Eu deveria ter sido sincero com meu coração desde o início, mas me deixei levar por beleza e palavras vazias. Eu, Harry James Potter, quase a perdi antes de ganhar. Achara estar apaixonado por outra pessoa por anos, preso no feitiço de uma luxúria idiota. Por minha ignorância surda, não vi a garota por trás daquele cabelo vermelho.   

Gina Weasley era uma flor. Ela desabrochara diante de meus olhos, desabrochara lindamente, feito uma rosa. Eu a vi deixar de corar, deixar de gaguejar, deixar de alimentar esperanças a meu respeito. Eu a vi crescer, a vi firmar sua personalidade durona, divertida, sarcástica e bela. Acima de tudo, a vi se tornar aquilo que eu, Harry James Potter, quase deixara passar. 

Quando eu me vi apaixonado pela irmã do meu melhor amigo, foi como se tudo ao meu redor se tornasse nitidamente estranho. Eu não poderia, poderia? Não deveria cobiçar a irmã do cara que eu via como um irmão. Infelizmente não mandamos no coração, e foi assustadoramente e categoricamente, que eu percebi nunca ter sentido tamanho sentimento por Cho Chang. 

Na adolescência costumamos confundir amor e desejo, e o que eu sentia por Gina Weasley não era desejo. Sabe quando você quer a pessoa por perto por sua personalidade divertida e sorriso? Por mais que eu a achasse linda, com todas aquelas sardas correndo soltas como estrelas por aquele rosto e corpo de rainha, eu gostava muito mais de sua personalidade. 

Gina dançou ao meu redor, dançou tão lindamente que eu não pude deixar passar. Quando eu me vi, já não suportava mais imaginá-la machucada, muito menos com qualquer outro cara senão eu. Eu precisava dela, da mesma forma que precisava do ar que eu respirava. Mas como a tê-la quando parecia tão errado? E como eu poderia saber se ela, a garota que parara de alimentar esperanças a meu respeito, ainda sentia algo por mim? 

E foi assim que eu joguei tudo para o alto. E eu notei, depois de achar ter cometido um erro, que ela sentia, que ela ainda sentia. De alguma forma estranha e até mesmo hilária, Gina ainda sentia algo por mim, algo reciproco. E eu tive que aproveitar a chance, pois reciprocidade não se encontra em qualquer lugar. 

Os lábios dela tinham um gosto muito melhor do que eu imaginava e o sorriso que me lançava sempre que nos separávamos para as aulas ou para irmos dormir era perfeito. De repente eu me vi pensando no nosso casamento e futuros filhos. Me vi almejando uma casa com cerca branca de madeira e um quintal gigantesco. Eu queria e me perguntava se ela queria também. 

E, de repente, todos os meus planos de futuro perfeito com Gina Weasley caíram por terra. A guerra havia batido à porta a tempo e eu sabia ser O Eleito, o cara que viveria ou morreria. E aí, com Dumbledore morto, eu me perguntava quais eram chances de eu viver, e se eu poderia fazer isso por Gina e a casa de cerca branca com quintal gigantesco. 

 Com o coração nas mãos, eu deixei todo o meu amor para trás. Eu deixei a casa de cerca branca de madeira e o quintal gigantesco. Eu a deixei. 

Naquele campo minado, com Rony e Hermione, além dos muitos problemas, a imagem dela antes de dormir era tudo que me acalmava. Eu pensava nela ao mudar de acampamento, ao lembrar de meus pais, Cedrico, Sirius e Dumbledore. Pensei nela quando Rony foi embora e quando voltou. Eu sonhava com ela em meus braços, sonhava com uma casa de cerca branca de madeira e chorava silenciosamente.  

Quando tudo acabou e eu notei, surpreso, que estava vivo para contar a história, a primeira coisa que eu pude pensar em fazer foi abraçá-la. Minha garota, minha felicidade, o motivo para eu estar vivo, em meus braços. Naquela noite eu chorei, chorei nos braços calorosos que me rodeavam, chorei feito um bebê perdido e eu a beijei, a amei.  

A verdade é que eu, Harry James Potter, amava os Weasleys, mas Gina Weasley se tornou minha favorita. Que Rony não ficasse sabendo de minhas palavras. 

A minha felicidade era ela, a mulher dos meus sonhos em frente à casa de cerca branca de madeira.