Essa não é uma história de amor - Fremione escrita por Anna Carolina00


Capítulo 1
Capítulo único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806129/chapter/1

Quando Fred recobrou a consciência, logo reconheceu onde estava: Weasleys reunidos ao redor de corpos, lágrimas como se uma parte de seus corpos fosse arrancada… Sim, era quase o fim da Batalha de Hogwarts.

     Rony e Jorge… Estavam mortos, velados pelas lágrimas de todos da família, exceto por alguém. O ruivo a viu na direção oposta em um canto escuro, uma bruxa encolhida de cabeça baixa enquanto as lágrimas escorriam livremente.

    -Hermione?

    Seu rosto não transmitia o semblante em luto da recém descoberta da morte de dois Weasley, parecia mais traumatizado, como se houvesse se deparado com uma catástrofe inevitável. Não parecia com nenhum outro choro da morena e Fred já a tinha visto chorar muitas, muitas vezes nestes anos; boa parte deles, não podia negar, eram causadas por seu caçula:Ronald Weasley.

    -Hermione… Respira… - Fred a chamou novamente, até que a bruxa saiu do transe em que abraçava as próprias pernas e sussurrava palavras inaudíveis. Ver o rosto do ruivo a levou ao que parecia ser mais uma avalanche de lágrimas.

    -Eu tentei… Juro que tentei… Mas ele sempre morria… Cada vez pior…E eu sei que…Se eu voltar de novo… Vai ser a última vez…Vou estragar o tempo… Vou estragar tudo!

    Seu corpo foi envolvido por um abraço reconfortante. A bruxa pensara que nada poderia lhe fazer se recuperar, mas aquela sensação calorosa aos poucos lhe fez recobrar a consciência. Não estava bem, mas estava melhor.

    -Onde está?

    -O que?

    - O Vira-Tempo. Eu o estudei o suficiente para reconhecer um colapso, Hermione. Agora, por favor, me entregue ele. Eu sei o que quer fazer, eu quero tanto quanto você.

A bruxa hesitou por um instante e lhe entregou a pequena ampulheta dourada. Em nada se parecia com o objeto estonteante com o qual teve contato anos atrás. Estava arranhado, escurecido, quase enferrujado… Era doloroso imaginar o que Hermione havia passado com ele até o momento, quantas vezes havia voltado no tempo.

Com todo o cuidado do mundo, o bruxo colocou a corrente entre ele e a bruxa em pânico, garantindo que a mesma se apoiaria nele enquanto o tempo retrocedesse. Fred lhe olhou nos olhos uma última vez desejando guardar aquele momento na memória.

Enquanto o tempo voltava, Hermione sentia as ondulações temporais com muito mais intensidade, como se sua própria energia fosse drenada pelo objeto mágico. Quando estava prestes a desacordar novamente, ouviu uma última frase:

— Eu te amo, Hermione. Me perdoe… Legilimens!

* * *

Mais um pesadelo.

Hermione acorda afobada em busca de ar.

A 2º Guerra Bruxa havia acabado há meses, mas ainda lhe atormentava com pesadelos, nem mesmo a volta às aulas em Hogwarts lhe fizeram parar de delirar com aqueles momentos de profunda tristeza. Era um absurdo, certo? Imaginar que Rony e Jorge tenham morrido na Batalha. Foi Fred quem morreu… Fred quem estava na hora errada, no lugar errado quando ocorreu aquela explosão. Fred se foi… Para sempre. E isso doía muito para todos os Weasley, mas a bruxa sentia algo diferente sempre que se recordava daquele momento, como se seu sofrimento não fosse pelos motivos que imaginava.

 Fred era um bom amigo, parte da família que a acolheu. Isso era suficiente para sentir tanto a sua morte, certo?

Com esse pensamento em mente, a bruxa decidiu sair da cama e encarar o Grande Salão em momento de comemoração. Essa comemoração deveria ser o motivo de seus pesadelos se intensificarem tanto: 2 de Maio de 1999, hoje se completa um ano da Batalha de Hogwarts.

Enquanto andava pelos corredores do Castelo, algumas imagens se projetavam em sua memória. Seu primeiro ano correndo pelo corredores até que se deparou com um trasgo. Quando encontrou seus melhores amigos sãos e salvos depois de entrarem na Câmara Secreta, quando mais de uma vez se viram correndo para se esconder de Filch, lembrou-se da Armada de Dumbledore e do fatídico baile de inverno… Como sentia falta de Harry e Rony! Era estranho frequentar Hogwarts sem a companhia dos dois.

Deixava se devanar com as boas memórias de seus amigos, quando algo curioso surgiu em sua mente. Ali, em um canto entre duas colunas no corredor próximo ao Salão Principal, sentia-se…Acolhida por aquele lugar, como se lembrasse de já ter estado lá. Sua mente parecia estar lhe pregando peças, de novo.

A bruxa hesitou em dar mais uma passo em direção ao local que lhe despertava tantas sensações conflitantes de felicidade e tristeza e, sem motivo aparente, decidiu se apossar do local que invadiu sua memória, apenas por curiosidade. Era um espaço curto, suficiente para apenas duas pessoas se manterem muito próximas lá, mas também escondido o suficiente para não ser notado por quem se movesse pelos corredores normalmente.

Um arrepio.

Hermione olhou para o canto da parede e lembrou da sensação de ser pressionada contra ela… De ser beijada, exatamente naquele mesmo lugar. Por algum motivo, em sua memória, aquele beijo que recebia vinha de Fred Weasley.

—Respira, Hermione.

Respira, Hermione? Por que essa frase parece tão familiar…?

Por um segundo, a bruxa fechou os olhos e se concentrou nas imagens que apareciam em sua memória…

—Respira, Hermione.

A bruxa repetia para si mesma quando encontrou o vira-tempo transmutado em uma das páginas dos Contos de Beedle, o Bardo. Harry e Rony estavam de vigia de fora da barraca enquanto a bruxa estava responsável por cuidar do amuleto e procurar informações no livro. Junto ao vira-tempo havia um pequeno bilhete escrito com runas antigas que provavelmente apenas ela do trio seria capaz de entender :

“Para quando o inevitável acontecer antes da hora certa.”

Há dias já sabia que Harry provavelmente era uma Horcrux e deveria morrer para matar Voldemort. Aquele bilhete sanou todas suas dúvidas e deixava claro que precisava guardar essa informação, mais um pedido subentendido de Dumbledore. Era sua responsabilidade garantir que Harry continuasse vivo até que enfrentasse o bruxo das trevas de uma vez por todas.

Não fazia sentido se esquecer disso… Até porque, Harry conseguiu realizar sua tarefa sem precisar de sua ajuda com uma volta ao tempo. Se não foi usado, onde estaria tal artefato?

Ainda que tentasse manter sua atenção nessa estranha memória sobre o vira-tempo, não podia esconder como a lembrança do beijo de Fred havia mexido contigo. Era… Impossível, certo?

Hermione precisava de respostas e sabia muito bem onde todas as respostas se escondiam. A bruxa deu uma última olhada em direção ao Salão Principal e seguiu em direção ao 7º andar. A última vez que esteve nessa sala, a mesma estava em chamas, mas sua intuição lhe dizia que devia estar tudo bem, afinal de contas, tudo que precisasse seria possível encontrar ali. Mesmo aquilo que nem soubesse que precisava naquele momento.

* * *

O fogo maldito deveria consumir tudo aquilo que estivesse ao seu redor, mas a magia dos fundadores de Hogwarts não deveria ser subestimada. Assim, bastou caminhar pelo corredor do 7º andar e o grande portão surgiu como mágica.

—Alorromora.

Apenas por segurança, a bruxa conjurou o feitiço em direção à porta que se abriu sozinha, revelando um grande salão cheio de estantes, mas muito menos preenchido de objetos quanto o que havia sido incendiado ano passado. 

—Accio!

O feitiço foi conjurado enquanto pensava no vira-tempo e nada apareceu.

Tolice, é claro. Bobagens de um pesadelo.

Hermione chegou a se virar para sair da sala, quando se dirigiu a sala uma última vez e conjurou:

—Accio!

Desta vez, pensava na memória de Fred lhe beijando, como se desejasse encontrar respostas sobre aquilo. Então, subitamente, um frasco voou de uma prateleira em sua direção. A bruxa estendeu o braço e o pegou no momento certo. Era óbvio o que se encontrava dentro daquela ampola de vidro: memórias.

A Sala Precisa, sempre respondendo aos desejos, providenciou uma penseira para que  Hermione visse a memória em suas mãos. Enfim chegara a hora de obter respostas.


 

    No estado translúcido, Hermione se viu num dormitório masculino da Grifinória, semelhante ao que Harry e Rony dormiam. A porta se abriu revelando uma Hermione com uma aparência muito semelhante a sua, como se a memória tivesse ocorrido há poucos meses atrás.

    -Fred…

    Só agora notou na cama um ruivo escondido em meio aos travesseiros. As cobertas jogadas no chão com desleixo, assim como roupas. O bruxo parecia mais magro e seu rosto pálido.

—...Você sabe que precisa descer, certo? Eu não consigo fazer isso sozinha… Você prometeu ficar comigo, eu… Eu também sinto a falta deles. Vejo o Rony por todo lugar…

—Não vê, Hermione. - foi a primeira vez que o ruivo falou e sua voz parecia carregada de amargura - Eu o vejo. Em cada espelho, cada reflexo, em nossas roupas, no quadribol… Eu vejo. Achei que ficar aqui seria menos terrível do que na Toca ou na loja, mas eu estava errado. Tudo aqui me lembra ele.

O bruxo virou as costas mais uma vez e Hermione, na memória, agitou a varinha para que uma coberta tapasse o espelho. Em seguida, deu passos lentos até se sentar na cama e tocar os cabelos de Fred com delicadeza. 

—Me deixe ajudar… Podemos mudar o quarto, trocar suas roupas… Posso te preparar poção polissuco se quiser - uma piada amarga, mas somente uma piada assim poderia arrancar um leve sorriso de Fred - só me diz o que posso fazer para te ajudar…

O bruxo se aconchegou no canto da parede abrindo espaço na cama e murmurou algo inaudível. 

—O que disse?

Hermione sussurrou aproximando o rosto.

—Dorme…Comigo…

A morena, ao ouvir o pedido, deitou-se com Fred, abraçando-o pelas costas. Os dois não dormiram de imediato, mas o som baixinhos das lágrimas duraram por alguns minutos até que caíram no sono.

A cena muda, apesar de estar no mesmo cenário do quarto de Fred.

    Camas em lugares diferentes, sem quadros de quadribol ou roupas jogadas, Fred e Hermione chegam com vários pacotes de doces da Dedos de mel. Os dois parecem sorrir, apesar das olheiras. 

Quando o último alcaçuz do pacote é  pego por Hermione, Fred morde um pedaço antes que acabe, roçando os lábios adocicados.

Mais uma mudança. A janela e o clima frio indicavam já estarem próximos ao natal.

—Devíamos ir. - Hermione respondia com convicção - Sei que concorda comigo.

Os bruxos estavam deitados na cama, Hermione com livro em mãos encostada em Fred que brincava com seus cabelos.

—Estamos bem assim… Não? Depois de tanto tempo, eu realmente acredito que estamos bem… E se voltarmos…

—Não vamos, eu prometo. Seus pais sentem sua falta, eu também sinto deles. Não podemos fugir para sempre.

O ruivo abraçou a morena e sussurrou:

—Harry me deu sua moto. Podemos fugir… Enquanto exigir estrada e céu, estaremos bem.

—Fred…

—Hermione…

— Você sabe o que acontece quando discutimos…

—Você fica insistindo e depois eu concordo só para você parar de falar? - um tapa - Ai!

—Não… Você percebe que o que estou falando faz sentido. Certo?

—Certo… Mas só concordo se ganhar um beijo…

A bruxa sorri e puxa o ruivo pelo colarinho para acabar com a distância entre seus rostos até que se beijam.

—Mais um? Para ter certeza se concordo mesmo…

E se beijam de novo, e de novo.

A memória muda de cenário para um lugar que parecia a Gemialidades. Sem falas, Hermione apenas acompanha Fred e Hermione chegando ao local e reorganizando-o como se estivesse meses sem receber ninguém. Uma Hermione ligeiramente mais velha. 

Mais cenas, mais velhos, os dois continuaram aparecendo juntos. As memórias pareciam apenas borrões rápidos do que se seguia, com os dois estudando logros juntos, lendo livros, Hermione grávida, depois duas cabeleiras ruivas em seu colo ao lado de Fred. Então duas crianças, dois jovens. Os cabelos de Fred começam a ficar grisalhos, assim como os de Hermione. Ambos idosos, estavam deitados juntos em uma cama quando de repente  a memória muda rapidamente para a Batalha de Hogwarts.

Fred estava novo outra vez. Olhando para uma Hermione encolhida, tal que seu sonho.

Hermione retira o rosto da penseira em busca de ar.

—Só… Respire.

Fechando os olhos, a bruxa conseguiu se acalmar, mas tais palavras  serviram como gatilho para lhe lembrar o que acontecera naquela naquela madrugada após o fim da guerra. A memória do que Fred viu ao ler sua mente.

Ela voltou no tempo. Impediu que Rony fosse com Jorge e Percy para a Torre de Astronomia, então apenas Jorge morreu com a parede desmoronando. Entretanto, Rony seguiu o comensal em fúria e acabou morto segundos depois. Então voltou de novo. Tentou demorar mais tempo com Rony na câmara secreta, mas Jorge ainda morreu e Rony ainda morria segundos depois. Tentou ir com Jorge, mas ele ainda morreu, tentou impedir que Percy viesse para Hogwarts, que Jorge fosse convocado… Nada, nada parecia funcionar. Rony sempre morria. Jorge sempre morria. 

Isso começou a enlouquecê-la aos poucos…

—Até que em uma volta ao tempo você conseguiu, Hermione. E você conseguiu apenas comigo morrendo no lugar de Jorge.  Com isso, eu não existia naquele momento. Nós nunca existimos juntos… Mas de alguma forma, consegui chegar até você através de nossas memórias. No momento em que eu a vi, daquele jeito… Eu sabia que seria eu quem deveria mudar o passado, você já estava no futuro em que eu morria, então só restava ser eu a voltar e garantir que tudo acontecesse como previsto.

A voz em sua mente era a de Fred, é claro. Suas últimas lembranças deixadas para ela antes que deixasse de existir naquela linha do tempo. Então continuou:

—...Mas eu não conseguiria ir sem que você soubesse que podíamos existir juntos. Que fomos felizes. Que eu fiquei contigo até o final. Seja feliz por nós dois, Hermione.

A lembrança se encerrou restando apenas uma bruxa segurando as lágrimas.

—Eu irei, Fred.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu imaginei a história apenas como uma oneshot meio triste... Mas é sempre possível continuar e dar a ela um final feliz (se é que deu para entender o final rsrs)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Essa não é uma história de amor - Fremione" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.