Bons Momentos - ShinoKiba (Vol. 02) escrita por Kaline Bogard


Capítulo 13
Bons Momentos - O drama dos 16 (Hikaru)


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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E houve um momento que de bom não tinha nada. Absolutamente nada, a não ser o efeito de transformar todo o passado em um marco valioso, como um baú que guarda tesouros, e esses tesouros são cada lembrança vivenciada até então.

Kiba estava preparado para o “Drama dos Dezesseis”. Depois de levar um baque com Masako e outro maior com Kaoru, sabia que a tradição se repetiria com Hikaru. Viesse ela com um namoradinho ou um filho, saberia lidar com isso. Fazia até piada às vezes.

Apesar de reclamar, Kiba não tinha real rancor sobre os dramas. Agora convivia com um “yakuza” e seu “família” tatuado na virilha.  Masako já era formada, advogando e noiva de Shinta, com muitos planos para o casamento em breve. Afinal, “já estamos chegando nos trinta” a jovem mulher brincava. Não podia perder para Kaoru, hum?

O jovem psicólogo, que trabalhava no principal hospital de Konoha, casado e com o segundo filho encomendado. Na verdade, terceiro. O pequeno Yukio, fruto de um namoro adolescente, passara mais tempo com os avós, a quem era muito apegado, naqueles dez anos do que com o pai e a nova família. Mal via a mãe, que teve garra de conquistar os sonhos e se tornar uma atriz que começava a aparecer em grandes papeis.

E Hikaru dava passos largos para realizar um dos sonhos: seguia firme no propósito de ser uma bailarina profissional. Colecionava troféus de variadas competições. Mesmo sendo aluna do segundo ano Colegial já tinha algumas faculdades de olho no talento da menina.

Masako desistiu do basquete, assim como Kaoru do judô.

Mas Hikaru era aquela decidida a trazer orgulho a Kiba através das perfeitas danças que executava no balé.

O “drama dos dezesseis” de Aburame Hikaru aconteceu em uma sexta-feira abafada de setembro. A equipe de balé participaria de uma eliminatória para garantir vaga nas apresentações de inverno. Masako era a grande preferida, claro. Kiba não tinha a menor dúvida de que ela venceria mais aquela e iria brilhar na final.

Como pai coruja que era, tentava acompanhar sempre que possível. Agora dois dos filhos estavam crescidos e caminhavam com as próprias pernas. Yukio era criança e ficava mais sob a guarda dos avós, por ser muito apegado a eles. Ia para a casa do pai de vez em quando e mal passava alguns dias já chorava de saudade de Shino-jiji e Kiba-jiji, largando um Kaoru desolado e cheio das lembranças de um bebe que o presenteava com mordidas e com o couro cabeludo dolorido de puxadas.

Shino trabalhava de Vice Coordenador e Kiba ia de vez em quando ajudar na clínica da irmã, como um funcionário de arubaito, apenas para passar o tempo. Essa liberdade permitia que fosse aos estádios torcer pela filha, assistir suas apresentações e gravar tudo para Shino assistir depois.

Kiba chegava mais cedo, acompanhando os ônibus de vários colégios que participariam das inúmeras competições. Ficava na quadra de balé, com muito espaço vago na arquibancada e torcia, sempre empolgado e emocionado. O talento de Hikaru era inegável.

Vez ou outra acenava, ganhando um aceno de volta e sorrisos que eram pura felicidade.

A jovem de dezesseis anos não era tão alta quanto Masako, nem mesmo quanto Kaoru, mas alcançava Kiba, provando que os genes Aburame podiam ser bem fortes nessa questão. Era delgada, embora não muito magra, de constituição longilínea, era dona de pernas longas e elegantes, que parecia marca registrada de uma bailarina. Os cabelos haviam assentado desde a infância, nem parecia aquele agrupamento selvagem de fios de quando era criança. As marcas vermelhas no rosto se destacando na pele pálida, que se bronzeava com facilidade invejável.

Sorria demais ao subir no pódio mais alto e receber a medalha do primeiro lugar, junto com o buquê mais encorpado.  Mas, ainda que não vencesse aquela competição, seria aos olhos de Kiba a dançarina mais perfeita.

Pai e filha despediram-se com um breve aceno. O Ômega queria se aproximar, abraçar a menina e se vangloriar. Mas estava ali como mero expectador. Pôde voltar tranquilo para casa, usando o segundo carro que agora a família tinha condições de manter, depois de passar em uma barraquinha e comprar uma bela montanha de takoyaki. Hikaru e os colegas voltariam para a escola tão logo todos os eventos acabassem. Lá fariam algum tipo de reunião nos clubes para comemorar.

E à noite festejariam em casa. Pensou em ligar para os filhos, Masako morava com o noivo, Kaoru, com a esposa grávida e o filhotinho. Chamaria a mãe e Hana, claro. Talvez até ligasse para Naruto e o enjoado do Sasuke, para assistirem a dança que gravou. Seria divertido terem aquela confraternização em família.

Chegou na casinha com menos da metade dos takoyaki. Encontrou alguns onigiri na geladeira e foi devorando na sala, analisando uma estante especial repleta de troféus e medalhas. Era um orgulho para os Inuzuka-Aburame. Anos de dedicação da filha caçula reunidos ali, brilhantes e em tom dourado, na sua maioria.

— Bailarina você já é, menina! Espero que não me venha com uma bomba de ser mãe! — Kiba gracejou. Anos atrás, em um dia dos pais na escola, Hikaru disse que seu sonho era ser uma mãe tão perfeita quanto Kiba-touchan!

Emocionado com a lembrança, Kiba passou as costas das mãos pelo rosto, secando algumas lágrimas. Então devorou o último bolinho de arroz e limpou os dedos na calça jeans. Seria interessante ir até a clínica veterinária e ficar a tarde por lá, ao menos até o horário de Yukio voltar para casa. O menininho, um Beta, gastava tanta energia na escola que passava a tarde bem calminho.

E foi um segundo após tomar essa decisão que o mundo de Kiba mudou. Escureceu e se deformou. O telefone tocou e ele reconheceu o número, atendendo com curiosidade. Era da Academia de Konoha.

O Ômega demorou alguns segundos para compreender as palavras ouvidas, preso subitamente na sensação de mergulhar num sonho. Ou num pesadelo. O ônibus que voltava da competição sofreu um acidente, as crianças estavam sendo socorridas e levadas para os hospitais de Konohagakure. Cumpriam a triste tarefa de avisá-lo que Hikaru estava entre os feridos.

***

Kiba chegou ao principal hospital da vila sem nem saber como. Encontrou um caos surpreendente, ou talvez nem tanto. A situação era grave.

Assim que aproximou-se do balcão de atendimento, ouviu pessoas exigindo informações e detalhes sobre as crianças. Nem todos foram levados ali, eram muitas vitimas.

— Inuzuka-san. — Uma das funcionárias acenou para ele. — Sua filha está em atendimento. — Explicou reconhecendo as marcas do Clã. — Kaoru-sensei pediu para avisá-lo assim que viesse.

— Obrigado. — Agradeceu fraco. — Como minha filha está?

— Em cirurgia. — A Beta explicou antes de voltar a atenção para outras pessoas que jogavam questões aos berros. Ninguém podia julgá-las, o desespero era grande.

Com um aperto no peito, Kiba afastou-se do balcão e pegou o celular. Estava discando o primeiro número quando sentiu uma energia conhecida alcançá-lo. Em poucos segundos Shino o localizou em meio à bagunça e o alcançou. O abraço foi muito bem-vindo.

— Como ela está? — Kiba perguntou sem forças.

— O vínculo permanece. — Shino garantiu. Sentia a filha viva, embora não pudesse dizer se bem ou não.

A afirmação tirou um peso dos ombros de Kiba. Ele não conseguiu aceitar só a breve explicação da funcionária para se acalmar.

— Caralho, isso tá acontecendo mesmo? — O Ômega relanceou os olhos pela recepção. Pessoas chegavam e saiam apressadas, havia gritos nervosos e vozes exaltadas de tristeza. Já divulgavam alguns óbitos. Vários pais não conseguiam identificar para qual hospital seus filhos eram levados.

— Olá! — A voz familiar sobressaiu-se ao zunzunzum e atraiu a atenção do casal. Kaoru aproximou-se deles, um homem em seu uniforme hospitalar, muito parecido com Kiba aos vinte e seis anos, embora exalasse uma seriedade e profissionalismo que nunca se viu no Ômega. Ou sequer foi imaginada quando aquele rapaz era criança. — Como vocês estão?

Não parou o avanço até abraçar os pais. Ignorou a postura de psicólogo hospitalar pelos segundos que durou aquele afago caloroso, então se afastou.

— Alguma notícia de sua irmã?

— Ela já foi para a sala de cirurgia. Não pude nem vê-la. Mas temos as melhores equipes, e já foi solicitado apoio de Suna. — Kaoru explicou.

— Sabe mais sobre o acidente? — Shino soou sério. As informações chegaram entrecortadas à escola.

Kaoru suspirou e balançou a cabeça.

— Um caminhão perdeu o controle. Outros veículos se envolveram. Não sei dos detalhes. — Colocou uma mão sobre o ombro de cada pai. — Preciso ir, se souber de algo eu aviso.

Despediu-se com essas palavras e misturou-se ao caos, pondo-se a fazer intervenções e ajudar da maneira que sua profissão permitia.

— Hikaru é dura na queda. Seja pelos Inuzuka, seja pelos Aburame. — Kiba gabou-se. — Nossa menininha vai sair dessa! — E começou a chorar.

Shino passou o braço pelos ombros do companheiro e o aconchegou contra o peito. Sentia a dor do Ômega. E sentia ampliado, pois também era a sua dor.

***

Quando o marido se acalmou um pouco, Shino tomou para si a tarefa de ligar para os conhecidos. Tsume chegou ali antes de qualquer um, sem precisar ser contatada. Ela soube da notícia pela televisão. O lamentável acidente estava sendo veiculado em todos os canais, levantando uma grande comoção. Shibi chegou rápido também, e foi um dos últimos que conseguiu acesso ao saguão. Havia tanta gente por ali que foi preciso restringir a entrada e organizar um modo diferenciado de passar informações para quem estava lá fora.

Shino atendeu ligações de Masako que veio com Shinta, de Naruto e Hana. Sasuke acabou ficando em casa, cuidando do pequeno Yukio a quem buscou na escola. Não quis levar o menino ao lugar que sabia estar em meio à confusão.

Kaoru fazia a ponte entre a família dentro do hospital e os que estavam lá fora, usando seu privilégio de funcionário enquanto desempenhava seu trabalho junto com outros três psicólogos.

Houve um momento de tensão, quando as pessoas exigiram saber mais sobre o motorista. Estaria o homem bêbado para perder o controle de tal forma? Infelizmente ele perdeu a vida no acidente e respostas demorariam a vir. Naquele momento não sabiam, uma autópsia revelaria mais tarde que o homem sofreu um infarto fulminante. Ao causar a batida já estava morto. Em resumo, uma fatalidade das que não se pode prever, na qual não existiam culpados, apenas vítimas.

Também ocorreu uma cena petrificante. O grito de uma mãe ao descobrir que perdeu não um, mas os dois filhos que participavam da competição. O choro incontrolável somou-se ao clima pesado e foi quase impossível respirar. Kiba não era o único Ômega ali. A casta que ajudava pelo bem estar de Alphas e Ômegas, acabavam causando o efeito contrário diante de tamanho sofrimento partilhado.

Kiba ia de quando em quando até o balcão, se espremia entre as pessoas até conseguir falar com uma funcionária e pedir informações. Voltava sempre desolado, irritado, frustrado:

— Que merda! — Esbravejava para Shino, sentado em uma desconfortável cadeira. — Sei que cirurgia demora, mas é maldade deixar a gente sem uma notícia!

— Só posso concordar filho. E discordar, olhe ao redor, se forem dar informações a todos que estão aqui, perderiam tempo demais. — Tsume mostrou bom senso. Isso só mostrava como a velha senhora estava abalada. Ela já tinha mais de oitenta anos, sempre muito enérgica e afoita. Diferente da face que exibia naquele instante.

Kiba respirou fundo.

— Temos que ser realistas. Se a situação é tão grave assim, talvez afete o balé. Hikaru vai precisar se recuperar bem. E nós daremos todo o apoio que ela precisar! — Decretou algo que era óbvio para todos. — Ainda que perca o balé, ainda tem o sonho de ser mãe. Hikaru pode realizá-lo e ser muito feliz.

A parte final da frase falhou um pouco.

— Kiba! — Shino sussurrou, compadecido com a tristeza que dividiam.

— Preciso de ar. — Kiba ofegou. Se ficasse naquele saguão mais um segundo não suportaria a pressão. — Preciso sair daqui, marido.

Shino levantou-se da cadeira. Era velho conhecido daquele hospital: os três filhos nasceram ali. E os netos também. Pensou logo na lanchonete do pátio interior, que atendia os acompanhantes e funcionários durante os turnos. Ele passou algum tempo lá, tomando chá ou café, enquanto esperava notícias a cada parto.

Resolveu levar o companheiro até lá, tentar fazê-lo ingerir alguma coisa para dar ânimo e forças. Isso faria bem a ambos. O ambiente estava pesado demais, sobretudo para Ômegas, em um ciclo que se auto alimentava: Ômegas eram muito afetados pelo sofrimento e devolviam isso para Betas e Alphas, ampliando as sensações ruins. Se era pesado para Shino, para Kiba era infinitamente pior.

— Kiba, vamos até...

A frase não se concluiu. De repente Shino foi atingido por uma sensação insuportável que nem o pior pesadelo poderia traduzir, envolvendo-o na sensação de vazio total quando um dos preciosos vínculos que sentia desapareceu.

Kiba captou a sensação e olhou para o Alpha. Então ele soube. No mesmo instante ele soube. Levar a mão à garganta foi gesto instintivo, pois as vias respiratórias se fecharam e lhe deram uma vertigem.

Aqueles passos de balé. Olhos cheios de amor.
Gestos de carinho. E covinhas.
Nesse mundo já não existiam.

— Shino... Não. Não! Por favor, não... — Os olhos selvagens perderam o foco, lágrimas transbordaram. — A nossa menininha! Não!

A dor foi tão grande que levou consigo as cores do mundo. Os outros assistiram aquele Ômega perder as forças e cair de joelhos no chão, lamentando o rumo que a vida lhe trouxe. Shino até tentou ampará-lo em vão. Logo o casal estava abraçado e chorando juntos, unidos na maior dor tragédia que pais poderiam enfrentar.

Não notaram a atenção alheia, ou Tsume que compreendeu tudo e também chorou abraçada a Shibi. Não notaram nada além da presença um do outro, unidos na dor do adeus. Uma jovem luz brilhou forte naquela família, viveu dezesseis lindos anos. E então se apagou.


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