Seu Nome escrita por Mr Mandias


Capítulo 1
Capítulo Único




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O jovem suspirou cansado ao vencer o último degrau da escadaria que levava ao seu apartamento.

Esse era o seu momento favorito do dia, quando ele voltava pra casa.

Não por que ele não gostava de suas aulas e de seus afazeres diários, tampouco por não apreciar os momentos de lazer que gastava com seus poucos amigos em seus intervalos, mas sim porque gostava de sua casa.

Era um loft arejado em uma área modesta da cidade, conveniente por não ser muito distante da universidade e dos serviços que ele considerava básicos para a sua subsistência. Era, além disso, suficientemente em conta e cabia em seu orçamento de estudante.

A razão para o jovem de cabelos laranjas gostar tanto dele, no entanto, era mais fácil de explicar.

“Rukia.” Comentou ele com ânimo extra ao adentrar pela porta principal. “Estou em casa.”

O garoto sorriu levemente ao ouvir uma série de resmungos acima de sua cabeça. Aparentemente sua colega de quarto de costume estava entretida em um dos seus muitos passatempos e não havia notado a sua chegada.

Entretanto, antes que o garoto pudesse, sequer, terminar de organizar as comprar que havia feito no caminho para casa, escutou a porta do mezanino abrir e observou a outra ocupante do apartamento surgindo pelos degraus da escada que levava ao dormitório que ambos compartilhavam.

Sua feição era sonolenta, cabelos desgrenhados e vestia apenas uma velha camiseta roxa que pertencia, orginalmente, a ele.

“Olá.” Resmungou ela terminando de descer os degraus e se apoiando na divisória que separava a pequena cozinha americana do restante do apartamento. “Fez compras?” Perguntou ela curiosa.

“Apenas algumas coisas para o fim de semana.” Esclareceu ele. “Você estava dormindo?” O questionamento era acusatório, embora bem-humorado.

A garota bufou se esforçando, inutilmente, para ajeitar algumas das mechas de seu cabelo rebelde pelo sono.

“Apenas um cochilo inofensivo.” Respondeu ela na defensiva. “Eu não dormi muito na noite passada.”

A feição do jovem de cabelos laranja assumiu um tom de leve culpa.

“Desculpe por isso.”

“Não é sua culpa.” Descartou ela com facilidade. “ Você precisava estudar, eu deveria simplesmente ter ido dormir.”

Ele assentiu, apesar de ter entendido o recado não dito: ela não gostava de dormir sozinha.

“Tudo bem.” Suspirou ele. “Vá se vestir, vou preparar um jantar com o que eu trouxe.”

Rukia protestou.

“Você não deveria, deve estar cansado.” Falou ela notando as olheiras no rosto do outro. “Dormiu ainda menos do que eu, afinal.”

Ele riu e despenteou, ainda mais, as mechas negras bagunçadas na cabeça da garota que, por sua vez, apenas o encarou com aborrecimento fingido.

“Não se preocupe, foi a última prova antes da pausa de inverno, terei muito tempo para relaxar agora.” Lembrou ele antes de voltar a apontar para a escada. “Vá se vestir, está frio aqui, você vai pegar um resfriado se continuar andando por aí seminua.”

O olhar de aborrecimento fingido no rosto da menina se transformou em um sorriso provocativo.

“Minhas pernas o incomodam, Morango?” Brincou ela com um sorriso conhecedor. “Você finalmente começou a notar as garotas em sua volta? Talvez eu deva ficar preocupada.”

A provocação dela, embora tenha atingido muito perto do coração, não o afetou. Ele estava acostumado com isso, afinal.

“Em seus sonhos, Shinigami.” Bufou ele. “Vá logo antes que eu mude de ideia e deixe o jantar por sua conta.”

Ela riu já se dirigindo para as escadas.

“Isso não acabaria bem para nenhum de nós.”

Ela seria a morte dele um dia.

Não, isso não estava correto, ela já foi a morte dele, afinal.

Eles haviam se estabelecido naquele ritmo suave com o passar dos anos. Ichigo precisou mudar de cidade para estudar medicina e, como já era de se esperar, o único que ficou surpreso com a disposição da garota em ir com ele foi ele próprio.

“Ichigo.”

Ouviu a voz dela no cômodo de cima.

Ela havia deixado a porta aberta outra vez, ele mentiria se dissesse que não ficava levemente tentado a espioná-la, as vezes.

“O que?” Perguntou ele ignorando, como costumava fazer, o sentimentos confusos que, mais comumente do que deveriam, embaçavam as fronteiras do relacionamento platônico que mantinham há anos.

“Yuzu ligou.” Comentou ela. A voz meio abafada enquanto vestia-se. “Ela queria saber se os planos de passar o ano novo em Karakura ainda estavam de pé... Eu respondi que sim...”

Ichigo franziu a testa.

“Porque minha irmã ligaria para você e não para mim?”

A garota apenas riu, como se a pergunta fosse muito estúpida e sua resposta óbvia.

Ichigo limitou-se a revirar os olhos e voltou a se concentrar em cortar os legumes para o jantar.

“Nós podemos ir na próxima semana.” Comentou ele ao ver as pernas da garota voltarem a surgir enquanto ela descia a escadaria. “Dar um uso para aquela aberração em forma de carro que o seu irmão insistiu que você possuísse.”

“Ei!” Rosnou ela ofendida saltando o último degrau e o encarando irritada. “Não fale assim do Chappy.”

O carro apelidado em homenagem ao maldito coelho era uma aberração roxa e apertada, que não justificava o preço que havia custado. Não que Byakuya se importasse com isso.

Rukia assumiu um lugar no sofá espaçoso na sala, em frente a TV que exibia, em volume modesto, algum programa especial de fim de ano.

Ichigo havia insistido que o sofá e a TV ficassem naquela posição. Foi uma das poucas exigências dele quando os dois estavam decorando o apartamento.

Ele gostava de cozinhar roubando olhares rápidos para o rosto distraído da garota, que costumava se entreter com algo na TV enquanto ele preparava comida para ambos.

Não que ele tivesse explicado isso para ela, é claro.

Ele desconfiava que não precisava explicar, de qualquer forma.

O som estridente de um telefone tocando o tirou de seus pensamentos.

Não era o seu, que estava, como de costume, silenciado para todos os contados, com exceção de um.

“Você não vai atender?” Resmungou o estudante de medicina de cabelos exóticos apontando para o celular que tocava na bancada, próximo de onde ele estava.

“Não.” Respondeu a menina sem desviar os olhos da TV.

Ichigo limpou as mãos antes de pegar o aparelho irritante.

“É o seu irmão.” Disse ele olhando para cima. “Tem certeza que não vai atender? Pode ser importante...”

“Eu sei o que ele quer.” Esclareceu Rukia desviando, finalmente, os olhos da TV, apenas para voltar a ela depois de uma breve encarada. “Não estou interessada.”

Ichigo silenciou o aparelho em sua mão antes de olhar preocupado para sua parceira de longa data.

“Eles estão pressionando para que você volte?”

Rukia mordeu um lábio, sem dar indícios de que responderia, ao que Ichigo fechou a cara.

“Eu achei que havíamos resolvido isso, eles nos devem.”

E realmente deviam.

Não era usual que alguém na posição dela vivesse calmamente no mundo dos humanos, sem ser incomodada e sem cumprir as funções que seu cargo costuma exigir.

Mas, ao fim da guerra, diante de todas as coisas que ela e, principalmente, ele fizeram, ninguém negaria a ambos a chance de viver da forma que bem entendessem.

Não é como se um humano e um shingami vivendo juntos fosse uma ocorrência inédita.

Ainda mais considerando quem era o humano nessa equação, em específico.

“Não é nada disso.” Respondeu a garota diante da preocupação dele. “Mesmo que meu irmão estivesse contrariado pela vida que levo no momento, ele não poderia fazer nada.“ Explicou ela, algo que ele já sabia. “Entretanto, isso não impede que os anciões do clã Kuchiki o pressionem, são as partes desagradáveis de ser um nobre, eu não gosto disso.” Completou ela abrindo um pequeno sorriso. “ Mas eu não vou a lugar nenhum e não há nada nem ninguém capaz de mudar minha mente quanto a isso.” Garantiu ela olhando em seus olhos, sem demonstrar qualquer tipo de constrangimento.

Ichigo, por outro lado, sempre precisava fazer um esforço extra para manter uma feição suave quando ela fazia declarações daquele tipo olhando para os olhos dele.

Ela era a única capaz de fazer seu coração querer saltar para fora do peito com tão pouco esforço.

“Bom.” Resmungou ele terminando de preparar o jantar. “Já está tudo pronto, vamos comer.”

O jantar correu de forma calma, como era de costume, ambos jogados no sofá, entretidos pela TV e pela companhia absorta um do outro.

O fim da tarde se tornou noite e antes que ambos pudessem notar estavam enrolado no sofá da sala, dividindo um cobertor e assistindo um dos filmes de terror que a garota parecia adorar tanto.

Nada muito diferente do que eles vinham fazendo nos últimos anos.

Mais uma vez, Ichigo se pegou pensando sobre isso.

Não havia mais a adrenalina diária, a sensação de perigo, a aventura e os dramas.

Ao invés disso, havia uma calmaria crescente.

Parecia confortável.

Natural.

Era por isso que ele gostava tanto de voltar para casa, apenas parecia acolhedor, parecia com um lar.

E, por mais acolhedor que fosse o loft que ambos dividiam, e ele era, não tinha nada a ver com isso.

Em meio aos pensamentos, Ichigo notou a luz do celular da garota deitada em seu ombro voltar a se acender.

“Seu irmão está ligando outra vez.” Comentou ele em voz baixa, não querendo perturbar o clima tranquilo.

Rukia bufou, mas não se afastou do lugar que ocupava ao seu lado.

“Às vezes é simplesmente muito inconveniente ser uma Kuchiki, deveria haver um jeito fácil de mudar de nome.” Brincou ela.

Ichigo sorriu olhando para os olhos cor de violeta entreabertos da garota ao seu lado.

“Se você odeia tanto seu sobrenome, poderia simplesmente passar a usar o meu.”

Ichigo só percebeu a gravidade do que falou alguns segundos depois das palavras saírem de sua boca.

Foi apenas quando o corpo de Rukia ficou tenso contra o dele que ele percebeu o significado de sua sugestão.

“Ichigo.” Começou a garota se afastando apenas o suficiente para encarar os olhos de seu colega de quarto. “O que exatamente isso deveria significar?” Questionou ela com um pequeno sorriso provocador.

Ele mordeu a língua com força enquanto sentia seu rosto esquentar.

“Desculpa, isso foi algo estúpido de se dizer.” Começou a se explicar o garoto, diante do sorriso provocador crescente da menina em sua frente. “É só que nós moramos juntos e caímos em um ritmo confortável.” Tentou ele, se xingando mentalmente por não encontrar as palavras. “Eu sei que somos amigos há muito tempo, mas... Bem, nós já agimos como se estivéssemos casados há anos, de qualquer forma.”

Rukia riu fechando os olhos.

“Desculpa.” Falou ele voltando a falar, incomodado com o quão fora do personagem ele estava agindo. Mas, novamente, ele sempre agiu diferente quando se tratava dela. “Foi apenas uma estupidez que passou pela minha cabeça, a falta de sono deve estar começando a me afetar.”

“Ichigo...”

Chamou ela sorrindo, interrompendo seu turbilhão de constrangimento.

O jovem suspirou, se preparando para a provocação e zombaria implacável que certamente viria em sua direção.

“O que?” Perguntou ele mansamente voltando a olhar nos olhos dela.

Ela o beijou.

Foi um ajuste suave e muito familiar, embora fosse a primeira vez que seus lábios se encontravam.

Eles acordavam emaranhados nos braços um do outro todos os dias. Estavam mais do que acostumados a se aconchegar nos dias frios. Como Ichigo havia dito, eles agiam como um casal há anos em todas as coisas que importavam.

Familiar, portanto.

“Eu aceito seu pedido estupido, seja lá qual for o significado estupido.” Brincou ela se afastando levemente.

Apesar da pequena distância, Ichigo ainda conseguia sentir a respiração da garota em seus braços se misturando com a dele.

“Bom.” Limitou-se ele antes de voltar a beija-la, dessa vez a deitando de costas no grande sofá do apartamento que ambos dividiam.

Ichigo gostava muito da sua casa e pouco tinha a ver com a casa em si, mas sim com a presença constante e insistente de Rukia nela.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam todos muito bem.

Comentários são sempre bem vindos.



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