Primeira fileira escrita por Giuliana Murakami


Capítulo 1
Primeira fileira




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Suas primeiras performances não foram as mais louváveis. Ela própria sabia, mas nem por isso Diana deixou de sentar na fileira da frente para acompanhar os passos desajeitados de Akko.

Não porque queria rir da desenvoltura duvidosa da garota sonhadora, mas porque o convite da própria performista para que Diana julgasse seus shows improvisados no pátio da escola parecia ser a desculpa perfeita para admirá-la ainda mais.

— Você foi bem hoje! — garantiu Diana quando Akko levantou-se após uma queda abrupta em que tentou transformar-se de um pássaro a uma elefante. O resultado foi que as orelhas enormes de Dumbo não sustentaram o corpo pesado do animal metamorfoseado e Akko caiu de traseiro no chão.

— Não precisa mentir para me consolar assim, Diana... — Akko ergueu-se fazendo uma careta. — Eu sei que foi horrível.

 

Diana deu um meio sorriso gentil. O que reservava somente à Akko.

— Não tanto quanto os primeiros. Eu mesma já estou confiante o suficiente para assisti-la de perto!

— É, você sempre pega a fileira da frente...

As duas viraram-se para os banquinhos ajustados no pátio. Estavam vazios. Akko treinava quase todos os finais de semana e nunca deixava de convidar as amigas tanto do time vermelho quanto do verde. Mas, com o passar do tempo, parecia que as demais haviam se cansado de esperar o grande show.

— Sabe, eu... — Akko coçou a nuca. Diana franziu o cenho diante da timidez da outra. Não era do seu feitio! — Eu queria agradecer você por... Sabe... Confiar em mim. Digo, às vezes parece que você acredita mais em mim do que eu mesma.

Diana fez um "O" com a boca. Jamais teria imaginado que por trás de tanta explosão de otimismo e liderança, houvesse uma Akko tão insegura e frágil diante de si. Um calor abrasador preencheu seu peito.

— Um coração que acredita é a nossa magia, não é?

Akko deu um enorme sorriso ao ouvir, pela segunda vez, aquelas palavras de Diana. As duas encararam-se por alguns segundos, uma intensidade súbita preenchendo o silêncio do momento. Ambas coraram e pareceram repentinamente interessadas na grama recém-cortada do pátio.

— Eu, ugh, gah... — em um gaguejo raro, Diana pigarreou para que o nervosismo passasse... — Vou analisar alguns aspectos técnicos de performance artística e, quem sabe assim, não lhe ajudaria a conduzir melhor suas façanhas?

Akko, corada, assentiu ruidosamente. 

— Eu agradeço muito, mas não vai atrapalhar você?

— Nunca é um sacrifício ajudá-la... — Diana corou e pigarreou pela segunda vez em menos de um minuto. — Bem como não é incomum que eu ajude os demais alunos, correto? Seus bons resultados são do meu inteiro interesse.

Akko assentiu e riu. Diana sentiu o alívio preenchê-la. Agora, restava apenas cumprir com sua promessa.

***

Após algumas semanas intercaladas entre provas e afazeres extracurriculares, Diana finalmente conseguira se reunir com Akko no pátio de Luna Nova. As duas ajustaram os banquinhos ainda que ninguém comparecesse. Diana se pôs em frente à Akko, que subiu na borda do chafariz como vinha fazendo para aprimorar seu equilíbrio.

— Pelo que pude observar, o ponto forte que possui é a interação com o público. Não tem vergonha de se expor ou de falar abertamente o que pensa, ainda que de forma impulsiva... — Diana ergueu uma sobrancelha pensativa. — Suponho, inclusive, que seja necessário rever este aspecto.

— Ok, ok — Akko riu, já acostumada aos sermões indiretos de Diana.

— Outro ponto positivo é sua, err, aparência... — Akko estranhou o repentino rubor de Diana. — As pessoas encantam-se por artistas autoconfiantes e, cujas belezas se expandem por meio das palavras. De uma outra forma, o que quero dizer é: Akko, você é um avatar perfeito para uma performista tal qual Shiny Chariot.

— YATTA! — Akko ergueu o braço em vitória, o grito agudo fazendo Diana encolher. Neste instante, porém, Akko quase caiu no chafariz se não fosse pela mão ágil de Diana que agarrou seu pulso.

— Este é um problema notório em suas apresentações. O risco de quedas, descontrole da magia e passos desajeitados poderão ser considerados como ousados, mas tão perigosos quanto.

Só quando a última palavra escapou foi que Diana notou o quanto ela e Akko estavam próximas. No ímpeto instinto de segurá-la, não reparou quando havia puxado Akko para si. Os olhos vermelhos-rubi cintilaram rentes sobre o azul-pálido. Diana engoliu em seco e Akko deu um suspiro antes de soltar um grito agudo quando Diana a soltou.

No desespero da queda, Akko agarrou o colarinho de Diana, levando-a consigo para dentro da água cristalina que a estátua de dragão jorrava. As duas emergiram tossindo, as roupas encharcadas e os cabelos emaranhados.

— Akko!

— Desculpa, mas você me soltou!

— Não precisava levar-me junto nessa queda! Como eu iria resgatá-la se eu também estava caindo?

— Não sei, ora!

As duas ergueram-se e olharam-se. Akko bufou, tampando a boca para não rir, mas foi inevitável: a gargalhada se expandiu por todo o pátio. Diana se limitou a observá-la, sem conseguir deixar de sorrir.

— Até mesmo suas desajeitadas e inconvenientes mudanças de rota são agradáveis! — confessou Diana, antes de sair do chafariz. Ela ergueu a mão para Akko segurá-la a fim de ganhar impulso para sair da água.
Olharam os banquinhos vazios.

— Bom... — Diana sacudiu a varinha e suas roupas instantaneamente secaram. — Não queremos perder um dia, correto? Por favor, Shiny Akko, hora de se apresentar.

Akko corou e sorriu abertamente. Deu um salto até a borda do chafariz e fez uma acrobacia improvisada e segura.

— Por favor, espectadora, tome seu assento!

Diana sentou-se, obediente. Akko sacudiu a própria varinha e dela fez brotar uma pequena flor cor de safira, que entregou a uma Diana surpresa.

— Obrigada pelas dicas. Vou seguir todas!

Corada, sua única espectadora sorriu.

— E... agradeço também por estar sempre presente. — Akko transformou-se em pássaro rechonchudo que voou para o céu em rodopios.

Diana observou seus movimentos sem piscar, a flor azul entre suas mãos em concha, como se protegesse seu objeto mais precioso. E, de fato, pelo menos enquanto as pétalas não murchassem, seria seu tesouro de maior afeto.

Não! Pensou bem. A flor, ao fim, seria sempre apenas uma flor. Mas a garota que se transmutava nos ares, dona de toda sua atenção... Essa sim, era seu maior tesouro, embora jamais fosse dizer isso em voz alta talvez.

Ao invés disso...

— Eu sempre estarei presente... — sussurrou enquanto via Akko deslizando do céu, agora na forma de um golfinho rosa. — Na primeira fileira.


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