Brigas de um Casamento escrita por Capuccino


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Será que as visualizações que o Nyah indica são verdadeiras? estou começando a duvidar disso. Não há nenhum sinal de que alguém esteja realmente lendo, mas ainda assim não consigo deixar de escrever.
Comentários motivam muito e sempre são bem-vindos.



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Hermione continuava a repetir compulsivamente pra si mesma que aquilo não passava de um terrível engano e que logo ela acordaria daquele pesadelo a qualquer momento.

Ela passou as semanas seguintes em completa negação, esperando um milagre que a salvaria dessa fria ou um jeito de rasgar o contrato que venderia sua liberdade. A ideia de fugir e adotar uma identidade falsa era encantadora, mas impossível. Hermione passou dia pós dia pensando em ideias mirabolantes de como ela poderia fugir disso.

O fato é que ela jamais imaginaria que a obsessão que seus pais nutriam por casamentos fosse chegar no nível de prometê-la em um casamento no qual ela mal conhecia o noivo – o que, provavelmente era proposital, visto que seus pais temiam que os Weasley rasgassem o contrato ao conhecê-la de verdade, independente do dote que eles precisavam para conseguir salvar a família da crise que enfrentavam. Além isso, pra piorar, a cerimônia aconteceria dentro de poucas semanas – o que Hermione conspirava ser um ato e desespero e seus pais para evitar qualquer contratempo que arruinasse seu plano.

A única vez que cruzou com o noivo foi alguns dias antes do casamento, em um jantar formal que ocorreria na casa mais requintada da família Weasley. Era um terreno imenso, repletos de parreiras de uva nascendo pelos jardins, uma casa espaçosa feita de tijolos que, apesar de não ser luxuosa ou ostentasse riqueza como a dos Granger, parecia aconchegante e acolhedora.

Apesar de evidentemente estarem em uma posição social inferior que a dos Granger, naquele momento isso parecia o de menos importante para eles. A única coisa que importava era finalmente livrar sua filha do destino de solteira que as pessoas tanto comentavam pelas ruas.

Hermione foi forçada a usar seu melhor vestido e se arrumar de forma apropriada para aquele jantar. Estava fora de cogitação ela usar suas amadas calças ou seu cabelo selvagem solto. Ela teve que se arrumar como se fosse uma mulher rasa e sofisticada da época – Hermione detestou sua imagem no espelho com todas as suas forças.

Ao chegarem pontualmente no local, a morena não pode deixar de reparar que a família dos Weasley era muito extensa e que todos eles eram ruivos e cheios de sardinhas – como ela tinha percebido antes no casamento de Fleur, mas havia se esquecido. Fora recebida, para a sua surpresa, com muitos sorrisos simpáticos e até alguns abraços que ela demorou para retribuir – definitivamente uma família sem os modos restritos que seus pais tanto a cobravam.

O que chamou-a atenção foi que apenas um integrante não a cumprimentou direito, e mal fez contato visual com ela, se limitando apenas com um leve acenar com a cabeça.

"Ronald Weasley, trate de cumprimentar sua noiva direito!" Sua mãe trovejou, fazendo-o corar igual um pimentão e arrancando a risada de alguns irmãos.

Então esse é o noivo.

Ele se levantou sem jeito da mesa, evidentemente constrangido assim como ela mesma. Ron beijou sua mão de maneira rápida, tentando ao máximo dissipar aquele momento estranho e envergonhoso.

Após isso, todos se sentaram na mesa e ela ficou em frente daquele que apresentaram-na como seu noivo.

O primeiro pensamento que traçou a mente de Hermione foi que os traços físicos do rapaz eram ligeiramente atraentes. Ela jamais admitiria isso em voz alta, mas aqueles cabelos vermelhos bagunçados como o fogo faziam seu estômago borbulhar de maneira estranha.

Ela também percebera que os olhos azuis dele – por mais que ela não tivesse trocado olhares com ele, ele estava concentrado demais em cutucar a sua comida com o garfo – eram tão azuis quanto um dia ensolarado sem nuvens.

Ela também reparara que o rapaz mantinha um mau humor a cerca do casamento assim como ela, e que a maneira que ele comia com certeza não se encaixava nos bons modos que eram exigidos, assim como seu linguajar – que não passou despercebido por Hermione, que se beliscava cada vez que seu vocabulário a incomodou.

Seu braço estava roxo no final da noite.

Hermione não conseguia acreditar que teria que casar com alguém como ele. Totalmente sem educação na mesa, e extremamente rude ao ponto que mal a olhara – ela havia se arrumado por horas para aquele jantar, ela esperava ao menos atrair um pouco de sua atenção!

Não que ela se importasse com o que ele – um homem – pensava, afinal, prometera que jamais amaria um homem e que sua liberdade valia muito mais – e isso ainda estava fresco em sua mente.

Porém, o casamento ocorreria em breve, e o desespero da morena crescia conforme o tempo se esgotava diante de seus olhos. Já estava planejado até onde eles morariam após o casamento! Em uma casa, em uma cidadezinha litorânea, não muito longe dali, onde eles deveriam dar início à uma nova produção de videiras. Sua vida inteira, agora, havia sido arquitetada e planejada por terceiros. Hermione Granger se sentia imponente e fraca, quase como uma personagem secundária em sua própria história, incapaz de mudar os rumos do enredo.

Claro que Fleur tentou consolá-la com palavras doces, dizendo que com o tempo melhoraria e que, afinal, ao menos elas fariam parte da mesma família após toda essa turbulência – algo que até confortou-a, de alguma forma.

Mas nada podia realmente confortar Hermione. Ela estava prestes a se casar.

Ela sentia-se vazia, um mero produto do patriarcado. Ela deixaria de ser Granger, algo que ela fora a vida inteira, para tornar-se uma Weasley – uma propriedade.

Sua vida estava arruinada, e não havia nada que ela pudesse fazer.

Arrumaram-na, vestiram-na, embelezaram-na... E ela nem sabia mais quem ela era por trás de todos aqueles enfeites. Via-se no espelho vestindo aquele vestido extravagante, seu cabelo domado em um coque... De imediato, não se reconhecia e, de fato, não era quem via.

Mas ao se olhar no espelho, com um pouco mais de persistência, encontrou, mesmo que pequeno, um lampejo e esperança; encontrou em seu próprio olhar a força que precisava, talvez até a solução. Aquele não poderia ser o fim de sua história, ela não permitiria que sua vida tomasse o rumo que escolheram pra ela, ela não iria simplesmente baixar a cabeça e deixar as pessoas decidirem o que era melhor para ela.

Hermione era a própria escritora de sua vida, a protagonista, e agora ela estava retomando a caneta novamente. Se ela iria se casar – tendo em vista que fugir estava fora de cogitação – arrastaria todos os seus ideais junto. Suas calças, leitura e ideias; prometeu, diante de seu próprio reflexo, que jamais se submeteria ao marido que teria, fosse ele bom ou ruim.

***

Assim, ao contrário do que pretendia inicialmente, Hermione atravessou o altar com um olhar determinado em seus olhos. Ela estava assumindo as rédeas de sua vida, sem que percebessem; seus olhos castanhos pareciam labaretas de fogo, e o leve sorriso e lado que sua boca formou continha certo cinismo.

Muitos murmúrios indiscretos ocorriam pelo casamento inteiro, que não acreditava que a desleixada Hermione Granger, estava casando e enfim tomando jeito – só não sabiam que era do seu jeito.

Ela culpabilizou o embrulhar no estômago por estar prestes a abrir mão de seus princípios contra sua própria vontade, porque, com certeza, não havia qualquer possibilidade dela se apaixonar por Ronald Weasley – ou por qualquer homem na terra. 

O rapaz vestia um belo terno azul-marinho e não parecia muito satisfeito também, mantendo seu olhar fixo no chão.  Hermione sentiu que ele queria manter um ar de indiferença sobre ela, não dando a mínima de transparecer isso. Seu semblante entediado até que servia de consolo, pois quase que anulava a sua tristeza interior e culpa - ainda que pequena - de estar e casando com alguém que ela não se importava ou sequer gostava; ele estar infeliz tornava as coisas muito mais simples, afinal, ela não era a única.

Após a troca genérica e curta de votos – que não continham sentimento algum e foram escritos de forma robotizada. – e um houve a troca de um beijo casto e sem graça, vários aplausos explodiram e, enfim, Hermione teve um tempo para respirar; a música começou a tocar e as pessoas havia dispersado a sua atenção, para a sua contentação.

Enquanto a maior parte dos convidados dançavam alegremente, ela resolveu, hesitante, se sentar ao lado de seu agora marido – ela ainda detestava a ideia de estar casada e ser a mulher de alguém, mas agora que as coisas já estavam feitas, ela ia ao menos tentar se aproximar do rapaz que ela em breve dividiria a casa. Porém, logo de imediato ela percebeu que ele estava totalmente aquém do casamento, do seu casamento, visto que sua cara fechada se dirigia especificamente para uma loira que dançava alegremente com um outro rapaz.

''Você não parece muito feliz, não quer dançar'' Ela reuniu toda a sua coragem e se esforçou, interrompendo o olhar furioso que o rapaz lançava para o casal e ganhando para si um olhar confuso.

''Não, estou bem.'' Ele disse grunhiu, curto e seco, voltando-se para encarar a loira. Seu olhar era tão intenso e raivoso que parecia ter o poder de queimar o casal observado.

Ela suspirou e se levantou, segurando seu longo vestido para que este não se sujasse na grama.

''Aonde você vai?'' Ele virou a cabeça pra ela, franzindo o cenho. Hermione até se surpreendeu por ele ter notado que se levantara.

"Bem, já que o meu marido não está disposto para dançar comigo, eu vou dançar sozinha.'' Hermione constatou. Ela não sabia o por quê, mas mal havia se casado e já estava irritada com ele. ''Ou com qualquer um que esteja disponível para isso.''

''Você não pode fazer isso, ainda mais sem minha autorização.'' Ron alegou, indignado e, pelo que parecia, olhando Hermione de verdade pela primeira vez.

''Eu vou dançar, você querendo ou não. É meu casamento e eu quero ao menos me divertir.'' Ela disse, decidida. ''Se você não quer isso, não é problema meu.''

''Você não ousaria...'' Ron disse, encarando-a sério.

''Observe.'' Ela disse desafiadoramente, enquanto se dirigia diretamente para a pista de dança, onde várias pessoas dançavam umas com as outras. Hermione dançava sozinha, no ritmo da música de maneira graciosa e sutil, inevitavelmente arrancando o olhar de alguns rapazes da festa.

O noivo parecia boquiaberto, quase incrédulo. Ele jamais imaginaria tal atitude e audácia, mas tinha que admitir pra si mesmo que ela ficava muito linda dançando – ela parecia um pássaro voando, sua felicidade e liberdade eram visivelmente genuínas – e seus movimentos eram tão suaves que, quando se deu conta, toda a sua atenção estava voltada a ela.

De repente, parecia que Hermione era a única que os olhos de Ron conseguiam captar, fissurado na maneira deslumbrante que ela se movimentava.

Por mais que Ron tivesse casado quase a força com a morena – ele sempre se imaginara casando com sua vizinha, Lilá Brown –, ver alguns homens admirando-a e até cobiçando-a fez seu coração arder de ciúmes. Ele pode até ter se casado contra a sua vontade mas, ainda assim, aquela a qual todos estavam encarando era a sua esposa, ou seja, ninguém tinha o direito de olhá-la daquela forma além dele.

Espera, ciúmes? Como posso ter ciúmes se nem ao menos a conheço!

Ela tinha uma excentricidade, uma energia eletrizante que ele não conseguia explicar, e quando percebeu, a vontade de dançar com ela venceu, e ele estava envolveu-a em seus braços, puxando-a para a próxima música antes que alguém o fizesse – percebera que vários rapazes a estavam desejando, e até sentiu um certo orgulho ao pensar que era ele quem estava dançando com ela.

''Vejo que mudou de ideia...'' Ela disse, provocadoramente. Seus olhos castanhos procurando os azuis dele.

''Eu não ia ficar observando a minha mulher dançar e ser admirada por outros homens.'' Ron disse, fazendo ela suspirar ao ouvir a expressão minha. Ela havia tornado-se uma posse, uma mera propriedade, como tanto repetia.

''Bem, em minha defesa, você não percebeu que eu existia até eu vir dançar.'' Hermione retrucou, em tom acusatório. ''Alguém tinha de me admirar, afinal, não é todo dia que meus pulmões são compreensados para caber em um vestido que claramente não foi desenhado para um corpo humano. Além disso, você estava visivelmente ocupado com outra coisa.''

Ron corou violentamente com as palavras sinceras da morena, mas não se deixou abalar porque, afinal, ela estava certa.

''Bem, e em minha defesa, a noiva não é quem eu desejava que fosse.'' Por mais cortantes e duras que fossem suas palavras, não atingiam Hermione. A verdade era aquela, então como ela poderia se ofender?

''Tudo bem já que, em minha defesa, eu nem queria estar casada.'' Ela disse, ríspida, concentrada na dança.

''Para ser honesto? Nem eu.'' Ele murmurou, dando olhares furtivos à loira enquanto rodopiava a sua esposa em meio aos convidados.

 


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