Night Changes escrita por Love Rosie


Capítulo 1
Rotina




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“Meu nome é Lyra Jane Weasley-Malfoy, tenho 13 anos, nasci em 12 de julho de 2008, numa quinta-feira ensolarada. Sou do signo de câncer e minha cor favorita é verde. Estudo na escola Beauxbatons. 

Faço aniversário junto com Malala Yousafzai, que é exatamente dez anos mais velha que eu e a pessoa mais jovem a ganhar um Prêmio Nobel. 

Lyra é o nome de uma constelação, que tem como principal estrela a Veja. Meu pai escolheu esse nome porque é tradição na família dele que os membros tenham nomes de estrelas ou constelações. O nome dele é Scorpius Hyperion Malfoy. 

Malfoy quer dizer má-fé em francês, no entanto meu pai sempre diz que um nome não é capaz de nos definir, apesar de viver repetindo que sou a estrela da vida dele. A família Malfoy é tradicional na indústria farmacêutica, possuindo alguns laboratórios espalhados pelo continente. Meu pai não se interessou por este ramo e abriu uma empresa chamada Hyperion (o segundo nome dele), onde é o principal arquiteto. Particularmente, arquitetura não faz meu tipo, prefiro literatura ou cinema. 

Jane foi ideia da minha mãe porque ela ama os livros de uma escritora chamada Jane Austen, cuja principal obra se chama Orgulho e Preconceito. Minha mãe se chama Rose Elizabeth Weasley porque aparentemente a mãe dela, minha avó Hermione, também curtia essa história e Elizabeth é o nome da personagem principal. Confesso que livros de aventura fazem mais o meu estilo. Minha mãe é professora numa escola chamada Hogwarts, onde ela ensina Sociologia para os anos finais. Sociologia é a matéria que estuda a sociedade, as pessoas, comportamentos e até um pouco de história, por isso minha mãe costuma entender tão bem tudo o que acontece no mundo. 

Weasley é um nome inglês, que não sabemos bem a origem. Porém, meu avô conta que um dos nossos antepassados foi um herói de guerra e foi parte de uma organização secreta que defendia e abrigava pessoas necessitadas, ao mesmo tempo que traçava estratégias para desestruturar as tropas inimigas e atacá-las de forma sorrateira e efetiva.”

— Onde está a conclusão? – Rose indagou ao terminar de ler o texto da filha enquanto bebericava café em sua caneca de “melhor mãe do mundo” que havia ganhado da filha no Natal. Ela sempre corrigia as redações de Jane e se orgulhava por ela sempre pedir sua ajuda com as tarefas da escola. 

— Está aí, eu não tenho mais o que falar. – a pequena criatura ruiva argumentou.

— Mesmo assim, precisa ter cara de conclusão. Desse jeito parece que você só largou o texto no meio. – a mãe pacientemente explicou – Além disso, “não faz o meu tipo” não é a melhor das expressões. Quando você precisa entregar isso?

— Amanhã. 

— Então depois da escola trabalhamos nisso, agora estou com pressa, Alice pediu para que eu aplicasse uma prova para ela porque ela precisa resolver algumas coisas agora cedo. – disse já se levantando da mesa da cozinha e colocando a louça suja na pia. – Já está pronta?

— Sim, mas não precisa esperar, meu pai vem me buscar, lembra? – Lyra Jane avisou já sabendo que a mãe havia esquecido. 

— É verdade – suspirou – Ainda assim, melhor se apressar, não quero que fique em casa sozinha por muito tempo.

Rose tentava se organizar ao máximo, porém como boa mãe sobrecarregada que era, acabava se embolando em meio a tantos compromissos. Ela e Scorpius compartilhavam a guarda da pequena Jane, como ela gostava de chamar, e devia confessar, o Malfoy era um bom pai e dividia por igual a carga no que se relacionava à filha. Contudo, a ruiva estava sempre a pensar em algo sobre a casa, compras a fazer, contas a pagar, averiguar se suas plantas estavam regadas, se a grama estava cortada, se os móveis não estavam empoeirados – já que Jane tinha alergia – se seus alunos estavam se saindo bem nas provas, se os textos da filha estavam ortograficamente corretos, se suas calcinhas limpas ainda não tinham acabado, averiguar sua tese de mestrado, se sua mãe estava se tratando corretamente depois do transplante de fígado, se ela própria estava se cuidando depois de ter doado o fígado à mãe, se Hugo estava ajudando os pais com as compras e administrando suas contas, se sua menstruação não estava atrasada, se o carro estava abastecido...

Aos 31 anos ela estava no auge do estresse e da insônia, sobrevivendo à base de café e – que seus pais ou sua filha nunca saibam disso – energéticos. Admitia que, nos últimos meses havia enviado mais mensagens ao pai de sua filha perguntando se ele poderia ficar com ela nos dias não predefinidos do que pedira em 13 anos, mas ela estava completamente esgotada e, agora que a garota não precisava mais biologicamente da mãe, se permitia tirar um tempo para si, mesmo que este tempo fosse apenas para dormir ou comer pipoca e tomar vinho enquanto assistia comédias românticas na televisão. 

Ao terminar de ajeitar suas coisas, Rose saiu de casa andando em direção à escola onde lecionava. Hogwarts era a escola onde a Weasley estudou por toda infância e adolescência até conseguir uma bolsa em Beauxbatons nos dois últimos anos de escola. O prédio ficava a dois quarteirões de sua casa, por isso já estava acostumada a se locomover a pé por aquela área. Morou naqueles arredores praticamente a vida toda, se mudou apenas para fazer faculdade, mas assim que teve oportunidade de retornar para lá, agora com uma casa só para ela, o fez quase que imediatamente. Ela se sentia em casa por ali e conhecia cada pedaço daquele lugar, a ponto de saber onde procurar exatamente quando desconfiava que seus alunos estavam matando aula. Por esta razão, sabia que aquele carro luxuoso que subia a rua em direção à sua casa destoava completamente de todo ambiente suburbano.

— Bom dia! – o motorista desejou quando parou com o carro ao lado da moça. Estava com os cabelos louros desgrenhados e a cara amassada de sono, como se tivesse acordado quase naquela hora. A camisa amarrotada e a calça de moletom que usava confirmaram a teoria da mulher.

— Parece que alguém teve que pular da cama às pressas hoje. – provocou se aproximando do carro, apoiando na janela – Errou a hora?

— Fiquei até tarde num projeto ontem, confesso que quase me esqueci de pegar a Lyra. – confessou envergonhado.

— Acontece. – a ruiva o confortou. Ficaram alguns segundos num silêncio um pouco desconfortável quando ela continuou – Lembra que a Jane tem natação hoje? 

— Sim. Você comprou uma touca nova? Acho que aquela rasgou na lateral. 

— Ah, foi coisa pequena, eu costurei e acredito que aguenta mais algumas semanas. – ele apenas concordou com a cabeça – Preciso ir, tenho que chegar um pouco mais cedo na escola. 

— Quer uma carona? – ele ofereceu sem pensar duas vezes. 

Rose ponderou, mas acabou aceitando e se sentou no banco de trás pois sabia que a filha logo entraria no banco do carona. Ele parou em frente à casa dela e buzinou. A garota logo apareceu na janela fazendo sinal para que ele esperasse mais um pouco. Enquanto aguardavam Lyra Jane terminar de se ajeitar, Scorpius se lembrou que precisava conversar sobre algo sério com a mãe de sua filha:

— Eu gostaria que a Lyra ficasse para jantar comigo hoje, se possível. – pediu um tanto agitado. 

— Por mim tudo bem. – ela concordou rindo um pouco da inquietude do homem, visto que aquelas trocas eram rotineiras entre os dois. – Mas por que o nervosismo?

— É que eu estou conhecendo uma pessoa há um tempo. – o loiro fez uma pausa para analisar a expressão da mulher que permaneceu impassível – E acho que seria interessante que ela e a Lyra se conhecessem, sabe? 

Agora tudo estava fazendo sentido para Rose. Seria mentira dizer que em 13 anos isso nunca ocorreu antes. Tanto Rose quanto Scorpius se envolveram em relacionamentos que ficaram sérios o suficiente a ponto de levarem os parceiros para perto da família, mas nenhum dos dois havia chegado ao ponto de apresentar alguém para a filha agora adolescente. 

Lyra Jane já possuía maturidade e inteligência suficientes para compreender que seu nascimento não fora exatamente planejado e que, já que havia descoberto recentemente como os bebês eram feitos, seus pais nunca tiveram de fato um relacionamento para concebê-la. Ela havia aceitado até que bem porque por mais que nunca tivessem sido namorados, seus pais estavam presentes em sua vida e isso era mais importante do que qualquer coisa. 

Fato é que o último relacionamento sério de Rose terminou quando a garotinha tinha 9 anos e o de Scorpius antes, quando ela tinha apenas 5. Era a primeira vez em 7 anos que ele aparecia com alguém, portanto a Weasley imaginou que, de fato, foi uma decisão bem pensada. Mesmo assim, não custava nada perguntar:

— Você tem certeza? 

— Para ser sincero, não – ele riu nervoso – Mas realmente gosto dela e os olhos dela brilham quando falo da Lyra, ela está louca para conhecê-la.

— Olha, só lembra de conversar com Jane antes. – aconselhou – Se ela estiver de acordo em conhecer essa moça, então por mim tudo bem que ela fique para o jantar. – ele assentiu com a cabeça – Só não traga ela para casa tarde, nós precisamos revisar uma tarefa.

— Dou minha palavra de que não terá tarefa alguma sem revisão.

O assunto terminou logo quando a filha dos dois entrou no carro estranhando a presença da mãe, que explicou que era apenas uma carona. 

No caminho até Hogwarts o silêncio foi preenchido por recomendações de Rose à sua filha sobre como utilizar a touca de natação com cuidado para que não se rasgasse novamente, mas assim que saltou do carro não pôde evitar remoer o que Malfoy havia contado a ela. Ficou se perguntando se a filha estaria confortável com esta situação pois era evidente que tanto Scorpius como a própria Rose tinham direito de seguir suas vidas e iniciar relacionamentos amorosos, construindo futuramente suas próprias famílias e até mesmo tendo mais filhos. Pessoalmente, a Weasley não desejava ser mãe novamente, mas não fazia ideia dos planos de Scorpius. Por isso, assim que chegou à sala dos professores, tirou sua agenda da bolsa e anotou num canto: 

            Perguntar Scorpius sobre planos para o futuro

— Ora, ora, parece que temos aqui uma curiosa. – uma voz sussurrou perto da nuca de Rose, assustando-a. Era Alice em sua típica combinação de roupas joviais e brincos coloridos. Na opinião de Rose, ela parecia um skatista com aquele macacão jeans largo, mas guardou para si. 

Uma vez quando mais nova Jane disse em voz alta para uma desconhecida na rua que seu vestido parecia coador de café e desde então ela evitava comentários sobre a aparência de qualquer pessoa. 

— Você disse que ia demorar! – a ruiva exclamou se fingindo de nervosa, o que não era verdade. Estava aliviada em saber que teria um horário livre para corrigir as provas do segundo ano.

— Eu sei e para você não ficar brava trouxe um cafezinho para você – com um sorriso forçado no rosto, a mulher estendeu a mão oferecendo um dos copos que carregava – Se preferir, pode pegar meu chocolate quente também.

— Fico com o café.– expressou Rose fingindo uma carranca enquanto agarrava o café e levava aos lábios, embora soubesse que não deveria ingerir ainda mais da bebida logo depois de consumir quase meio litro em casa. Alice, degustava o chocolate quente, puxou uma cadeira e se sentou ao lado da ruiva.

 – Então… – começou – Por que quer saber os planos do seu ex para o futuro?

— Ele não é meu ex. – a mais velha respondeu rapidamente – E isso – apontou para a agenda – é só porque ele está conhecendo uma pessoa nova e fico pensando se ele tem intenção de formar família. Se a resposta for positiva temos que preparar a Jane. É apenas…

— Ciúmes – Alice interrompeu.

— … preocupação. Você inventa umas histórias totalmente sem cabimento e acredita nelas, Lice.

— Ah, não é minha culpa ser fanfiqueira, é meu destino. E vocês fariam um casal perfeito, são totalmente shippaveis e nem preciso gastar minha imaginação pensando como seriam seus bebês porque já vi com meus próprios olhos e ela é linda. – soltou tudo de uma vez com uma empolgação impressionante para 7h48min da manhã.

Alice Longbottom era apenas alguns três anos mais nova do que Rose, mas apresentava pelo menos dez. Não apenas pela pele negra que reluzia fazendo com que ela parecesse uma adolescente, mas pelas roupas e tamanho diminuto que a camuflava em meio aos alunos. E, bem, ela não precisou dedicar toda sua energia fazendo faculdade e cuidando de um bebê ao mesmo tempo. Isso envelhece um pouco as pessoas. 

A moça conhecia quase todos os bares da cidade, tinha um grupo muito diverso de amigos e estava por dentro de todas as tendências entre os jovens, por isso os alunos a amavam. Alice e Rose não eram nada compatíveis, mas firmaram amizade pois nos primeiros dias de Longbottom na escola, enquanto os outros professores julgavam seu estilo, Weasley a acolheu. 

Em partes porque percebeu a fragilidade da garota recém graduada em Biologia e em partes também porque o professor Neville Longbottom, pai de Alice, foi o melhor professor que ela teve, a maior inspiração para a Rose de 17 anos se tornar médica, assim como para a Rose de 19 anos mudar o caminho para a docência, escolha da qual não se arrependia.

— Sabe, por que não mudamos de assunto? – a ruiva sugeriu fechando a agenda – Afinal, o que foi fazer a essa hora da manhã para que eu tivesse que substituir você?

— Fui tentar negociar uma visita gratuita ao Aquário, estou trabalhando a vida marinha com os alunos do sexto ano e queria fazer algo diferente. 

— Seria bem interessante. – Rose sempre ficava admirada com o empenho da amiga – Jane já foi com a escola e adorou. 

— É, mas a escola da sua filha tem dinheiro para bancar tudo isso. Você sabe que a gente não recebe o suficiente para pagar ingresso para 30 alunos. – ela parecia aborrecida – O cara que administra não me deu nem chance, me cortou de cara. 

Rose se compadeceu. Sabia como era difícil querer fazer algo legal para os alunos e isso estar totalmente fora de alcance. Sabia também como era injusto fazer com que os pais arcassem com esse tipo de custo. Os passeios do colégio de Jane eram geralmente bancados pelo pai, bem como as mensalidades. Ela se recordava também que na época que estudou como bolsista na mesma escola em que a filha agora era aluna, sofria por não conseguir ter acesso ao que os colegas da tinham.

Felizmente, se lembrou de algo que poderia ajudar a amiga. 

— Ei, conheço um cara que trabalha no Aquário. Ele é especialista em pinguins. Talvez possa dar uma forcinha.

— Ai, Rose… – Longbottom apertou as bochechas da mais velha enquanto falava fazendo biquinho – O que seria da minha vida sem você?

— Provavelmente um caos. – riu – O nome dele é Albus Potter, ele é meu primo e um cara bem legal. Vou mandar o contato dele depois.

— Obrigada, obrigada, obrigada. – exclamou se levantando para pegar o material em seu armário. Encheu as mãos desajeitadamente com as provas impressas e fez uma careta para a outra – Pareço brava assim?

Weasley riu

— Nem um pouco.

— Droga. – praguejou – Aquelas crianças já me tratam pelo primeiro nome e não por Srta. Longbottom. Se eu não colocar ordem a diretora vai me cascar. Bem, já estou atrasada. Me deseje sorte. 

— Boa sorte! – Rose desejou enquanto Alice saía.

Sozinha novamente, a ruiva abriu a agenda, fitou aquela tarefa e resolveu alterar:

Perguntar Albus sobre planos de Scorpius para o futuro


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