Scooby Doo: Wicked Game escrita por KendraKelnick


Capítulo 8
Capítulo 8




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Quando nos sentamos à mesa, repetimos nosso ritual de refeições: nos servimos o mais rápido possível para evitar que Shaggy pegasse tudo. Daphne explicou a Norville o desfecho do mistério enquanto aguardava suas colheradas de legumes. Infelizmente, não conseguimos comer nenhum dos pratos principais. Com a mesma agitação repentina que teve no restaurante, Scooby-Doo pulou na pobre cozinheira, derrubou no chão a carne assada que ela tinha nas mãos e comeu tudo antes mesmo que pudéssemos censurá-lo. Em seguida, por ser mais alto que a mesa, Scooby rapidamente abocanhou a torta e fugiu. Sem os pratos principais e com a presença de um devorador rápido e insaciável chamado Norville Rogers, o almoço não durou muito. Felizmente, a cozinheira teve o bom senso de servir a sobremesa em porções individuais, pois percebeu que se colocasse o bolo inteiro na mesa, somente Shaggy comeria.

Shaggy: Peraí, minha gente, esse mistério não foi resolvido não, vocês se esqueceram da atitude de Scooby no restaurante e no prédio da Liberty? Scooby-Doo nunca se comportou desse jeito!

Todos nós (inclusive a pobre cozinheira que ainda tirava restos do molho da carne de suas roupas) discordamos.

Fred: Shaggy, Scooby-Doo não é mais um cão totalmente policial. Você o transformou em um bicho de estimação quando o encheu de mimos e lhe deu maus costumes. Agora, ele está se comportando como um cão normal e mal-educado.

Se Jones tivesse xingado a Sra. Rogers, talvez Shaggy não tivesse ficado tão ofendido quanto ele ficou ao ouvir o capitão falando mal de Scooby-Doo. Como um pai que se revolta ao ver seu filho injustiçado, Norville ficou zangado e levantou a voz.

Shaggy: Escuta aqui, Fred, o Scooby-Doo é meu melhor amigo e eu o conheço muito bem, se eu estou dizendo que ele nunca se comportou assim eu sei muito bem o que eu estou falando! E o Scoob pode ser um pouquinho mal-educado às vezes, mas ele é o melhor perito do departamento! Então há algo errado sim! Ele é um cão policial, se ele sinalizou é porque há alguma coisa acontecendo! Esqueceram das manchas de luminol?

Shaggy ficou tão bravo que quase agrediu Fred, mas logo se acalmou porque Daphne lhe ofereceu biscoitos suíços e ele decidiu gastar mais energia colocando deliciosos biscoitos para dentro do que palavras inúteis para fora.

Velma: Calma, Shaggy, não nos entenda mal. O que estamos tentando dizer é que provavelmente Scooby se comportou dessa forma estranha porque farejou carne no restaurante e naquela geladeira secreta. Ele se comportou assim quando Anette trouxe a carne, não? Então, podemos concluir que o motivo que causou esse comportamento excepcional das outras vezes também foi o cheiro de carne.

Fred: Ou então, Scooby farejou carne na geladeira e drogas no terno de Mayberry, porque certamente ele trafica drogas.

Fred fez questão de exaltar a hipótese de que Mayberry portava drogas para invalidá-lo perante Daphne (e porque ele sabe bem que tráfico de drogas é um crime muito mais grave do que fingir um roubo). Shaggy ainda estava bravo, mas não disse nada porque sua boca estava ocupada demais mastigando biscoitos com a mesma raiva que tinha em seus olhos. Daphne também parecia hesitante.

Daphne: Bem… para ser sincera, eu concordo com Shaggy. Eu senti algo muito ruim naquele lugar secreto, aquelas caixas de presente que pareciam caixões… eu não sei explicar, minha intuição diz que há algo errado, apesar de eu não saber exatamente o que é… eu sei, todas as evidências dizem que Alan forjou tudo, mas eu sinto que esse mistério não foi totalmente solucionado…

Shaggy: E tipo, vocês se lembram que o aplicativo mostrou que Scooby disse “Alerta, assassino!” no restaurante? Ele nunca disse isso. Quer dizer, ele disse apenas quando ele achou algum assassino, mas tipo, em condições normais ele nunca disse isso… Tipo, esse Alan aí pode ter matado o Sang-woo e pode estar fingindo um roubo para ter um álibi… muitos assassinos denunciam suas vítimas para fingir que não têm nada a ver com o crime, vocês não assistem séries policiais na TV não?

Inevitavelmente, eu e Fred rimos novamente do aplicativo de Shaggy, e ele ficou tão bravo que Daphne teve que distraí-lo com o pedaço de bolo que ela não comeu.

Velma: Turma, eu sinto muito, mas não podemos guiar uma investigação com base em intuição, em séries de TV e em um aplicativo de traduz latidos em linguagem humana. Precisamos de evidências reais, e todas as que encontramos dizem que o mistério foi solucionado e Mayberry é o vilão.

Fred: Agora, temos que pegar Mayberry e puni-lo por seus crimes.

Fred começou novamente a tagarelar sobre as estratégias de captura que ninguém se importava. Daphne e Shaggy trocavam olhares contrariados, discordando de nossas opiniões. De repente, meu celular vibrou e o rosto do chefe do departamento de crimes cibernéticos apareceu na tela. Eu me levantei da mesa e me afastei um pouco para atender, pois Jones não calava a boca e não me deixava ouvir. Conversamos por quase meia hora.

Velma: Turma, eu tenho mais uma prova de que o mistério foi mesmo solucionado. Com exceção do problema com alvarás de funcionamento, o departamento de crimes cibernéticos disse que não há nada de errado com a Liberty de NY. Eles rastrearam as transações bancárias dos gerentes de todas as unidades da Liberty na cidade e não acharam nada de anormal. As únicas atividades suspeitas foram feitas por Cho Sang-woo na Liberty da Cedar, e é aí que as coisas ficam interessantes.

Fred parou de tagarelar quando eu disse “as coisas ficam interessantes” e começou a prestar atenção, assim como os demais.

Velma: Em primeiro lugar, Cho Sang-woo é um famoso estelionatário, ele é procurado na Coréia do Sul e em mais quatro países diferentes por desviar dinheiro de seus clientes, por fazer pirâmides financeiras e por se envolver em jogos de azar. Aqui em NY, sua “vítima” foi Alan Mayberry. Porém, diferente da história de roubo que Mayberry nos contou, Alan vem fazendo negócios com Sang-woo há tempos. O primeiro deles foi há dois anos, um investimento de 36 milhões de dólares em um esquema de criptomoedas…

Daphne: Oh não, o dinheiro que papai havia lhe dado?

Velma: Certamente. Porém, como havíamos pensado, Sang-woo fez o dinheiro derreter e perdeu tudo. Isso motivou o segundo negócio de Mayberry com a Liberty, um empréstimo…

Fred: E foi provavelmente com esse dinheiro emprestado que ele conseguiu fundar a sua fintech.

Velma: Provavelmente, não, com certeza! As datas e transações bancárias provam que o dinheiro que fundou a fintech de Alan veio de um empréstimo. Porém, nada saiu como o esperado, e Alan fez diversos empréstimos nos meses seguintes…

Fred: E certamente ele acabou se endividando…

Velma: Muito! Mas, felizmente, ele ainda possuía sua chave de acesso em Blake Bank, o que lhe deu a oportunidade de pagar essas dívidas com a Liberty…

Daphne: Então ele roubou papai para pagar as dívidas?

Velma: Não sou eu que estou dizendo isso, são os históricos bancários, inclusive esse comprovante aí em suas mãos. A dívida somava 38 milhões, então Mayberry pegou 36 de Blake Bank e arrumou outros 2 milhões das contas dos clientes de sua fintech para pagar a Liberty…

Fred: E então ele se endividou novamente em 2 milhões, e agora precisa muito dessa quantia para devolver a seus clientes e encobrir seus desvios?

Velma: Exatamente. E talvez seja esse o motivo pelo qual ele forjou o roubo, ele pretendia ganhar essa quantia judicialmente em um processo contra a Liberty.

Daphne: Mas, e a transferência do dinheiro da Liberty para uma ilha abandonada? Eu tenho provas de que essa transferência ocorreu também!

Velma: E ela ocorreu. Mas não foi Sang-woo que fez. A chave de autorização dessa movimentação não é a chave dele. Além disso, a transação aconteceu mês passado, a polícia de NY diz que a última movimentação na conta bancária de Cho Sang-woo foi há nove meses. O tempo não bate.

Daphne: Então está dizendo que Sang-woo é inocente?

Velma: Neste desvio, sim. Essa movimentação financeira para as contas Applegate na ilha foi autorizada por uma chave secreta, eles não conseguiram rastrear os dados dessa pessoa.

Shaggy: Peraí, afinal, o tal do Mayberry é culpado ou não?

Velma: Alan roubou de Blake Bank e dos clientes para pagar as próprias dívidas e fingiu que foi vítima de um roubo, então, creio que ele pode ser considerado culpado em meia dúzia de crimes. Sem falar que, se ele usou a transação para a ilha deserta como prova, ele deve saber quem fez essa transferência, então pode estar envolvido nisso também.

Fred: É, acho que definitivamente pegamos Mayberry.

Velma: Se juntarmos nossas provas com as provas que o departamento de crimes cibernéticos conseguiu, podemos montar um bom processo, Daphne.

Fred: E não se esqueça das drogas no terno de Alan!

Daphne: Mas… e Sang-woo? E o autor da transferência bancária para a ilha? Por que esse dinheiro foi transferido?

Shaggy: E o comportamento do Scooby Doo?

Daphne: Shaggy tem razão! Não solucionamos todos os mistérios desse caso…

Velma: Daphne, nós não temos como saber tudo. Não temos provas nem acusações contra esses problemas, então, tecnicamente, não é da nossa conta. Sang-woo sumiu porque é um criminoso, e essa transação suspeita talvez seja um investimento maluco de algum cliente da Liberty… não temos como saber…

Daphne: É a mesma quantia, Velma, deve ser algo relacionado ao crime de Alan!

Velma: A quantia deve ser apenas uma coincidência, Daph. Essa transação certamente não tem relação com o caso Mayberry, Alan usou essa transação para forjar o caso, temos provas de que Alan está mentindo para você.

Fred: Achamos o criminoso, Daph, é isso que importa.

Daphne não queria que o caso morresse, pois a solução dele significaria que iríamos nos separar e curtir nossas merecidas férias. Porém, ela também não tinha argumentos para manter o caso vivo, então aceitou o desfecho.

Shaggy: Tipo, se vocês não se importarem, eu e Scoob temos que voltar para a K9-Unit porque eu tenho, tipo, vários assuntos administrativos para resolver lá antes das férias…

Os “assuntos administrativos” de Shaggy eram três mensagens de Crystal na tela de seu celular, dizendo “onde você está?”, “estou te esperando” e “venha logo, estou sozinha”. Felizmente, Fred foi sensível à tristeza de Daphne e se ofereceu para acompanhá-la de volta à cidade. Aparentemente, eles também tinham seus próprios “assuntos administrativos” para resolver antes das férias, e eu comemorei essa decisão sábia com um sorriso de gratidão ao meu capitão. Fred piscou para mim, sinalizando um agradecimento, e eu fiquei feliz que nós dois havíamos mudado desde a nossa discussão. Aproveitando a partida de todos, Marcie e eu também nos despedimos, eu não estava no clima de “resolver assuntos administrativos”, mas eu ansiava por nossas férias juntas, mesmo sabendo que nosso destino seria o parque de diversões Fleach.

O caminho de volta foi relaxante. A sensação de “dever cumprido” (misturada com a noção de que minhas férias estavam começando) me causou uma paz interior comparada somente ao momento em que saí da casa dos meus pais-Nobel. Eu me senti feliz por mim – por ter percebido meus erros a tempo de poder repará-los – e também por meus amigos, que pareciam estar se dando bem com seus pares. Também me senti sortuda por ser noiva de Marcie Fleach, o tipo de mulher que faz você ter vontade de “resolver assuntos administrativos” quando você sequer está pensando nisso, e foi exatamente isso que fizemos quando chegamos a nossa casa. Acordei não sei quantas horas depois, com uma chamada irritante de um agente da perícia no meu celular.

Miller: Dinkley! Está no departamento?

Velma: Não… estou em casa, agente… o que houve?

Miller: Então preciso que venha ao departamento o mais rápido possível para dar uma olhada nessas amostras!

Velma: O que houve, Miller? Que amostras?

Miller: As amostras que colhemos no prédio da Liberty hoje de manhã. É sangue humano, em perfeito estado de conservação.

Meu coração disparou com a afirmação. Shaggy e Daphne estavam certos, havia algo mais  nesse mistério.

Velma: E você conseguiu o DNA da vítima? Sabemos a identidade dela?

Miller: Conseguimos extrair DNA das amostras, Dinkley…

Miller suspirou e engoliu seco.

Velma: E quem é a vítima, Miller, diga logo!

Miller: Não é “a vítima”, Dinkley. São trinta e cinco pessoas diferentes. Entre elas, Cho Sang-woo.


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