A última semana na casa dos Dursleys não foi nada boa, e tio Valter não estava de bom humor ao deixar Harry na estação. Riu de forma maldosa ao explicar para o garoto que não havia plataforma nove e três quartos, e foi se virando para ir embora e largar o menino ali.

"Não senhor. A plataforma está bem ali, entre a 9 e a 10. Preciso atravessar pela parede." Explicou. "A propósito, não precisa me enviar presentes de natal, eu não quero cabides e nem meias velhas. Mas um chocolate seria bem vindo. Nos vemos no próximo verão".

Tio Valter não deu tempo para que dissesse mais nada, e também não respondeu. Foi embora resmungando, como sempre, atento aos olhares curiosos que se voltavam à coruja do garoto.

Agora que tinha sua varinha de volta se sentia muito mais confiante. Só precisava ter certeza de que os feitiços sairiam com a mesma precisão. Será que o corpo e a mente de um bruxo precisavam estar 100% conectados para que tudo saísse perfeito? Bom... Dumbledore era um senhor de idade, e ainda assim era o bruxo mais poderoso da terra.

Absorto em seus pensamentos, Harry nem viu a chegada dos Weasleys, e quase tropeçou no carrinho quando Molly gentilmente perguntou se ele precisava de ajuda para chegar no trem.

Ali estavam Ron, Fred, George e... Gina! Uma pequena Gina, tímida e sorridente, muito, muito distante da Gina que ele amava. Muito diferente da linda mulher ruiva com quem ele se casou. A Gina jogadora de Quadribol, destemida, independente, poderosa, que lutara contra comensais da morte ao seu lado por tantas vezes...

Merda. Pensou desesperado. Se continuar revivendo o passado implicaria, de qualquer forma que fosse, em perder Gina e seus filhos, ele precisava dar um jeito de voltar ao futuro.

Isto porque era muito claro que não havia a menor possibilidade de reviver a história de amor que vivera com ela durante os seus anos de juventude em Hogwarts, não agora que ele estava tão velho e ela tão nova. Aquela não era a sua Gina.

E não reviver a história de amor poderia significar perdê-la para sempre. Ele tinha que dar um jeito de voltar.

Os gêmeos, engraçados como sempre, o acompanharam até o trem, e dessa vez ele e Ron foram diretamente para o mesmo vagão.

Se George soubesse que em tão pouco tempo estaria para sempre separado de Fred, será que faria algo diferente?

Harry gostava muito dos Weasleys, e sofreu muito com a perda... mas ninguém sofreu mais do que o gêmeo.

Ron era seu melhor amigo, e apesar da idade, assim como Hagrid, ele continuava com a mesma sensação familiar, aconchegante, que tivera da primeira vez, sempre que estava ao seu lado. Um Harry muito menos tímido e que sabia muito mais sobre o ruivo do que ele poderia imaginar, conseguiu conquistá-lo com facilidade e logo se tornaram amigos - novamente.

A viagem seguiu tranquilamente. Harry comprou o carrinho inteiro de doces e os dois riram bastante.

"Eu acho muito legal corujas. Elas levam e trazem correspondência, sabe. São muito fortes... Mas mamãe e papai não podem me dar uma". Disse enquanto admirava Edwiges e mastigava um palito cor de rosa açucarado.

"Não tem problema, você pode pedir pra Edwiges te ajudar quando precisar, se ela quiser e puder, claro".

Hedwiges piou baixinho.

"Eu tinha um rato, o Perebas..."

Harry arregalou os olhos e interrompeu o amigo.

"E onde ele está!? Não deveria estar aqui?"

"Você é fã de ratos?". Ron pareceu ligeiramente assustado com a reação. 

"Não sou, mas deve ser interessante, não é?  Um rato mágico."

"Ah, ele de mágico não tinha nada. Ele desapareceu um dia desses em casa. Não conseguimos encontrá-lo a tempo de trazê-lo conosco".

Harry guardou a informação. Pettigrew estava vivo e vagando por ai. Mas o mais estranho era que as coisas não se repetiram como antes. Na primeira viagem no Expresso de Hogwarts, o rato estivera ali... E agora não estava mais. 

Logo Hermione se juntou a eles, pois estava procurando o sapo de Neville.

Harry se apresentou como Harry Potter, e a garota, assim como todos, se mostrou surpresa. Logo em seguida olhou para Ron e perguntou, com desdém, quem ele era.

Seu futuro marido, é claro. Harry pensou e riu. Quem via aqueles dois ali jamais imaginaria que acabariam casados...

Hermione era realmente muito chata quando se conheceram. Mas Ron também parecia um bobão atrapalhado, mas era extremamente corajoso, e ela extremamente inteligente. As primeiras impressões que ambos passaram eram bem esquisitas.

E então apareceu Draco com seus capangas Crabbe e Goyle, e como da outra vez, destilou todo o seu ódio em Ron.

Ron foi ficando progressivamente vermelho e furioso.

E então Harry notou, ainda que por brevíssimos instantes, que Hermione corou ao ver Malfoy chegar. Claro que a menina imediatamente fechou a cara quando ele começou a falar... Mas aquilo aconteceu. Em algum momento da vida, Hermione sentiu algo de bom por Malfoy... Talvez até mesmo tenha achado ele bonito, ainda que por pouquíssimo tempo.

"Draco, não acho certo ofender as pessoas pelas vestes que usam". Começou Harry. "Isso diz muito mais sobre quem fala do que sobre quem usa".

"Você vai perceber que existem famílias melhores do que outras, Potter. Eu posso te ajudar a se juntar às melhores".

"Eu tenho uma proposta então". Começou Harry sutilmente sarcástico. "Eu me uno a você se você abrir mão de Crabbe e Goyle. Sabe, eu não fui muito com a cara deles. Eles parecem muito burros".

Draco olhou para os dois, sabendo que era impossível discordar de Harry quando ao grau de intelecto de ambos.

Harry se lembrava de Goyle incendiando a Sala Precisa, e se matando no processo. Era um grande imbecil.

"Não tem problema Draco. Eu sei que é difícil abrir mão dos amigos, por pior que eles sejam. Eu estava brincando. Não acho uma boa ideia fazer inimizades, estamos começando na escola agora. O bom é termos mais pessoas e sermos populares, não é?"

Malfoy ia dizer alguma coisa, mas desistiu.

"Nos vemos por ai, Potter".

Ron parecia estar se sentindo altamente ofendido. 

"Que raios, Harry... Por que?"

"Eu não gosto dele, e nunca trocaria você por ninguém, mas sei que ele vem de uma família complicada e tenho certeza que no futuro ele vai pagar caro por ser um babaca. Só acho que é melhor pra nós deixarmos ele pra lá, a vida dele não é da nossa conta e se brigarmos de volta, provavelmente vamos perder um bom tempo com as provocações.idiotas dele ao longo do ano".

"Mas não podemos ficar engolindo".

"Não. Mas tenho certeza que a Hermione vai ser uma das melhores alunas da escola e você um dos mais corajosos. Ele vai viver com inveja, Ron. Quer vingança maior que essa?".

Hermione parecia felicissima. 

O resto da viagem seguiu sem interrupções, mas Harry fez questão de manter Hermione com eles até chegarem no castelo. Pela segunda vez na vida, foram de barco para Hogwarts, e pela segunda vez na vida, Harry esperou pela seleção.