Scooby Doo: Wicked Game escrita por KendraKelnick


Capítulo 12
Capítulo 12




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Fred: Então Daphne estava certa o tempo todo sobre o cartão? Acho que está na hora dela fazer parte do NYPD. Ela é bem melhor que nós, Velma.

Eu confirmei sorrindo e balançando a cabeça e Daphne corou ao receber o elogio. Fred tirou uma das mãos do volante e acariciou levemente o rosto dela, tentando fazê-la parar de corar. Daphne disfarçou a timidez e mexeu em seus papéis à procura do cartão que achamos em Applegate Bank. Quando o encontrou, ela o entregou à mão livre de Fred, e Scooby-Doo pisou em cima de mim e de Shaggy para tentar cheirá-lo.

Velma: Agora nós precisamos descobrir o que este cartão significa, pois aparentemente ele é a peça chave para resolver esse mistério.

Fred: O cartão deve ser a peça chave para resolver o mistério das mortes, porque o mistério financeiro nós já solucionamos quando falamos com o Sr. Applegate. Está claro que esses VIPs são uma máfia, e além de desenvolverem atividades ilegais para ganhar dinheiro, eles aplicam golpes para eliminar seus concorrentes.

Daphne: E se esse cartão for o cartão de visitas da máfia? Não sei, algum tipo de código que eles usam?  Ou se os símbolos dos cartões têm algum significado especial?

A ideia de Daphne foi tão genial que todos nós olhamos para ela impressionados.

Velma: Jinkies! E se os números forem coordenadas geográficas?

Shaggy: Coordenadas geográficas, tipo, de Silmido, Coréia do Sul?

Shaggy nos mostrou as coordenadas geográficas de Silmido em seu celular e os quatro números finais (os segundos e minutos) da latitude e da longitude eram exatamente os números que apareciam no verso do cartão: 24062630.

Shaggy: Tipo, ignoraram os graus…

Velma: Talvez porque quem fez o cartão não precisava deles?

Shaggy: Talvez porque essa pessoa já estava em um local com os mesmos graus de latitude e longitude de Silmido?

Shaggy então apontou as coordenadas geográficas de Seul, e elas tinham os mesmos graus de latitude e longitude que Silmido.

Fred: Então a resposta de tudo está nessa ilha?

Daphne: Espera, eu não me lembro de ver esses números no cartão que eu peguei na máquina da Liberty…

Daphne começou a revirar seus papéis em busca do primeiro cartão, mas não o encontrou.

Daphne: Droga, eu acho que o deixei em casa! Mas, se eu bem me lembro, o número daquele cartão começava com 8!

Fred: Então, vamos buscá-lo para confirmar.

Fred virou na próxima esquina e desviou de nosso caminho para ir até o apartamento de Daphne buscar o tal cartão.

Velma: Ótimo, turma, mas eu tenho que dizer que isso pode ser apenas uma coincidência, nós precisamos de mais análises antes de tirar qualquer conclusão. Esses números podem ser qualquer coisa, um telefone, uma coordenada geográfica, uma frase criptografada…

Fred: Ou até mesmo a tal senha secreta que os VIPs usam para fazer as transferências ocultas que ninguém consegue rastrear.

Velma: Jinkies! Bem pensado, Fred, aquele cartão estava no cassino da Liberty, um lugar muito propício para fazer transferências fantasmas para lavar todo o dinheiro ganho ilegalmente.

Shaggy: Tipo, eu adoro a nossa equipe!

Daphne: Se os números forem diferentes, pode ser as duas coisas. Um cartão pode ser a senha, e o outro, o lugar onde a máfia atua. 

 Shaggy: Peraí, minha gente, tipo, a primeira coisa que precisamos descobrir é por que Scooby-Doo sinaliza cadáveres nesse cartão aparentemente indefeso.

Velma: Bem lembrado, Shaggy. Isso nós ainda não conseguimos entender muito bem.

Daphne: Scooby farejou o sangue das vítimas e também farejou o Alan nesse cartão. Ele não sentiu cheiro nenhum no cartão que eu achei na Liberty, eu o encontrei por acaso. O que também pode indicar que os cartões são parecidos, mas não são a mesma coisa.

Fomos interrompidos pelo celular de Shaggy tocando Is this love? de Bob Marley com uma foto de Crystal aparecendo na tela. Automaticamente ele corou e procurou silenciar a música para não deixar mais evidente que ele está vivendo um romance com a garota do Golden Retriever. Era uma chamada de vídeo e Crystal nos cumprimentou antes de começar a falar.

Crystal: Que bom que estão todos juntos. Finalizamos aqui na Liberty. Vejam só isso, que curioso!

Crystal apontou a tela de seu celular para a passagem secreta dentro do frigobar e nela havia uma parede de tijolos. Todos nós ficamos surpresos quando vimos aquilo.

Daphne: Jeepers! Como eles conseguiram fechar essa passagem secreta tão rápido?

Shaggy: Zoinks! Tipo, eles sabem que estivemos lá! Eles estão nos observando…

Fred: Eles podem fazer quantos muros eles quiserem, nós temos provas que eles cometeram crimes gravíssimos e nós pegaremos todos eles.

Velma: Quer dizer, vamos torcer para que as pistas que achamos lá dentro nos levem a algum lugar, porque eu não vou conseguir mais coletar pistas no cimento fresco, Fred.

Crystal: E o pior é que não é só isso, turma. O elevador tem um único botão e ele nos leva a este cassino no subsolo. Não conseguimos subir porque não há escadas nem outros elevadores. Então, não conseguimos levar os cães para os andares superiores.

Shaggy: Tipo, ter um botão já é um enorme progresso, Crystal, acredite em nós!

Velma: E eu fico feliz de saber que vocês não tiveram que subir e fazer aqueles jogos malucos.

Fred: Os cães acharam algo, Crystal?

Crystal: Nada além do que Scooby-Doo já havia encontrado. A trilha das amostras da perícia nos leva até esse frigobar e depois volta para a porta de entrada. Todos os cães sinalizaram a mesma coisa, com cada uma das amostras…

Daphne: Então, possivelmente, as vítimas chegaram vivas à Liberty e foram assassinadas naquele local?

Velma: Certamente. Há respingos de sangue no teto, o que condiz com ataques de faca. Além disso, seria muito difícil carregar cadáveres para dentro daquele frigobar.

Shaggy: Zoinks! A não ser que…

Fred: O que?

Shaggy olhou aterrorizado para todos nós e agarrou meu braço e o braço de Daphne. Nós entendemos imediatamente o que ele quis dizer, e eu senti um arrepio nas minhas costas só de pensar.

Daphne: A não ser que os cadáveres chegassem… em partes… um pouco… menores…?

A revelação foi tão horrível que até Crystal ficou sem palavras. Felizmente, nosso líder rompeu o silêncio perturbador que invadiu o ambiente.

Fred: Certo, turma, ao menos nós sabemos que todas estas pessoas estiveram no local secreto, e isso é uma grande mancha na imagem pública da Liberty…

Daphne: Precisamos saber se Alan esteve no mesmo local, certo? Crystal, você se importaria de analisar mais uma amostra? Scooby, Shaggy, vocês fariam isso por uma caixa de biscoitos?

Daphne retirou a amostra de tecido da bolsa e entregou nas mãos de Shaggy, que prestou mais atenção nas especificações de sabor, ingredientes e cobertura da caixa de biscoitos.  Scooby mordeu a caixa e Shaggy lutou para retirá-la de sua enorme boca com uma das mãos, enquanto a outra mão equilibrava o celular e amostra.  Fred olhou para a amostra com reprovação, e seu olhar denunciou que sua mente poluída estava pensando em como diabos Daphne havia conseguido aquele pedaço de roupa de Alan.

Crystal: Ótimo! Amber e eu esperamos vocês aqui na Liberty. Eu ia mesmo pedir para vocês me emprestarem o Norville. Os cães ficaram agitados e eu não vou conseguir embarcar todos eles no furgão sem ajuda.

Fred desviou do caminho novamente para deixar Norville e Scooby-Doo no prédio da Liberty, e em seguida partimos para Blake Tower. Fred não quis estacionar na garagem de Blake Tower – talvez porque ele se lembrou das manchas que a reputação de sua carreira recebeu ao ter estacionado seu carro na garagem de juízas, advogadas e jornalistas no passado –, por isso deixou Daphne e eu em frente ao prédio e decidiu esperar no carro. Daphne tagarelava descontroladamente sobre a maneira como Fred tocou seu rosto e eu lhe respondia monossilabicamente enquanto visualizava as mensagens de Marcie e de meus colegas de perícia. Quando o elevador finalmente parou no andar correto, nós descemos, Daphne virou as chaves e ao abrir a porta, nós duas nos assustamos com o que vimos.

Alan: Oi Daph! Nossa, você chegou tarde! Geralmente, eu te vejo por aqui por volta das 7 da noite, o que você estava fazendo?

A adrenalina do susto e o pânico de ver um suposto mafioso assassino na nossa frente me deixaram em estado de choque. Eu hesitei em entrar no apartamento e tateei em busca de objetos que pudessem servir como arma. Daphne foi mais corajosa, fingiu tranqüilidade e naturalidade e ainda ousou enfrentar Alan Mayberry

Daphne: Alan! O que você está fazendo aqui? Isso é invasão, sabia? Eu nunca permiti que você viesse até a minha casa!

Alan: Oh, desculpe, Daph, eu pensei que fôssemos próximos o bastante para eu vir aqui sem a sua permissão. Afinal, você entra no meu escritório sem a minha permissão, rasga meu terno sem a minha permissão, viola o sigilo bancário de minhas contas sem a minha permissão… então, eu achei que poderia fazer o mesmo…

Daphne: Alan, eu posso explicar…

Alan: Está com medo, Daphne? Por quê?

Não era apenas Daphne que estava com medo. O jeito ameaçador com que Alan caminhava em nossa direção me fez ter certeza que ele nos mataria a qualquer momento.

Daphne: Eu não estou com medo! Escute, Alan…

Alan: É exatamente por isso que estou aqui, Daphne. Eu quero ouvir o que você tem a dizer sobre isso tudo. Afinal, eu posso te processar por tudo isso, sabia? Você é advogada, você sabe melhor que eu…

Daphne: Alan, desculpe-me se eu me excedi, mas tudo o que fiz foi para conseguir provas para o seu processo contra a Liberty!

Alan: Mas você está processando a Liberty? Ou está me processando? Porque o pedaço de tecido arrancado do meu terno me faz pensar que você me acha suspeito de alguma coisa…

Daphne: Alan, eu sei que não agi corretamente, mas eu sou advogada e preciso ter uma visão ampla do caso antes de tomar qualquer decisão…

Alan: E por isso você foi ouvir as baboseiras que Applegate tem a dizer? E depois foi revistar cofres e escritórios? Que crime seria isso, vandalismo? Invasão de patrimônio particular?

Daphne: Eu n…não… f…fiz isso!

Alan: Ora, Daphne, o que você tem de linda, você tem de ingênua… você acha mesmo que um gamer hippie iria conseguir suspender todo o sistema de segurança de um banco?

Daphne: Então você é um dos VIPs que o Sr. Applegate mencionou?

Alan: Porque? Você viu meu nome em algumas daquelas salas? Steven lhe falou sobre mim? Ou foi apenas aquele cão idiota que farejou o pedaço que você arrancou ilegalmente do meu terno?

Daphne: Alan, eu não estou te acusando de roubo, eu só perguntei se você é um VIP…

Alan: Não está me acusando de roubo? Então, porque você decidiu colocar os advogados do seu pai atrás de mim?

Daphne: Eu não te acusei, Alan, eu pedi para ouvir o depoimento de papai sobre o seu caso e ele me disse que você o roubou…

Alan: Porque você violou o sigilo de minhas contas e mostrou a ele os comprovantes, certo?

Daphne: Alan, os comprovantes provam que você fez isso! Eu sei que errei ao usar esse método, mas você errou antes em roubar o meu pai e em mentir para mim sobre esse processo!

Daphne foi corajosa o suficiente para elevar a voz contra Alan e demonstrar o quão brava ela estava. Diante das acusações, Alan se calou e ela continuou, agora, de maneira mais calma e doce.

Daphne: Olha, Alan, eu não estou te acusando de nada, são as provas que eu encontro que te acusam disso! Eu peço desculpas pelos meus métodos e atitudes, eu nunca quis lhe fazer mal, eu apenas quis entender melhor as informações conflitantes que surgiram. Eu realmente quero ajudar você e papai nesse caso, mas para eu conseguir fazer isso eu preciso que seja sincero comigo. Não pode haver segredos entre uma advogada e seu cliente. Esse caso está ficando cada vez mais confuso e sério, por isso a sua ajuda é essencial.

 Daphne conseguiu acalmar não apenas Alan, mas também a mim. A situação ficou bem menos tensa e assustadora, e eu finalmente consegui pensar em um desfecho diferente do que o meu corpo (e o de Daphne) assassinados naquele assoalho de mármore milionário.

Daphne: Diga-me a verdade, por favor. A Liberty realmente te roubou?

Alan: Sim.

Daphne: E quanto ela roubou?

Alan: Dois milhões.

Daphne: E a Liberty roubou mesmo 36 milhões do meu pai? Ou foi você que pegou o dinheiro?

Alan suspirou e revirou os olhos impacientemente, demonstrando estar desconfortável com a pergunta.

Daphne: Alan, eu sinto muito, mas eu tenho provas que dizem o contrário, e meus amigos do NYPD também têm uma teoria muito diferente da versão que você me contou, então, por favor, eu preciso que seja sincero com a sua advogada. Eu não estou aqui para te julgar nem para te acusar de nenhum crime, eu quero te ajudar a resolver esse problema. E se você não me ajudar, infelizmente, você e papai podem sofrer as conseqüências legais que a Liberty sofrerá.

Alan suspirou mais uma vez e começou a falar.

Alan: Seu pai nunca usou os serviços da Liberty, eu é que fui um filho da puta e peguei o dinheiro dele para pagar a Liberty. Eu perdi muito dinheiro em moedas virtuais, fiquei com muitas dívidas e estava desesperado, e essa foi a única alternativa que eu pensei. Eu não te falei porque pretendia devolver o dinheiro em breve. E se não fosse a sua intromissão, George sequer desconfiaria…

Daphne: Se estava tão endividado, como conseguiu investir 2 milhões na Liberty?

Alan: Eu devia para a Liberty, mas eles também me deviam. Eles perderam diversos investimentos meus. Então, eu estou reivindicando o que eles irresponsavelmente perderam.

Daphne: Quer dizer, a quantia que você pegou de seus clientes e agora precisa devolver?

Daphne o confrontou com as informações que o departamento de crimes cibernéticos nos forneceu. Alan arregalou os olhos, impressionado por Daphne saber de tantos detalhes, e suspirou novamente.

Alan: É, pelo jeito não vou poder esconder nada de você mesmo. É isso aí, preciso devolver o dinheiro dos meus clientes. E como não consigo que a Liberty me pague amigavelmente, eu vou recorrer aos meios legais.

Daphne: Certo, mas eu vou precisar detalhar tudo isso para dar continuidade. Mais algum segredo? E Sang-woo? Foi ele mesmo que te roubou?

Alan: Sim. Quem fez o dinheiro dos meus investimentos sumir foi ele.

Daphne: E sabe me explicar como ele fez isso se ele está desaparecido há meses?

Alan: Ele perdeu meu dinheiro antes de sumir.

Daphne: E a tal ilha misteriosa na Coreia do Sul? Foi você que transferiu esse dinheiro? E por quê? Por que eu sei que não foi Sang-woo…

Alan suspirou mais uma vez e cruzou os braços.

Alan: Olha, Daphne, eu não tenho todas as respostas…

Daphne: Então porque mencionou esta ilha? E porque sabia da transferência em dinheiro para Silmido?

Alan: Eu sei porque eu trabalhei para Applegate Bank, ok? E eu conheço o dono da Liberty, e os investimentos que geralmente fazem… há algo de ilegal nisso?

Daphne: Então você é um dos VIPs?

Alan: Seria ilegal se eu fosse?

Daphne: De acordo com o Sr. Applegate, sim. Ele disse que os VIPs acabaram com o negócio dele.

Alan gargalhou debochadamente, ridicularizando o que acabou de ouvir.

Alan: Daphne, Daphne, tão linda, tão ingênua… Estamos na América! Desde quando a livre concorrência é crime nesse país?

Daphne: Não foi o que o Sr. Applegate me disse…

Alan: Aposto que ele também não te disse como ele fracassou o próprio negócio com especulação exagerada e foi à falência. Ou você acreditou na versão dele de que ele foi uma pobre vítima de tudo isso?

Daphne: Mas os VIPs se aproveitaram do erro dele!

Alan: Assim como o seu pai se aproveitou da falência dele, comprou todas as ações e incorporou Applegate Bank a Blake Bank? Diga-me, que crime há nisto? É assim que funcionam os negócios, Daphne… Os maiores e melhores eliminam os menores e piores… é assim que as coisas são entre os tubarões financeiros, pergunte ao seu pai!  A menos que você também ache que ele é um “criminoso” como os VIPs…

De repente, sem que pudéssemos evitar, Alan virou o jogo, saiu da defensiva e começou a virar as perguntas contra nós. Daphne ficou sem palavras por um instante e olhou para mim, pedindo ajuda.

Velma: Obrigada pelo esclarecimento, Sr. Mayberry. É bom ouvir as informações sob um ponto de vista diferente. Da forma como o senhor explicou, aparentemente não há nada de errado com os VIPs e com as transações da Liberty.

Alan: Certamente não.

Daphne: Ok, sem mais perguntas. Acho que as dúvidas que nós tínhamos foram esclarecidas, não é, Velma?

Daphne enfatizou meu nome e olhou para mim com os olhos bem abertos, demonstrando que eu deveria concordar.

Velma: Sim. E nós precisamos ir, não é mesmo, Daphne?

Daphne: Sim! Eu tenho um compromisso agora, Alan, desculpe, eu não posso ficar… amanhã nós podemos marcar um café?

Alan: Compromisso? São quase oito horas da noite!

Daphne: Ah… é um compromisso… noturno e… particular… E agora eu preciso sair e trancar o apartamento…

Alan: Particular? Está escondendo algum segredo de mim, Daph?

Alan assumiu novamente sua postura assustadora e ameaçadora, e a imagem terrível de eu e Daphne assassinadas voltou a ser uma possibilidade em minha mente.

Daphne: Segredo? Não, não é nenhum segredo… é que Velma e eu temos… um compromisso de garotas, sabe?

Alan: Compromisso de garotas? Pois para mim parece que você está inventando desculpas para encobrir um segredo…

O olhar sério de Alan fez Daphne paralisar. Ele se aproximou dela e começou a observar os papeis que ela tinha nas mãos. Em pânico, eu recuei dois passos e o analisei de cima abaixo procurando por armas, facas ou qualquer coisa que ele pudesse usar para nos machucar. 

Alan: Qual é, Daph, não pode haver segredos entre um cliente e sua advogada! Já somos bastante próximos, você invade a minha privacidade sem a minha autorização, eu invado o seu apartamento… agora, precisamos apenas ser sinceros um com o outro…

Daphne: Eu já disse, Alan, eu tenho um compromisso com a Velma…

Alan: Não minta para mim!

Alan elevou o tom de voz e segurou o braço direito de Daphne com força, e isso assustou nós duas. Eu podia ver medo no rosto dela e senti frustração por não poder fazer nada para ajudá-la. Inevitavelmente, comecei a pensar em métodos racionais para matar um homem trinta centímetros mais alto que eu (e vários quilos mais pesado, e infinitamente mais forte também).

Daphne: Eu não estou mentindo, Alan, me solte!

Alan: Não, agora sou eu que faço as perguntas, Daphne. Está escondendo algo?

Daphne: Alan, você está me machucando!

Alan: Sim ou não? Me responda!

O grito ríspido de Alan assustou nós duas. Daphne suspirou, e com uma coragem incrível, fez o que ele pediu.

Daphne: Não.

Alan: E o que são esses papéis que você sempre carrega? Deixe-me ver.

Velma: Alan,solte-a imediatamente ou terei que ligar para o departamento de polícia! Você está passando dos limites!

A frase parecia bem mais forte e efetiva na minha cabeça, e felizmente ela surtiu efeito. Alan soltou o braço de Daphne e começou a rir.

Alan: Oh, me desculpe, eu me esqueci que a NYPD estava aqui! Fique tranqüila, agente, eu sou próximo demais da minha advogada e jamais a machucaria! Eu só quero ouvi-la dizer a verdade…

Daphne: Esses papéis são os comprovantes bancários e os detalhes do processo, Alan, não há nada secreto aqui…

Daphne folheou rapidamente a pilha de papéis de maneira despreocupada, tentando fazê-lo desistir de ver folha por folha. Eu sabia que o cartão encontrado em Applegate Bank estava no meio daqueles papéis, mas não consegui pensar em nenhuma estratégia para escondê-lo.

Alan: Assim não, querida! Mostre-me papel por papel… quero que você mostre cada detalhe… afinal, se não há segredos entre nós, você não se incomodaria de mostrá-los…

Daphne olhou para mim em apuros. Sem alternativa, ela pegou o primeiro papel e entregou a Alan.

Alan: Um comprovante de depósito! Da Liberty para Silmido… o que você escreveu aqui? Vamos, quero detalhes!

Daphne: “Chave secreta”…

Alan: Ah, chave secreta da Liberty… ou seja, não quer dizer nada… vamos lá, próximo papel!

Daphne entregou outro papel contra a sua vontade.

Velma: Mayberry, Daphne e eu precisamos ir. Podemos marcar uma reunião amanhã e ela apresentará todos os papeis que você quiser.

Alan riu e fez um gesto debochando do que eu disse, e no fim eu me senti mais inútil do que eu já estava me sentindo.

Alan: Ah, esse papel eu já vi… minhas movimentações bancárias, meus empréstimos, minhas dívidas… isso eu já sei… deixe-me ver as outras folhas…

            Ao dizer isso, Alan descartou umas cinco folhas de papel da pilha de Daphne sem nem mesmo analisar. O olhar de pânico Daphne demonstrava que os próximos papéis poderiam conter detalhes que não gostaríamos que ele soubesse.

            Alan: E esse papel? 30 máquinas Frostbit 1000, 23 máquinas caça-níquel…

            Daphne: São objetos encontrados na Liberty…

            Alan: E o que significa?

            Daphne: Significa exatamente o que você está lendo…

            Alan ficou irritado com a resposta, segurou novamente o braço de Daphne com força e a olhou com raiva, ameaçando fazer algo pior caso ela bancasse a esperta novamente.

            Velma: É o relatório da perícia, descrevendo o que achamos na Liberty. A quantidade de máquinas caça-níquel e mineradoras de bitcoin, e também os valores que elas geraram.

            Desta vez, eu banquei a esperta e respondi com o mínimo de detalhes sigilosos possíveis. Não sei se funcionaria, mas pelo menos eu evitaria que Daphne fosse o único alvo da raiva de Mayberry.

            Alan: Agente, por favor, deixe a minha advogada falar, eu tenho certeza que ela sabe quais os detalhes que eu quero ouvir…

            Daphne: Quais detalhes você quer ouvir? Que a Liberty funciona como um cassino ilegal? Ou que ela engana seus clientes e investe apenas em moedas virtuais?

            Alan aplaudiu ironicamente ao ouvir a resposta.

            Alan: Muito bem! Eu sabia que você era a melhor advogada de NY! Descobriu tudo isso sozinha em menos de um dia! Vamos lá, eu quero mais, mostre-me quão esperta você é!

            Daphne olhou para mim, e pela cor das bordas do papel, eu percebi que a próxima folha seria o resultado de uma das amostras de sangue.

            Alan: Vamos, Daph! O que é isso, exame de sangue?

            Daphne: É uma amostra de sangue que encontramos… no… no… no elevador da Liberty!

            Daphne novamente me olhou pedindo confirmação para a sua mentira.

            Velma: Na verdade, Sr. Mayberry, borrifamos luminol no elevador porque sentimos cheiro de água sanitária, e então encontramos uma mancha isolada e os testes mostraram que é sangue humano…

            Para a nossa sorte, ele acreditou na mentira.

            Alan: Então houve um crime na Liberty?

            Velma: Na verdade, não. A mancha era bem pequena e isolada, então pode ser qualquer coisa… alguém pode ter se ferido no local, por exemplo… afinal, é um cassino, certamente ocorrem brigas lá.

            Felizmente, ele acreditou novamente na resposta que ouviu.

            Alan: Muito bem, próxima folha, o que diz?

            Eu sabia que os próximos papéis poderiam ser ainda mais comprometedores, então aproveitei que ele acreditou na mentira anterior e elaborei outras.

            Velma: Ah, que bom que perguntou, essa é a minha área. Eu fiz uma datação da amostra com o isótopo radioativo do carbono, depois fiz a espectrometria das massas com um acelerador, mas descobri que o decaimento radioativo não foi suficiente, então eu dilui a amostra para submetê-la a espectrofotometria e…

            Durante toda a minha vida eu constatei que a linguagem científica causa sono, tédio e desatenção nas pessoas comuns. Felizmente, minha teoria funcionou mais uma vez e Alan sequer prestou atenção no que eu disse, nem nos detalhes dos papéis. Interrompi minha explicação quando percebi que o cartão estava no meio das próximas folhas, e aproveitei a oportunidade para encerrar a conversa.

            Velma: Bem, isso é tudo o que descobrimos até agora, Sr. Mayberry. Se for do seu interesse, eu posso encaminhar todas essas informações que eu mencionei ao seu endereço de e-mail. Então, finalizamos por aqui…

            Alan: Obrigado, agente, você está dispensada. Mas eu ainda não terminei com a minha advogada. Vamos lá, Daphne, ainda há três folhas, você ainda me deve alguns detalhes…

            Velma: Sr. Mayberry, eu enfatizo que eu lhe disse todas as informações que estão nessas folhas e posso enviá-las por…

            Alan: Não, agente, não diga mais nada! É a Daphne que vai me mostrar… vamos lá, querida, mostre-me o que há nessas folhas…

            Daphne arregalou os olhos e olhou para mim em pânico. Era o momento certo para lutar contra o filho da puta e fugir dali, mas certamente nós duas não teríamos força – nem treinamento adequado – para detê-lo. Daphne decidiu continuar o meu plano de falar em linguagem científica, então, ela disse duas dúzias de nomes científicos difíceis e Alan sequer percebeu que nada daquilo fazia sentido. Ele continuou pedindo detalhes das folhas seguintes, então ela sorriu, gesticulou, mexeu no cabelo, flertou com ele enquanto falava palavras difíceis e fez o jogo idiota dele até conseguir seduzi-lo. Quando Alan caiu completamente aos pés dela (homens são tão idiotas), Daphne usou sua estratégia final:

            Daphne: Alan, os papéis acabaram, mas ainda tenho um pequeno detalhe para você…

            Daphne olhou nos olhos dele e o puxou pela gravata até que os lábios dele encontrassem os lábios dela. A mão esquerda dela logo soltou a gravata e o segurou pela nuca, prendendo Mayberry em um beijo intenso. Daphne descansou seu braço direito nos ombros de Alan e, com uma agilidade impressionante nos dedos, desprendeu o cartão misterioso dos papéis que estavam em suas mãos e o deixou cair no chão. Disfarçadamente, eu pisei em cima do cartão para que Alan não o visse, mas o beijo o envolveu tanto que ele sequer desconfiou.

Velma: Ah, claro, fiquem à vontade, eu não estou aqui mesmo.

Daphne o soltou com um sorriso nos lábios, ele tentou investir sobre os lábios dela novamente, mas ela recuou e o afastou.

Daphne: Hey, vá com calma, garoto, já recebeu detalhes suficientes por hoje!

Alan riu do que ela disse e parecia estar tão atordoado que sequer se lembrou de nos interrogar sobre os últimos papéis. Daphne e eu nos olhamos e sorrimos uma para a outra, felizes de perceber que o plano havia dado certo. Nossa alegria, entretanto, durou uma fração de segundo: A expressão facial de Daphne mudou da alegria para o horror imediatamente, e sua boca pronunciou um “Freddie!” mudo, que a voz dela não conseguiu verbalizar. Minha alegria durou uma fração maior de segundo porque eu não havia compreendido bem o que aconteceu, eu só entendi a dimensão do problema quando ouvi o barulho explosivo da porta batendo atrás de mim. Quando eu me virei, vi Fred transtornado deixando o apartamento. Os olhos de Daphne se encheram de lágrimas, mas tanto eu quanto ela ainda estávamos encenando os papéis que poderiam salvar não apenas as nossas vidas, mas também a nossa investigação.

Alan: O que houve, Daph? Parece que viu um fantasma… foi o beijo que te deixou assim?

 Alan não viu o que Daphne e eu vimos, então pensou que o beijo havia despertado algo a mais entre ele e Daphne (como eu disse, homens são mesmo muito idiotas às vezes). Daphne, atordoada, rejeitou as investidas de Alan, e conversou com ele somente o suficiente para fazê-lo sair pela porta e ir embora. Quando vimos o elevador dele partir, Daphne trancou a porta, eu tirei o cartão da sola dos meus sapatos e respirei aliviada por nosso plano ter dado certo. Daphne, porém, não sentia o mesmo alívio, ela se sentou na poltrona mais próxima e desabou em lágrimas.


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