso. - Onde encontro você?

 

Ela tinha tido o cuidado de escolher um bar que fosse confortável, mas não caro para que Jasper pudesse pagar caso não se sentisse à vontade em deixá-la pagar. Era justo que ela fosse responsável pela conta integral já que o convite havia partido de Alice, certo?

 

Enquanto a mulher travava mais um dilema, Jasper estava tendo o seu primeiro dia verdadeiramente leve e descontraído desde que havia pisado os pés nos Estados Unidos.

 

Por estarem sentados em uma mesa na calçada fora do bar, muitas pessoas se aproximavam para pedir que ajudassem com quantia em dinheiro ou vendendo coisas para arrecadar o suficiente para sobreviver.

 

— Isso é tão absurdo. - Alice falou depois de tirar sua carteira de dentro da bolsa e ajudar mais uma pessoa. - Um país com pessoas tão ricas e não consegue sequer dar oportunidade para quem precisa. Eu fico louca em pensar que existem pessoas que morrem tentando conseguir uma vida melhor neste país.

 

— Isso quando não são deportadas. - Comentou, bebendo um gole da sua cerveja.

 

— É um mundo de merda, Jasper. Só o dinheiro e poder importam. - Ela fez uma careta enquanto Jasper assentia. - Deus que os livre de dar o mínimo de condições à alguém que vive miseravelmente.

 

Ouvir cada palavra saída da boca de Alice fazia o homem sentir o coração golpear o seu peito como não acontecia há muito tempo. Jasper sabia que as condições dela eram muito melhores do que as dele e assisti-la comentar sobre aquele assunto sem sequer saber sobre seus próprios problemas fazia crescer uma confiança que ele não teria anteriormente.

 

— Se você soubesse a quantidade de celebridades que ligam desesperadas querendo pagar rios de dinheiro apenas para se casarem no dia em que eu fiz a minha reserva na igreja matriz. Às vezes, eu tenho vontade de pegar o dinheiro e fazer algo verdadeiramente significativo pelas pessoas que precisam.

 

— Espera: você tem uma data de casamento marcada? - Jasper perguntou com os olhos arregalados. Alice era comprometida?

 

Mesmo sob a luz fraca, Jasper a viu corar.

 

— Sim. Só não tenho o noivo. - Deu de ombros e mordeu o lábio inferior.

 

— E quando você se casa, Costureira? Não se esqueça de me convidar, há muito tempo que não vou à um casamento.

 

— Eu tenho até junho para conseguir um marido, então acho que o meu plano de vender a data e fazer bom uso do dinheiro com o que realmente importa para a Alice do presente está de pé.

 

Três meses. Ela tinha três meses para conseguir um marido. Alice não conseguiria e sabia disso, por isso resolveu mudar o assunto humilhante para algo mais descontraído.

 

Prometendo levar a mulher até o seu apartamento mesmo que o seu próprio ficasse do outro lado da cidade, eles caminharam comentando a respeito das bebidas e do ambiente local. Jasper não parava de agradecer a mulher um segundo sequer por ter pago a conta do bar integralmente depois de vê-lo contar os poucos dólares do bolso.

 

— Era justo que eu pagasse, Tecido. - Garantiu assim que pararam em frente a porta do seu prédio. - Posso te fazer uma pergunta?

 

Por algum motivo, Jasper sentiu um frio na barriga e desejou que aquilo passasse imediatamente.

 

— Claro.

 

— Você já teve vontade de se casar?

 

Jasper nunca havia pensado naquilo em toda a sua vida porque não amou alguém o suficiente para imaginar tal coisa. Mas agora, com Alice em sua frente e fazendo aquela pergunta, ele não pode evitar imaginá-la com um vestido branco e caminhando ao altar.

 

— Acho que sim. - Foi tudo o que conseguiu responder. - Boa noite, Costureira.

 

— Boa noite, Tecido. - Alice sussurrou de volta antes de entrar em seu próprio apartamento.

 

Depois daquela noite leve que passaram juntos, a mulher mal podia esperar para se divertir novamente com o vendedor de tecidos e ficou feliz ao saber que ele sentia o mesmo.

 

No entanto, quando chegou ao ponto de venda do amigo depois de alguns dias, o viu com a expressão triste e os tecidos tão desorganizados que teve certeza que algo estava errado.

 

— Jasper. - Chamou pelo seu nome, algo que quase nunca fazia e tocou sua mão do outro lado da bancada. - Quer conversar?

 

Mesmo depois de toda a conversa do outro dia, Jasper ainda não tinha certeza se podia confiar a informação de que estava triste por ter um amigo Chileno deportado pelas autoridades.

 

O homem olhou para os lábios da mulher e umedeceu os seus, incerto sobre dividir uma informação tão importante em um lugar tão público. Não era mais sobre a pessoa, agora era o que os rodeava que o preocupava. Alice jamais faria mal à ele, era aquilo o que Jasper preferia acreditar.

 

— Um jantar na minha casa? E aí conversamos sobre isso com mais privacidade? - Convidou com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso doce enquanto seus pequenos dedos apertavam sua mão levemente.

 

— Eu não sei, Costureira…

 

— Ei. - Alice chamou, acariciando os dedos do homem, que ergueu o olhar de imediato na sua direção, como um ímã. - Eu faço um risoto de brócolis dos Deuses!

 

Jasper pressionou os lábios para conter a risada e a piada. É claro que não era apropriado afirmar que suas habilidades manuais se estendiam a outras atividades além da costura porque claramente tinha cunho sexual.

 

Se sentindo culpado pelos pensamentos inapropriados, ele aceitou o convite do jantar, deixando sua amiga muito feliz com a decisão tomada.

 

Como morava longe dali, decidiu fechar o seu ponto de venda mais cedo para conseguir ir para a casa se arrumar e voltar a tempo do jantar. Jasper decidiu por vestir algo informal, como jeans e camiseta, já que estava indo a um pequeno evento entre amigos que revelariam algo muito importante sobre suas vidas.

 

Quer dizer, apenas um amigo faria uma revelação e aquele amigo era ele. Isso se tivesse coragem o suficiente para isso.

 

Alice havia passado o resto do seu dia se dedicando ao jantar e a uma boa vestimenta. Não queria passar uma impressão ruim, mas também não queria exagerar, por isso vestiu apenas um vestido que ia até os seus joelhos com detalhes florais. Nos olhos, colocou um rímel enquanto os lábios receberam um tom carmim nada discreto.

 

Antes que tivesse a chance de voltar atrás, o interfone tocou e a mulher autorizou a entrada do seu amigo. Mesmo que não quisesse admitir, seu coração acelerou quando o encontrou em sua porta.

 

— Você veio! - Foi o que disse assim que recebeu um abraço do amigo de apelido Tecido.

 

— Claro que vim, Costureira. - Piscou, entrando no imenso apartamento da mulher rica. Era difícil esconder o deslumbramento.

 

— Venha, vamos jantar.

 

Jasper a seguiu, ajudando a colocar a mesa e saboreando o delicioso jantar, seguido de taças de vinho. A volta pra casa seria um tanto complicada se ele não desembolsasse algum dinheiro para o táxi.

 

Quando foram para a sala de estar, Alice contou um pouco mais a respeito do seu sonho de casar, que havia deixado de fazer sentido há algum tempo atrás.

 

— Hoje parece tudo muito… Fútil. - Deu de ombros, enchendo mais as taças de vinho.

 

— Mas não teria problema. Seria o seu sonho. - Jasper deu de ombros, bebendo um gole do vinho. - Você não pode se culpar pelos problemas do mundo.

 

— Não, não posso. - Balançou a cabeça em negação e pressionou os lábios. - Mas posso ser um agente da mudança para aqueles que são esquecidos.

 

De quantas provas de que Alice não era uma pessoa comum e que não poderia gerar risco Jasper precisaria para confiar nela? Já bastava.

 

— Martin, meu amigo Chileno, foi pego pelas autoridades e deportado. - Contou, engolindo em seco e vendo a expressão de Alice mudar para séria de imediato.

 

— Era por isso que estava tão chateado?

 

— Também. - Assentiu, mas sem quebrar a ligação poderosa de seus olhares. - Mas estou com medo de ser deportado também.

 

Aí estava, um dos maiores medos de Alice se concretizando bem na sua frente. Jasper era ilegal nos Estados Unidos e aquele país de merda poderia levar o seu grande amigo de suas mãos a qualquer segundo.

 

— Costureira, não chore. - Pediu, limpando a lágrima da mulher que sequer havia percebido que as estava derramando. - Esqueça o que eu disse, nada vai acontecer.

 

— Tecido… - Ela choramingou, deixando suas taças de lado e abraçando o amigo com força.

 

Para o seu azar, uma música triste embalava a rádio que eles estavam escutando durante a conversa, o que a fez abraçá-lo com mais força e esconder seu rosto no pescoço do loiro.

 

Jasper e Alice tinham um vínculo de amizade um tanto distante, mas forte o bastante para não ter sido rompido durante anos. E agora, sabendo daquilo, a mulher desejou nunca precisar sair daquele abraço, nunca precisar ter que dizer adeus ao amigo.

 

Ela queria o Tecido ali, perto da sua querida Costureira.

 

— Não era para ser uma noite triste. - Ele falou, acariciando suas costas. - Eu não vou a lugar algum.

 

Foi então que Alice se desvencilhou dos braços de Jasper, deixando o homem confuso e curioso. O sorriso que a mulher estampava não combinava com o seu nariz vermelho e seu rosto molhado.

 

— É claro que não vai. - Falou, limpando as lágrimas e entregando a taça de vinho ao amigo mais uma vez, brindando em seguida. - Nós vamos nos casar em junho deste ano.

 

Completamente chocado, Jasper paralisou enquanto a mulher tomava goles do seu vinho e deixava a taça de lado. Ao ver a reação do amigo, Alice parou e perguntou com algum receio:

 

— O que foi?

 

— Alice, eu não vou destruir o sonho do seu casamento apenas para conseguir permanecer nos Estados Unidos em segurança. Isso não é justo. - Jasper falou com seriedade.

 

A mulher revirou os olhos e tocou a mão livre do amigo.

 

— Isso não é mais um sonho, eu não tenho mais tempo para casar por amor. Entende? - Começou a explicar como se fosse a coisa mais óbvia do mundo a se pensar em poucos minutos de melancolia. Jasper pensou como seria incrível viver dentro da cabeça maluca da amiga. - Além disso, é um jeito de eu ajudar você. Certo? Exatamente como eu queria fazer ao vender a minha data de casamento.

 

Será que a fala de Alice havia soado egoísta demais ou o gosto amargo na boca de Jasper tinha outro motivo? Talvez um pouco dos dois.

 

— E então: você aceita? - Ela perguntou com os olhos brilhando em alegria e expectativa.

 

Como ela tinha o poder de fazê-lo dizer “sim” até mesmo para um absurdo como aquele?

 

Era uma grande loucura. Uma da qual Alice nunca imaginou que se aprofundaria. De algum jeito, partilhar daquele segredo com Jasper faziam as coisas ficarem menos insanas.

 

Mas não era hora de pensar. Jasper e Alice tinham que se conhecer profundamente se quisessem ser convincentes o suficiente para a família e amigos da mulher.

 

Eles combinaram de se encontrar aos finais de semana e, já na segunda semana, sabiam tanto um sobre o outro que era como se estivessem juntos a vida toda.

 

Jasper gostava mais de assistir filmes independentes e Alice também. Alice não deixava de tomar uma boa cerveja e Jasper, como um bom Alemão, a acompanhava de perto. O gênero das músicas? Eles partilhavam de gostos bem parecidos.

 

Em uma madrugada de domingo e, depois de passar boas horas ao lado da Costureira, Jasper caminhou até ao seu local de moradia e o encontrou cercado por viaturas policiais.

 

Daquela vez havia sido sério, diversos dos seus amigos estavam sendo levados junto com seus filhos. O que ele faria? Como poderia ajudá-los? Ele não podia e isso era o que mais doía em seu peito.

 

Apenas com a carteira no bolso e deixando todo o seu material de trabalho para trás, ele correu de volta para aquela que sabia que poderia apoiá-lo naquele momento.

 

Há algumas semanas, Jasper jamais teria coragem de acordar Alice durante a madrugada para pedir ajuda como o maldito estrangeiro ilegal que era. Mas eles iriam se casar agora e isso não seria incômodo. Era parte do cuidado mútuo que tinham.

 

Alice não estava esperando por visitas tão tarde da noite. Por isso, quando permitiu a entrada de seu visitante frequente, sabia que algo não estava certo.

 

Jasper estava mais pálido que o normal e a pequena mulher o abraçou com força assim que a porta se fechou. O falso casal ficou assim por um momento, apenas envolvidos no abraço apertado cheio de coisas não ditas.

 

Contra a vontade, mas querendo que ele verbalizasse tudo o que havia acontecido neste curto espaço de tempo em que estiveram separados, Alice separou os seus corpos e olhou fundo nos olhos do seu futuro marido.

 

Ela sabia que era algo ruim e, enquanto Jasper entreabria os lábios sem emitir um só som, Alice reuniu toda a sua força para perguntar em um fio de voz:

 

— Eles estão atrás de você?

 

Tudo o que Alice conseguia pensar era no desejo que as suas palavras sumissem com o vento e que Jasper estivesse apenas sentindo falta dela. No entanto, quando o lábio inferior dele tremeu, ela sabia que era pior do que poderia imaginar.

 

— As autoridades invadiram o nosso edifício. Pegaram todos. Eles perderam tudo, Alice. Tudo.

 

Nunca imaginou que ver a vulnerabilidade de Jasper fosse doer tanto quanto doía naquele momento. Um homem que estava sempre tão alegre e a deixando tão feliz nos dias em que passavam juntos agora precisava de colo.

 

Aquela dor, Alice imaginava, não era apenas dele. A dor que Jasper sentia era também pelos amigos que teriam de passar por um doloroso processo de destruição dos seus sonhos.

 

— Olha para mim. - Pediu, tocando o rosto do homem fragilizado e recheado de lágrimas. - Eu queria fazer mais, juro que queria. Mas, neste momento, eu vou ajudá-lo. Você não está sozinho, tudo bem? - Alice perguntou enquanto secava as lágrimas de Jasper. - A partir de hoje, você se muda para cá. Nós nos casaremos em breve, ninguém vai questionar a decisão de um jovem casal apaixonado.

 

Aquilo arrancou um sorriso de Jasper e a mulher o abraçou novamente, beijando o seu pescoço e ignorando os pelos do corpo dele eriçados ao toque.

 

— Eu vou cuidar de você, Tecido.

 

Jasper já não faria mais parte da feira livre, tanto pelo seu material de trabalho ter sido apreendido quanto pelo medo de ser pego antes que tivesse a oportunidade de ter aquilo o que seus amigos não conseguiram.

 

Não tinha um dia sequer que os seus queridos companheiros não passassem por sua mente e a inércia passou a deixá-lo apático.

 

Mas Alice prometeu cuidar dele e a todo o momento fazia o homem se envolver nas suas próprias atividades de trabalho. Foi aí que ela percebeu que as habilidades de Jasper iam além da sua boa lábia com vendas.

 

— Você é talentoso. - Elogiou enquanto repassavam as ideias que haviam tido juntos.

 

— Nada como duas cabeças pensantes. - Comentou, chocando as suas cabeças levemente e fazendo a mulher rir.

 

Jasper sentia seu coração bater no ritmo daquele riso melodioso.

 

Por mais que não desejasse aquilo, ele sabia que estava se apaixonando por aquela mulher tão especial. Adorava acordar e vê-la fazendo o café da manhã em seus pijamas. Adorava passar horas vendo filmes e séries, e comentando a respeito de quão bons ou ruins eram. Adorava trabalhar ou simplesmente admirá-la trabalhar com toda a sua inteligência e talento. Adorava o seu riso, o seu sorriso, o seu cuidado, a cor dos seus olhos, os seus lábios… Ele não podia estar mais fodido e sabia disso.

 

Tentando bloquear aquele sentimento, Jasper se esforçava para manter a razão sempre em evidência, mesmo quando parecia impossível. Alice era apaixonante demais para a razão vencer o coração do Alemão.

 

Apesar de temer que os pais da mulher fossem ser algum tipo de obstáculo para a sua relação, os Brandon eram pessoas que recebiam bem o que parecia ser o grande amor da vida da sua única filha.

 

Foi impossível não se assustar com tamanho luxo que possuíam, mas aquilo logo foi ofuscado pelos toques frequentes que o futuro casal trocava. As mãos de Jasper suavam quando entrelaçadas às de Alice e passarem para a sua cintura fazia o seu corpo todo arrepiar. Seu coração parecia querer sair pela boca.

 

Alice não havia se abalado um milímetro sequer. Ou, pelo menos, era isso o que ele imaginava pelas reações leves à proximidade que não haviam tido antes.

 

Quando fizeram um jantar para os seus amigos no que mencionavam falsamente como “ninho de amor” para eles, as coisas pareceram se tornar particularmente difíceis já que todos eram casais ali e as demonstrações de carinho estavam por todos os lados.

 

Ao aproximar o rosto da orelha de Alice, fez a mulher arrepiar o corpo todo e morder o lábio inferior enquanto o ouvia sussurrar:

 

— Tudo bem se eu beijar o seu rosto?

 

Ela queria pedir para que beijasse a sua bochecha, a sua boca, o seu corpo todo… Ah, como era difícil resistir ao Alemão e seguir apenas o combinado. Não deveria ser desse jeito, não era para ser, então era melhor que se controlasse.

 

Em resposta, Alice beijou o rosto do garoto e o viu corar junto de um sorriso.

 

— Vocês são fofos. - Rose, a mais apaixonada do grupo, suspirou nos braços do amado.

 

— Parecem estar tão apaixonados. - Edward, o melhor amigo e considerado um irmão pela Costureira, comentou. - É bom vê-la feliz e com alguém que a mereça verdadeiramente.

 

— OK, vocês estão me deixando envergonhada. - Alice falou, escondendo o rosto no peito do falso amado e recebendo um beijo no alto da cabeça junto com um abraço. - Acho que está na hora da sobremesa antes que vocês consigam me constranger ainda mais na frente do meu noivo.

 

“Meu noivo”. Aquelas duas palavras rondavam a cabeça de Jasper enquanto ele lavava a louça junto de Bella, esposa de Edward, e Emmett, namorado de Rosalie. Eram duas palavras que juntas faziam com que o homem pudesse perder o sono tendo sonhos que nunca poderiam ser realizados.

 

— Jasper está tão apaixonado que até se perde em pensamentos. - Bella comentou, cutucando o novo amigo com o cotovelo na costela.

 

— Eu sou um homem de sorte. - Comentou, secando as mãos e ajudando Emmett a guardar a louça. Era claro que, se fosse realmente um homem de sorte, estaria se casando com Alice por amor.

 

— Ela parece estar feliz. - Emmett comentou, olhando na direção onde os outros três conversavam com taças de vinho em mãos, e fazendo com suas companhias olhassem para o mesmo. - É a primeira vez que a vejo com esse brilho no rosto, Jasper.

 

E, por mais que não quisesse, aquilo só o deixou com mais esperanças de que pudessem conhecer o amor depois de casados.

 

Cada segundo que passava mais perto do seu amigo Tecido, Alice tinha certeza de que estava apaixonada. Ela não conseguia pensar em uma vida em que não o encontraria pelas manhãs com os cabelos desgrenhados e o forte sotaque pelo sono ou que não o encontraria adormecido no sofá em uma tarde de domingo preguiçosa ou até mesmo em não ter o seu companheiro de planejamento da próxima linha de vestidos da sua companhia.

 

Ela amava os seus cabelos loiros desarrumados, os seus olhos expressivos, o seu sorriso fácil, o seu toque áspero e, ao mesmo tempo, doce, o seu cuidado e carinho. Era impossível não se apaixonar por Jasper.

 

Faltando pouco menos de um mês para o seu casamento, Alice estava terminando o seu vestido no manequim que estava em seu quarto. Era simples, de cetim, sem marcar suas curvas e que combinaria perfeitamente bem com os seus cabelos escuros e curtos.

 

Enquanto fechava o último botão do seu vestido, Jasper bateu na sua porta e ela permitiu a sua entrada.

 

— Não é proibido que o marido veja o vestido da esposa antes do casamento? - Perguntou, entrando no quarto e sentando na cadeira da penteadeira.

 

— Como se nós fôssemos convencionais. - Brincou e fez o homem rir. - Precisa de algo?

 

Jasper balançou a cabeça em negação e tirou uma embalagem vermelha e pequena do bolso, esticando na direção de Alice.

 

— Na verdade, queria te entregar um presente. Estou segurando isso desde que… Bem, desde que ainda existia uma feira livre. - Ele parou por um momento, umedecendo os lábios e se levantando. Ainda era difícil pensar nos seus amigos e em tudo o que não pudera fazer por eles. - Não é nada demais, mas eu queria te dar algo para se lembrar desse casamento no futuro.

 

Como se Alice pudesse ou quisesse esquecê-lo! Jasper era inacreditável e não conseguia enxergar o quão especial era para a mulher.

 

Ao pegar o pacote em mãos e abrir, encontrou um pequeno cadeado ali dentro, o que fez a mulher o olhar em confusão antes que ele começasse a explicar:

 

— O cadeado é para representar o segredo que nunca poderemos revelar à ninguém. - Começou, tocando o cadeado junto com Alice e passando a fazer a combinação: 6-9-0-6*. - Nove de junho de dois mil e seis. O dia em que o nosso maior segredo irá se concretizar.

 

Sem conseguir dizer uma palavra sequer e querendo conter as lágrimas, Alice apenas abraçou o amado pelo pescoço, afundando o rosto em seu pescoço e recebendo o abraço com a mesma intensidade.

 

— Você gostou? - Ele perguntou em tom baixo, temendo que aquilo fosse uma bobagem e o abraço apenas escondesse a vontade da Costureira rir.

 

Quando se afastou, viu o sorriso carinhoso e os olhos marejados da futura esposa de mentirinha.

 

— É o presente mais lindo e especial que eu já recebi na vida. Obrigada, Tecido. - Soprou com a voz trêmula.

 

Jasper, em um ato de carinho e coragem, beijou os nós dos dedos da sua mão com os olhos presos nos seus e se foi. Era melhor que a deixasse sozinha antes que fizesse a besteira de mostrar que tinha intenções de beijar seus lábios.

 

E Alice, que nunca havia visto aquilo nos olhos de homem nenhum por quem se apaixonou, que nunca havia recebido um gesto tão significativo, tomou a decisão mais sensata que tinha a ser tomada naquele momento.

 

Com uma das mãos tocando o cadeado o tempo todo e a outra no celular, a Costureira discou o número de cada uma das pessoas que a ajudariam naquele momento sem fazer muitas perguntas.

 

Em um fim de semana tranquilo, Jasper estava deitado em sua cama enquanto observava o terno que havia sido feito para o dia tão esperado. Ainda faltavam duas semanas, mas ver tudo se concretizando pouco a pouco trazia um frio na barriga ao homem.

 

Ele tentava manter certa distância da futura esposa para que sentimentos que deveriam ser muito bem guardados dentro do seu peito não aflorassem, mas parecia tão difícil.

 

As suas manhãs na cozinha, as suas tardes relaxando ou trabalhando em conjunto, e as noites tranquilas e, muitas vezes, de risadas caso escolhessem trazer os amigos para perto, haviam se tornado uma deliciosa rotina que ele não queria deixar de viver.

 

Por diversos momentos, Jasper se pegava pedindo aos céus para um sentimento recíproco vindo de sua Costureira favorita.

 

Algumas batidas na porta o fizeram desviar o olhar, mas ele teve certeza de que havia caído no sono quando encontrou Alice em seu vestido de noiva parada com um pequeno sorriso nos lábios.

 

— Oi. Será que eu posso entrar?

 

— Claro! - Disse de imediato, se levantando e caminhando na sua direção. - Você está… Inacreditavelmente deslumbrante. - Suspirou, tocando suas mãos e encontrando o presente que havia dado à ela há alguns dias.

 

Alice acreditava que ele estava exagerando. Quer dizer, ela sequer havia passado muita maquiagem ou prendera os cabelos em um coque baixo tão corretamente já que alguns fios lhe caíam sobre o rosto.

 

— Jasper, eu preciso te dizer algo. - Começou, respirando fundo para reunir toda a coragem de que precisava para contar toda a loucura que havia cometido em segredo. - Eu vendi o dia do meu casamento na igreja matriz. Vendi o meu dia no salão de festas requintado. Eu aceitei a maior proposta e vendi…

 

— O quê? Alice, era o seu sonho…

 

— Não. - Ela o cortou exatamente como Jasper havia feito. - Era o sonho da antiga e ingênua Alice. A atual Alice está disposta a ganhar uma grande quantia em dinheiro em troca de abrir uma instituição que ajuda refugiados. Começar pelos que chegam aos Estados Unidos e então daremos passos importantes pelo mundo.

 

Quando os olhos de Jasper ficaram marejados e um sorriso doce surgiu em seus lábios, a mulher soube que estava no caminho certo e continuou:

 

— Mas não pensei que te deixarei na mão. - Alice tocou as mãos grandes do homem e depositou o cadeado nas palmas. - Nós vamos nos casar hoje mesmo. Um casamento oficial e significativo: no local onde acontecia a feira livre e com os poucos amigos e familiares que estão por perto neste momento. - A Costureira olhou fundo nos olhos brilhantes de Jasper e apertou suas mãos na dele. - E eu quero que saiba que eu te amo. Eu gostava muito de você e esse sentimento aflorou depois que realmente nos conhecemos. Não achei que gostar de você poderia passar daquilo, mas se tornou amor.

 

— Eu também te amo. - Ele confessou com a voz embargada.

 

— Não. Não é um pedido para que retribua em vão…

 

— Eu te amo há mais tempo do que sequer tenho ciência. - Continuou, ignorando a Costureira. - Te amo de verdade e não apenas em retribuição. Eu amo amar você e será um prazer dividir o resto dos meus dias ao lado de uma mulher tão especial quanto você. Eu te amo muito, Costureira.

 

— Ah, Tecido! Eu te amo!

 

Sem deixar passar um segundo a mais, Alice abraçou o futuro marido pelo pescoço e o envolveu em um primeiro beijo apaixonado. Jasper a envolveu pela cintura e sentiu o alívio de ter a futura mulher finalmente em seus braços depois de tanto desejar aquilo.

 

— Vista-se. - Foi o que ela mandou assim que se desgrudaram. - Nós temos que dizer “sim” oficialmente.

 

O alívio de dizer “sim” ao amor caiu sobre ambos naquela tarde de maio. Eles não precisavam mais guardar segredo, porque o amor havia triunfado sobre Tecido e Costureira. 


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Notas finais do capítulo

*Para quem não sabe, as datas nos Estados Unidos são MÊS/DIA/ANO, desse modo: 06/09/2006.



Olá, pessoal!
É a primeira vez em muito tempo que escrevo algo sem conteúdo explícito e que com um tema tão importante. Espero que tenham gostado deste projeto tanto quanto eu gostei de produzir.

Agradeço pelo carinho.

Até a próxima! ;)



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