Bons Momentos - ShinoKiba (Vol. 02) escrita por Kaline Bogard


Capítulo 16
Bons Momentos - de arranjos preciosos


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Kazumi era uma força da natureza. Em muitos sentidos, exceto no literal. A moça não era fisicamente forte: uma Ômega de estatura acima da média, mas peso de menos. Um tiquinho de peso a menos e seria preocupante... Tinha cabelos curtos escuros e olhos de um tom enigmático. Pareciam acinzentados ou ametista, até mesmo azulados. Tudo dependia da incidência da luz e do humor da jovem moça. Ah, e como esse último era contagiante. Os lábios viviam esticados em um sorriso fácil. E não tinha pudor algum em perguntar tudo o que sua curiosidade ordenasse.

Ela chegou a Konoha num dia sombrio de inverno e, surpreendentemente, trouxe primavera ao coração de Shibi. O sombrio líder do Clã Aburame deu início a uma tradição que seria brincadeira entre os descendentes dali em diante: Alphas Aburame se apaixonando por Ômegas exóticos.

A correspondência foi inegável. Kazumi se apaixonou pelo Alpha de óculos escuros e grandes casacos, silencioso e atento. Brusco em seus gestos, com tão pouca delicadeza que beirava ao rude. Pois por baixo dessa casca grossa de aparências, havia a essência gentil e empática que conseguiu atingir o lado Ômega e conquistar também a parte humana.

Kazumi era uma viajante sem parada fixa e deixou muito claro desde o início: não pretendia criar raízes em lugar algum, ao menos não enquanto estivesse viva. Só pretendia ter uma morada definitiva em que aquele corpo repousasse e, ainda assim, pretendia que a alma vagasse livre por todos os mistérios que rondavam o pós-morte.

Aburame Shibi aceitou os termos. Era melhor amar e perder do que nunca sequer tentar. Fosse uma convivência por pouco tempo, no coração daquele homem seria eterno. Mas no fim das contas a permanência de Kazumi foi mais longa do que ela planejou.

Como uma Ômega experiente e viajada, que viu de tudo enquanto andava pelo mundo, compreendeu fácil que Shibi era Alpha de um único amor. Que teria sua vida marcada pelos poucos meses que viveram juntos e talvez nunca aceitasse outra companheira. Então não conseguiu simplesmente juntar os parcos pertences e voltar à estrada, sem antes não oferecer um presente.

Esticou a estadia em Konoha por um ano e meio, praticamente o dobro do que pretendia ao chegar ali, e quando foi embora deixou uma oferenda para Shibi. Uma trouxinha pequenina e cheirosa, com olhinhos curiosos e uma personalidade que parecia pacata.

Kazumi partiu dando a Shibi o melhor de si, tudo o que trazia de bom: um filho amado, a lembrança viva de um grande amor. Um legado que seria eterno.

***

Aquela era a história que Shibi contava pela segunda vez na mesma manhã. A memória do pobre homem já não era a mesma, afinal, o velhinho alcançou a casa dos oitenta anos. O desgaste era real.  E não apenas físico.

Shino, sentado ao lado da cama de hospital, segurava na mão do pai, sentindo os dedos magros e delicados. Não havia palavras suficientes no mundo para descrever o susto que levou com a ligação: estava trabalhando na sala, mergulhado na rotina de Coordenador, quando a equipe médica ligou avisando que seu pai sofreu um infarto. Ele morava sozinho, mas conseguiu pedir ajuda a uma vizinha e foi socorrido a tempo.

A verdade é que dois anos atrás a família levou um golpe irrecuperável, quando um acidente de ônibus tirou a vida da Aburame Hikaru. Depois disso, houve lágrimas e dor em medidas esmagadoras para se lidar. E cada um sofreu a sua maneira. Shibi se afastou ainda mais do convívio, um homem que era introspectivo por natureza, passou a evitar reuniões, até mesmo sair de casa para coisas mais simples.

Shino viu isso como uma proteção, não era fácil para Alphas lidar com os próprios sentimentos. E talvez tivesse sido uma péssima decisão. Talvez devessem ter insistido em trazer seu pai para mais perto, ainda que ele não conseguisse expressar a dor da perda e preferisse o isolamento.

Por uma graça dos deuses ganharam a chance de corrigir isso. Não foi um infarto fulminante, Shibi recebeu a graça de estar vivo ali com eles. E Shino faria tudo ao alcance para prolongar isso. Pois aquele homem era mais do que seu progenitor: era um guerreiro que edificou uma excelente criação ao filho, apesar dos olhares de julgamento e desconfiança por ser um Alpha que não conseguiu manter a Ômega ao lado, e teve que educar o filho sozinho.

Enquanto essas divagações passavam pela mente de Shino, o silêncio reinou sobre o local. Mas não durou muito. Logo a porta do quarto foi aberta e Kiba passou por ela. Vinha com um sorrisão, cheio de gestos e um tanto sem fôlego.

— Eh, sogrão! Que susto deu na gente, hein?! Não faça mais isso! — Começou a bronca até colocar os olhos sobre a figura frágil e magrinha sobre a cama. Então cobriu os olhos com o antebraço e abandonou a pose displicente. — Não posso perder mais ninguém.

Shino observou o pranto sofrido. Havia presenciado tantos no decorrer daqueles dois anos... Perder a filha causou uma ferida que nunca cicatrizaria. E ao entrar no quarto de hospital, Kiba tomou outro choque de realidade. Shibi sempre foi um espelho mostrando o futuro de Aburame Shino. Kiba via no homem um Alpha forte, inabalável, duro e cheio de vida. Características que desapareciam, presenteando-os com um velhinho delicado, tão magro e frágil! Talvez nem estivesse se cuidando direito, isolado do jeito que vivia! E como a família pôde ser tão cega? Estavam assim tão mergulhados no sofrimento que se tornaram incapazes de ver quem estava ao lado, precisando de ajuda?

Tsume ia numa condição muito mais forte. Ela morava com Hana, a jovem nunca se casou. Manteve um ou outro relacionamento ao longo dos anos, mas nada especial o bastante para fazê-la se comprometer. Isso dava segurança e garantia bons cuidados à matriarca Inuzuka.

Enquanto Shibi envelhecia sozinho.

Kiba sentiu-se culpado e negligente com alguém importante e amado, que era parte insubstituível da família.

— Desculpa, Shibi-san. Temos um quarto vago em casa pronto para ser ocupado. — Kiba falou com firmeza, fingindo não estar chorando. — E nós não aceitemos “não” como resposta. Certo, marido?

— Com certeza. — Shino concordou depressa. Shibi revelou que considerava o filho como o maior dos presentes. Pois se sentia exatamente assim em relação ao pai. Aquele homem era seu exemplo, o melhor presente que a vida poderia lhe dar.

***

O quarto vago era o antigo que Masako dividia com a irmã, que pela ocasião da formatura foi morar com o noivo. E depois da morte de Hikaru ficou vazio. Kiba não tinha coragem de entrar no cômodo nem mesmo para tirar as coisas da fadinha bailarina. Shino foi protelando e prolongando a situação.

Agora tinham um excelente motivo para finalizar aquele ciclo. Era o momento certo de dar adeus a menina, que partiu sem se despedir. E cuidar melhor de alguém que precisava de ajuda.

Kiba chorou durante cada segundo do processo. Ao recolher as roupas joviais, todos os pertences que Hikaru amava e que acumulavam pó naquele santuário de dor. Shino estava ao lado, partilhando o sofrimento em igual medida.

Tal processo iniciou a cura necessária para ao casal.

Ao trazer as coisas de Shibi, foi um Ômega renovado que tomou a liderança da situação. Precisava ser forte para acolher e dar uma certeza ao velhinho: ele era bem-vindo, não era um incomodo e seria muito cuidado ali. Shino ficou orgulhoso e feliz em saber como estimavam seu pai.

E a surpresa maior foi por conta de Yukio. O filho mais velho de Kaoru acabou se adaptando demais ali, e não aceitou conviver com o pai e a madrasta que esperava o primeiro filho do casal. O Beta de doze anos escolheu viver com os avós, requerendo para si o quarto que era do pai.

Yukio exultou ao ter o bisavô morando ali! Apegou-se a ele com ainda mais facilidade, meio que “adotando-o”. Do susto causado pelo infarto inesperado, apenas coisas boas aconteceram.

CENA EXTRA

— Diga “ahhh” bisa! — Yukio orientou com uma paciência tocante.

Shibi obedeceu, com certa diversão, entreabrindo os lábios e aceitando o pedaço de maçã que o menino lhe entregava preso em um palitinho, igual a vários cortados em formato de coelhinho. Ambos estavam sentados no quintal dos fundos, tomando o solzinho fresco da manhã.

Kiba chegou trazendo uma jarra com suco de laranja e os remédios do sogro. Ele precisava de vários para garantir a saúde. Parando na porta de acesso, observou a cena. Shibi já estava mais forte, com um bom aspecto. A magreza exagerada desapareceu e o Alpha não parecia tão fraco. Realmente ele se negligenciava morando sozinho. Em poucos meses de mudança já notavam uma diferença enorme!

Quase riu quando Yukio pediu um novo “diga ‘ahhh’ bisa”, alimentando o avô com pedacinhos de maçã. Quem diria? Aquele homem assustador e quase sinistro agindo assim tão dócil. E quem diria, o pequeno tubarão (estampa da blusa favorita) Inuzuka acabaria tão apegado e cuidadoso. Mas dessa parte nem deveriam desconfiar! A criança sempre foi um doce com todos, exceto com o pai. Yukio se comunicava com Kaoru através de mordidas e puxões de cabelo!! Praxe que desapareceu à medida que ele crescia. Ainda bem, pois era tenso pensar em um adolescente de doze anos mordendo a mão do próprio pai!

— Olha o suco, cambada! Hora de refrescar a garganta!!

Venceu a emoção, avançando pelo gramado. Sentia isso todas às vezes que via cenas assim familiares. Cenas que Kiba pedia com fervor que se repetissem por por muito tempo mais.


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Notas finais do capítulo

Essa arte ♥



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