You Make Me Feel Like This... - CIP escrita por Casais ImPossíveis


Capítulo 1
Capítulo Único - You Make Me Feel Like This...




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Kyoko suspirou alto assim que o carro se afastou, deixando-a sozinha em frente ao salão de esgrima. Seus olhos formigaram levemente denunciando a vontade de chorar a qual ela era orgulhosa demais para ceder, por isso sabia que não poderia ficar ali.

Ainda não estava pronta para ver Adrien, mesmo que os olhos verde pelos quais era tão apaixonada estivessem escondidos atrás da máscara. Estar perto dele não a faria fraquejar em seu veredito do termino, pois era decidida demais para mudar de ideia fácil, mas isso não queria dizer que doeria menos.

No fundo de sua mente aquele medo que tinha de desobedecer sua mãe ainda tentava lhe convencer a entrar no prédio, mas mesmo que as mentiras de Adrien a tivessem magoado e muitas vezes seus planos não dessem certo, era muito bom sentir que estava realmente vivendo ao invés de apenas seguindo um cronograma, então juntou um punhado de coragem mais uma vez e saiu caminhando pelas ruas de Paris sem saber ao certo para onde iria, só querendo aquela hora para si.

Quando passou em frente à padaria da família Dupain-Cheng, acabou batendo em um garoto sem querer e derrubando todos os cartazes que ele tinha na mão.

— Me desculpa. — pediu enquanto se abaixava para ajudá-lo a juntar os papeis.

— Imagina, a culpa meio que foi minha. — ele respondeu com um sorrisinho pacificador.

Aliás, Luka Couffaine sempre tinha aquele ar tranquilo e pacífico. Mas realmente a culpa havia sido dele, pois estava colando cartazes anunciando aulas de violão e guitarra e pretendia colocar um na padaria da família de sua ex-namorada quando mudou de ideia achando que seria melhor não, então se virou de uma vez e acabou causando o esbarrão com Kyoko.

— Mesmo assim, desculpa. Se eu não estivesse distraída talvez tivesse evitado isso. — ela murmurou soando apática como sempre enquanto levantava e lhe entregava os papeis.

Porém Luka não precisava de um Miraculous para usar seu super poder de ler as pessoas, mesmo sem querer ele conseguiu pescar algo em Kyoko, talvez bem no fundo da voz ou quem sabe por trás daquelas íris castanhas. Ele não saberia dizer o que era exatamente, apenas sabia que ela não estava bem.

— Você... Quer conversar? — arriscou a pergunta mesmo que o jeito sério da garota não fosse muito convidativo.

— Conversar? Por quê? — Kyoko replicou franzindo a testa de leve.

— Eu sinto que a sua melodia interior está... Agitada. Como se fosse uma música rápida, mas com uma letra triste que ninguém nota por causa do ritmo. — Luka tentou explicar da única forma que sabia expressar seus pensamentos, o que só garantiu uma expressão confusa como resposta. — Eu... Acho que talvez você queira falar sobre alguma coisa.

— Se eu precisasse, acho que faria isso com alguém com quem tivesse mais intimidade. Sem ofensas, mas eu mal conheço você. — ela murmurou sem querer soar ríspida, mas soando naturalmente.

Luka abriu a boca para responder antes que seu cérebro de fato formulasse algo a dizer, por sorte uma voz familiar chamou a atenção não apenas dos dois adolescentes como de quase todas as pessoas que passavam pela rua.

— Meu nome é André, sorvetes eu dou, pros apaixonados. Te encontro amor, com esse sabor, tão doce e gelado. — o sorveteiro cantava a poucos metros de distância.

— Já que você não tá a fim de bater papo, que tal tomar um sorvete pra animar? — Luka ofereceu com um sorriso doce e olhar sereno. — Por minha conta.

— Uh... Mas é o André. O sorveteiro dos apaixonados. — Kyoko disse o óbvio, erguendo uma sobrancelha.

Luka riu antes de responder. — Bom, esse é o marketing, mas eu acho que o sorvete não fica menos gostoso se for tomado com um amigo.

A japonesa pensou por um instante e deu de ombros. — Eu nunca acreditei nisso de “o doce mágico do amor” mesmo. Porque não?

Os dois seguiram lado a lado até o carrinho, onde o sorveteiro os recebeu com seu típico jeito animado, para não dizer espalhafatoso, de sempre.

— Olá, Luka, o melodioso, e Kyoko, a determinada.

— Oi, André. — responderam sorrindo.

Era estranho como André parecia de fato conseguir ver algo dentro das pessoas quando fazia sua expressão pensativa antes de escolher os sabores do sorvete, até quando eles mesmos ainda não sabiam. Era como um dom místico muito poderoso.

— Para a senhorita creme de avelã, que certamente alegrará sua manhã, acompanhado de banana caramelada, pra lhe lembrar de toda a sua doçura, que existe por baixo de uma grossa camada.

— Porque nunca escolhe sorvete de café pra mim? — Kyoko murmurou com um sorriso discreto, referindo-se ao seu sorvete preferido, ainda que as misturas de André sempre ficassem deliciosas.

— Um dia vai ser o sabor certo. Mas por enquanto só posso pedir que esteja de coração aberto. — o sorveteiro brincou com um sorriso simpático.

— Pra sorvete? Sempre. — ela respondeu, experimentando uma colherada generosa e aprovando o gosto.

— E o que tem pra mim hoje? — Luka perguntou em seu tom sereno de sempre.

André o encarou com uma expressão pensativa por mais tempo que o de costume, como se as emoções que estava tentando ler não estivessem escritas com as palavras na ordem certa, isso até deixou o musicista um pouco desconfortável.

— Fazer essa escolha hoje parece um pouco complicado, mas eu farei com muito carinho e cuidado. — murmurou por fim, sorrindo enquanto pegava uma taça nova e começava a servir o sorvete. — Baunilha com raspas de chocolate crocante pra confortar seu coração e mousse de maracujá para acalmar essa mente repleta de tanta confusão.

Luka franziu as sobrancelhas de leve por um breve instante, então sorriu fraco e aceitou sua mistura do dia. — Valeu, André.

Então ambos se despediram do sorveteiro e foram se sentar em um banco de madeira na calçada, onde comeram em silêncio por alguns minutos até que Kyoko pigarreou e disse.

— Então... Uma mente repleta de confusão, hein? Parece que não sou só eu que preciso conversar hoje.

— Ah, então eu estava certo e você precisa mesmo conversar? — Luka rebateu com um sorriso meio convencido, vendo a japonesa corar bem de leve.

— Talvez... Mas... Eu não sei se quero. — respondeu com sinceridade, suspirando antes de colocar mais uma colherada de sorvete na boca.

— É, eu também não sei se quero conversar sobre as minhas paradas. — confessou em um tom mais baixo que o normal. — Mas... Que tal isso: eu me abro um pouco se você também se abrir um pouquinho. Pode ser bom pra nós dois.

— Isso não faz muito o meu estilo. — Kyoko sorriu de canto, sem encarar o músico.

— O meu também não. Eu sou mais do tipo que ouve os outros, mas guarda os próprios problemas pra si. E dói. — Luka constatou enquanto remexia seu sorvete com a colherzinha. — Talvez seja legal tentar uma coisa nova. Nem que seja um pouco.

“Até porque não é como se as coisas velhas estivessem me deixando muito feliz mesmo” comentou consigo mesma em pensamento, mas é claro que nunca diria em voz alta e ao invés disso deu de ombros e murmurou.

— Ok. Pode ser.

— Eu começo então?

— Sim.

— Bem... — Luka coçou a nuca e fez um longo momento de silencio, pensando em como se expressar com palavras que não tivessem a ver com “melodia interior”. — Eu... Não gosto de conflito. E, claro, isso tem o seu lado bom, mas... Eu também guardo um monte de coisa dentro de mim e nos últimos dias... Sei lá. Às vezes me sinto bem e aí... Minha mente liga sozinha e não para. Parece que eu vou explodir.

— É, eu sei como é isso. — foi a vez de Kyoko remexer o sorvete com a colherzinha. — Não por não gostar de conflito, por outros motivos...

Apenas pensar em enfrentar a única pessoa que achava que deveria vez ou outra já fazia arrepios subirem pela coluna da japonesa.

— Certo. — murmurou Luka não querendo ser invasivo quanto aos tais motivos. — Bom, agora é sua vez de se abrir um pouco.

Kyoko pensou que a confissão do músico era vaga demais para considerar um “se abrir”, porém ao encará-lo percebeu que só aquilo já era difícil para ele, então decidiu falar também.

— Não é segredo pra ninguém a essa altura que eu terminei com o Adrien. Bem, eu não me arrependo dessa decisão, o que não quer dizer que dói menos. Tem sido... Incômodo.

— É, eu sei como é isso. — murmurou ele com um sorriso fraco e olhar triste.

Por um instante o silêncio reinou sobre os dois, fazendo com que dessem mais atenção aos seus sorvetes do que um ao outro. Não que estivessem desconfortáveis, só não costumavam se abrir com ninguém e não sabiam como agir a partir daí. Demorou quase a taça inteira até que Kyoko decidisse pela segunda vez quebrar toda aquela quietude com um breve pigarro, só então dizendo algo.

— Então... O que são esses papéis que você estava colando por aí quando acabamos nos esbarrando? — questionou só para confirmar se sua mente não atenta no momento se lembrava bem do que vira ao juntar os cartazes no chão.

— Ah, isso? — Luka perguntou retoricamente, tirando-os debaixo do braço. — Eu quero começar a dar aulas de guitarra e violão. A propósito, se tiver interesse, eu tenho qualquer hora livre porque ainda nem terminei de espalhar os cartazes e ninguém me ligou.

— Posso ver isso? — pediu Kyoko estendendo a mão, sua expressão parecia quase tão neutra como sempre, mas havia sutis diferenças demonstrando que estava pensativa.

— Claro. — murmurou com as sobrancelhas franzidas, havia oferecido de brincadeira já que a japonesa não era a mais aberta para coisas novas e “banais” como música.

Ela analisou as informações por alguns minutos e refletiu, pesando se valia ou não correr o risco de ser pega por sua mãe. Ver Adrien nos treinos seria doloroso e mesmo tendo acabado em uma conversa estranha em que se abriu (um pouco) com um garoto aleatório com constante cara de sono, essa escapada a fez se sentir mais viva do que sentia há semanas.

— Está bem. — disse por fim, devolvendo o papel a Luka. — Tenho essa mesma hora e esse mesmo dia toda semana. Não posso ficar com o panfleto, mas já decorei o número e te ligo para combinamos melhor os detalhes. Agora preciso ir, está quase na hora do meu carro chegar e não estou no lugar certo.

— Ok. — Luka sorriu, animado por ganhar sua primeira aluna.

Então se despediram e cada um seguiu para uma direção diferente pelas ruas de Paris.

(...)

Já fazia algumas semanas que Kyoko havia enviado uma mensagem para Adrien dizendo que ainda não estava pronta para vê-lo toda semana e pedindo apoio com o instrutor de esgrima com um claro “também não quero conversar ainda, então apenas responda ‘sim’ ou ‘não’.” Ao que o loiro foi muito compreensivo, afinal, se ela havia mentido tanto por ele quando estavam juntos, nada mais justo que retribuir o favor agora que havia acabado.

Esse também era o tempo que andava tendo aulas de guitarra com Luka Couffaine e a japonesa tinha que admitir que estava adorando. A forma como aquele garoto sentia e entendia o mundo através da música era fascinante.

Kyoko nunca havia aprendido algo para apreciar, ela sempre se cobrava bastante porque era ainda mais cobrada por sua mãe. Ser ensinada assim, de forma leve e apaixonada era novo e muito, mas muito bom. Cada vez mais estava aprendo a amar, não só se aperfeiçoar na música.

Porém, naquele dia em específico, o celular de Luka acabou tocando no meio da aula e ao olhar para a tela percebeu que era Jagged Stone. Quer dizer, seu pai.

— Se importa se eu atender rapidinho? — perguntou ele enquanto se ajeitava no banco como se de repente tivesse ficado desconfortável.

— Sem problema. — a japonesa respondeu no típico tom apático.

— Valeu. — Luka sorriu serenamente e deslizou o dedo na tela. — Oi... Tranquilo... Rs, é com certeza... Pode até ser, mas depende do horário... As cinco eu to dando aula. Pode ser por volta das seis/seis e meia? Ficaria melhor pra mim... Não, não. Pode deixar, eu te encontro lá... Sim, absoluta.... Combinado então... Até mais tarde.

Depois de desligar o musicista deu um suspiro baixo e rápido, tão discreto que era quase imperceptível. Para seu azar, estava na companhia de Kyoko Tsurugi, o ser mais observador que já habitou a face da Terra.

— Tá tudo bem? Você parece estar meio assim. — a japonesa posicionou os dedos sobre as cordas da guitarra e tocou uma melodia triste.

— Tá falando sério? — o rosto de Luka se iluminou em um sorriso fofo enquanto olhava para ela.

Kyoko riu e negou discretamente com a cabeça. — Eu aprendi a gostar mais de música com você, mas não a esse ponto. Só estou te emulando.

— Ah. — Luka riu e negou com a cabeça. — Bom, eu to tranquilo...

— Isso é mentira. Mesmo eu tendo apenas tentado te imitar, você confirmou que está sentindo alguma coisa ao ficar animado por achar que eu estava aprendendo a falar através da música. — constatou séria e muito analítica.

— Você é boa. — Luka respondeu com sua voz serena, mantendo o olhar distante.

— Se sou também devo estar certa sobre você não querer conversar. — Kyoko sorriu de forma discreta. — Eu entendo se quiser se manter só como meu professor, mas... Se quiser ser meu amigo, eu estou aberta.

— Claro que quero ser seu amigo. — dessa vez ele fez questão de fixar os olhos nas íris castanhas da japonesa para mostrar sinceridade. — Só que é difícil para mim falar sobre certas coisas, mesmo quando preciso por pra fora. O problema não é com você, é comigo.

— Eu me lembro. E você deve se lembrar que eu também não tenho a maior facilidade do mundo pra me abrir. — referia-se ao dia em que tomaram sorvete juntos e Kyoko decidiu ter aulas com ele. — Como nós dois não somos pessoas fáceis, poderíamos tentar o mesmo trato daquela vez. Eu me abro um pouco se você se abrir um pouquinho também.

— Acho que é uma boa ideia. — Luka concordou depois de ponderar um pouco. — Pode ser bom tanto pra mim quanto pra você.

— Pois bem... — Kyoko colocou a guitarra de volta no suporte bem ao seu lado e colocou as mãos sobre o colo, mantendo a postura muito reta e uma expressão séria. — Pode começar.

Luka, pelo contrário, posicionou os dedos de uma mãos nas cordas da que estava com ele e manteve os olhos fixados nelas enquanto tocava bem baixinho uma melodia melancólica.

— Recentemente eu descobri quem é o meu pai... Foi um alívio por um instante porque essa pergunta sempre ficou martelando minha cabeça por mais que eu tentasse ignorar. Só que saber a verdade também virou um peso pra mim. Desde que esse segredo veio à tona, meu pai quis se aproximar de mim e eu tenho deixado, o que tem sido bem legal, mas... Toda vez que eu olho pra ele me vem as lembranças de toda a frustração que senti quanto a isso minha vida inteira. Eu sinto até um pouco de raiva e raiva não é algo que eu costumo sentir. Eu sei que ele não tava pronto pra ser pai e que desistir de um sonho pra assumir essa responsabilidade é uma escolha muito difícil de se fazer. Só que isso não muda o fato de que eu e a Juleika já estávamos lá, nós existíamos com ele pronto ou não. Precisávamos dele. E ele não tava aqui.

— Uau, isso é bem Intenso. Porque você deixa ele se aproximar se não tem te feito bem? — Kyoko perguntou com as sobrancelhas franzidas bem levemente, quase conseguindo mostrar confusão ao invés da típica apatia.

— Ah... Ele quis uma chance e eu achei que podia ser bom conhecer ele de verdade, ver se a gente conseguia construir uma relação de pai e filho. — Luka sorriu miúdo, sem parar de tocar a guitarra um segundo sequer. — E, fora essa sensação amarga lá no fundo, tem sido bem legal viver essas coisas com o meu pai. Eu não saberia como agir se não fosse assim, não sou de dar chance a conflitos e tenho tendência a sempre ver o lado do outro. Mas é muito bom poder desabafar com alguém sobre isso. Obrigado por me ouvir.

— De nada. É pra isso que servem os amigos. — Kyoko retribuiu o sorriso com um olhar bem sincero.

— Agora é sua vez. — por fim o garoto parou de tocar e ergueu as íris azuis para encarar a japonesa.

— Sim, claro. Bem... — para sua própria surpresa, Kyoko pensou em pegar a guitarra e ficar dedilhando as cordas sem olhar para Luka, mas Tsurugis não demonstram nervosismo. — Sou muito boa em tudo que eu faço. Isso porque preciso treinar e treinar e treinar, ir à exaustão até alcançar o desempenho perfeito. E não posso fazer nada que não seja digno do meu nome, o que, é claro, precisa ser escolhido pela minha mãe. E é tão cansativo nunca fazer nada só pelo prazer de fazer.

— Espera aí, você nunca faz nada só por prazer? — Luka replicou em choque, aquilo não parecia jeito de viver.

— Bom, eu não fazia. — Kyoko sentiu as bochechas começando a corar, mas não voltou atrás no que queria dizer. — Até que um doido trombou em mim e ficou falando coisas estranhas sobre minha “melodia interior”. Por coincidência ele estava com panfletos sobre aulas de música e eu devia estar bem louca naquele dia também, porque acabei aceitando ser aluna dele.

O guitarrista também ficou vermelho, mas riu e disse. — Devo pedir desculpa?

A japonesa o olhou bem no fundo dos olhos e sorriu ao dizer. — Não.

— Que bom. Porque eu não ganhei só uma aluna, ganhei uma ótima amiga.

— Digo o mesmo sobre você. — Kyoko continuou sorrindo por um instante, em seguida mordeu o lábio. — Eu posso contar uma coisa? Da última vez que contei isso pra alguém acabou não sendo muito legal por motivos que não vem ao caso agora, mas... Sinto que vai ser diferente dessa vez. Acho que posso confiar em você.

— Claro que pode. Mas só se tiver mesmo a vontade com isso. — respondeu, arrumando melhor a postura.

Ela mordeu o cantinho da boca discretamente enquanto levantava do banco e ia pegar a bolsa que havia deixado perto da porta.

— Não sei se você sabe, mas a minha mãe é cega... — começou a dizer, abrindo o zíper.

— É, acho que já te ouvi mencionar. — Luka constatou, observando-a com curiosidade.

— Como ela é muito exigente, preciso manter isso aqui escondido dela. — Kyoko voltou a se aproximar e entregou um caderno na mão do guitarrista. — Eu amo desenhar. Sempre amei. Mas como minha mãe não pode ver, ela não me deixa praticar, pois não importa o que os outros achem, sem a aprovação dela eu nunca vou ser boa o suficiente. Então faço escondida, eu ficaria louca se parasse de desenhar pra sempre.

— Você não pode estar falando sério. — resmungou (sem sair do tom calmo de costume) franzindo as sobrancelhas indignado e começando a folhear o caderno.

— É bem sério. — respondeu com um suspiro desanimado. — E não é só ela, é uma ideia muito forte na família Tsurugi. Se não é pra ser perfeito, não tem pra que ser feito.

— Desculpa falar, mas... Isso não parece jeito de viver. — Luka sempre era sincero e não pararia naquele momento.

— Não tem que se desculpar. — Kyoko sorriu e pousou suavemente a mão no ombro de seu professor. — Se eu discordasse, não fugiria uma hora toda semana para ter aulas de música nem usaria a lanterna do celular pra desenhar de madrugada torcendo para que minha mãe não passe no corredor e ouça o lápis riscando papel.

— Olha, o fato de você ser super talentosa não vai me ajudar com esse argumento, mas eu falo sério. — Luka constatou sorrindo e desviando os olhos do caderno para as íris castanhas. — Não precisamos ser incríveis em tudo o que fazemos, se nos faz feliz já vale a pena.

— Sinceramente, acho que prefiro esse lema que o da minha família. — ela respondeu, sorrindo de canto sem desviar do olhar azulado.

— Quer saber? Acho que pra alguém que se esforça tanto todo dia, uma hora de guitarra por semana é muito pouco. — claro que para ele que adorava música isso já era muito divertido, mas Luka tinha noção que nem todos são assim. — O que acha de darmos uma volta na pista de patinação no lugar da aula da semana que vem? Se tivermos sorte, podemos até encontrar com o André e tomar o melhor sorvete de Paris outra vez.

— Não sei. Eu realmente estou ficando boa com as cordas e só tenho esse tempo para poder praticar. — Kyoko murmurou com uma expressão pensativa.

Luka riu e devolveu o caderno para ela. — Acho que você precisa de um tempo pra cravar na mente que não precisa ser perfeita, só gostar do que tá fazendo. Além do mais, se me lembro bem, você também é muito boa em patinação. Tem praticado?

A japonesa acabou rindo também antes de dizer. — Ótima jogada, professor. Ainda bem que contra-argumentou porque a possibilidade de tomar sorvete do André é sempre bem-vinda.

Dessa vez os dois riram e nesse clima gostoso a aula teve que ser oficialmente encerrada, pois o alarme do celular de Kyoko logo tocou, anunciando que ela precisava se apressar para ir de volta ao local onde o carro deveria lhe buscar.

Ambos se sentiam bem mais leves depois de pôr tudo aquilo para fora e agora estavam ansiosos para se ver outra vez na próxima semana.

(...)

Nunca valeu tanto esperar sete dias passarem, o tempo que Kyoko passou com Luka na pista de patinação foi simplesmente maravilhoso. O guitarrista era realmente bom com patins, mas ficou fazendo tantas gracinhas para mostrar a japonesa que nem tudo tem que ser perfeito e certas coisas podem ser só diversão que acabou caindo e fazendo-a ter um ataque de riso tão espontâneo que até soava estranho vindo dela que era sempre tão séria, mas logo o contagiou e ele estava rindo junto.

— Mas você tem certeza que tá tudo bem? — Kyoko perguntou ainda com resquícios de risada na voz enquanto ambos calçavam os sapatos de volta.

— Sim, eu só preciso por um gelo quando chegar em casa. — Luka respondeu sorrindo sereno e passando a mão na lateral da coxa dolorida.

 — Você é sempre tão calmo. Gosto disso em você. — confessou olhando-o nos olhos.

— Obrigado. — o garoto disse corando de leve.

Um silêncio confortável recaiu sobre os dois até que saíssem da pista de patinação e por coincidência ouvissem a voz inconfundível de André cantarolando sobre amor e sorvete, como sempre fazia em algum lugar aleatório de Paris.

— Não acredito, a gente nem precisou procurar. — constatou Kyoko sorrindo.

— Eu também não. Que sorte. — Luka concordou apressando o passo em direção a voz.

— Ah, droga. Não tanta sorte pra mim. — ela resmungou fazendo um estalo com a língua depois de olhar o celular. — Eu não tenho tempo de parar pra tomar sorvete, tenho que voltar antes do carro chegar pra me buscar.

— Nem se comer andando? Eu te acompanho até lá. — se ofereceu gentilmente.

— Isso não te atrapalharia? — questionou franzindo de leve as sobrancelhas.

— Não, ainda tenho bastante tempo antes da minha próxima aula. Além do mais, eu... — antes de concluir a frase, Luka enfiou uma das mãos no bolso e coçou a nuca com a outra, se sentindo corar. — Eu gosto de passar tempo com você.

Kyoko sentiu o coração acelerar enquanto olhava de canto de olho para o guitarrista que parecia muito fofo todo tímido. Era um sentimento totalmente novo e ela não sabia como lidar, mas de alguma foram isso não a assustava, ela até estava gostando de sentir isso.

No entanto, quando pararam em frente ao carrinho de sorvete de André, a japonesa se deu conta de estava despertando esse tipo de interesse logo em Luka Couffaine, que por acaso era ex-namorado de sua primeira e melhor amiga: Marinette Dupain-Cheng. E isso pesou tanto em sua consciência que acabou a distraindo e fazendo com que não ouvisse a rima do sorveteiro e demorasse alguns segundos para pegar a taça que ele lhe oferecia com um sorriso gentil.

— Ah, obrigada, André. — ela disse sorrindo miúdo ao despertar de seu transe.

Quando Kyoko olhou para a taça percebeu que uma bola era de chocolate e a outra era a que ela esperou por tanto tempo para ser escolhida: café, seu sorvete preferido.

Que momento estranho para aquele ser o sabor certo.

Enquanto André preparava a mistura para Luka, Kyoko mesclava o olhar entre os dois e o sorvete em sua mão. Se aquele era o momento certo para o sabor certo, será que aquele era o garoto certo? Um lado de sua mente queria muito acreditar que sim enquanto o outro estava lutando com muita força contra isso em consideração a Marinette.

— Achei que estava com pressa. — disse o guitarrista com um sorriso miúdo depois de um ou dois minutos com o sorvete na mão.

— Estou! — constatou Kyoko, se virando para começar a andar de imediato ao despertar do segundo devaneio. — Só me distraí um minuto.

— Mas tá tudo bem? — perguntou franzindo as sobrancelhas, levemente preocupado.

— Tá sim. — era fácil acreditar naquela mentira deslavada, pois foi dita no tom sempre apático de Kyoko.

— Ok então.

Luka não tinha certeza se acreditava ou não, mas preferiu apenas caminhar em silêncio ao lado dela até chegar na frente do salão de esgrima.

— Bem, é aqui... — pela primeira vez a japonesa parecia tímida.

— É... — Luka não sabia porque, mas também ficou um pouco nervoso. — Então a gente se vê semana que vem.

Os dois se despediram meio sem jeito, dava para sentir de longe a energia diferente que começava a pairar sobre eles. Enquanto o observava indo embora Kyoko refletia se era uma boa ideia continuar com as aulas de guitarra e assim que Tatsu chegou ela já entrou decidida a voltar para a esgrima, pois seria o mais correto a fazer.

Ela esperou alguns dias e mandou uma mensagem para Luka.

“Minha mãe está percebendo que meu desempenho na esgrima está ficando fraco. Por isso preciso voltar a treinar imediatamente, então ficarei sem tempo para as aulas de guitarra. Obrigada pelas semanas de aprendizado, foi... Incrível. Tenho que agradecer em especial por me ensinar a apreciar música da forma correta e a me conectar com os sons e melodias, foi uma das coisas mais mágicas que já aconteceu comigo.

Atenciosamente, Tsurugi Kyoko.”

Claro que era apenas uma desculpa, Kyoko treinava muito mais com sua mãe do que nas aulas de esgrima, mas precisava fazer parte de uma equipe oficial se quisesse competir.

“Mas você vai ficar bem?” — o guitarrista perguntou alguns minutos depois.

“Vou. Só torço que ache outra aluna tão boa quanto eu, mas acho difícil.

Atenciosamente, Tsurugi Kyoko” — brincou, sorrindo levemente.

“Vc acha difícil, eu acho impossível :P

Qlqr coisa manda msg, caso mude de ideia” — Luka não facilitava para que ela parasse de gostar dele.

A japonesa decidiu não responder mais, ao invés disso preferiu começar a preparar seu psicológico para voltar a ver o ex toda semana. No entanto, por incrível que pudesse lhe parecer, pensar nisso não estava doendo tanto quanto ela achava que doeria.

(...)

O restante dos dias passou mais rápido do que Kyoko gostaria, mas lá estava ela com seu traje branco e vermelho, o que não a ajudava nem um pouco na intenção de ser discreta. A breve conversa com o professor foi tranquila, depois da aula que foi meio desconfortável, pois Adrien não conseguia parar de olhá-la de canto de olho a cada oportunidade que tinha, como se estivesse em dúvida se poderia falar com ela ou não. Bom, de fato estava em dúvida.

Ela decidiu respirar fundo e ir até ele. — Olá, Adrien. Namoramos por tempo o bastante pra você saber que sou observadora, percebi que estava me olhando. Se tem algo a dizer, diga.

— Desculpa, eu não queria ficar te encarando. — o jovem Agreste respondeu sentindo-se corar. — É que como você voltou, eu não sei se ainda está brava comigo ou se podemos voltar a ser amigos, pelo menos.

— Não estou brava, Adrien, estou magoada. O que é bem pior. — Kyoko murmurou com um olhar frio. — Eu gosto da sua companhia, adoraria conseguir tão rápido voltar ao que éramos antes de namorar, mas preciso de tempo. Por ora, prefiro que sejamos só colegas de esgrima.

— Entendo. Então devo falar com você só o necessário? — indagou com uma expressão tristonha e os ombros ficando levemente caídos.

— Isso seria ótimo. — ela também estava triste, porém era melhor em disfarçar isso.

Adrien balançou a cabeça em afirmação, fechou a bolsa com suas coisas e colocou a alça ao redor do ombro. Em três segundos pensou em mil e uma coisas para dizer antes de sair, mas só o que conseguiu foi murmurar um “me desculpa”.

E esse foi o momento mais “tenso” que Kyoko teve na volta para a esgrima. Depois de tudo ser posto em pratos limpos, os ex namorados estavam mantendo uma distância saudável e os treinos estavam quase monótonos pelas próximas quatro semanas seguintes, mas então na quinta algo inesperado aconteceu.

— Luka? O que tá fazendo aqui? — questionou ao sair do salão de esgrima para esperar Tatsu e se deparar com o musicista apoiado em um poste do lado de fora.

— Ah, eu... — o garoto parecia um pouco tímido, passando a mão nos cabelos e sorrindo miúdo. — Eu só estive pensando... No que você disse sobre não poder fazer nada só por prazer. Querendo ou não, as aulas de guitarra foram isso pra você e ter que parar me pareceu injusto...

— Espera um minuto. Você andou pensando em mim? — mesmo lutando contra, Kyoko não conseguiu conter um sorrisinho acanhado.

Luka corou de leve e passou a mão no cabelo de novo. — Pensei... Eu nem consegui por alguém na sua hora semanal. Não parecia certo.

— Não precisava fazer isso. — de fato ela achava desnecessário, mas seu coração ficou quentinho ao ouvir aquilo e seu sorriso se atreveu a aumentar.

— Sei que não. — respondeu sorrindo com aquele jeitinho sereno e adorável. — Mas de volta ao assunto, eu achei injusto você ter que parar com algo que te fazia bem, então pensei se não gostaria de ter outra coisa pra fazer só porque gosta. — dito isso, Luka enfiou a mão dentro do bolso interno de seu casaco azul, tirando um embrulho retangular. — Comprei isso pra você. Espero que goste.

— Uau, eu... Nem sei o que dizer. Obrigada, Luka. — murmurou tentando não deixar a voz emotiva demais, embora qualquer emoção fosse muita para quem sempre soava apática.

Porém, antes que Kyoko tivesse tempo de abrir o presente, Tatsu chegou e ela precisou entrar no carro, se despedindo o mais rápido possível do musicista. Chegando em casa, a garota correu para o quarto a fim de descobrir o que afinal havia acabado de ganhar.

Um mangá. Ela poderia pensar que era clichê um garoto dar isso para uma japonesa. Ao invés disso ela ficou lisonjeada pelo guitarrista ter pensado em sua ascendência ao lhe dar um presente. Sua vontade foi de abraçar aquele quadrinho japonês, porém se controlou mantendo a pose de superior que sempre tinha, deixou o mangá sobre a mesinha ao lado de sua cama para lê-lo quando terminasse de tomar banho.

Assim que começou sua leitura, Kyoko foi rapidamente absorvida pela história e sempre que tinha um tempo livre estava com os olhos devorando o mangá. E a melhor parte era que se sua mãe ouvisse o papel virando, era só dizer que estava estudando.

“Não acredito que acabou assim!

Indignadamente, Tsurugi Kyoko.” — mandou a mensagem para Luka assim que acabou a leitura, cinco dias depois de começar.

“Vc já terminou?” — o garoto estranhou, era uma história bem grandinha.

“Eu leio rápido. Teria terminado antes se minha agenda não fosse tão apertada.

Agora responde. É assim mesmo que acaba?

Ainda indignadamente, Tsurugi Kyoko.” — questionou agoniada.

“Não kkkkkkkkkkk

Esse é só o volume 1

Tem 5 lançados até o agr e a autora já disse q quer lançar 8 no total

E advinha só o que é isso aqui

*foto de um embrulho retangular*” — Luka não conseguia parar de sorrir ao digitar as mensagens e tirar a foto para enviar, estava muito feliz que Kyoko tivesse gostado do presente.

“Não brinque com meu coração.

Eu preciso muito saber o que acontece depois.

Ansiosamente, Tsurugi Kyoko.” — a japonesa também estava sorrindo sem ao menos ter ciência disso.

“Vou entregar pra ti no mesmo lugar e hora

Fico até feliz de ter uma dsclp pra te ver

Carinhosamente, Couffaine Luka” — respondeu aliviado que ela não estivesse lhe vendo ficar corado como estava.

Kyoko sentiu o coração disparando e um mar de borboletas pareceu se agitar dentro de seu estômago. Ela leu e releu a mensagem seis ou sete vezes, pensando se deveria digitar uma resposta seguindo a lógica ou a emoção.

Sendo uma Tsurugi seu lado racional quase sempre vencia esse dilema, mas quando se tratava de Luka Couffaine parecia muito mais lógico agir com o emocional.

“Eu também fico feliz de ter uma desculpa pra ver você

Ainda mais ansiosamente, Tsurugi Kyoko.”

Sem saber um sobre o outro, ambos colocaram o celular sobre o peito e cada um soltou um suspiro enquanto fechavam os olhos.

Nos próximos dias Kyoko ficou até feliz por ter uma rotina tão cheia e cansativa, assim o tempo passava mais rápido. Só o que passou devagar foi seu treino de esgrima, pois ela sabia que logo veria o guitarrista e seu cérebro não conseguia parar de pensar nisso. Estava ansiosa.

Foi um dia feito especialmente para provar a boa esgrimista que era. Mesmo lutando no automático por sua mente estar tão longe, continuava se saindo excepcional. Um pouco menos que o de costume, porém ainda excepcional.

Assim que o treino acabou, Kyoko correu para trocar de roupa e enfiou as coisas na bolsa sem qualquer cuidado. Não era um jeito muito Tsurugi de arrumar uma bolsa, mas ela não ligava, só queria sair logo dali. Adrien a observava de longe com um sorriso de canto, estava feliz por vê-la aparentemente tão empolgada, mesmo sem saber o motivo.

Luka estava apoiado no mesmo poste em frente ao salão de esgrima que estivera uma semana antes. Os braços cruzados, olhar e sorriso serenos, os cabelos tingidos de azul mexendo ao ritmo do vento. Ele estava lindo e com uma aura tão pacífica que parecia a chave para acabar com todas as guerras do mundo.

Quando Kyoko se aproximou e os olhos azul claros encararam os seus tão naturalmente intensos e profundos, ela soube de forma objetiva e irrefutável que havia de fato se apaixonado por ele. Agora só lhe restava decidir o que fazer com isso.

(...)

Como ainda não sabia o que fazer sobre seus sentimentos por Luka, Kyoko, com muita dor no coração por estar super curiosa com os acontecimentos do volume 3, deu uma desculpa para que o musicista não fosse vê-la ao fim do treino de esgrima naquela semana. E por um lado isso acabou sendo bom, pois Adrien pareceu um balão murcho durante cada disputa e também no vestiário. Ele não quis conversar, parecia totalmente desiludido, mas Kyoko acabou pensando na história do mangá que andava lendo e teve uma ideia que tanto poderia animar seu amigo e ex-namorado quanto ajudá-la a continuar se aproximando de Luka sem se sentir mal. Para isso, precisaria da ajuda de Marinette. Seria fácil convencê-la a entrar em seu plano, afinal a jovem Dupain-Cheng já fazia tanta coisa louca que uma a mais ou uma a menos não faria diferença.

Demorou alguns dias para conseguir colocar seu plano em prática, tendo a “ajudinha” involuntária de um akumatizado que fez o último tempo de aula de sua escola ser cancelado e os alunos foram liberados assim que Ladybug lançou seu miraculous ladybug concertando tudo o que Glaciator, o monstro gigante de soverte, destruiu durante seu ataque.

Aproveitando esse tempo extra, Kyoko chamou Marinette para conversar em seu carro ao lado da praça. Na verdade foi mais um monólogo sobre como a padeira deveria contar seus sentimentos para Adrien o mais rápido possível, treinando antes com qualquer pessoa por quem não sentisse nada já que quando precisava improvisar era sempre muito atrapalhada e estranha. Depois praticamente a expulsou de Tatsu porque queria ter tempo de mandar uma mensagem perguntando se Luka não queria encontrá-la nesse tempo livre para poderem colocar o papo em dia e ele aproveitar para entregar o volume 3 que ela estava tão ansiosa para ler.

O colégio do guitarrista também o liberou mais cedo após a akumatização do sorveteiro, então ele pode responder um “onde a gente se encontra?” quase instantâneo, com um sorriso fofo enfeitando o rosto que Kyoko com certeza adoraria ter visto.

Os dois acabaram se encontrando em uma lanchonete para tomar milk-shake e embora a japonesa só tenha ficado vinte minutos antes de precisar voltar para casa (caso contrário teria problemas com sua mãe), foi a melhor parte de sua semana até ali. Além de que ter seu precioso mangá em mãos e saber que logo teria algumas respostas que estava se coçando para descobrir desde que terminara o volume 2 era um baita bônus.

Como fez das outras vezes, Kyoko passou todo o tempo livre que tinha lendo o mangá, mas quanto mais avançava na história, mais refletia sobre o que tinha dito para Marinette fazer. Claro que a história do quadrinho japonês era muito mais fantasiosa e exagerada, porém ainda dava para traçar um paralelo com a realidade e chegar à conclusão de que não é legal manipular as pessoas, principalmente porque todo ser humano tem sentimentos e um plano como o que havia instruído a padeira a seguir poderia fazer alguém sair machucado, dependendo de quem ela escolhesse para o tal treino do discurso. Afinal, se Adrien não sabia dos sentimentos muito óbvios de Marinette, ela também podia ser uma paixonite secreta de alguém que sabia disfarçar melhor as emoções.

Com isso em mente, Kyoko achou melhor chamá-la para conversar e dizer que não era uma boa ideia levar esse plano em frente. Não precisou esperar muito para essa conversa já que sábado era o dia de uma competição de esgrima e como Adrien estava participando, Marinette estava lá para apoiá-lo junto aos demais amigos de escola do modelo. Sendo assim, a japonesa só precisou esperar a rodada de Adrien acabar para pode puxar a padeira para o vestiário a fim de conversar a sós.

— AI, que é isso? — Marinette exclamou surpresa ao ser “sequestrada” com toda a falta de sutileza que só uma Tsurugi apressada teria.

— Você fez o que eu mandei? — Kyoko foi direto ao ponto, mas um pouco menos calma que de costume.

— Mais ou menos. Quer dizer, ainda não? — a inquietude da japonesa deixou Marinette desconcertada e ela não sabia se era uma boa ideia contar tudo.

— Ai, que bom, é uma técnica arriscada. Quando você começa a treinar com um menino, por mais pensada que a escolha seja, ele pode se apaixonar por você. — murmurou, dando um suspiro e completando a linha de pensamento com uma piada interna que saiu em voz alta sem querer. — Ou pior, você pode se apaixonar de volta, depois fugirem juntos pra uma ilha deserta e serem atacados por uma planta carnívora zumbi.

— O que? — Marinette franziu as sobrancelhas, muito confusa.

Ela suspirou outra vez e tirou o mangá da bolsa em cima de uma dos bancos. — Eu nem terminei o volume 3, mas ainda acho que vai piorar.

— Pera aí, você tava me dando concelhos que aprendeu em um mangá? — indagou com um franzir de sobrancelhas e um sorrisinho de canto.

— É, mas eles são muito bons, então porque não? — respondeu dando de ombros.

— Kyoko, Kyoko, Kyoko... Você tem que andar mais comigo e as meninas. — Marinette constatou com um sorriso, mas logo riu da própria afirmação ao lembrar dos planos loucos que já tinha feito com as amigas. — Na verdade, vem aqui, senta comigo.

— Por quê? — a japonesa questionou, mas sentou em um banco com ela mesmo assim.

— Porque eu sou a dos planos mirabolantes e malucos nessa amizade. Você é a cética e séria de um jeito fofo que me acha estranha e atrapalhada. — a padeira começou sua linha de raciocínio, segurando a mão da amiga e sorrindo com gentileza. — Se chegou ao ponto de logo você bolar uma ideia dessas, eu imagino que algo deve ter acontecido. Então preciso perguntar: quer conversar sobre o que tá rolando?

— Quero... Mas antes você tem que me prometer que não vai ficar chateada. — ela não conseguia encarar as íris azuis enquanto falava, então focou o olhar no chão.

— Claro que não vou ficar chateada, pode se abrir comigo. — Marinette fez um carinho suave na mão da amiga.

— Obrigada. — Kyoko mordeu o cantinho da boca e respirou fundo antes de começar a contar tudo do começo. — Então... Logo que eu e o Adrien terminamos, foi um momento difícil pra mim. Eu fiquei magoada e não me sentia bem pra continuar o vendo toda semana por causa da esgrima, por isso decidi matar alguns treinos. Por coincidência, o Luka estava espalhando uns cartazes de aulas de música. A gente acabou se topando na rua, literalmente... E, depois de uma das interações mais estranhas e ao mesmo tempo legal que já tive na vida, decidi por fazer aulas com ele. E então... E-então...

Marinette percebeu que a japonesa tinha travado e, voltando a sorrir com o que parecia ser toda a gentileza do mundo, completou para ela. — E então você descobriu que o Luka tem uma personalidade magnética e charmosa sem nem se esforçar?

— Sim.

— E que a forma que ele vê, ou melhor, que ele escuta o mundo é única e linda, apesar de meio esquisita? — continuou sem desfazer o sorriso.

— Sim.

— Você tá gostando dele, não é?

— Sim. — a última afirmação de Kyoko saiu quase em um sussurro enquanto ela sentia as bochechas queimarem em uma timidez atípica.

— Eu não te culpo, o Luka é.... Uma pessoa incrível. Com uma aura que faz qualquer um se sentir confortável com ele perto. — Marinette não conseguiu segurar um suspiro de saudade da época em que namorou o musicista.

— Você ainda sente algo por ele? — finalmente a japonesa ergueu o olhar, porém foi no momento em que a padeira desviou as íris azuis.

— Não vou mentir, eu e o Luka tivemos uma ligação muito forte pra simplesmente sumir de uma hora pra outra. — Marinette suspirou e sorriu, a encarando de volta. — Mas o meu amor por ele vem tomando um outro significado já faz um bom tempo. Ele ainda é muito importante pra mim, só que como amigo. Um amigo maravilhoso. E eu espero que o Luka encontre alguém tão incrível quanto ele pra fazê-lo feliz do jeitinho que ele merece. Alguém como você.

— Tem certeza, Marinette? Você foi minha primeira amiga e é tão importante pra mim... Não quero fazer nada que possa acabar a nossa amizade. — Kyoko não era muito de demonstrar emoções, então estar se expondo como estava fazia com que se sentisse super vulnerável.

— Só vai acabar se você machucar o meu amigo. Mas isso também vale pro Luka se ele se atrever a te machucar. — respondeu, piscando para ela antes de concluir. — Vocês dois são pessoas que eu amo demais, então... Cuidem um do outro, por favor.

— Bem... Eu sei que estou disposta a cuidar do Luka. Se ele sentir o mesmo por mim. — Kyoko deu de ombros como se não estivesse nervosa com a possibilidade do musicista não sentir algo por ela também.

— Desculpa não ter como saber. Ainda não chegamos ao nível de ex-namorados que já falam sobre outros crush’s um pro outro. — constatou com um olhar baixo.

— Estou tentando virar a atual do seu ex! Eu precisava da sua benção, mas você não tem que me ajudar com isso. Já seria abuso demais. — disse o óbvio com um sorriso divertido.

— Porque não? Você tentou me ajudar com o seu ex. De um jeito confuso e atrapalhado, mas tudo bem. — Marinette provocou com um sorriso brincalhão.

— É, por um dia eu acabei dando uma de Marinette. — Kyoko debochou no mesmo tom bem humorado.

A padeira apenas exclamou um “ei!” e a empurrou com o ombro, então ambas caíram na gargalhada deixando o momento muito mais leve. Kyoko não tinha muitos amigos, não era próxima de verdade de quase ninguém, porém era extremamente grata por uma dessas poucas pessoas ser Marinette Dupain-Cheng.

(...)

“Então, concluindo, você acabou com a minha vida!” — essa foi a última mensagem em uma sequência de dezoito que Kyoko mandou para Luka naquela bela manhã de sábado.

“KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

Meu Deus, Kyoko

Eu n pensei que vc fosse do tipo dramática” — o guitarrista respondeu durante a pausa dos preparativos de seu stand.

“Eu não estou fazendo drama!

Como acha que vou viver até que o volume 6 seja lançado?!

Pesarosamente, Tsurugi Kyoko.” — já fazia quase três semanas desde sua conversa com Marinette, então havia terminado de ler todos os mangás lançados da saga, mas ainda não havia decidido como contar seus sentimentos por Luka, só se permitiu continuar se aproximando dele.

“Bem-vinda ao meu mundo rs

+ enquanto n sai, tenho outros mangás irados pra te apresentar

Se tiver interessada em entrar pro nosso submundo” — ele respondeu todo sorridente, era assim que ficava involuntariamente sempre que conversava com a garota japonesa, tanto cara a cara quanto quando se falavam por mensagens.

“Estou em dúvida

Eu amei esse e pensar que tem muitos outros me deixa tentada

Mas se eu pegar mais um já era, vou me afundar nesse universo de vez

E se for pra ficar sofrendo de abstinência assim toda vez meu coração não vai aguentar

Indecisamente, Tsurugi Kyoko” — o sorriso era sempre recíproco, embora Kyoko sempre se esforçasse para ser mais discreta.

“Ok, o erro foi meu kkkkk

Da próxima te apresento uma saga que já foi finalizada” — claro que ajudar sua amiga a ter um hobbie era legal, mas ele também gostava de ter uma desculpa para ir vê-la toda semana após a esgrima.

“Isso seria ótimo, obrigada.

Só podia já ter começado assim e eu não estaria com a vida temporariamente acabada.

Atenciosamente, Tsurigi Kyoko” — e a japonesa adorava se sentir tão livre para brincar com ele e não precisar ser tão séria quanto de costume.

“Kkkkkkkkkkkkk eu to adorando descobrir esse seu lado dramático

+ mudando de assunto

Vc vai dar uma passada na expo paris profissões hj?” — o guitarrista não pode deixar de morder o lábio em expectativa.

“Minha mãe não me deixaria ir por não achar necessário

Já tenho o futuro completamente escrito na empresa da família

Mas eu disse pra ela que era obrigatório e eu perderia nota na escola se faltasse

Meu boletim perfeito é importante demais para a senhora Tsurugi

Então ganhei uma chance de tentar pensar com meu próprio cérebro e descobrir se há algo mais que eu queria ser

Empolgadamente, Tsurugi Kyoko” — ela respondeu um tanto quanto orgulhosa de sua burlada nas regras de sua mãe.

“Seja lá o que decidir, vc vai ser incrível

+ se só por um acaso vc pensar em musicista como opcional...

opção...*

O meu stand estará sempre aberto pra vc” — convidou, sentindo o coração acelerar.

“Com certeza será o primeiro que vou visitar

E talvez mais algumas vezes durante o dia...

Misteriosamente, Tsurigi Kyoko”

O intervalo de Luka já estava acabando, assim como seu sanduíche, porém ele voltou a arrumar seu stand com muito mais ânimo ao confirmar a presença da japonesa.

Depois de deixar tudo pronto, o guitarrista foi para casa tomar um banho e se preparar para o dia cheio que ele também acreditava que seria bem gratificante por poder expor o amor que sentia pela música e como acreditava que ela tinha uma magia única que tocava as pessoas.

Quando Kyoko chegou o movimento ainda não estava dos mais fortes, ainda era cedo. E é claro que ela tratou logo de procurar o stand do jovem Couffaine. Demorou um pouco para achar, mas valeu a pena, pois sempre era muito inspirador ouvir a forma serena de Luka falar, ainda mais quando sua voz também carregava a convicção apaixonada de que esse caminho era o que ele realmente queria seguir na vida.

E ficar ali por algumas horas acabou sendo... Um tanto quanto esclarecedor.

Várias garotas se aproximavam e jogavam charme para Luka, o que não foi surpresa, já que além de lindo, ele tinha algo quase magnético no olhar que atraia qualquer pessoa. A parte que surpreendeu foi que, embora ainda houvesse umas pontinhas de ciúme em seu coração, a forma que sentia era completamente diferente de como era quando namorava Adrien.

O que tinha com seu ex era quase doentio de tão desesperado. Ele era alguém de quem sua mãe gostava, então acabava se tornando uma válvula de escape, já que eram pouquíssimas as interações que podia ter com pessoas de sua idade. Não que não gostasse dele de verdade, de fato tinham muitas coisas em comum e nenhuma pessoa no mundo poderia entender melhor o tipo de vida que Kyoko levava, mas a verdade era que ela tinha tanta angustia ao ver outras garotas perto do jovem Agreste mais por medo de ter que voltar a ser solitária como era antes do que de perdê-lo propriamente.

Já com Luka era tão mais... Leve.

Kyoko teve motivos que em nada tinham a ver com o guitarrista para burlar as regras de sua mãe, encontrou-o por acaso nesse processo e tornaram-se amigos de forma muito natural. E agora estava apaixonada por ele de forma muito mais saudável. Então o ciúmes que sentia era mais brando e logo passava, principalmente porque Luka conversava e instruía as meninas que chegavam ao stand, porém estava sempre lhe olhando de canto e sorrindo como se ela fosse a garota que mais importava ali.

Refletir sobre isso durante o dia a fez perceber que jamais sentiu o mesmo com Adrien. No fundo, ela sempre soube o coração do jovem Agreste nunca chegou a ser seu, por mais que ele tentasse vê-la assim.

E, mesmo não querendo ter esperanças demais para evitar se iludir e acabar sofrendo outra vez, Kyoko conseguia ver sentimentos reais no olhar azulado do jovem Couffaine.

Lá pelas tantas, um garoto loiro e baixinho cujo uma longa franja cobria metade do rosto cheio de sardas surgiu, deixando Luka surpreso.

— Nossa, chegou cedo. — ele disse ao vê-lo ali.

— Não cheguei não. To até um pouco atrasado porque parei pra tomar um sorvete do André ali perto da entrada. — o loirinho respondeu, erguendo a sobrancelha visível.

— Caramba. — Luka checou a hora no celular, em seguida olhou para Kyoko e sorriu. — É incrível como o tempo voa quando a gente tá em boa companhia.

— É, eu concordo. — ela disse com um sorriso tímido. — Mas eu não tinha percebi que estava aqui há tantas horas. Preciso dar uma circulada agora se quiser ter tempo de ver tudo.

— Ah, mas o Wallace disse que o André tá aqui. — constatou animado. — Não tá a fim de tomar um sorvete antes de olhar os outros stands?

— Não posso, já desviei muitas horas do meu cronograma em uma barraca só. Valeu a pena, é claro. No entanto, preciso começar logo. — Kyoko negou o convite educadamente e se despediu, sumindo entre os stands.

— Quem é a gata? — Wallace, o garoto loirinho, perguntou com um sorriso sugestivo.

— O nome dela é Kyoko. — Luka sorriu no automático ao pronunciar o nome.

— Hmmm, e ela é a sua namorada? — o tom ficou ainda mais sugestivo depois daquela expressão fofa.

— Namorada... — Luka repetiu ficando pensativo, então voltou a sorrir e murmurou em um volume mais baixo. — Não.

— Ué. Então por que essa carinha? — Wallace ergueu uma sobrancelha, confuso.

— Porque eu não tinha notado até agora. — o guitarrista tocou a palheta no cordão em seu pescoço e percebeu que não doía mais. — Tem outra melodia na minha cabeça...

— Cara, você sabe que eu te amo, mas na moral, não entendo bulhufas do que tu fala. — comentou rindo e passando os dedos pela franja loira, tirando-a da frente do olho só por um segundo e deixando-a cair de volta para o mesmo lugar.

— E nem precisa. — respondeu aumentando ao máximo o sorriso e se virou para pegar a carteira na mochila. — Eu vou comer alguma coisa e dar uma olhada por aí. Bom turno pra ti, meu querido amigo.

Wallace apenas riu e negou com a cabeça ao ver Luka saindo dali todo “serelepezinho”.

Nenhum morador de Paris desperdiçaria uma chance de tomar um sorvete do André se soubesse onde ele estava, então o guitarrista seguiu para perto da entrada, sorrindo mais ao ver Marinette de pé conversando com o sorveteiro, o que lhe ainda mais vontade de se aproximar.

— ... Morango e cereja para a mocinha indecisa e pistache e nozes para o rapaz decidido. — o sorveteiro já havia lhe visto.

Porém a Dupain-Cheng não, então perguntou confusa. — O que? Mas que rapaz?

— Oi, Marinette. — murmurou, precisando prender o riso quando a viu de assustar.

— Oh, não, não! É que... Olha... Eu e o Luka... Nós somos só... Er... — o guitarrista podia não estar mais apaixonado, mas tinha que admitir que ela era muito fofa se atrapalhando toda com as palavras.

— Amigos. Somos amigos. — ele mesmo completou sorrindo, animado porque não era mais doloroso dizer isso, estava de fato superando.

— Não precisam estar apaixonados para compartilhar um momento mágico. — André sorriu com sua gentileza de costume.

— Valeu, André. Mas não vou roubar metade do sorvete da Mari. — Luka constatou, até porque seria estranho dividir o que era conhecido como “o sorvete dos apaixonados” com sua ex namorada. — Pode fazer uma mistura pra mim?

— Claro, num instantinho. — mais que depressa ele pegou o boleador e uma taça nova. — Sabor baunilha é sempre uma boa pedida, acompanhado de sorvete de café para um rapaz que sempre sabe o que quer.

Assim que pegou a taça das mãos do sorveteiro, Luka sentiu o estômago se enchendo de borboletas. Café. Era o favorito de Kyoko. Seria isso um sinal? Ele esperava que sim.

Luka e Marinette se despediram de André e foram andando e conversando por entre os stands. A padeira estava cheia de receios e foi um prazer para o guitarrista falar sobre e ajudar, ainda mais quando encontraram Adrien que também parecia triste e angustiado, pois além de dizer algumas palavras para confortar o modelo, conseguiu fazer Marinette conversar com ele sem se perder ou se atrapalhar. Foi um momento muito legal. E o mais importante: confortável para todos os três.

Bem... Isso até serem interrompidos por um Jagged Stone em forma de crocodilo. Isso mesmo, em forma de CROCODILO.

Por um momento os três pensaram que ele havia sido akumatizado, mas logo um caos se instaurou ao seu redor, demonstrando que a akumatização do dia era bem mais grave e séria do que isso. Então precisaram se separar para buscar abrigo, porém logo Luka teve o instinto de tentar proteger sua amiga Marinette, mas quando foi onde a padeira deveria estar escondida, o lugar estava vazio e antes que tivesse tempo de procurá-la, Ladybug apareceu precisando de sua ajuda como Viperion.

Não importava quantas vezes fizesse isso, era sempre um sensação incrível poder dizer. — Sass, soltar escamas.

Sentir seu corpo ser envolto pela luz enquanto o uniforme se materializava era mágico, literal e figurativamente. Claro, se tornar um herói era uma grande responsabilidade, porém era gratificante ajudar a manter Paris segura.

Assim que os dois ativaram seus poderes, começaram a correr em direção a luta.

Ao chegar perto, Viperion viu Cat Noir usar seu bastão para rebater uma rajada de poder do vilão cujo nome era Wishmaker, a estrela de seis pontas multicolorida foi desviada para o lado, atingindo Kyoko que estava ajudando algumas pessoas a fugir para se esconder.

— Não! — gritou, parando de correr.

A japonesa foi envolta por uma luz amarela, verde e roxa e disse. — Quando criança, eu queria me sentir boa o bastante.

Então ela explodiu em pixels coloridos como os que se vê na televisão, era até bonito de se ver. E quando sua imagem se formou de novo era uma Kyoko pequenininha, como se tivesse seis ou sete anos, com o pescoço pesado de tantas medalhas e cercada de vários tipos diferentes de troféu.

— Ah, Kyoko… Se você soubesse o quão incrível já é. — murmurou, olhando-a com um grande pesar.

— Viperion. — Ladybug chamou com urgência na voz. — Nós podemos trazê-la de volta, assim como todos os outros. Mas eu preciso que você se mantenha focado. Pode fazer isso?

— Posso. Desculpa, Ladybug. — disse, sacodindo a cabeça e voltando a postura de herói. — Vamos pegar aquele akuma.

A batalha não foi uma das mais difíceis que Luka enfrentou como Viperion, porém com certeza teve o desfecho mais inesperado. As coisas não mudariam, pois o sentimento romântico já havia passado para ambos, mas descobrir aquilo abriu sua mente sobre a ex namorada, agora podia entender tudo e saber o peso gigantesco que Marinette carregava sobre os ombros. E ele faria tudo o que pudesse para ajudá-la dali para frente. Bem discretamente, é claro.

Porém, no momento, ele tinha outro assunto para resolver.

Luka Couffaine gostava de se dizer uma pessoa transparente, então agora que sua ficha havia caído, ele precisava encontrar a japonesa para dizer o que estava sentindo.

— Ei, Kyoko! — gritou ao vê-la de longe, então começou a correr em sua direção.

— Luka! — ela exclamou de volta, também correndo de encontro a ele.

— Você tá bem? — os dois disseram ao mesmo tempo, olhando bem um ao outro.

— Tudo bem, pode ficar tranquilo. — Kyoko sorriu de leve, feliz dele ter se preocupado.

— Que bom. — o guitarrista sorriu aliviado, mas em seguida se sentiu corar. — Se não for um momento ruim, tem uma coisa que eu queria te dizer.

— Em Paris? — a japonesa riu com um pouco de deboche, mas não de um jeito maldoso. — Qualquer hora em que não tem alguém akumatizado é uma boa hora.

— É, isso é verdade. —Luka também riu, sentindo o nervosismo diminuir um pouco com aquela brincadeira, então colocou a mão sobre o peito e respirou fundo, ouvindo o coração para poder falar. — Kyoko Tsurugi… Você é uma música complexa. E profunda... É difícil de aprender por inteiro, mas quanto mais ouço mais percebo o quão linda é essa melodia. Eu adoraria ouvir todos os dias e descobrir cada nota, cada detalhe.

Kyoko ficou em choque por um instante, então piscou bem devagar, pigarreou e disse. — Esse é seu jeito estranho e fofo de dizer que quer ser meu namorado?

O leve rubor nas bochechas de Luka se tornou quase um escarlate, mas ele continuou a olhá-la nos olhos ao responder. — Sim.

Aos poucos um sorriso lindo foi se espalhando pelos lábios de Kyoko, fazendo seus olhos parecerem um pouco menores.

— Eu queria pensar em uma resposta tão bonita quanto o seu discurso, mas só consigo pensar "eu também quero. E quero muito".

Luka sorriu, sentindo uma felicidade genuína explodir em seu peito. — Pra mim isso é o bastante.

Os movimentos de ambos foram tão precisos que até pareciam ser combinados. Ao se aproximar uma mão de Luka repousou na bochecha de Kyoko e a outra na cintura, enquanto as dela foram parar uma nas costas do guitarrista e a outra mergulhou nos cabelos tingidos de azul. Seus lábios se encaixaram assim como seus corpos, na mais perfeita harmonia.

Foi um beijo lindo e cheio de emoções. Dava para sentir o amor exalando daquele jovem casal e não tinha como olhar sem sorrir.

Porém assim que se separaram a bolha de felicidade que Kyoko havia construído ao seu redor começou a se desfazer e aos poucos seu sorriso foi murchando.

— O que foi? — Luka perguntou, ficando sério também.

— Tempo. — ela murmurou com tristeza escorrendo na voz. — Nós só nos vemos cinco minutos por semana ou menos na saída da esgrima. Eu preciso estar em uma equipe pra poder competir, não poderia continuar faltando os treinos pra sempre. Você sabe que a minha mãe é muito rígida e não aprovaria a gente, não sei como eu vou conseguir te ver.

O guitarrista riu e a puxou para junto de seu peito, então depositou um beijo carinhoso nos cabelos da namorada.

— Eu não desistiria da gente nem que fosse um minuto por mês. — concluiu em seu tom suave e reconfortante. — A gente vai dar um jeito nisso.

— Ou mais especificamente, eu vou dar um jeito nisso! — exclamou Marinette, saindo de trás de uma lata de lixo com uma pose determinada.

— Não. Nós vamos dar um jeito nisso. — disseram ao mesmo tempo Rose e Juleika, que saíram de trás de um par de coqueiros onde não estavam tão bem escondidas assim.

— E nós vamos ajudar. — se ofereceram Alix e Mylène levantando do banco de madeira onde estavam sentadas junto a Nathaniel e Marc que concordaram silenciosamente com acenos de cabeça e sorrisos.

— Bem, vocês… Vocês podem contar comigo também. — Alya, um pouco mais relutante e vermelha de vergonha, saiu de trás da mesma lixeira que Marinette.

— O que vocês… Como vocês… — Luka balbuciou confuso antes de sacodir a cabeça, se dando tempo para formular uma frase coerente. — Quando foi que vocês chegaram aqui?

— Eu só tava procurando a Kyoko nós não nos vemos muito e somos amigas mas aí você chegou e pareceu ser o tipo de conversa que não se interrompe então eu educadamente fiquei esperando que vocês acabassem e talvez por mera coincidência eu tenha ouvido… A conversa toda. — Marinette explicou falando muito rápido, tanto que era até difícil entender, em seguida puxou o ar e forçou um sorriso.

— Eu estava te seguindo pra avisar que vou jantar na casa da Rose. — Juleika disse bem baixinho, apontando para a namorada que acenou ao seu lado. — Mas… Você estava ocupado e eu decidi esperar. De pertinho só pra saber quando tivesse acabado.

— E a gente já tava aqui antes de vocês chegarem, só que nenhum dos dois reparou. — Alix constatou, indicando com o polegar o banco de madeira atrás de si.

— Eu tava com a Marinette e não consegui segurar ela atrás da lixeira. — Alya confessou, sorrindo de canto como um pedido sutil de desculpa para o casal.

— Ah… Entendi. — Luka ficou totalmente vermelho ao saber que todos ali ouviram sua declaração de amor inteira, mas tentou ignorar isso. — Bem… Valeu pela oferta, mas o que vocês podem fazer pra dar mais tempo pra gente ficar junto?

— Você não precisa se preocupar com isso. — Marinette o tranquilizou com um sorriso determinado. — Bolar planos loucos e super elaborados pode não ser a praia de vocês, mas é a nossa especialidade. Não é, galera?

— Isso aí! — todos embarcaram junto na confiança exagerada da padeira.

— A partir desse momento o casal hashtag Lukyoko está sob os cuidados da Super Liga Das Melhores Amigas de Paris. — Marinette abriu os braços simbolizando as asas sob as quais o casal estava protegido, em seguida colocou uma mão na cintura e fechou a outra em punho. — E a força do amor vai nos guiar!

Todas as meninas começaram a bater palmas, assobiar e gritar em apoio, mas Nathaniel virou para Marc e sussurrou para que só ele ouvisse.

— Não é estranho a gente fazer parte de uma liga de “melhores amigas”?

— Pra mim não é. — Marc deu de ombros e sorriu timidamente antes de se juntar a algazarra das garotas.


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Notas finais do capítulo

Como devem ter percebido, eu tentei corrigir alguns erros da série como a mãe cega da Kagami não achar ela boa desenhista.
Espero que tenham gostado. Eu amo essa série e acho que ela teria tanto potencial se as coisas andassem pra frente e não em círculos.
Enfim, obrigado por lerem.
xoxo
Atenciosamente, Leonardo Guedes.



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