O Conto do Cão Negro escrita por BlackLupin
Sirius não encontrou Pedro quando retornaram para a Sala Comunal; desconfiava que o garoto descobrira quem foi que o atacara e agora estava se escondendo, fazendo jus à forma de rato que escolhera quando se transformava em animago. Mesmo assim, ele não desistiu de confrontá-lo e aguardou pacientemente o resto do dia na Sala, acreditando que em algum momento o outro teria de subir, nem que fosse para dormir.
Sua raiva não diminuíra nem um pouco e para piorar, ele ficava repassando mentalmente todos os momentos em que Pedro esteve urubuzando ao redor de Flori, esperando o momento certo para dar o bote e tirar Sirius da jogada.
Como se tivesse sido conjurada pelos seus pensamentos, Flori passou pelo buraco do retrato e entrou na Sala Comunal, carregando alguns livros debaixo do braço. Sirius sabia que ela era a principal vítima da história, mas não pôde se conter; sentia-se frustrado, magoado e traído por um de seus amigos mais próximos, e sentia que precisava extravasar suas tribulações em alguém e viu na garota a oportunidade perfeita para isso.
Ele se levantou depressa e a encurralou em um canto da sala, antes que ela subisse para o dormitório. Ao vê-lo se aproximando, Flori abriu-lhe um sorriso gentil e ele hesitou; ela parecia tão bem-humorada que por um momento pensou se teria coragem de estragar sua alegria, porém, a imagem de Rabicho tentando segurar em suas mãos na casa de chá o atacou e sua expressão endureceu.
— Oi, Sirius. – Cumprimentou cordialmente. – Como vai? Ainda estou esperando os doces que me prometeu em troca daquela lição.
— Que história é essa de você e o Pettigrew estarem saindo? – Disparou, ignorando completamente a provocaçãozinha amistosa.
— O quê? – Espantou-se ela, recuando de encontro à parede com o ataque gratuito.
— Vocês estão namorando por acaso? Achei que tinha dito que precisava de um tempo sozinha! – Acusou.
— Não, nós não estamos! – Defendeu-se Flori. – Foi só um encontro amigável.
— Ele não parecia interessado em ser somente seu amigo!
— Como você sabe? – Indagou com desconfiança. – Acaso estava nos espionando? – Flori arregalou os olhos e colocou a mão diante da boca, assombrada. – Espera aí... não me diga que as louças e os bolinhos desvairados foram obra sua?!
Sirius respondeu com uma expressão de desafio, indicando que não se importava por ela ter descoberto e tampouco que se arrependia.
— Como pôde fazer uma coisa dessas com o seu amigo?! – Horrorizou-se ela.
— Meu amigo! – Exclamou ele desdenhosamente. – Esse cretino me apunhalou pelas costas! Sabia que você estava fora dos limites e ainda assim ousou te convidar para um encontro, sabendo que eu iria pra cima dele com tudo quando descobrisse!
— Ousou?! – Repetiu Flori, ultrajada. – Você não é meu dono, Black! Não tem o direito de ditar com quem eu decido sair!
— Sairia com ele ainda se soubesse que foi ele quem espalhou para todos sobre nós no primeiro ano?!
Ela pareceu surpresa com tal declaração.
— Como você sabe? Por acaso ele lhe contou? – Perguntou.
— Deixe de ser ingênua, Flori! É claro que foi o Pedro! – Bradou. – Ele sempre gostou de você, mas nunca foi homem suficiente para assumir e quando viu que eu havia passado na frente, resolveu se vingar!
— Isso não é possível. – Ela sacudia a cabeça incredulamente. – Pedro é um rapaz gentil, não é vingativo.
— Você não o conhece de verdade. – Declarou Sirius, secamente. – Por isso quero que pare de sair com ele imediatamente.
Uma expressão resignada armou-se na face da garota.
— Eu já disse que você não tem poder de decisão sobre mim!
— Não pode estar falando sério! – Retrucou. – Depois do que acabei de lhe contar ainda pensa em continuar com isso?
— Se eu já lhe dei várias chances, então acho que posso conceder uma a ele também para ser justa, não acha? – Retrucou.
— Pare de dizer besteiras! Quem está querendo enganar? É de mim que você gosta e não importa quanto tempo precise tirar para chegar a essa conclusão sozinha, isso não vai mudar. – Declarou Sirius, de maneira arrogante.
Flori ficou muda diante de tamanha audácia.
— Seu atrevido, presunçoso...!
Farto de toda aquela discussão, Sirius agarrou-a pela cintura e a beijou com energia. Flori o empurrou e deu um tapa em sua cara com toda a força que conseguiu reunir. A Sala Comunal estava lotada de gente conversando e fazendo barulho, mas, de repente, tudo ficou em silêncio e todos os olhares estavam no casal que discutia. Sirius segurava a lateral do rosto e olhava perplexo para a garota. Ela mesma parecia espantada com o que havia acabado de fazer. Porém, o que se seguiu foi ainda mais assombroso; ela largou os livros no chão, pulou em seus braços e o beijou vigorosamente.
O rapaz cambaleou de surpresa, mas logo seu aperto ao redor de suas pernas tornou-se mais firme e ele a empurrou contra a parede, enquanto a Sala vinha abaixo com assobios, risadas e explosões de vivas. Ninguém entendera o que acabara de acontecer ali, mas todos apreciavam um bom drama.
***
Na manhã seguinte Sirius estava de excelente humor; havia acabado de retornar do banheiro dos monitores e, de fato, estava tão satisfeito em como as coisas haviam terminado entre ele e Flori, que nem se importou que a primeira pessoa que encontrou quando entrou no dormitório foi Pedro.
O rapaz, no entanto, ainda deveria esperar algum tipo de retaliação, pois pulou da cama à procura de sua varinha. Mesmo sentindo-se tão contente, Sirius não podia deixar a ocasião de ensinar uma lição a Pedro passar, por isso, mais ágil do que ele, ergueu a varinha e ordenou mentalmente: “Levicorpus” e Pedro foi içado no ar pelo tornozelo. A confusão acordou Tiago e Remo.
— Almofadinhas, o que está fazendo?! – Exclamou Remo, atordoado.
Sirius entrou lentamente no quarto; havia um sorriso preguiçoso em sua face, enquanto movimentava a varinha, fazendo um exaltado Pedro balançar no ar, como uma bailarina aos avessos.
— Larga ele, Almofadinhas! – Ordenou Tiago, tentando se livrar das cobertas que haviam se embolado nele. – Pensei que já tivéssemos resolvido isso!
— Ora, eu disse que teria uma conversinha com ele, não disse? Talvez nós até façamos um passeio, o que me diz Rabicho? Talvez eu desfile com você lá no saguão só de cueca, como o Ranhoso, que tal?
— Me solta, Sirius, por favor! – Implorou Pedro. – Eu juro que não vou mais incomodá-la! Me perdoe!
— Oh, eu sei que não vai. – O sorriso dele aumentou. – Por que se fizer isso, eu acabo com você, me ouviu? Não haverá um canto escuro ou buraco que possa se esconder sem que eu o ache, porque vou caçá-lo até o inferno.
— Que diabos está dizendo, Almofadinhas? Por acaso enlouqueceu? – Espantou-se Tiago, enfim livrando-se das cobertas e pulando da cama. – Rabicho é nosso amigo!
— E é por isso que vou lhe dar uma nova chance. Liberacorpus!
Pedro caiu no chão com um baque doloroso. Ele esfregou a cabeça, gemendo de dor e permaneceu amontoado no rodapé da parede. Sirius aproximou-se dele e o ergueu pela gola do pijama sem qualquer dificuldade.
— Mas saiba que não irei me esquecer da sua punhalada, Pedrinho. Eu sei que foi você quem espalhou o boato pelo Castelo sobre mim e Flori no primeiro ano. Se tentar qualquer coisa do tipo de novo está morto, entendeu?
Pedro assentiu a cabeça várias vezes rapidamente, com uma expressão de pânico, reconhecendo a sombra do grande cão negro por trás dos olhos claros de Sirius.
— Estamos acertados. – Sirius sorriu e o largou no chão.
Sob os olhares espantados dos amigos ele se trocou e desceu para o café da manhã, sentindo-se ainda muito satisfeito.
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