Lua Negra - EPOV de Lua Nova escrita por rkpattinson


Capítulo 8
Capítulo 7 - A Mentira (revamped)


Notas iniciais do capítulo

Este é um capítulo já publicado, porém renovado (02/10/2023) para a continuação da história. Alguns parágrafos e palavras foram adicionados. Acredito que as adições fazem sentido para a história. Obrigada por esperar! ♥



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EU HAVIA ME APERFEIÇOADO. 

No início, eram apenas horários trocados, endereços sem destino final, desculpas esfarrapadas sobre adrenalina ou algo parecido. Agora mentia sobre sentimentos. Era como se não bastassem meus pecados carnais, agora eu colecionava pecados da alma também.

 

Deixamos um plano elaborado para os que ficaram, quando Emmett, Rosalie e eu partimos de Ithaca dois dias atrás. Minha doce e forte Bella fazia parte dele. Era na verdade, mais uma das minhas falsas verdades que eu a submetia. Sentia-me menos egoísta por saber que o objetivo desta, assim como aquela que Bella contou para o pai quando fugimos de James, era protegê-la. E ao mesmo tempo, sentia-me covarde por ser o verdadeiro culpado por ambas. 

 

Era simples para evitar desencontros. Repassei a mentira em minha cabeça mil vezes. Rosalie e Emmett resolveram casar mais uma vez, em comemoração a todas as décadas juntos e para aproveitar que estávamos em uma cidade nova. Assim poderiam exibir toda a extravagância que Rose gostava de ser. Como forma de aproximar minha irmã rabugenta, os líderes do nosso clã enviaram Bella e eu para acompanhar os preparativos da festa e aproveitar umas férias fora de época. Todos sabiam que Rosalie era avessa à entrada de Bella na família. Não que ainda fosse um problema no presente momento. Então, como bons parentes passaríamos para visitar os Denali. 

 

Dirigimos de Ithaca até Toronto o mais rápido que podíamos. Seguimos a pé até Edmonton. Sem grandes paradas, corremos o mais rápido que conseguimos. Antes de sairmos de casa, Alice reservou quatro passagens de avião com nossas falsas identidades e informações que havia decorado sobre Bella. Então, mesmo com apenas três passagens feitas o check-in, embarcamos de Edmonton com destino a Denali. 

 

Imaginar como seria bom mostrar diferentes lugares do mundo para Bella lembrou-me do vazio recém-criado em meu peito. Novamente, não seria possível um corpo morto doer? Massageie meu peito, sem ligar o olhar de reprovação de Rosalie ao lado de Emmett. 

 

A camisa que me vestia alimentou a dor. E mesmo que machucasse, eu precisava provar que Bella estava conosco, uma vez que ninguém a veria. Então, como parte do plano, troquei-me rapidamente no banheiro movimentado do aeroporto antes de embarcarmos. 

 Não pude deixar de me perguntar se um corpo morto poderia parecer pior do que o costumeiro ao me ver no espelho. Virei o rosto renegando minha imagem. 

O tecido era o mesmo daquele dia, assim como a cor e o tamanho, assim como o cheiro dela. Não era preciso ser um farejador como James ou um lobo para notar. Qualquer um de nós perceberia o perfume natural e do suor sutil de Bella, a mistura de morango e lavanda no tecido. O melhor aroma em toda minha existência. Respirei o ar com mais profundidade e sorri com a lembrança.

 

O pedido de Alice agora fazia sentido. Eu não havia traçado nenhum plano quando ela me viu vestindo essa camisa sem sequer ser lavada para reuso. Mas tinha certeza de que agora ela conseguiria ver tudo claramente. 

 

Logo ao aterrissar e o sinal de que os passageiros poderiam utilizar aparelhos eletrônicos, o celular de Rosalie tocou. Era Alice, reconheci aquela pontualidade.

 

— Alô? — disse Rose, enquanto Emmett brincava com os cubos de gelo que não derretiam em suas mãos. 

 

"Bem-vindos ao Alasca. Como todos estão?”, disse a voz aguda do outro lado da linha. Mesmo com meu irmão entre Rosalie e eu, mesmo que não fosse uma criatura sobrenatural… mesmo que eu fosse apenas um humano, seria possível ouvir o estalar do timbre de Alice. 

 

— Edward está vivo, se é o que quer saber. — respondeu rispidamente. 

 

Obrigada, Rose. Você poderia tentar pelo menos uma vez. O que acha?

 

— Estamos todos fazendo nossas partes. — disse ela tirando o olhar do teto e sorrindo para Emmett — Além do que, vou celebrar meu novo casamento!

Alice sorriu sutilmente. Era bom saber que ela começará a voltar para a sua normalidade. 

 

Ok, pombinhos. Edward, sei que está ouvindo. Os quartos do hotel já estão reservados, basta pedir a reserva dos Cullens. E…”, ela hesitou antes de continuar, “... O cheiro irá convencê-lo… sem dúvida”, concluiu. 

 

Minha irmã já sabia como tudo ocorreria. Isso me dava certa confiança de que era o bastante. Mas, para garantir, estaria pronto para qualquer imprevisto.

 

Rosalie e Emmett seguiram para o próprio quarto, quando entrei no meu. Não tomei banho para manter o cheiro forte e fresco, mas tirei a camisa para iniciar outra etapa do plano. Esfreguei o tecido nos lençóis, travesseiros, maçanetas, cortinas e cadeiras. No banheiro, esfreguei uma toalha na camisa, a molhei superficialmente e deixei o piso do box do chuveiro molhado. Essa poderia ser a de Bella. 

 

Troquei as roupas de baixo e minha calça, quanto Emmett chegou à porta.

 

— Aqui estão alguns utensílios que podem ajudar. — disse — Rose mandou. 

Isso não fazia parte do planejado, mas com certeza ela não faria isso por conta própria. Alice certamente estava por trás disso.

 

— Obrigado, Emm.

 

Tomei os objetos e comecei a esfregar a camisa neles, enquanto meu irmão os espalhava pelo cômodo de forma despretensiosa. Uma liga de cabelo na pia do banheiro, uma camiseta na poltrona, um livro — do qual não li o título — sob a mesa de canto e um par de botas femininas pretas atrás da porta de entrada. 

 

Essa era minha última cartada. Se, por algum motivo, Laurent contasse a Victoria ou ele mesmo quisesse conferir, teríamos como provar com o cheiro que sufocava o quarto fechado e, agora, bagunçado. 

 

— Acho que vi uma humana sair agora mesmo deste quarto. — anunciou Rosalie encostada no batente da porta do quarto. 

 

Quase tive certeza de que meu coração morto se agitou com a palavra “humana”.  Não olhei para eles. Eu estava queimando por dentro.

 

— Podemos ir. — falei ao terminar de abotoar a camisa e vestir um sobretudo.

— Eu sei que você não está muito preocupado com sua integridade, mas posso garantir que os Volturis estão. — disse Rosalie entregando-me um par de luvas e um cachecol. 

 

Virei para os grandes janelões em minhas costas e espiei entre as cortinas ainda fechadas. O sol não era tão forte, mas ainda entregava nossa pele indiscreta e inumana. Assenti e me vesti rapidamente. 

 

***

 

Distante da estrada de asfalto e sal, ao final das marcas de pneus na areia misturada em uma pequena quantidade de neve, estava a casa dos Denali. Em certa época do ano, a casa com certeza ficaria cercada por neve. Da sacada de pedra, Tanya estava à nossa espera. 

 

— Quase acreditei que estava sonhando e alguns Cullens estavam a nos visitar. — disse ela com um sorriso no rosto, enquanto nos aproximávamos. 

— Como vai, Tanya? — a cumprimentei ao subir os degraus. Forcei um falso sorriso em meu rosto de pedra.

— Estamos bem. O que os trazem aqui? — perguntou a loira. 

— Rosalie e eu precisávamos comemorar mais uma década juntos, então… — Emmett falou do primeiro degrau em um tom formal, imitando quem ajeita a gravata.

— Outro casamento?! — perguntou Tanya abrindo os braços em surpresa.

Emmett sorriu e eu balancei a cabeça confirmando a pergunta jogada ao ar. 

— Mais que ótimo! Cadê a noiva e… — perguntou ela, ao se aproximar e sentir o cheiro humano em mim — Bella

Carlisle falara para nossos aliados sobre o crescimento do Clã um tempo depois dos acontecimentos com James. 

 

Ela soltou nosso abraço para cumprimentar Emmett menos informalmente, e pude perceber um certo desgosto em seu sorriso. Minha intimidade com ela não era tanta, mas estimava ser maior do que entre ela e meu irmão. 

 

— Rose tinha tantas coisas para ver no centro da cidade e Bella nunca havia visitado o Alasca, então resolveram ir às compras. — respondeu Emmett. Ouvir o nome dela em tantas vozes quase me convencia de que ela estava de fato ali. Comigo.

 

Apesar de todos saberem da falta de apreço por Bella, todos sabiam que Rosalie não perderia a oportunidade de fazer compras em lojas que não existiam na pequena cidade de Forks. Também sabiam o quanto ela e seu amado planejavam e gostavam de seus casamentos. Não seria difícil de acreditar. 

 

— Você sabe como Rosalie odeia casamentos… — falei por cima do ombro e sorri.

Irônico. 

— Claro, claro. — ela sorriu, gesticulando para que entrássemos. 

 

Limitei-me a sorrisos e confirmações sobre a viagem. Deixei que Emmett comandasse a conversa. Depois de alguns temas irrelevantes na sala de recepção dos Denali, ouvi dois pares de pés descerem as escadas. Eu conhecia o cheiro dos dois, mas um era mais recente para meu faro. Um tinha pensamentos calmos apesar de vigilantes. O outro estava ansioso e temeroso. Relances do rosto de James e Bella rondavam a mente do último

 

Irina surgiu sob o arco de pedras que dividia o corredor principal da sala em que estávamos, disfarçando sua surpresa. Atrás dela, Laurent surgiu assustado, mas ainda misterioso. 

 

— Sei que houve complicações no passado, mas vejo que tudo está sob controle agora. — disse Tanya quando viu a presença dos dois e meus olhos não desviaram do rosto do homem. 

 

Pude sentir que minha pele tremeu por debaixo das camadas de tecido que me vestiam. Queria perguntar para ele sobre Victoria e destruí-la antes que tentasse encontrar Bella. Mas precisava me conter. Lembrei-me do motivo para estar aqui. Eu precisava lembrar de mostrar que estava bem, feliz e completo, vivendo meu amor com quem meu coração escolheu. Precisava fingir ter tudo aquilo que eu mais queria e não tinha. 

 

Assenti com a cabeça para os dois antes de me levantar do sofá de couro vermelho e agradeci por nenhum Denali ter a habilidade de Alice.

 

— Olá, Irina. Como vai, Laurent? — ofereci um sorriso para ela e deixei-o cair quando estendi minha mão para ele. Laurent por sua vez respondeu meu aceno e logo, educadamente, guardou a mão nas costas de Irina. 

— Olá, Edward e Emmett! — disse a segunda mulher sorrindo para meu irmão, enquanto ele a correspondia no comprimento. 

— Digamos que algumas coisas mudaram desde a última vez que nos vimos. — respondeu Laurent. 

— Posso ver que sim. 

 

Estávamos longe para uma conversa entre “amigos”, mas perto o suficiente para sentir o cheiro um do outro. Ele tinha o cheiro de Irina por toda a extensão do corpo. Era como se estivesse coberto por uma camada do perfume dela, como um manto. Retrai-me ao lembrar como ele poderia conseguir essa cobertura completa. A vergonha invadiu meu rosto como nos primeiros anos de casamento de Emmett e Rosalie. Eles não eram discretos e era quase impossível não ouvi-los.

 

Quase me permiti imaginar como seria ter o cheiro de Bella por todo o meu ser, entranhado de forma que fosse impossível desviar. Mas fui atraído pelo nariz enrugado de Laurent, que disfarçou ao beijar o ombro de Irina. Por pouco sorri com a meta atingida. 

— Vejo que ainda estão juntos… você e Bella. — disse Laurent. Qualquer conversa paralela foi quebrada com sua afirmação e agora tínhamos toda atenção da sala.

 Certamente ele ouviu nossa conversa com Tanya, mas preferiu deixar claro que havia percebido. Talvez fosse um sinal para si mesmo sobre ainda “estar sob o comando” ou um aviso silencioso de que não havia esquecido o cheiro de Bella. Quase senti minhas têmporas saltarem de agonia.

Apenas siga o plano, pensou Emmett.

Irina e Tanya permaneceram em silêncio absoluto verbal e mentalmente. Imagino que deve ser interessante ter a mente em completo silêncio uma vez ou outra. 

 

Em respeito à minha família, aos anfitriões e, principalmente, à Bella, respirei e sorri serenamente para ele. 

 

— Posso imaginar que agora você entenda os motivos que me levaram a agir no passado. — falei, levando meu olhar para a mulher ao lado dele.

 

O sorriso de Irina surgiu em sua cabeça. Assim como ela envolta de um lençol branco e camuflada atrás de um arbusto. Em todas parecia feliz. Mas, como um flash, um tom sombrio surgiu em seus pensamentos, fazendo com que seus olhos se fechassem como quando sentíamos sede. 

 

Talvez ele entendesse o que era amor, mas o animal que vivia nele tinha a palavra final, e a sede prevalecia qualquer coisa ou qualquer um. 

 

— Gostaria de desculpar-me com Bella. Por que ela não veio? — perguntou curioso.

 

Sinal de alerta acionado. 

Soltei a respiração lentamente entre o sorriso formado no rosto. Mesmo que não precisasse, mantive a naturalidade humana. 

 

— Apesar de Rosalie ser um completo poço de ignorância, Bella animou-se com a ideia de conhecer a cidade e minha irmã não iria perder a oportunidade para comprar algo para seu milésimo casamento com Emmett. —  repeti a história e ouvi Emmett e os outros riem baixinho — Além disso, posso afirmar que tudo foi resolvido. 

— “Assunto de mulheres”, foi o que nos disseram. — disse Emmett imitando o jeito de Rosalie falar.

 

Sem dúvidas Bella deve estar achando interessante fazer compras, eu mesma teria ido, pensou Tanya com um tom de desinteresse. 

 

Interrompendo, pontualmente, o celular de Emmett rompeu na sala ao som de um rock aleatório. Rosalie ligara como o combinado. Seria nosso termômetro. Para o caso de Emm atender, tudo estava sob controle. Mas, se não, ela entenderia como um chamado de socorro. 

 

A conversa superficial resumiu-se em “mande lembranças”, “enviarei o convite”, “prometo visitá-los da próxima vez” e “podem vir nos buscar, Bella já está cansada e com fome”. E assim, terminamos nossa breve e gloriosa visita aos Denali. 

 

— Acredita que foi o suficiente? — perguntou Emmett quando já estávamos dentro do carro e longe demais para que os ouvidos aguçados nos ouvissem

— Sim. — Soltei o nó apertado que meus dedos faziam no volante — Por enquanto. 

 

De volta ao hotel, julguei-me um completo idiota. Porque apesar de saber, não pude resistir em cultivar esperanças, após fingir por horas que Bella estava comigo, e esperar encontrá-la em segurança em nosso quarto. 

 

Em meu último lapso inconsciente, concentrei minha mágoa ao tapar a respiração debaixo do chuveiro. Mas outro punhado de esperanças falsas me alcançou, porque a respiração não era necessária e eu continuava o mesmo e imortal, apesar de diferente e incompleto.

 

Meus irmãos permaneceriam no Alasca por mais um dia e, então, voltariam para casa. Eu, por outro lado, vesti a única peça de roupa que faria questão de manter comigo, aluguei um carro e segui viagem. Novamente, apenas seguindo a estrada, não sabia qual seria meu destino, mas sabia que precisava ficar sozinho. Como sempre.


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Notas finais do capítulo

Continue a ler para a surpresa!



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