E.T.A escrita por Bia


Capítulo 1
I - Loucura


Notas iniciais do capítulo

Gente, antes de tudo: Feliz Ano Novo! Que seja um ano de avanço, paz, saúde, prosperidade e amor! Que possamos vencer as trevas com as quais batalhamos! Eu desejo do fundo do coração tudo de melhor!

Essa história não é a invenção da roda. Eu quero, honestamente, que seja uma história sobre aprendizado, com doçura e amor.

Espero que gostem e FELIZ ANO NOVO NOVAMENTE.

Música: Loucura - Lupicínio Rodrigues



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I - Loucura

“E aí, eu comecei a cometer loucura. Era um verdadeiro inferno, uma tortura…”

 

Pedir ajuda não é um problema!

É algo natural. Uma honesta demonstração de humildade e força.

Era o que Hermione repetia para si mesma enquanto, após o jantar de boas vindas, caminhava relutante até Harry Potter.

Mas pedir ajuda também não é fácil.

Quer dizer, não existia nenhum problema intransponível que, de fato, a impedisse de solicitar o auxílio dele. Eram do mesmo ano, mesma casa e, ainda que não fossem, ele era brilhante em Poções, matéria na qual ela era apenas ótima. Só porque o babaca tinha rido de uma piada às suas custas no primeiro ano, não significava que deveria odiá-lo com profundidade e eternamente e, assim, perder a chance de elevar as próprias qualificações.

Relaxado, o Potter bebia suco de abóbora, rindo com o sexto Weasley, quando parou ao seu lado. Orbes verdes olharam-na de esgueira. O ruivo, por outro lado, a encarou, sorrindo.

— E aí, Hermione? E as férias? 

— Ronald. — respondeu a modo de cumprimento. Não que fossem íntimos para tratamentos com o primeiro nome, mas caso dissesse “Weasley” outras quatro cabeças virariam. — Tudo bem, obrigada. — continuou com educação. — E as suas?

— Na mesma. — deu de ombros. — Ah! Mas visitamos alguns lugares trouxas. Papai queria mais do que tudo! Eu fiquei confuso com algumas coisas, entretanto e…

— Potter. — interrompeu antes que o Weasley desejasse explicações de sua parte. Apesar de tudo, um tempo atrás poderia até ter ouvido suas dúvidas e explicado. Um tempo anterior à descoberta de que ele gostava muito de menosprezar seu jeito didático no Três Vassouras com os amigos. Ademais, o mundo trouxa não era assim tão complexo. Pesquisasse se, realmente, quisesse saber. — Posso falar um minuto com você, por favor?

Harry pareceu surpreso. Pousou a taça na mesa.

— Claro.

Deixou que ela liderasse o caminho e a seguiu. 

Pelo canto do olho Hermione viu a careta confusa do ruivo e o dar de ombros ainda mais confuso do Potter.

— Me desculpe por interromper. — começou, fazendo-os parar na entrada do Salão Principal. O garoto colocou as mãos nos bolsos e tornou a dar de ombros.

— Sem problemas. O que você quer me dizer?

Hermione deu um passo para trás. Não estava habituada a ter que ser tão direta.  

— Bem, eu sei que, oficialmente, as aulas começam amanhã, mas pensei muito e gostaria de te pedir algo. 

— Ok.

Enrugou a testa. Teve a forte sensação de que a voz masculina tinha saído mais alta e aguda.

— Nós estamos no sexto ano. — prosseguiu com uma firmeza que não sentia. — … E, bem… Você e eu somos da Grifinória, você é o melhor em Poções e… O que eu quero dizer é…

Mordeu o lábio inferior e apertou a manga da blusa entre os dedos. Que dificuldade! Se ao menos fossem um pouquinho mais próximos, porém a relação não ia acolá de “bom dia”, “Não faça isso, Potter!” e “boa noite”. Olhou para ele: expressão neutra, embora os olhos brilhassem. 

Respirou fundo, resignada.

— Enfim, eu preciso… quero melhorar minhas notas em Poções e gostaria de saber se você poderia me ajudar… me ensinar.

O segundo silencioso seguinte pareceu muito longo. 

— Oh. — o Potter soltou por fim e, caso Hermione não estivesse tão focada nele, teria perdido o leve cair de sua postura. Seu olhar verde desviou brevemente ao mesmo tempo em que seus ombros sacudiam outra vez. Mania, a garota pensou. — Claro. Tudo bem. Eu não me importo de ajudar.

— Mesmo? — exclamou sorrindo e unindo as mãos na frente do corpo. — Muito obrigada, Potter.

Ele retribuiu o sorriso.

— Não tem que me agradecer, nem sei como serei como professor. Nunca ensinei Poções antes. De qualquer forma, ainda não posso te dar um dia ou horário para estudo. Preciso montar e conciliar com os horários para os treinos de quadribol. Assim que estiver pronto eu aviso, ok?

— Ok! Claro, tudo bem. Obrigada mais uma vez.

Ele lhe lançou um último sorriso antes de voltar para o amigo enquanto a castanha comemorava internamente seguindo para o Salão Comunal.

As duas primeiras semanas foram brutalmente atarefadas. Era o penúltimo ano e os alunos precisavam estar prontos para os exames do NIEM, dali dez meses. O professor Lupin, de Defesa Contra as Artes das Trevas, deixara claro que pretendia ensinar feitiços avançados e o professor Snape afirmara que ficaria surpreso se alguém conseguisse, ao menos, a pontuação mínima em seus testes. Apesar de não terem se falado durante esse tempo, o Potter fazia questão de sorrir ou piscar para a Granger como se afirmando que não tinha se esquecido. 

Gestos inéditos que o melhor amigo da garota não demorou a notar.

— O que está acontecendo entre você e Harry? — Neville soltou repentinamente em um café da manhã.

Quê? — guichou, cobrindo a boca com as mãos para não cuspir pedaços de torrada em Parvati do outro lado da mesa.

— Ele agora é todo sorrisinho e piscadela para você. 

Hermione engoliu a comida em seco tentando ignorar o divertimento do Longbottom com sua reação. 

— Ele nunca foi rude comigo. — afirmou sincera, fingindo estar interessada no guardanapo à frente. 

— Sim! Mas essa atenção toda é novidade.

Revirou os olhos castanhos.

— Não fique imaginando coisas. Eu pedi para ele me ajudar em Poções e ele está me ajudando… Vai ajudar e é só isso.

Neville murchou.

— Sem graça.

Foi apenas na sexta semana de aula que o retorno de Harry veio efetivamente. Parecia estar voltando do treino de quadribol com Gina e ela se dirigia para a biblioteca quando se esbarraram na frente do quadro da Mulher Gorda. Depois que a ruiva cumprimentou-a e seguiu seu caminho, ele falou: 

— Eu tenho o dia e horário… Se você ainda quiser.

— Sim, por favor. 

— Que tal terças e quintas antes do jantar?

Concordou sem hesitação.

Na primeira quinta-feira, se encontraram no Salão Comunal, na hora e conforme tinham combinado. Hermione cheia de pergaminhos, pena e tinteiro e Harry apenas com a varinha. 

Saíram pelo retrato e o moreno os guiou para a esquerda.

— Aonde estamos indo?

— Segredo.

Ele lhe lançou um sorriso malicioso que arrepiou sua espinha e os cabelos de sua nuca. 

Chegaram em um corredor vazio no sétimo andar e pararam diante da enorme tapeçaria de Barnabas, o maluco, tentando ensinar balé aos trolls. Hermione arqueou a sobrancelha desconfiada de que aquilo seria alguma pegadinha quando, de repente, viu surgir diante de seus olhos, uma porta que - absoluta certeza - não estava lá antes. 

— Conhece a Sala Precisa, Granger? — perguntou sorrindo, cheio de si, abrindo a porta para ela.

Só pôde balançar a cabeça, negando sem fôlego.

Não tinha lido nada sobre isso em Hogwarts, uma história. Não existia um capítulo, um comentário, nem mesmo uma nota de rodapé sobre uma sala precisa no livro. Porém, ali estava ela. Surgindo do nada e repleta de instrumentos e ingredientes para o estudo de Poções.

Abriu a boca para questionar ou seu queixo caiu, não sabia dizer ao certo. 

O Potter fechou a porta.

— Chama-se Sala Precisa ou Sala Vai e Vem. É uma sala em que só é possível entrar quando há uma real necessidade dela e ela se transforma no que essa pessoa precisa naquele exato momento. Um amigo me trouxe aqui. Não pergunte, pois não entrego meus informantes. A única coisa que quero é que guarde isso como um segredo entre nós dois, certo?

— Certo. — concordou ainda pasma.

— Então. — o garoto retomou e a Granger pôde ver seu peito estufado de orgulho ao caminhar para o centro. — Pronta?

A primeira coisa era decidir com qual poção iniciar. Teria que ser algo simples e desafiador e, o mais importante, algo que, caso desse errado, fosse abertamente notável. Concordaram que a poção Audiens seria perfeita. 

— Lembra dos ingredientes? — Harry perguntou e Hermione sentiu que a estava testando.

— Sim.

Nomeou os ingredientes enquanto procurava por eles, retirando-os de um armário de vidro no canto esquerdo ou prateleiras empoeiradas e colocando-os em cima da bancada, próximos ao caldeirão do outro lado da sala. 

O Potter se aproximou.

— Exato. Muito bem. E agora?

Hermione abriu o livro e começou a seguir as instruções, preparando a poção com o garoto em silêncio, observando-a atentamente e, vez ou outra, confirmando com a cabeça. Sua voz só voltou a soar quando ela passou a cortar as orelhas de morcego.

— Você cozinha, Granger? — perguntou encarando as mãos femininas.

— Sim. — respondeu, defensiva. — Por quê?

— Você sabia que o tipo de corte altera o sabor?

Olhou-a por cima dos óculos. A Granger largou a varinha. 

— Cortar as orelhas em tiras tão grandes vai dificultar a absorção. — Harry explicou com paciência e suavidade. — E se as orelhas subirem…

— A poção está errada.

— Exato. Você sabe exatamente o que fazer, o que já é bem avançado, só precisa prestar um pouco mais de atenção aos detalhes. Tente cortar em cubos pequenos.

Hermione sentiu sua nova aproximação e seu retorno ao silêncio, o que, além de sua atenção fixa e minuciosa, contribuiu para deixá-la um tanto tímida. 

— Então… — começou antes que percebesse. Sempre assim quando se sentia nervosa. — Você é capitão do time de quadribol, apanhador, excelente em Defesa Contra as Artes das Trevas e um pouco… rebelde. — não perdeu o atônito erguer das sobrancelhas negras. — Como nasceu seu amor por Poções?

— Com certeza, é da minha mãe. — Harry respondeu sem desviar os olhos do que ela estava fazendo. — Ela é curandeira no St. Mungus e, desde pequeno, eu a observo preparar poções. Ajudo algumas vezes, mas não consigo fazer igual. Ela é especial, tem uma habilidade única.

A castanha sorriu, comovida pelo orgulho da mãe transparecendo indisfarçado em sua voz. 

— O quadribol? E D.C.A.T?

Foi a vez dele sorrir.

— Meu pai. Bem como… Qual foi mesmo a palavra que você usou? Ah! Sim, a rebeldia. — a garota riu. — Corte um pouco menor esse pedaço… Mas, a verdade é que Defesa não é tão difícil. Remo é um excelente professor.

Concordou com a cabeça sem se surpreender com a informalidade. Diziam que eles tinham certo grau de parentesco.

— Perfeita. — o Potter disse observando o líquido rosa brilhante. — Agora esperamos meia hora em fogo baixo até engrossar.

Ele se afastou e sentou-se na bancada da frente. Hermione sacudiu levemente a varinha para abaixar o fogo e correu até seus pergaminhos e pena para anotar o truque com o corte das orelhas de morcego.

— E os seus pais? — o escutou perguntar enquanto mergulhava a pena no tinteiro. Rabiscou rapidamente e sorriu sonhadora antes de responder:

— São dentistas. Trouxas, como já sabe. Ficaram muito orgulhosos quando recebi a carta. — apoiou o queixo na mão esquerda. — Toda vez que o ano letivo começa, eles agem como se fosse a primeira vez.

— Entendo. E as suas matérias favoritas?

— Feitiços, Transfiguração, História da Magia…

Harry soltou um lamento alto.

— História da Magia é a matéria mais chata que existe.

— Não, é incrivelmente importante. — retrucou abrindo as mãos. 

Permitiu-se fazer um discurso apaixonado sobre a importância da história, ouvindo o Potter aceitar alguns pontos e rebater outros astutamente. Estavam debatendo sobre a rebelião dos duendes quando perceberam que a poção já estava no ponto.

Hora da verdade. Bom sinal, a poção continuava rosa brilhante.

— Apague o fogo. A poção tem que ser ingerida morna. — ele instruiu.

Depois de esperar por uns dez minutos, Hermione encheu, com o conteúdo do caldeirão, cuidadosamente uma taça e bebeu ainda mais cuidadosamente. Surpreendeu-se com o gosto não tão terrível descendo por sua garganta e questionou-se dera certo. Sua confirmação logo veio, pois quando o Potter perguntou se estava funcionando, soltou a taça assustada, afastou-se e cobriu as orelhas. Parecia que ele estava berrando direto em sua cabeça. 

Observou-o concordar com a cabeça, compreendendo, e alcançar um dos pergaminhos e a pena dela. Hermione fechou os olhos, mesmo o deslizar da pena parecia absurdamente alto. Harry escreveu em uma letra apressada e pequena que o efeito duraria vinte e quatro horas, que o aconselhável seria lançar um feitiço que protegesse, o máximo possível, seus ouvidos, evitar lugares barulhentos e esperar antes de descer para jantar, pois o Salão estaria mais vazio e, portanto, mais silencioso. A garota fez que sim com a cabeça, agradeceu movimentando os lábios e despediu-se, imaginando que ele a deixaria agora. 

Ao invés, e para sua completa surpresa, Harry encarou-a com naturalidade e tornou a sentar. A Granger demorou a entender que estava esperando-a, mas não se sentiu menos contente pela companhia, ainda que silenciosa. 

Ficaram em silêncio e não foi estranho.


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