Asas Enfermas escrita por Onni


Capítulo 1
Um par a mais de mãos


Notas iniciais do capítulo

| ´・ω •`)ノ Ciao ciao ~

Que saudade que eu tava de postar alguma coisa (っ˘ω˘ς) mesmo eu estando com umas fics pendentes pra atualizar, sinto muito por isso. Fazia tanto tempo que eu não escrevia algo que não fosse abo que quase esqueci como se escreve normalmente :vv

Eu tinha escrito essa história um mês depois do fim de Supernatural, estava largada nos meus Docs e então decidi terminá-la, assim como meus outros projetos. É a primeira fic de Supernatural que faço, com o propósito de matar um pouco a saudade dos nossos Winchesters < 3 escrevi com esse intuito e espero que gostem também assim como eu.

A história não segue uma cronologia, mas está entre a temporada 13, o único spoiler aqui é o Jack, porque de resto foi tudo invenção minha, então se vc ainda não terminou a série ou está caindo de paraquedas, fique confortado.

Coloquei em letras maiúsculas tudo o que não é humano, como Anjos, Seres, Criaturas, etc.

Boa leitura!



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— O que há de errado com ele?

 

Ambos os irmãos olharam em direção à bagunça de panelas e prataria no chão causando um barulho alto e ensurdecedor que o Nefilim havia deixado cair ao passar perto. Jack parecia em outro mundo ao olhar o que tinha feito, torcendo o rosto numa expressão confusa e dolorida, mas não pelas panelas caídas.

 

— Jack? O que foi isso? — tentou Sam dessa vez dando a primeira palavra que pairava na cabeça dos dois irmãos.

 

Só então o Nefilim pareceu voltar à realidade olhando de volta sobre o olhar inquisitivo deles.

 

— Desculpe — pediu —, desculpe. 

 

Eles o viram torcer os ombros como se quisesse se livrar de uma dorzinha chata e se apressou a arrumar a bagunça.

 

Porém, aquela não foi a única vez que algo parecido aconteceu.

 

A segunda vez foi após o jantar, Jack ajudava Dean na lavagem de pratos carregando a louça suja para ele limpar quando algo fez Jack cambalear e derrubar os pratos em sua mão, Dean correu para socorrer o rapaz que abraçava a si mesmo com uma expressão de dor. Mas logo ele se recuperou dizendo que ele apenas sentiu um mal-estar e que não era nada, Dean estranhou e insistiu na pergunta, porém recebeu a mesma resposta.

 

E aconteceu outras vezes mais. Como Sam encontrando o rapaz encostado na parede do bunker sentado em posição de índio e inspirando fundo, com olhos fechados e tudo. Ele parecia meditar se não fosse pelo suor acumulado na testa e borda da camisa. E Sam fez a pergunta, e novamente recebeu a mesma resposta.

 

Ou então quando o rapaz ficou encarando o abajur da mesa da biblioteca como se tivesse ofendido ele pessoalmente enquanto os irmãos estavam concentrados em procurar lendas para resolver um caso aleatório.

 

Claro que os irmãos estranharam, contudo com a insistência do Jack em dizer que estava tudo bem, eles acabaram deixando levar, julgando ser algo que ele queria resolver sozinho, todavia nunca tirando os olhos do jovem. Por garantia e garantia somente, todos entraram em concordância em Jack ficar no carro enquanto eles resolviam os casos. 

 

A coisa toda teve um estopim uma semana depois quando Castiel estava lá, acabado de chegar de sabe-se lá onde resolvendo seus assuntos angelicais, quando um grunhido baixo de incômodo chamou sua atenção.

 

Jack remexia os ombros novamente e mudava a posição na cadeira não parecendo se sentir confortável. Aquilo atraiu a atenção do Anjo que cerrou os olhos em dúvida, olhando estranhamente fixo.

 

— Cas? — chamou Dean notando não ser ouvido em tudo que atualizava o Anjo enquanto esteve fora.

 

Castiel nem lhe deu bola olhando para seu menino com a intensidade do olhar de uma mãe loba. Não fazendo ideia da aura sinistra que pairou ao redor, Dean se manteve sabiamente quieto, se limitando a apenas observar a interação entre os dois Anjos.

 

— Quanto tempo? — perguntou Cas do nada com uma expressão séria e tom mais ainda.

 

Jack olhou brevemente para ele antes de se encolher e elevar os ombros.

 

— Acho que… não muito.

 

— Você tem tarefas ainda hoje?

 

Jack negou com a cabeça.

 

— Vá para o seu quarto. Já te sigo.

 

Sem mais nem uma palavra, o Nefilim se foi deixando uma atmosfera estranha para trás.

 

— Legal. Vão ficar fazendo segredinho ou vão contar para a turma? — caçoou Dean com um pouco de seriedade já que não estava entendendo o que se passava entre Jack e Cas.

 

E Castiel lhe deu aquele olhar intenso de que Dean estava metendo o nariz onde não era chamado, fazia tempo que o Anjo não fazia tal expressão a ele ou emanava essa aura de autoridade. Fosse o que fosse, ele não queria contar.

 

Então Castiel também se foi.



—//-



— Você está irritado.

 

— Quer um prêmio? — rebateu Dean claramente irritado tirando o lacre de sua cerveja e tomando um longo gole.

 

— Descobriu a causa da estranheza em Jack? — Nenhuma resposta. — Oh, esse é o problema.

 

— Eles não contam. Quero dizer, algo acontece com nosso menino debaixo do nosso nariz e Cas sabe o quê, mas não diz nada?

 

— Vai ver é algo que ele consegue resolver sozinho. Ou talvez, sabe, coisa de Anjo.

 

— Oh, sim. Claro — zombou se levantando e perambulando pela sala de guerra. — Assunto do clube dos emplumados, apenas pessoal autorizado.

 

— Dean, — chamou baixo em tom de aviso — vamos confiar no Castiel por enquanto.

 

Parecia ser argumento o suficiente para acalmar o pai preocupado em Dean que até relaxou a postura em alerta que sustentava durante dias.

 

Todavia, Castiel pareceu ainda mais estranho depois disso, encarando os irmãos com um olhar de perigo para manter-se longe, andava rápido por aí buscando coisas e mais coisas e sumia no quarto de Jack por horas a fio. Eles também não viram mais Jack, só alguns vislumbres ou som de utensílios sendo manuseados às madrugadas, afinal sendo metade humano, tinha que se alimentar.

 

Dean tentou seriamente se agarrar às palavras de seu irmão: "confie em Castiel"; contudo ele estava sendo provado à curta paciência que tinha quando o assunto era algum familiar com problemas e principalmente a omissão desse problema.

 

Sam só olhou de longe preferindo não se intrometer. E como Dean odiava que Sam pudesse se manter tão passivo numa situação como essa.

 

Então finalmente um dia – ou melhor, madrugada – quando Dean se levantou para assaltar a geladeira em uma de suas fomes noturnas, encontrou a figura de Castiel no meio da sala de guerra, simplesmente ali.

 

— …Jesus! Cas, caramba, que susto.

 

Castiel ergueu seu olhar perdido do chão para o caçador, mesmo com a pouca iluminação, Dean ainda podia ver as engrenagens funcionando nos olhos de Cas e o quão esgotado ele parecia apesar de Anjos não se cansarem nunca.

 

— Ei, ei, camarada. Venha, sente-se.

 

Por mais que Dean quisesse continuar bravo, tudo esvaiu-se ao ver o estado de Castiel, então o puxou para se sentar próximo dele na mesa de guerra.

 

— Eu não queria assustá-lo — começou o Anjo numa voz apologética e baixa.

 

— Então não fique parado no meio do cômodo sem luz como um maldito psicopata. Jack está bem?

 

O Anjo abriu a boca para responder, mas tão rápido quanto a fechou como se trocasse as palavras.

 

— É complicado, mas ele não corre risco algum.

 

— Graças a Chuck. Então o que se passa com o garoto?

 

E ali estava aquele olhar intenso de novo como se Dean cruzasse uma linha perigosa, só que mais amolecido.

 

— É um… processo de transição. É uma fase que todos os Anjos passam. É tudo o que eu posso revelar.

 

— Por que tanto segredo? Não somos uma família, caramba? Por que não podemos ajudar?

 

— Dean, isso não, isso é…

 

— Coisa de Anjo. Saquei.

 

Não era para o clima ter ficado estranho, Dean não queria ser tão resistente, e a cara que Castiel fez não deixou espaço para outra fala também.

 

— Desculpe, — disse o Anjo depois de um momento de silêncio — eu não pensei que assuntos angelicais interessassem a vocês.

 

— O quê?! — praguejou Dean. — Não é sobre o lance dos Anjos, é sobre Jack!

 

— Oh. — Castiel recuou piscando os olhos arregalados. — Entendo.

 

— Tem alguma coisa que podemos ajudar? — insistiu Dean com seriedade.

 

— Eu informo vocês. Posso cuidar disso.

 

Foi a palavra final.



—//-



Tudo pareceu finalmente ter um desfecho quando Sam decidiu dar uma volta pelo bunker em uma de suas insônias graças aos pesadelos quando ouviu um barulho vindo da cozinha e foi até lá com uma arma que arrumou em um dos esconderijos ao longo do corredor, e apontou o cano para a criatura que perturbava a paz, encontrando com uma massa dourada com textura de penas pairando ao redor do balcão.

 

Ao ouvir o barulho da arma, a massa emplumada revelou ser Jack comendo os cereais de Sam pego com a boca na botija.

 

— Eu sinto muito — disse o Nefilim com a bochecha inchada do cereal.

 

— Jack, o quê…? Isso são… suas asas? — perguntou ativando a trava de segurança e deixando a arma sobre uma mesa.

 

Como se lembrasse delas não as notando até então, Jack olhou para elas e balançou um pouco testando os movimentos e então sorriu para Sam.

 

— Sim.

 

— Elas são… uau, são incríveis.

 

As asas eram grandes quase do tamanho do Nefilim, pelo menos um metro e meio de envergadura ou mais, elas quase tocavam o chão com as penas maiores de vôo roçando as canelas do jovem. Elas eram mescladas num marrom claro, com as pontas das penas brancas e um preto opaco na base, porém o resto era da cor predominantemente dourado.

 

Era lindo e reluzia um brilho ofuscante.

 

— Quem é o filho da puta?

 

Em algum ponto, Dean surgiu apontando a arma em várias direções apenas para encontrá-los ali, e ao ver Jack e suas asas, teve a mesma reação que Sam.

 

— Puta merda! Essas são asas de Anjo?!

 

Jack sorriu mais ainda abrindo um pouco elas em exibição deixando ambos os irmãos de queixo caído.

 

— São bem legais, não? — comentou Jack orgulhoso.

 

— Tá brincando? — Dean tomou a iniciativa de se aproximar e pairou as mãos incerto se deveria tocar ou não, Jack deu a dianteira roçando a asa direita na palma alheia, então Dean começou a apalpar e acariciar as penas fofas estupefato.

 

— Castiel não queria que vocês a vissem. Ele está me ajudando a cuidar devidamente delas.

 

— Mande ele se lascar, elas são incríveis!

 

— Por que Castiel queria esconder isso da gente? Quer dizer, também nunca vimos as asas dele — comentou Sam se aproximando também, porém não tocando e deixando Dean desfrutar sozinho.

 

— Não? — perguntou Jack tombando a cabeça como Castiel fazia.

 

— Não, só o resplendor delas. Espera, você viu as asas do Cas?

 

— Claro, elas estão lá o tempo todo.

 

— Mas você… — finalmente Dean deixou as asas de Jack em paz vindo a se juntar ao lado de seu irmão e gesticulou para o rapaz e suas asas. — Suas asas estão bem aqui, estamos vendo elas.

 

— Ah — emitiu o rapaz olhando para elas. — Castiel me ensinou a trazê-las para o plano de vocês, assim vocês podem vê-las. Mas elas sempre estiveram comigo, desde quando nasci.

 

— Uau. Isso é… muito — anuiu Sam se aproximando para tocar nelas também.

 

— Não as toquem.

 

No mesmo momento, Sam deu um pulo para trás com a voz autoritária de Cas seguido do próprio Cas vindo em passos duros e expressão igualmente dura. Ele se pôs na frente de seu menino erguendo um braço.

 

— Asas de Anjo liberam muita energia e por isso são extremamente sensíveis — explicou ele.

 

Na mesma hora Dean olhou para suas próprias mãos flexionando-as para ver se havia algo fora do comum ou se ele havia sido afetado em algum ponto, não notou absolutamente nada de diferente embora.

 

— Tudo bem, Castiel. — Quem disse foi Jack abaixando o braço protetor da frente dele. — Eles só estão preocupados comigo.

 

— Cas, espera. O que está acontecendo? — perguntou Sam gesticulando. — Jack disse que você está ajudando a cuidar das asas dele.

 

— É! — reforçou Dean. — E você disse que era um tal de "Processo de Transição", que raio é isso? Por que tanto segredo?

 

Agora Jack quem apertou o olhar confuso para Castiel que suspirou contido.

 

— Sentem-se.

 

E por ali eles presumiram que uma aula sobre angeologia iria começar.

 

— As asas dos Anjos não são enfeites, elas são armas, tampouco são uma extensão de nós. Se elas ficam doentes, nós ficamos doentes, portanto é preciso ter um cuidado especial sobre elas.

 

— Asas ficam doentes? — Dean arqueou uma sobrancelha para Castiel e depois Sam.

 

— Tudo bem, e o Jack? — questionou Sam gesticulando.

 

— É uma criança ainda, como sabem, não há forma noviça dos Anjos, suas asas estão em desenvolvimento, o que é um processo natural, porém, ao mesmo tempo também é meio preocupante…

 

— Você disse que todos os Anjos passam por isso — interveio Dean.

 

— Sim, eu disse — reforçou o pensamento. — Nossas penas são renovadas a cada ciclo angelical, pense como as águias, temos que renovar a plumagem. Esse é o processo de transição. Mas o Jack é um Nefilim, uma criança ainda, suas asas não se desenvolveram cem por cento, o que requer um cuidado dobrado do que as asas de um Anjo comum. Estão me acompanhando?

 

Agora ambos os Winchesters tinham expressões torcidas em preocupação. Eles trocaram um olhar que transmitia muito mais que palavras antes de se voltarem ao Anjo mais velho, Sam tomou a dianteira:

 

— E isso é algum perigo para o Jack?

 

— Não sei — admitiu com um pesar. — Mas estou fazendo o possível para evitar isso. O mal cuidado das asas pode nos deixar doentes, e como Jack é meio Anjo, meio humano, não sei como seria para ele.

 

— Mas vejam pelo lado bom. — Dean maneou com a mão. — Você está aqui cuidando dele, você tem sua experiência. E nós podemos ajudar, não carregue o peso todo sozinho.

 

Em parte, Dean queria depositar toda a segurança em suas palavras de que Castiel não precisava esconder um problema desses deles, tentando se virar sozinho ou mantê-los longe. Ainda não entendia o porquê de Castiel querer fazer isso sabendo que eles estavam dispostos a ajudar sempre, porém estava certo em desconfiar da atitude toda protetora dele sobre Jack.

 

— Nós somos uma família acima de tudo — enfatizou Jack com um sorriso abrindo suas asas para cobrir os irmãos como podia, como um abraço. — Não estou preocupado, sei que posso contar com vocês se estiver em apuros.

 

Isso fez todos sorrirem amenizando consideravelmente a tensão na sala. Castiel, que até então sustentava uma face reprimida de preocupação, desmanchou-se com um bufo cansado.

 

— Sim, vocês têm razão. Peço perdão. — Ainda assim, não era tudo que desejava dizer, e Dean captou bem isso, semicerrando os olhos desconfiado. 

 

Tinha algo que Castiel não estava dizendo. Não importava o quê, Dean faria o Anjo abrir a boca de uma vez, porque ninguém ainda tinha percebido que mais da metade das merdas que aconteciam entre eles era por falta de diálogo. Ele e Sam começaram a trabalhar isso ao longo dos anos, desapercebidos de que Castiel ainda podia cultivar do mau-hábito criado por eles. Assim poderiam evitar o agora.

 

Por hora, deixou passar por ficar contente com a revelação. Jack parecia bem também, saudável, até meio animado em mostrar suas asas finalmente aos irmãos, significando que Castiel estava fazendo um bom trabalho. Dean não queria estragar isso e adiou a conversa.



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— Por que escondeu isso de nós? — Dean investiu na primeira oportunidade que teve sozinho com Castiel, que no caso foi dentro do Impala. Eles estavam em um caso local, algo sobre fantasmas perturbando a paz, Sam e Jack estavam do outro lado da rua com Sam instruindo Jack a agir corretamente numa abordagem, seria um bom treino para ele.

 

— Não queria preocupá-los. Vocês estão sempre correndo atrás de salvar o mundo por aí que não pensei que uma transição angelical fosse motivo de alarde. — Dean estava pronto para rebater, porém Castiel suspirou se remexendo um pouco. — Eu não tinha pensado direito antes de vocês dizerem aquilo, então peço perdão novamente.

 

— Mas do jeito que você agiu, faz parecer que torna isso em uma grande coisa.

 

— Para os Anjos, é uma grande coisa. Seria como… um resfriado para vocês humanos, ficamos mais vulneráveis já que nossas asas são nossa demonstração de virtude e fortaleza, não podemos voar apropriadamente ou lutar. Tomamos conta um do outro até a temporada passar.

 

— Resfriado, hm. — Talvez não fosse a analogia correta porque Dean não entendeu muito a semelhança entre ambos, mas bem, ele não era um Anjo para começo de conversa. Se o jeito protetor que Castiel agia sobre Jack, cuidando dele em seu quarto e trazendo coisas para ele fosse um indicativo, como um pai com o filho doente… sim, talvez se encaixasse na analogia. — Então acontece ao mesmo tempo para todos? Tipo, sucessivamente? Todos os Anjos ficam enfermos?

 

— Não, senão quem defenderia o Céu? — brincou com um curto riso fazendo Dean soltar um riso também. — Cada Anjo tem seu tempo.

 

— Chuck pensou em tudo, hein? — brincou de volta lançando um sorriso por cima do ombro para ele que estava no banco de trás.

 

— Minha preocupação acabou transpassando no meu comportamento, não foi minha intenção preocupar vocês.

 

Dean deu os ombros indicando que já não importava mais.

 

— E você? — disse se virando para olhar para ele no banco de trás.

 

— Eu o quê? — Castiel pareceu genuinamente confuso.

 

— Teve essa muda de asas depois do Céu?

 

A pergunta o pegou de surpresa fazendo-o arregalar os olhos. Prestes a responder, Castiel foi interrompido com a volta de Sam e Jack dentro do Impala, cortando a conversa imediatamente. Com Dean distraído, não notou a expressão acanhada e meio tristonha que o Anjo fez, deixando o assunto morrer e ser esquecido logo após.

 

Pelo resto dos dias, Jack se fez mais presente sem ter que se esconder em seu quarto como se estivesse com uma doença contagiosa, Castiel também foi mais brando em relação a isso vendo que não havia necessidade de esconder dos irmãos. A empolgação de Jack era tanta que não se importava em manter as asas no plano físico, e não mais escondida nos outros planos que só os Anjos e outras criaturas espirituais pudessem ver; Dean e Sam ficaram na mesma energia podendo contemplar pela primeira vez as asas de um Anjo. Quando Jack estava por perto, eles se sentiam na liberdade de roçar a mão na plumagem fofa sentindo a textura, como se fosse uma esfregada no cabelo dele, para logo cair e voltar aos seus afazeres. A ação se tornou tão natural que nem eles e nem Jack sentiam acontecer, e Jack ficou muito feliz e confortável, muito mais à vontade ao redor dos irmãos. Com isso, embora, Jack perdeu totalmente a noção de espaço, com as asas que antes atravessavam os objetos agora os derrubando quando os tocava, ou a posição na cadeira que nunca parecia ficar confortável, ou também quase derrubando os irmãos toda vez que se aproximava. Era cômico para dizer o mínimo.

 

Jack parecia bem, não estava nem um pouco preocupado e a transição ocorreu bem, algumas penas se desprendiam dele ao decorrer do dia, resultando em penas esquecidas e perdidas em todo o lugar do bunker. Fora isso, a transição foi um sucesso. Castiel também amenizou os ânimos e parecia contente em ver seu menino daquele jeito, contudo, aquele leve incômodo ainda se sustentava em sua postura, aquele algo que ele não estava dizendo, e isso não passou despercebido pelos olhos atentos de Dean.

 

Até que finalmente toda essa treta teve um desfecho enfim.

 

— O que há com você, cara?

 

Castiel parecia alheio – mais do que o normal – ao entrar na cozinha de manhã com Dean já estando lá, degustando de um café e bacon. Ele ficava remexendo os ombros de maneira esquisita ou mudando de posição a cada intervalo de minutos como se estivesse carregando o peso dos pecados do mundo nas costas. Em resposta, Castiel apenas grunhiu para ele e, uou, ele realmente parecia mau-humorado. Dean tinha vontade de rir, até escondeu o risinho que escapou bebericando seu café para não parecer insensível com o incômodo alheio.

 

— Teve uma noite mal-dormida? — Usou tudo de si para não soar provocativo, não tinha funcionado muito.

 

— Anjos não dormem, Dean. Você sabe disso. — Veio a resposta meio seca com ele se sentando na bancada.

 

— Não é como se você não tivesse tentado, suas roupas estão todas amarrotadas.

 

Castiel lhe deu apenas um olhar semicerrado. Bingo.

 

— Não me olhe assim, você parece um advogado trabalhista que foi pisoteado num protesto contra o governo. O que há, Cas?

 

E como de costume, Castiel tombou de leve a cabeça e apertou os olhos da maneira que fazia quando não compreendia o que Dean quis dizer, o que acontecia noventa e oito por cento do tempo já que tudo o que saía da boca de Dean eram piadas e referências. Contudo, durou pouco e o Anjo se remexeu no lugar como se buscasse a resposta na cabeça.

 

— Minhas asas. 

 

— O quê?

 

— Minhas asas, Dean. Elas são o problema.

 

E lá estava a resposta que Dean procurava no comportamento estranho de Castiel. Ele quase se engasgou com o café, arrumou a posição e limpou a garganta.

 

— Espere, o quê? O que acontece com suas asas?

 

Castiel pareceu tímido de repente, encurvando os ombros como se quisesse parecer menor até desaparecer.

 

— O processo de transição me atingiu em cheio.

 

— Você está mudando as penas?

 

Um aceno em resposta.

 

— E o que podemos fazer?

 

A pergunta pegou Castiel de surpresa, tanto pelo tom natural que saiu, quanto por Dean incluir "nós" no meio, indicando que Castiel não lidaria com isso sozinho, ou pelo menos Dean não o deixaria. Tanto que Castiel demorou para responder, ponderando na questão.

 

— Onde está Jack? — disse Dean com aquele evidente silêncio.

 

— Com Sam. Eles descobriram o túmulo do fantasma e foram exorcizá-lo. Devem voltar à noite.

 

— Tudo bem — anuiu limpando as mãos e vindo até Castiel. — Vamos dar uma olhada nisso.

 

— Dean… — chamou Castiel em tom de aviso.

 

— Eu posso ajudar, Cas — interveio meio rigoroso, mostrando que estava farto daquilo de Cas não contar com eles. — Não sou um Anjo, mas ainda tenho duas mãos boas. E só me dizer o que fazer.

 

Castiel sustentou o olhar de aviso por alguns instantes até ver que a determinação de Dean não vacilaria com uma intimidação, e então desmanchou num bufo rendido. Levantando-se do banquinho, ele começou a retirar o excesso de camadas de roupas, começando pelo sobretudo e por assim em diante. A expressão de Dean mudou de certeira para alarmada ao ver a cena desenrolar.

 

— Ou, ou, ou, amigo! O que é isso, Cas?

 

Castiel apenas direcionou um olhar a ele, sem respondê-lo ou reagir até terminar de desabotoar a camiseta e deixá-la cair no chão junto ao sobretudo, terno e gravata, ignorando totalmente o desconforto de Dean com a súbita nudez na parte de cima, para que finalmente libertasse suas asas e as trouxesse do plano espiritual para o plano físico. E num piscar de olhos, estava em exibição um par de asas gigantes e longas em um tom profundo de ébano, cobertas em um brilho azul reluzente onde quer que se olhasse, refletindo a luz emitida em tons cintilantes. Não era nada como as asas de Jack. Bem que Castiel tinha dito que por Jack ser uma criança ainda, suas asas ainda estavam em desenvolvimento, tendo penas fofas e redondas, de aparência macia e chamativas pelas cores e brilho, nem se comparavam com as asas de Castiel. As asas dele eram poderosas; grandes, penas alongadas, pontas retas que davam a impressão de corte profundo, como para rasgar os céus e dilacerar a garganta de um monstro. Dean perdeu o fôlego só de contemplá-las. Muito porém, as asas de Castiel pareciam desgastadas, mal cuidadas, com algumas cicatrizes enrugadas nas hastes em que havia falha nas penas, penas quebradiças e manchas de queimado. Parecia que o cara tinha passado por uma guerra e sobrevivido às custas. Bom, fazia sentido porque Cas era um Anjo de guerra.

 

Quando o olhar embasbacado de Dean denunciou sua momentânea falta de capacidade cognitiva, Castiel tomou a dianteira sendo o primeiro a falar:

 

— Se eu as materializasse com as roupas, elas atravessariam e ficariam grudadas no tecido, dificultando a mobilidade. Está me ouvindo, Dean?

 

O olhar de Dean nunca se desviou das asas de Castiel, sua boca abrindo e fechando como um peixe, desnorteado ainda com tudo acontecendo de uma vez. Toda a convicção de antes quase esvaiu-se pela admiração. Com a pergunta, Dean recompôs-se.

 

— Você não é um Serafim? Onde estão seus outros dois pares de asas? — Foi tudo que conseguiu raciocinar no momento.

 

— Seria muito trabalhoso para você numa primeira tentativa ter que lidar com seis asas de uma vez. Duas está bom. — E pela primeira vez, Castiel deixou surgir um sorriso simpático.

 

— Merda, não podemos fazer isso na cozinha. Vamos para seu quarto.

 

Como o Anjo nunca dormia, o quarto era mais um local avulso com o sinônimo de privacidade, ou caso o Anjo precisasse recompor as energias, ao contrário de Jack que dormia pelo menos duas horas por dia, já que metade de sua graça supria o resto das necessidades humanas. Enfim, o quarto de Castiel ganharia alguma utilidade realmente. Havia, sim, algumas coisas pessoais de Castiel, mas ainda bem poucas. Porém, não deixava de ser um cantinho especial assim como os outros.

 

Castiel tomou a dianteira se sentando na cama com as pernas cruzadas, as asas meio curvadas para dentro para não ocupar muito espaço – novamente diferente de Jack que ainda não tinha noção de espaço com elas no plano físico, Castiel parecia muito mais familiarizado –, Dean veio logo atrás se sentando no espaço que Castiel deixou para ele, bem atrás de suas asas, contudo não sabia como ou por onde começar, então aguardou por alguma direção.

 

— Você pode começar passando as mãos suavemente para retirar as penas soltas, não precisa de força, elas vão sair com o tato. Toque com cuidado, as asas são muito sensíveis e têm reflexos defensivos. Como você não é um Anjo, achei melhor deixar avisado — instruiu Cas. 

 

— Entendi. Isso é um tipo de instinto de Anjo. Um toque errado e eu saio voando para o outro lado do quarto.

 

Mesmo que fosse um pensamento alto e meio cômico, Castiel assentiu em confirmação mesmo assim.

 

Dean espalmou a base na junção entre as costas e penas, a quentura lá foi surpreendente, realmente se dando conta de que era uma criatura viva e cheia de virtude e não apenas um adereço de Anjo, os músculos de Castiel se mexendo contra sua mão e os ossos dos apêndices fez Dean ter essa reação admirosa. Então começou o tratamento. Com cautela deslizou as palmas contra as penas, descobrindo a textura de fibras firmes e o rescaldo de uma maciez, novamente diferente das de Jack que eram fofas e emplumadas. Ele começou na base, onde tinha penas mais curtas e mais maleáveis, simpatizando com a textura ao mesmo tempo que Cas buscava se acostumar com o manuseio de suas mãos tão xucras. Após, ele escolheu a asa esquerda para subir e começar a passar a mão pelas penas mais longas e Castiel acompanhou o movimento de suas mãos abrindo mais a asa, permitindo Dean deslizar os dedos pelas fibras e ossos, e de fato as penas soltas desprenderam-se com facilidade e caíam suavemente no colchão. A parte de trás provavelmente era a mais difícil acesso para as mãos de Cas alcançarem, já que tinha mais penas quebradiças, enroladas e soltas; um bolo confuso. Ainda com cautela, mas agora mais familiarizado com o processo, ele desenrolou as penas juntas e desfez o bolo como um quebra-cabeça, era como desatar um nó, ou fios enrolados. Ele viu Castiel ter alguns espasmos, as penas se eriçando um pouco, mas Castiel as acalmou.

 

— Tudo bem aí, Cas? — perguntou tentando olhar por cima do ombro dele.

 

— Sim, apenas continue.

 

— Não está doendo?

 

— Um pouco. É a pior parte que não consigo alcançar por mim mesmo, foi pura negligência.

 

— Fique tranquilo, vamos dar um jeito nisso. Me avise se doer.

 

Com um aceno positivo de Cas, Dean voltou ao trabalho de desembolar aquele ninho de penas ruins com a atenção dobrada agora que sabia que Cas estava desconfortável, desatou e desvinculou as penas não saudáveis umas das outras, então finalmente o "nó" se desfez, as penas estavam fracas, portanto quebraram e caíram no colchão em alguns pedaços. Dean olhou com melancolia para elas e para a parte feia que ficou no lugar, uma falha na plumagem.

 

— Não se preocupe — consolou Cas —, estou trocando de penas, nova plumagem vai nascer e substituir essas.

 

— Como dentes? — brincou Dean com um riso.

 

— Sim, como dentes humanos. — Riu também.

 

Castiel parecia mais aliviado, como se tivesse aprendido a ignorar o incômodo de ter as penas presas num bolo até o momento, ele também parecia mais leviano e até as asas começaram a cair relaxadas ao redor de Dean enquanto ele continuava a passar a mão por elas.

 

— Você está indo bem — elogiou em tom ameno e Dean ficou orgulhoso de si mesmo.

 

— Como isso parece para você?

 

 — Hmm… — Ele ponderou um pouco. — Como isso se parece para vocês humanos?

 

— Como acariciar um animal grande — ironizou utilizando as duas mãos para afagar uma fileira de penas medianas agora. — Ou fazer cafuné na cabeça de alguém.

 

— Animais gostam de receber carinhos tanto quanto os humanos gostam de acariciar. — E parou por um momento para pensar. — Acho que é um bom acordo, você pode dizer isso. Um cafuné, mas é mais por necessidade.

 

— Sim, sim — zombou. — Você agora parece a porra de um pombo gigante do Senhor.

 

Em troca, Castiel olhou feio para ele por cima do ombro com seu par de olhos azuis meio zangados e o acertou na cabeça com a dobra da haste da asas, o que fez Dean rir e se proteger do ataque. Então voltou a trabalhar as mãos.

 

Depois de um momento estranho de silêncio com Dean passando a mão pelas penas medianas de Castiel, o humor dele caiu.

 

— Há quanto tempo?

 

— Perdão?

 

— Há quanto tempo você não cuida das suas asas?

 

Castiel realmente pareceu ponderar com a pergunta. Disse então com uma voz lacônica e séria, como se não quisesse dizê-lo:

 

— Desde que eu me rebelei.

 

Isso era muito tempo mesmo.

 

— Porra, Cas.

 

Acidentalmente apertou um pouco um maço de penas que estavam em sua mão, se esquecendo por um momento dos reflexos que Castiel tinha alertado em decorrência da raiva. As asas deram um sobressalto mínimo.

 

— Os Anjos não estavam exatamente simpáticos comigo por causa disso, então não tive ninguém para fazer isso por mim. Havia Hannah, porém não fomos íntimos o suficiente para ter tal tato.

 

Dean parou.

 

— "Íntimo"?

 

Castiel também parou. Ficou mais ereto, as asas retas.

 

— Nós tínhamos um cuidador de asas no céu, um Anjo especializado nisso. Depois da queda… bem.

 

Novamente havia aquele algo que Castiel não estava contando. Dean sentiu isso em sua postura apesar das palavras saírem monótonas como sempre. Tentou não pensar tanto nisso, afinal deveria ser por causa disso que ele agiu todo defensor de Jack, eles eram íntimos e essa coisa toda, Castiel era como um pai para ele. "Íntimo" deveria significar algo na linguagem dos Anjos, certo? Como Cas era para Jack e Jack era para Cas. Ambos continuavam sendo Anjos. Por isso que ele não queria que Dean cuidasse das asas dele em primeiro lugar. Deveria ser.

 

Querendo se livrar dessa linha de pensamentos antes que endoidasse, ele resmungou algo sobre "regras de Anjos estúpidas", mas Castiel não deu ouvidos realmente, não sabendo o que se passava na cabeça de Dean.

 

Após isso, ambos permaneceram em silêncio confortável, com apenas o farfalhar das penas ao serem manuseadas pelas mãos do caçador que foi pegando o jeito da coisa. Em parte concentração, outra parte por tocarem num assunto delicado e o instinto natural era fugir disso.

 

Até que pouco tempo depois, Dean alcançou a última pena, deslizando os dedos pelas fibras da pluma longa de voo. Com tanto esforço de usar os braços, agora eles se viam meio doloridos e Dean não evitou bufar enquanto olhava para seu feito.

 

— Tudo acabado por aqui. Como se sente?

 

Em vez de uma resposta, Castiel suspirou alto em alívio e testou a nova leveza de suas asas com movimentos sutis.

 

— Muito melhor. — Até a voz dele amenizou consideravelmente, o que fez Dean se sentir orgulhoso do seu trabalho.

 

Sem mais nem menos, o Anjo caiu de bruços na cama, as penas soltas anteriormente voaram suavemente se espalhando no colchão, com o Anjo contemplando o momento solene e suspirando por outra vez, agora em satisfação, as asas se esticaram de modo confortável, caindo no chão porque a cama era pequena para quase quatro metros de envergadura.

 

— Precisa de um momento a sós com a cama? — Dean zombou, mas Castiel anuiu com um grunhido mesmo assim.

 

Assim, Dean desceu da cama e foi para seu quarto, não sem antes dar uma última olhada a Castiel com um sorrisinho.



—//-



Castiel não estava exatamente familiarizado com dormir, no Céu os Anjos possuíam um tipo de local de repouso para repor as energias após uma batalha, aqui na Terra, porém, dormir cumpria tal papel e deve ter sido por isso que ele relaxou no momento em que se deitou na cama, permitindo baixar as guardas como em muito tempo não fazia. Não era exatamente dormir, ter sonhos, ou apagar e acordar, mas sim repousar. Todo o ambiente contribuiu para isso: o bunker – uma fortaleza segura a qual eles já estavam habituados –, pessoas de sua plena confiança habitavam aqui – tudo estava rodeado de Sam, Dean e Jack—, um local só para ele – seu quarto, sua "privacidade", como os humanos chamavam –, e por fim, parte de suas asas estarem tratadas, um terço delas já era o bastante para ele. Era isso que os humanos tinham como referência de um "lar", certo? Significavam lar para Castiel.

 

Deve ter sido por isso também que a transição o atingiu em cheio, todo o ambiente confortável empurrou sua biologia a agir, visto que estava em local totalmente seguro e podendo ficar vulnerável, assim como no Céu. O que ele não contou a Dean, era que era o primeiro processo de transição que estava passando depois da queda. Era muita informação para o caçador digerir e Dean estava um tanto curioso demais.

 

Quando suas baterias estavam parcialmente recarregadas para sair do modo economia, a primeira coisa que ouviu foi vozes, barulhos e movimentação. Sam e Jack. O bunker voltou a ganhar vida. Contudo, Castiel permaneceu na cama apreciando demais a posição que estava, e assim voltou a repor as energias num fluxo de consciência e inconsciência, sempre ciente da presença ao redor e atento a qualquer emergência, embora.

 

E a emergência chegou quando ele ouviu Dean clamar o seu nome.

 

"Cas."

 

Não era necessário fazer orações, só de invocar o nome do Ser, eles ouviam. E Castiel sempre atendeu aos chamados de Dean. Num bater de asas, ele estava em frente à porta trancada dos aposentos do caçador. Dean sempre foi muito inflexível com a invasão de privacidade, e Castiel aprendeu que como o quarto era uma extensão sua de privacidade, os humanos não gostavam que alguém simplesmente invadisse, ainda mais Dean que foi totalmente rigoroso quando eles pegaram o bunker e teve que explicar toda a situação minuciosamente a Castiel – abolidor total da privacidade alheia –, e Castiel, tendo aprendido a lição, não adentrou de imediato.

 

Deste modo, novamente ouviu o clamor:

 

"Cas! Cas, não, por favor!"

 

Castiel irrompeu o quarto em outra batida de asas.

 

Um pesadelo. Dean estava tendo um pesadelo e o clamava em sonho. Os cobertores estavam todos amarrotados, metade caída da cama com Dean se contorcendo, suando e arfando, sobrancelhas franzidas, expressão de dor e agonia, um punho fechado firmemente segurando o lençol. 

 

Sam… n-não…

 

Anos em hotéis baratos de estradas sem separação de quartos fê-lo saber que infelizmente pesadelos para os Winchesters era algo comum. Com um simples toque com dois dedos em sua testa, Castiel fê-los sumir. Dean relaxou por inteiro e suspirou em refrigério em decorrência dos pesadelos se tornarem memórias felizes.

 

Castiel se permitiu contemplar a face de Dean suavizada que não se acontecia com ele acordado, sem expressões intensas, sem dizer para ficar longe, ou uma carranca preocupada em ter que salvar o mundo; apenas Dean, o verdadeiro. 

 

Num outro bater de asas, Castiel tinha ido.

 

— Oi, Cas. Você está aí. — Sam cumprimentou-o na cozinha com eles tendo acabado de voltar, Castiel cumprimentou de volta com um sorrisinho.

 

— Como foi a caçada?

 

— O desgraçado me atingiu na cabeça e rasguei o braço, mas fora isso estou bem — contou com riso enquanto terminava de preparar lanches para os dois. — Jack não se machucou e foi esperto em colocar fogo nos ossos enquanto eu o distraía. Ele está no banho agora.

 

— Eu cuido disso.

 

E num simples toque de dedos na testa dele, a lesão de Sam sumiu com ele agradecendo baixo. Ele retirou as bandagens que cobriam o ferimento, já não mais necessárias.

 

— Você estava com Dean? — perguntou simplesmente enquanto tomava uma caneca de café e se apoiava no balcão.

 

— Sim? — Castiel tombou a cabeça não sabendo como Sam tinha chegado nessa conclusão. — Ele está dormindo. Tirei seus pesadelos.

 

— Bom. — Por algum motivo, bufou aliviado. — Nada estranho aconteceu então?

 

— Não senti nenhuma presença ou ameaça. As luzes não piscaram ou algo assim, nada no meu radar.

 

Isso fez Sam rir sem motivo aparente.

 

— Não, Cas. Não quis dizer desse jeito. Só queria saber… por que suas roupas estão aqui no chão da cozinha?

 

Ambos olharam para baixo, as roupas de Castiel continuavam ali intocadas. Só então Castiel percebeu que estava nu da cintura para cima e que de certa forma os humanos tinham essa coisa com a nudez, ou exposição de pele. Sam deveria estar incomodado.

 

— Oh, isso. Dean quis ajudar com minhas asas — disse já recolhendo as peças e começando a colocá-las de volta no corpo, suas asas já não mais visíveis desde que ele deixou o quarto de Dean.

 

— Suas asas? O que há de errado com elas?

 

— O processo de transição me atingiu em cheio.

 

— Você está trocando as penas também?

 

Quem disse foi Jack que veio do corredor com um sorriso estampado, cabelo molhado do banho e já de pijama, com fulgor se aproximou deles.

 

— Sim. — Bufou. Ao contrário de Jack que para ele estava sendo uma experiência nova, para Castiel, um Anjo com bilhões de anos de idade, era desgastante tal processo.

 

Ainda que Castiel não comesse, ele permaneceu perto de Sam e Jack enquanto conversavam mais sobre o assunto entre mordidas e risadas. Não foi preciso muitos detalhes, Sam apenas comentou brincando que não queria ter que encontrar mais penas espalhadas pelo bunker e Castiel garantiu que seria cuidadoso. Sam também perguntou se ele teria que ser cuidado assim como Jack, mas Castiel negou alegando que Dean iria providenciar isso. A declaração rendeu um olhar malicioso de Sam que Castiel não captou.

 

—//-



Sem motivo aparente, havia um Dean vagando pelos corredores do bunker em plena madrugada. Castiel não notou a presença até o caçador lhe encontrar na biblioteca, com Castiel lendo um livro qualquer sobre feitiços, até que ele apareceu e escorou o batente da entrada, com braços cruzados e uma cara amassada de sono.

 

— Ei, Cas — chamou.

 

— Olá, Dean.

 

— Não consegue dormir também?

 

Se Dean estava pedindo um olhar consternado em troca, conseguiu. A satisfação fugaz foi contemplada no sorrisinho que Dean deu. O livro foi fechado com um bufo para Castiel prestar total atenção ao que o caçador queria, contudo, Dean permaneceu parado lá, meio alheio, também não dizendo nada.

 

— Aconteceu algo?

 

— Suas asas estão legais? — proferiu por cima da fala do Anjo.

 

Castiel olhou por cima de seus ombros, atualmente elas estavam dobradas contra suas costas em um repouso meio rígido.

 

— Sim, você fez um ótimo trabalho com elas.

 

— Não doem?

 

— Sim, doem. — Bufou com carinho resignado. — Não é como se eu pudesse arrancá-las e deixá-las de lado até isso acabar, como uma prótese. É um processo.

 

— Ugh, não seja tão rude, cara. Vamos dar uma olhada nelas.

 

— Dean — alertou.

 

— Não me venha com "Deeean". Se está doendo, Cas, apenas vá e diga que damos um jeito nisso.

 

Resignado, Castiel suspirou com um sorrisinho derrotado. Dean estava certo, apesar d'ele tornar-se voluntariamente seu parceiro de asas temporário, Dean não parecia estar tão alheio ao fato, preocupando-se e querendo manter a saúde de suas asas por Castiel, contudo julgou isso por Dean usar a desculpa de que eles eram família, e em uma família cuidava-se uns dos outros.

 

Outro motivo de Castiel não ter contado, pois queria deixar essa alusão de Dean ao invés do significado angelical, que cuidar das asas uns dos outros era algo reservado ao que digam-se casais na Terra. No Céu, Anjos cuidavam das asas de outros Anjos quando estes estavam em um nível superior de afinidade e confiança, Anjos ainda sem par eram tratados por Hanael, o cuidador, era verdade, porém ter um parceiro tratando de suas asas era menos saúde e mais cuidado especial.

 

Castiel temia que se revelasse isso, ficaria sem parceiro, com Dean sentindo repulsa ou que não entendesse o real sentido por trás do cuidado das asas. Por isso Castiel omitiu tal fato, preferindo pela alusão de Dean que eles eram família do que o sentido lírico. Desde que Dean viesse procurá-lo, Castiel não poderia se sentir vil ou aproveitador.

 

Novamente aqui estavam eles no quarto de Castiel. E dessa vez, era seu par primário que estava sendo tratado.

 

Castiel chiou quando houve ações errôneas em suas asas já doloridas, com Dean mais alheio devido ao sono interrompido do que da outra vez, logo o caçador tratou de ser mais cuidadoso a cada queixa dolorosa.

 

— Dean — chamou tentando olhar por cima do ombro. — Você não precisa se esforçar tanto…

 

— Desculpe pelos puxões, já estou mais acordado agora.

 

E como se enfatizasse, os dedos deslizaram suavemente pelas fibras das penas negras medianas numa carícia suave que causou um arrepio pela coluna de Castiel, as penas eriçaram um pouco em reflexo.

 

— Viu? Mamão com açúcar.

 

Castiel suspirou aliviado conforme cada pena torta ou irregularidade foi sendo corrigida pelas mãos grandes e incrivelmente levianas, deixando uma carícia deleitosa no caminho para recompensar a área antes dolorida. Seus olhos se fecharam em determinado ponto para ele apreciar ainda mais o toque quente em suas asas, até que Dean voltou a falar, soando mais como um pensamento alto:

 

— É meio relaxante, de uma forma bizarra.

 

Castiel abaixou as asas para olhar para ele.

 

— Você se sente relaxado?

 

— Não acabei de dizer isso?

 

Castiel acenou voltando a virar para frente, covarde como era.

 

— É um dos… efeitos colaterais.

 

Na mesma hora, Dean parou.

 

— Como é?

 

— Nada grave. Como eu disse, as asas de Anjo são pura energia, energia esta que está conectada à nossa Graça. E tocá-las, bem, meio que libera essa energia, como átomos quando se chocam uns com os outros.

 

— Estou sentindo sua Graça — concluiu Dean numa lufada surpresa.

 

— Praticamente, sim. É mais como compartilhando.

 

Houve aquele silêncio constrangedor de novo. E então, Castiel voltou a sentir os dedos grossos em suas articulações, deixando-o relaxar.

 

A palavra estava lá, tão tácita e quase palpável.

 

"Íntimo" piscou na mente de Dean tão rápido quanto.

 

Ele ergueu os olhos para o Anjo, porém Castiel mantinha os ombros levantados e a cabeça encurvada para baixo, a barreira de penas quase cobrindo sua figura como se o Serafim, um Anjo de guerra, um guerreiro implacável e poderoso, quisesse apenas fugir de um mero humano com as mãos em suas asas. Dean achou gracioso, mas nunca admitiria.

 

— É assim que Hanael fazia?

 

Castiel hesitou.

 

— Vamos, pode ser sincero comigo. — Com um sorriso brincalhão.

 

— Em termos clínicos, muito distante. Mas não é ruim, Dean.

 

Dean vangloriou-se da resposta.

 

Como explicar que era tão, tão diferente de Hanael? Hanael era rápido e clínico, categórico e meticuloso; era o seu trabalho cuidar das asas dos Anjos e garantir sua saúde. Dean, no entanto, era o total oposto. Havia cuidado, havia dedicação, havia importância e reciprocidade a cada toque de Dean sobre suas penas, ele podia sentir o amor vibrando e eletrizando ao simples deslizar de dedos. E Castiel já viu isso antes muitas vezes, a maneira que o próprio Dean agia em relação ao Sam. Agradava a Castiel de maneira imensurável que Dean estivesse o tratando como tratava seu irmão.

 

"Família" retumbou agradavelmente em seu interior fazendo arquear um pouco as asas no processo, esticando em sua largura total em contemplação. Dean deve ter confundido a reação de Castiel com um ato de espreguiçar.

 

— Uma boa coçada, hein, amigo?

 

Castiel cantarolou agraciado.

 

Dean colocou a mão quente em seu ombro nu.

 

— Quase acabando aqui.

 

A mão permaneceu naquele aperto firme, porém gentil antes de ir. Aquele toque era tão reconhecível que Castiel sabia identificá-lo como "eu me importo com você" na linguagem Dean Winchester.

 

Tanto que foi frustrante quando tudo acabou, as mãos em suas asas se foram, suas penas estavam perfeitamente arrumadas e Dean infelizmente teve que ir. Dean parecia muito menos incomodado agora assim como Castiel, mas ambos por motivos diferentes, a mesma causa, embora, trouxe tal calmaria a ambos. Um sorrisinho persistiu nos lábios de Castiel ao entender por que Dean tinha vindo até ele.

 

Naquela noite, Dean teve outra boa noite de sono.



—//-



Terça-feira, noite de filmes. Como sempre, todos os filmes eram escolhidos por Dean e isso variava entre velho oeste, filmes românticos de meninas adolescentes, terror e besteirol. O único que reclamava era Sam, porém visto sem opções, as reclamações caíram. Castiel nunca se importou, não entendia o entretenimento humano, e Jack literalmente tinha dois anos de idade para entender qualquer coisa mesmo que Dean explicasse de maneira bem empolgada, Sam contradizendo e caçoando, ele e Dean discutindo amorosamente um com o outro, nesse meio tempo Castiel tentava esclarecer a dúvida do Nefilim, até voltarem à atenção ao filme e tudo se repetir quando Jack abria a boca para perguntar de novo.

 

Era uma tradição, fácil de lidar, algo familiar.

 

Todos estavam focados no filme exibido quando Castiel sentiu uma mão acanhada em sua asa média, ele conhecia o toque, por isso não foi necessário desviar os olhos da televisão.

 

— Suas asas parecem bem melhores — comentou Jack contente mantendo a mão quente lá, espalhando sua satisfação enquanto contemplava o relaxamento de Castiel.

 

De soslaio, Dean pegou a pronúncia de Jack, a mão do garoto parada no ar com as as asas de Castiel escondidas, sua atenção do filme foi tirada para prestar atenção à conversa envaidecendo-se do trabalho bem feito borbulhando seu ego sem tirar os olhos do filme.

 

As mãos curiosas e noviças de Jack fizeram um afago nas penas e no que podia alcançar da extensão da asa, o tato foi bem-vindo, porém havia um motivo de Castiel não querer que Jack cuidasse de suas asas.

 

— As asas de Cas estavam ruins? — Sam, o pobre único alheio, disse mastigando um punhado de pipoca.

 

— Sinceramente, nunca as vi tão enfeitadas.

 

Um olhar cúmplice foi trocado entre o Anjo e o caçador, como se fosse um segredo imundo, ainda que Dean não soubesse o verdadeiro significado de cuidar das asas de um Anjo, ficou envergonhado e desviou o olhar tão rápido quanto. Jack perdeu isso, ocupado demais em admirar as asas feitas, contudo Sam não. Ele deu um olhar estranho entre os dois, suspeitos e calados.

 

— Como você consegue mantê-las assim? — perguntou Jack genuinamente.

 

— Ter um par de mãos a mais é de imensa ajuda. — Com um sorrisinho e dar de ombros.

 

Jack esboçou surpresa, a mão em sua asa caiu.

 

— Mas, você disse que Hanael está inalcançável.

 

— Há outras maneiras além de Hanael, como eu te disse. Fica difícil arrumar por completo minhas asas neste receptáculo, há partes que não consigo alcançar, por isso elas ficaram daquele jeito.

 

Jack parecia lutar para entender, logo desmanchou-se num bufo carinhoso. Desde que as asas de Castiel estivessem bem, ele não se importava. Castiel parecia bem satisfeito também, e algo lhe dizia que ia além de suas asas.

 

— Tudo bem — mediou Sam —, todos nós precisamos de uma ajudinha de vez em quando. — Com um sorriso sabido.

 

— Caramba, vocês falam demais! Depois discutimos sobre o clube da Luluzinha, quero ver quem matou o xerife Barter.

 

Era claro que Dean iria interrompê-los justo na provocação descarada de Sam. Sam revirou os olhos pensando "Tão óbvio".



—//-



O problema de se omitir um segredo, era que isso nunca durava por muito tempo. Alguma hora a verdade vinha à tona.

 

— Eu não entendo… — falou Jack baixinho, mas o suficiente para Sam, que estava indo até eles, escutar. — Eu deixo Dean e Sam tocarem minhas asas. Por que eu não posso?

 

— Não — disse Castiel, também em tom baixo. — Elas estão sensíveis.

 

— Por que você não quer que eu as trate também? Eu sou metade Anjo, Castiel.

 

— Jack, isso não é… — suspirou. — …é complicado.

 

Houve uma pausa, quando ficou claro que Castiel não continuaria, Sam se sentiu corajoso o suficiente para interromper a conversa na sala de guerra.

 

— Oi — anunciou —, temos um caso.

 

Castiel olhou de soslaio para Jack que possuía uma face confusa e meio tristonha.

 

— Não é assim, Jack. Eu te explico depois.

 

Jack não pareceu totalmente satisfeito, mas acatou a decisão.

 

Porém, o evento estranho não saiu da cabeça de Sam.

 

— Notou algo estranho no Cas? — perguntou a Dean enquanto eles preparavam as malas e carregavam as armas.

 

— Defina estranho.

 

— Eu não sei… ele ainda não está no processo de transição? Ele disse que fica mais vulnerável nesse período.

 

— E?

 

— Dean — frisou sério agora, Dean parou tudo para ouvi-lo. — Eu ouvi ele conversando com o Jack baixinho, ele disse que suas asas estão sensíveis ou seja lá o que isso significa. Acha uma boa ele vir com a gente?

 

— É o Cas, Sam. O cara é durão. A menos que lutemos contra algo espiritual, ele vai ficar bem.

 

— Eu sei, mas… — Dean já ia se distanciando para levar as malas no carro. — …parece que ele está escondendo algo.

 

 Na mesma hora, Dean parou.

 

— Você também percebeu. — Sam suspirou adivinhando. — Pensei que você estava ciente, já que vocês têm esse lance.

 

— Lance? — Voltou-se com um tom de aviso.

 

— É. É você que está cuidando das asas dele e não me diga que não. Pensei que soubesse o que está acontecendo.

 

— Quer fechar a matraca e entrar na droga do carro?

 

Sam deu a perfeita cara de vadia para ele.

 

— Eu só ia dizer…

 

— Oh, Chuck do céu, não. Não diga…!

 

— …que não tem problema…

 

— Não termine essa frase!

 

— …de você estar ajudando Cas. É legal da sua parte, sério. Não tem do que se envergonhar, Dean, eu sou seu irmão.

 

Dean lançou um olhar fulgurante.

 

— Resolvemos depois da caçada, pode ser? — cedeu enfim com certa mordida.

 

— Claro, Dean. — E revirou os olhos.



—//-



— Com o que estamos lidando? — perguntou Jack tentando olhar no tablet de Sam ao seu lado no banco da lanchonete.

 

— Aparentemente uma bruxa, ou algo de poder semelhante. Os relatos dizem que tem havido desaparecimentos recentes nessa cidade. Você sabe de algo, Cas?

 

— São muitas possibilidades, precisamos investigar. Quais são as pistas?

 

— Todos homens adultos. Solteiros. Ninguém que tivesse família ou alguém próximo — pontuou Dean.

 

— Parece coisa de vampiro — ponderou Jack.

 

— Sim, mas pessoas dizem que eles desapareceram estranhamente depois de se apaixonarem.

 

— Feitiço do amor? — arriscou Jack.

 

— Por isso o palpite de ser uma bruxa — argumentou Sam visualizando as lendas. 

 

— Eu odeio essas filhas da mãe — xingou Dean.

 

E partiram para a investigação.

 

Após um dia inteiro perguntando às pessoas, checando locais, verificando se havia algum vestígio de bruxa, o grupo voltou exausto para o quarto de hotel.

 

— Sem pistas — concluiu Sam afrouxando a gravata.

 

— Isso está estranho — anuiu Dean abrindo uma cerveja. — Sem saco de bruxa, sem conexão entre as vítimas, ninguém que conheça ou tenha visto uma mulher de aparência exótica… ou ela é muito sutil, ou…

 

— Talvez não seja uma bruxa — considerou Jack sentado em uma das camas.

 

— Cas? — estimulou Dean.

 

Castiel, que estava particularmente calado a maior parte do tempo, com um semblante pensativo, abriu a boca para responder:

 

— Há uma hipótese.

 

Todos ficaram atentos.

 

— Mas pouco provável, achei que estavam extintas.

 

— Compartilhe com a classe — zombou Dean.

 

— Petels. Uma espécie de monstro que se reproduz a cada década, só há fêmeas, então elas usam os humanos homens para a reprodução. Eu não vejo uma há alguns séculos.

 

— Certo, e como elas fazem isso? — perguntou Sam.

 

— Sedução. Trazem o homem para seu ninho onde acontece uma orgia e assim sugam sua vitalidade a cada coito. Elas são cautelosas e pegam alvos selecionados, por isso não há muitas pistas.

 

— Então não temos como saber quem será o próximo alvo? — indagou Dean.

 

— É.

 

— Filhas da puta.

 

— Quanto tempo dura a temporada de reprodução? — Sam disse.

 

— Um mês.

 

— Os desaparecimentos começaram duas semanas atrás e o último desaparecimento foi há quatro dias, então nos resta uma semana e meia.

 

— Se elas não têm um padrão, como vamos achá-las? — Jack questionou dessa vez.

 

Todos se entreolharam até pousarem o olhar em Dean.

 

— Sempre sobra para mim — contestou sem ânimo e esfregando o rosto. — Como se mata essas coisas?

 

— Não são criaturas muito poderosas, então a pior parte é achar o ninho. Se interrompermos seu ciclo, elas naturalmente vão se definhar.

 

— Adoro ouvir boas notícias — ironizou.

 

— Mas, Dean… 

 

Castiel prendeu o caçador num olhar aguçado e firme, e no mais profundo de seu âmago, um certo receio.

 

— Tenha cuidado.

 

Dean não sabia o que era aquilo, porém sentiu tocar em alguma parte profunda dele. Em troca, ele acenou.



—//-



Era uma tarefa simples comparado ao que eles estavam acostumados. "Fácil é bom" Dean disse a Sam uma vez e sua opinião ainda se sustentava, e Sam rebateu "O fácil é incomum para nós", ele deveria ter levado Sam mais a sério. Um mísero descuido e todos haviam sido capturados num piscar de olhos, eles não sabiam que eram tantas e vieram absolutamente do nada apesar do celeiro abandonado ser pequeno.

 

— Dean! — praguejou Castiel com uma montanha de Petels em cima dele impedindo-o de se mover, sua faca angelical tinha sido pega pela rainha do ninho que agora brincava com ela fazendo cortes no corpo do caçador.

 

Sam havia sido seduzido e se tornou inútil quando não fazia a própria vontade, Jack tentava lutar contra ele nesse meio tempo evitando ser ferido.

 

— Jack, fuja! — gritou Dean.

 

— Eu não posso deixar vocês!

 

— Ei, grandão. Não o machuque muito — falou com floreio a Rainha e Sam obedeceu tentando capturar Jack agora. 

 

— Sua vadiazinha… — vociferou Dean lutando contra as amarras atrás das costas onde ele foi preso ao mastro.

 

Ela fez outro corte nele em seu torso como resposta.

 

— É uma pena que seja um caçador. Você seria um ótimo reprodutor com esse seu rostinho lindo — gracejou agarrando seu rosto com brutalidade a qual Dean tentou se livrar.

 

— Vá pro inferno.

 

— Adoro os respondões.

 

Ao fundo, foi possível ouvir um rosnado grutal, porém ele não conseguia ver.

 

— Dean! — grunhiu Castiel sufocado.

 

— Oh, acalma-te, Anjo. Vou brincar um pouco com seu caçadorzinho.

 

Os dedos dela deslizaram pelo torso aberto da camisa rasgada de Dean causando arrepios no caçador que enrijeceu a postura com os cortes recentes sendo tocados causando queimação.

 

— Eu não sou um homem objeto, não — bradou entredentes.

 

No lugar de uma resposta, ele recebeu um sorrisinho malicioso conforme a mão dela foi explorando seu torso, deixando o encanto se espalhar até dominar o caçador, a todo momento Dean tentou lutar contra as restrições. Contudo, a resistência foi abandonando seu corpo aos poucos e a Rainha sorriu, elevando suas mãos até o pescoço dele e fechar e em torno para sufocá-lo até a morte. O rosnado de anteriormente ficou mais profundo e animalesco, então houve um clarão, um baque alto e o som de corpos caindo.

 

A próxima coisa que Dean viu depois de cair no encanto, foi que Castiel estava o segurando em seus braços, aquele som de rosnado se emitia de sua garganta, um par de asas erguido no alto ameaçadoramente para as outras Petels, olhar frio e de aviso. A Rainha jaz morta atrás deles com um furo na parte da barriga da faca angelical, em consequência, todas as outras tentaram fugir sendo barradas por Sam e Jack que foram aniquilando uma por uma.

 

Ao dar-se conta da realidade com o resquício do encanto se esvaindo, Dean empurrou Castiel para que o soltasse e ele cambaleou para trás.

 

— Dean — chamou Castiel, abaixando todas as guardas. As asas dobraram atrás dele. — Você está bem?

 

Dean não sabia o que responder, estava estupefato pela apresentação tão incomum vinda de Castiel, ele nunca tinha agido como uma besta desenfreada e só isso foi o suficiente para o caçador ficar em alerta.

 

— Eu cuido disso. — E esticou os dois dedos para curar os ferimentos dele, Dean recuou um passo para longe do toque.

 

— Estou bem.

 

Castiel tombou a cabeça não entendendo o recuo, mas foram interrompidos por Sam vindo correndo com Jack a reboque.

 

— Vocês estão bem? — disse ele afoito.

 

— Estamos. E vocês? — Dean respondeu.

 

— Sim. Jack, eu sinto muito. 

 

— Tudo bem, Sam. Você não me machucou tanto. — O garoto tinha uma contusão na bochecha e segurava o estômago um pouco, mas ele parecia bem no geral.

 

— Acharam os desaparecidos? — perguntou Dean.

 

— Estão num galpão logo ali. Todos vivos — respondeu Jack.

 

— Vamos tirá-los de lá.

 

As vítimas estavam atordoadas com a morte da Rainha fazendo o encanto cair, eles não tinham memória desde que foram sequestrados e trazidos para o ninho. Eram cinco ao todo com os primeiros raptados em situação precária e desnutridos, o grupo tratou de acompanhá-los até o hospital.

 

— Vamos embora daqui — disse Dean a todos, contudo Castiel ficou parado no mesmo lugar com um semblante tenebroso. — Cas?

 

— Vão na frente. Eu preciso limpar aqui.

 

Todos assentiram e seguiram adiante.



—//-



Quando Castiel voltou ao bunker horas depois com um bater de asas, havia traços chamuscados em seu sobretudo.

 

— Deu certo? — Sam se aproximou ao avistá-lo.

 

— Sim, tive que queimar o celeiro para não deixar nenhum vestígio.

 

— Queimar o celeiro era realmente necessário? — argumentou Dean com farpas, chiando quando um dos machucados puxou ao fazer um movimento brusco de ir até eles.

 

— Sim — respondeu com um olhar tempestuoso e absoluta certidão. — Petels são como baratas, se reproduzem muito fácil e podem surgir do nada. É melhor prevenir.

 

— Fogo é o melhor elemento de purificação — concordou Jack e Dean fez uma careta por serem dois contra um.

 

Quando sem querer seus olhos se encontraram, o semblante de Castiel ainda sustentava aquela chama fria desde o celeiro, porém amenizada. Dean automaticamente desviou o olhar sentindo um calafrio bizarro o percorrer. Deveria ser porque ele eliminou a ameaça, mas seu instinto dizia que era muito mais além disso. Não sabendo lidar com isso e temendo do que fosse, apenas retirou-se.

 

— Dean… — Castiel tentou ir até ele, sendo barrado por Sam com um braço em seu peitoral. Relutante, Castiel deixou-o ir.



E aconteceu outras vezes mais. Toda vez que Castiel vinha, Dean saía ou o evitava. Ambos estavam dançando numa corda bamba, Castiel magoado com o comportamento fechado que recebia e Dean receoso de se aproximar muito.

 

Ninguém realmente entendeu o que acontecia e ninguém era corajoso o suficiente para querer relatar o problema temendo ele se tornar fatídico.

 

Até que houve um estopim.

 

"Cas."

 

Era madrugada, portanto Dean estava sonhando de novo. Por esse motivo Castiel continuou parado de onde estava, checando os feitiços que encobriam o bunker para ver se estavam intactos como sempre.

 

"Não é assim que as coisas funcionam, Cas."

 

Não havia como saber com o que Dean sonhava, a menos que Castiel invadisse sua mente. Suas frases chegavam até ele quando seu nome era evocado, por isso as ouvia.

 

"Cas? Cas? O que está fazendo?"

 

Havia alerta e perigo em sua voz, isso pressentia um outro pesadelo. Num bater asas, ele estava no quarto de Dean. A mesma cena de antes se repetiu: Dean se remexendo desconfortavelmente como se lutasse, suor começava a se acumular em sua pele e seu batimento cardíaco acelerou.

 

Com um toque leve de seus dedos em sua testa, Castiel livrou-se do pesadelo, substituindo por lembranças felizes. Dean provavelmente não gostaria de saber que Castiel estava lá, ainda mais com ele o evitando a todo custo seja lá por qual motivo.

 

Prestes a sair, uma voz rouca e sonolenta o chamou, a mesma voz, porém desta vez acordado:

 

— Cas?

 

— Olá, Dean.

 

O quarto estava escuro demais para a visão humana conseguir identificar sua figura, mesmo assim Dean sabia que ele estava lá.

 

— O que está fazendo aqui no meu quarto? — E como o esperado: o tom aborrecido.

 

— Você me chamou — respondeu solenemente para mostrar que não era um invasor de privacidade alheia e que invadir quartos alheios em plena madrugada não era seu fetiche.

 

— Não chamei.

 

— Sim, você me chamou, mas em sonho.

 

Dean ficou quieto, e então:

 

— Foi você que fez isso?

 

— Sim.

 

E bufou. Houve luz do abajur de repente iluminando a sala escura, Dean não estava com uma cara muito agradecida, ou aliviada.

 

— Perdão, não era minha intenção te acordar. Você me chamou, eu vim. Tirei seus pesadelos. Considere um agradecimento pelas asas.

 

E novamente houve silêncio.

 

— A transição acabou?

 

Como se não desse conta delas até então – ele realmente não tinha –, olhou para elas que estavam no plano espiritual, longe dos olhares humanos.

 

— Ainda não.

 

Dean fez um gesto de esfregar o pescoço e desviar o olhar enquanto bufava, parecia ponderar. Aparentemente decidido, com um movimento para se aproximar, disse:

 

— Venha aqui.

 

Castiel obedientemente o fez, se sentou na cama, Dean segurou seus ombros fazendo ele virar de costas.

 

— Falta um par, né?

 

— Sim — anuiu arqueando uma sobrancelha duvidosa. — Dean, você não precisa se não quiser…

 

— Calado. Eu quero.

 

Também não era segredo que os Winchesters perdiam o sono após os pesadelos, Castiel sabia que Dean queria se distrair e Castiel era o único presente na cena para cumprir tal papel, mesmo que ele estivesse bravo com ele por algum motivo. Ele não conseguia entender Dean Winchester de jeito nenhum.

 

Diferente de antes, as mãos de Dean estavam mais dispersas e vagantes do que de fato arrumando algo, nada incômodo, embora, parecia um carinho estranho. O clima em si estava estranho, Castiel se remexeu desconfortável e Dean parecia na mesma situação desde que Castiel podia sentir emanar essa vibração nervosa.

 

— Dean?

 

— Hm?

 

— Minhas asas estão no plano espiritual ainda. — As mãos vacilaram. — Você está passando a mão pelas minhas costas.

 

— Ah, foi mal. — E as mãos caíram. — Você sente isso? Mesmo no plano espiritual?

 

— Sinto. Faz cócegas.

 

— Então tire o sobretudo.

 

Castiel até abriu a boca para contra-argumentar, porém desistiu e cedeu resistência tendo em vista que Dean estava particularmente sociável com ele, Castiel não deixaria essa brecha escapar. Fez como o dito e tirou as roupas que o cobriam na parte de cima, libertando suas asas com um "vump".

 

— Essas são menores que as outras — denotou Dean dando uma boa olhada.

 

— São meu par terciário. Elas servem para dar equilíbrio.

 

— Chuck…

 

— …pensou em tudo, é.

 

Um sorrisinho delineou o rosto de ambos.

 

O tratamento real começou a partir daí. A aura embaraçosa aos poucos foi se dispersando conforme os dedos grossos do caçador foram arrumando suas penas negras com brandura, a satisfação e o relaxamento atingindo a ambos. Ação esta que já era reconhecível e muito bem-vinda.

 

Minutos se passaram assim: em completa quietude. Castiel até tinha fechado os olhos novamente sentindo os dedos alisarem suas fibras de maneira prazerosa, fazia anos que ele não conseguia alcançar aquele par e ter alguém o arrumando enfim era deleitoso. Até que a mão parou debaixo de sua primeira dobra, próximo à base onde se encontravam com suas costas e ficou ali, apenas ali.

 

— Dean? 

 

— Eh, desculpe. É que… essas são mais macias.

 

Sem motivo aparente, o interior de Castiel vibrou.

 

— Cas?

 

— Sim, Dean?

 

— O que foi isso?

 

— Isso o quê? — Virou-se para ele por cima do ombro.

 

— Esse som. É o mesmo que você fez naquela vez, só que… eu não sei, menor?

 

Castiel ficou completamente mudo.

 

— Cas — chamou mais sério agora. — O que foi aquilo que aconteceu?

 

Todas as barreiras que Castiel vinha construindo nos últimos dias caíram por Terra, ele entendeu que não podia correr ou manter isso longe de Dean mais.

 

— Eu sinto muito — iniciou se virando para ele de corpo agora. — Creio que você não esteja se referindo a eu ter incendiado o celeiro.

 

— Bom, isso também. O que diabos aconteceu lá? Eu não te vi tão… — ele comprimiu uma expressão incerta.

 

— É que — disse passando a mão no rosto —, foi um dos outros efeitos colaterais. Você arrumar minha asas fez com que eu pensasse que… bem… estivéssemos entrelaçados. Meus instintos agiram por mim quando vi que você estava em perigo.

 

— Entrelaçados? — indagou com desconfiança.

 

— Nosso vínculo — reforçou encarando-o agora. — Ficou mais forte ao você cuidar das minhas asas.

 

Dean temia perguntar pelo rumo que isso estava tomando, mas bem, ele não era um homem que fugia da luta. Portanto, engoliu a voz de sua cabeça para deixar o assunto de lado porque era algo além do que ele deveria saber.

 

— E o que isso significa? — O tom lacônico.

 

— Os Anjos que cuidam das asas um do outro são Anjos com um vínculo aprofundado de intimidade. Ou, o que vocês chamariam de "casais" na Terra.

 

Alguma parte dele já sabia, porém se recusava a reconhecer. A outra parte, realmente não ligou.

 

— Hanael?

 

— Nosso cuidador original. Um tempo depois os Anjos começaram a fazer esses pares e virou uma tradição. Anjos sem par ainda eram tratados por ele.

 

Houve silêncio entre ambas as partes conforme as novas informações iam sendo digeridas pelo caçador. Por finalmente revelar a verdade, Castiel estava um tanto aflito com que Dean acharia, tanto que sua reação foi dobrar as asas atrás dele buscando se tornar menor.

 

Dean pensou, pensou e repensou dentre esse curto período de tempo e a única conclusão em que chegou, era que ele não se importava realmente. Ele não deixaria seus traumas, preconceitos internos e instinto natural de fugir daquilo que não conhecia, estragar o presente. Ele se sentia bem. Cas se sentia bem. Então, quem estava julgando mesmo?

 

Sua resposta veio em forma de um toque acanhado porém decidido na parte de trás das asas de Castiel, que teve um pequeno sobressalto não esperando a ação. Quando o azul confuso se encontrou com o verde confiante, Castiel viu apenas segurança e certidão lá, o que fez um próprio sorriso brotar nele.

 

— Por que não me conta mais sobre esse lance de arrumação? Estou curioso.

 

Algo dentro de Castiel estava queimando agradavelmente, fazia seu corpo ficar inexplicavelmente leve e radiante, tal sensação era inédita e de modo algum incômodo. Se ele pensasse bem, era até familiar. Como podia? Algo ser inédito e nostálgico ao mesmo tempo? Havia algum nome para tal sentimento? Se não, não havia problema em nomeá-lo de "amor", certo?

 

Desde que se rebelou contra o Céu, Castiel nunca tinha se sentido tão livre.

 

— Claro, Dean.



—//-



Um bocejo deixou a boca de Sam quando ele passava pelo corredor de manhã, estava atipicamente quieto aqui. Geralmente havia o cheiro de bacon com ovos e café no ar a esse horário, o barulho dos utensílios da cozinha sendo usados ou a voz de Dean cantando uma música de rock qualquer ecoando, era um hábito de Dean acordar primeiro do que ele para fazer-lhe o café da manhã.

 

Não havia ninguém na cozinha embora, o cômodo estava intacto. Erguendo uma sobrancelha duvidosa, Sam foi atrás de seu irmão, talvez tenha dormido um pouco demais ou deve ter sido raptado.

 

Deu três toques em sua porta recebendo nenhuma resposta em troca, então sorrateiramente abriu-a numa fresta para ver adentro, só para encontrar o que seria um cobertor gigante de asas sobre dois corpos na cama. Os roncos suaves de Dean enchiam a sala sendo o suficiente que Sam precisava saber. Ele fechou a porta enquanto um sorrisinho cruzava seus lábios, então se distanciou do quarto de seu irmão dizendo para ninguém em particular:

 

"Finalmente."

 

Mais tarde, um Dean sonolento apareceu na cozinha com Sam e Jack já lá, Sam tentou não dar muito na cara o que pensava, porém um sorrisinho estava por baixo de sua xícara de café ao ver o quão desnorteado Dean parecia naquela manhã.

 

— Dormiu um pouco demais, hein? — implicou fingindo checar o jornal. — Desistiu das quatro horas e resolveu dobrar?

 

Dean apenas revirou os olhos e não respondeu nada enquanto se sentava de frente para Sam e ao lado de Jack na mesa trazendo um café consigo. Foi quando Castiel apareceu, ambos não trocaram nenhuma palavra até então, mas aquela sensação de algo estranho pairando ainda se sustentava.

 

Até que Castiel abriu a boca vindo se aproximar de Dean:

 

— Dean, quero te agradecer pelo sexo de ontem. Foi bom e ainda estou agradavelmente dolorido.

 

Dean cuspiu todo o conteúdo que havia tomado do café na mesa deploravelmente, Sam desatou em gargalhadas altas e Jack questionou "O que é 'sexo'?".


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Notas finais do capítulo

Haah, o final foi inspirado numa imagem que vi no grupo Destiel do Facebook e quis acrescentar aqui XD Sam é o maior Destiel shipper que há entre nós.

Eu simplesmente amo fluffy e amo ver essa aura tão fofa entre eles :') ai, ai.

Acredito que eu tenha deixado umas pontas soltas, mas para mim a explicação está na própria história, então se tiverem dúvidas, podem perguntar.

Espero que tenham gostado, obrigada por ler!
Beijinhos
(„ಡωಡ„)



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