— Não devia ter subestimado esse garoto – Shawn desdenhou.

Cory Matthews riu, balançando a cabeça para o resmungo do melhor amigo encostado no balcão da bancada de sua casa.

Era tão bom assistir o homem que por quase toda a vida nunca soube bem se ligar a nada nem ninguém realmente porque sempre foi o deixado, mas que aos poucos foi como uma figura amiga e responsável para Maya, um namorado bom para Katy seguido de um bom marido e consequentemente se tornando o pai que Maya merecia. O pai biológico pode ter se recusado a conhecer essa garota incrível que ajudou a colocar no mundo, mas Shawn se esforçou ao máximo para que ela visse o mundo melhor.

Ele prometeu ser o exemplo de pai.

Para buscá-la na escola nos dias de chuva;

Para ampará-la em seus momentos de tristeza;

Para ameaçar garotos com más intenções para com sua garotinha;

Mas Shawn cometeu o erro de subestimar o que estivera bem debaixo de seu nariz o tempo todo; o jovem irmão caçula de seu amigo Cory.

Josh Matthews sempre foi o garoto alegre e tranquilo muitos anos mais novo, que adorava grudar no sapato de seu irmão mais velho porque esse era seu ídolo.

Shawn até poderia vê-lo como seu caçula também no passado, mas essa imagem foi embora rapidamente quando vira o visível interesse de Maya no garoto, tio de sua melhor amiga. Não que o parentesco parecesse incomodá-la em qualquer momento.

Era só um detalhe interessante, segundo ela, nada que valesse apena estressar a cabeça.

Felizmente para Josh isso parecia importar junto com os 3 anos de diferença que se erguia como uma resistente muralha entre os dois jovens, que Maya ficava constantemente tentando quebrar com uma marreta e Josh consertar com tijolos e muito cimento.

Essa muralha era o conforto na consciência de Shawn enquanto aguardava o tempo passar e fazer sua mágica.

"O tempo cura tudo", eles dizem.

Um dia a paixão de sua menina seria superada, lembrada apenas como uma fase talvez meio vergonhosa de sua adolescência.

Toda menina já teve a sua primeira paixonite por volta dos 14 anos; tudo bem que ele poderia ter 17 anos, mas isso não significa que os dois ficariam juntos realmente. O primeiro amor raramente da certo.

Ela terminaria o colégio, iria para a faculdade e se tornaria a mulher esplêndida que todos sabiam que ela tinha o potencial para ser. Ele aplaudiria seu sucesso até o último dia de sua vida.

Claro que, no meio do caminho sua menina encontraria alguém, alguém que se fosse mesmo inteligente conseguiria ver com perfeição o quão especial Maya é, alguém que apreciaria todas as suas nuances.

Sem nunca desistir dela.

Mas para a sua surpresa esse alguém já estava decidido há muito tempo.

Não surtar toda vez que visse Josh aos seus olhos – e de todos – parecia um sinal de que pouco a pouco sua paixão platônica estava indo embora restando maturidade e sabedoria. Eles conseguiam ter um diálogo que não incluía Maya pedindo o garoto em namoro ou simplesmente ressaltando o seu interesse por ele publicamente.

Shawn lembrava de ouvir sua filha falar algo como "Jogo a longo prazo", entretanto, esse plano bateria de frente com o tempo e seu efeito nas pessoas.

Tudo ficaria bem.

Maya e sua melhor amiga Riley terminaram o colegial e conseguiram entrar na mesma universidade enquanto os outros amigos partiram para lugares distintos por seus próprios sonhos.

Havia ignorado o fato de que a universidade que ofertaria o curso de artes que a jovem queria era a mesma que Josh estava estudando. Ter um irmão mais novo na universidade era o carimbo de segurança aos olhos de Cory ao pensar em não ter mais sua preciosa garotinha sob suas asas.

Quem diria que o carimbo de segurança para uma seria o perigo para outra...

Em menos de 1 ano entre almoços e festas no campus todos puderam ver aquela gloriosa e resistente muralha começar a desmoronar como se fosse apenas o monte de folhas sopradas por um vento forte e duradouro.

O "jogo a longo prazo" não era tão passageiro como ele e Katy pensaram que seria.

Como todos pensaram...

— Não devia ter subestimado a Maya, até eu subestimei – Cory comentou se pondo ao lado do amigo.

Os dois homens tinham seus olhos cravados no grupo de pessoas na sala, especialmente o casal que a pouco menos de 20 minutos anunciara seus planos de matrimônio para o próximo ano durante o outono. Em três semanas Maya e Riley não seriam mais universitárias, o plano das duas melhores amigas dividirem um apartamento mudou para Maya e Josh dividirem um apartamento porque sua casa ficará perto do local que Maya trabalharia e outras tantas justificativas que sua filha dela para estar com o namorado.

Sua menina estava provando que o primeiro amor às vezes pode dar certo.

— Isso não é um pouco confuso, melhor amiga da sua filha, sua ex-aluna, será sua cunhada e meu neto seu sobrinho... você foi até uma segunda figura paterna para ela.

Cory deu de ombros.

— Decidi ignorar esses fatos três anos atrás quando tive a infelicidade de flagrar os dois no quarto – o gosto da cerveja que Shawn estava tomando transformou-se em água sanitária contaminada. A expressão resignada do homem fez o amigo rir, completando em seguida – Essa também foi a minha reação.

— Eu não precisava saber disso.

Cory também achava que não, mas não resistirá.

— Se vale de algo, Josh é um bom rapaz que todos sabemos que poderá cuidar bem da Maya.

Ele não a deixaria viver só de fast-food;

Entenderia a importância da amizade com Ryle;

Conhecia seu passado e estava disposto a prometer um futuro;

Josh seria seu porto-seguro que ela esperou por muitos anos quando afirmou em uma festinha de aniversario aos 10 anos que aquele garoto seria seu futuro marido.

— Eu sei que vai.

Shawn não poderia estar mais satisfeito do que nesse momento vendo o sorriso no rosto de sua filha que só esse rapaz conseguia trazer a tona.

Tudo ficará bem.