Inventei Você? escrita por Camélia Bardon


Capítulo 18
Peter, Paul e Mary


Notas iniciais do capítulo

Oi, boa noite ♥ eu tô completamente atrasada com tudo, com os comentários e com as minhas leituras, mas prometo que tento me ajeitar ainda essa semana. Meu cronograma anda bem bagunçado.



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Em minha defesa, eu posso dizer que todos nós pensávamos isso. Ou era isso ou eu havia subestimado Cecilia Lewis em diversos aspectos. Apesar de essa ser a opção mais provável, eu me sinto um idiota. Foi um tipo de pensamento cruel e pretensioso. Eu não era assim.

A sinceridade era algo novo e assustador, mas... Francamente. Eu já tinha passado dos 30. Sei lá porque eu estava com tanto pânico.

De qualquer forma, aquilo precisava de conserto.

E rápido.

— É claro que não! — imitei seu tom de voz surpreso. Ou, pelo menos, tentei. Era particularmente estranho de ouvir. — O que? Por que está pensando isso?

— Tudo que você fez e disse desde o sábado me fizeram pensar nisso! O que você achou? Só porque eu nunca tive um relacionamento que automaticamente eu tenho 15 anos e não sei de nada da vida, Matt!

— Eu... Desculpe-me...

— Tá legal, você é o primeiro homem da minha idade com quem eu consigo conversar, é todo lindo e cativante, mas isso não significa que eu esteja apaixonada por você. Francamente, que ideia...!

Não consegui resistir a um sorriso. Cecilia pausou seu ataque de fúria para me lançar um olhar inquisitivo. Senti um arrepio me percorrer a espinha e torci para ser o forno.

Ah, mas que se danasse.

— Me acha lindo e cativante, senhorita Lewis?

— Foi só isso que você ouviu?

— Provavelmente...

Ela fechou ainda mais o cenho, fazendo com que eu abrisse um sorriso ainda maior.

— Eu vou matar você. Você é tão...!

— Lindo e cativante! — completei, mas logo em seguida ela me deu um soco nada dolorido no braço que competiu com o ardor do momento anterior. — Ai! Ficou maluca?

— Não, é você que é presunçoso! Isso me deixa possessa! Eu não te mato por respeito à senhorita Georgette.

Dei de ombros, consciente do sorriso insolente que estampava meus lábios. A cada provocação, o rosto de Cecilia adquiria uma tonalidade diferente de vermelho. Com aquela, pude observar com alegria que era quase um roxo.

— Talvez eu seja um pouquinho. Não reparou?

— Eu te odeio — ela murmurou, tentando se conter. — Agora, eu te odeio.

— Não odeia não — sorri. — E você fica muito atraente irritada desse jeito. Porque é uma irritação boba, não séria, é claro, se estivesse furiosa eu não faria piada disso.

Cecilia pareceu atordoada. Mas, desta vez, não me arrependi de minhas palavras. Foram milimetricamente calculadas.

— Está me irritando de propósito? — seu tom era cauteloso. A calmaria de quem está com raiva é particularmente perigosa.

— Provavelmente?

— Eu não vou cair nesse seu papinho, seu... Acabei de dizer que não tenho 15 anos!

Era exatamente o argumento que eu esperava que ela repetisse. Cheguei dois passos para frente e baixei o tom da voz propositalmente para que ela precisasse de certa determinação para ouvir.

— Eu ouvi o que disse. Mas, se o que eu ouvi está correto, partindo dessa lógica, então... É uma adulta com pleno controle de suas faculdades mentais. Portanto, eu acredito que consiga lidar com um flerte esportivo.

Cecilia estreitou os olhos. Prossegui com meu discurso.

— Se é só disso que eu entendo e é algo que uma adulta consegue lidar, com um flerte esportivo, eu digo... Não vejo porque não unir o útil ao agradável!

Ela engoliu em seco, recuando os dois passos que eu tinha dado. Até bater as costas na parede. Tentei não expressar minha careta compassiva – deve ter doído à beça.

— Sabe o que eu acho?

— Hum? — Cecilia ergueu o rosto para me encarar, corajosamente,

— Que você tem medo.

Sua pose se desmanchou na mesma hora. Foi bem pouco, mas foi suficiente para que sua expressão raivosa se abrandasse.

— Medo de que?

— De que se não tiver um relacionamento perfeito, ele esteja fadado ao fracasso. Isso... Isso é uma realidade só na sua cabeça, Ceci — acrescentei num tom cuidadoso. — Não existem relacionamentos perfeitos, nem mesmo em novelas e livros...

Ela riu fraco, prestando mais atenção ao que eu dizia. Não era hora para ser afobado. Eu não queria só provar o meu ponto. Eu queria que ela ouvisse porque precisava. Obviamente que eu não queria dizer a ela o que fazer ou o que sentir, muito menos a coagir para ficar comigo, mas se ela havia confiado aquela informação a mim, queria dizer que ela estava disposta a ouvir minha opinião a respeito do assunto em retorno.

— Relacionamentos, sejam eles como forem, se tratam de dois indivíduos... Ou... Hã... Mais? Cansam-se umas das outras, é normal! Às vezes algumas pessoas são babacas e vão embora chutando o pau na barraca, eu sei... Mas fantasiar sobre um relacionamento perfeito só vai fazer com que se decepcione ao perceber que não está em um. Pior: que não existe. Isso só vai te machucar.

Cecilia permaneceu me observando. Nem eu sabia mais de onde tinha vindo tudo aquilo.

— Eu sei que não sou a melhor pessoa pra falar sobre isso, que tenha vivência ou moral, sei lá. Estou dizendo isso porque é muito improvável que Sarah ou a senhorita Mendez vão te dizer isso. E porque... Eu me importo com você.

Acrescentei essa última com sinceridade sutil. Eu me importava mesmo com Cecilia. Ela era uma boa amiga e uma ótima pessoa no geral. Não fazia sentido mantê-la numa bolha de superproteção sentimental.

— Você não está falando nada e estou começando a preferir sua versão espumando de ódio — ri baixo, de nervoso. — Eu disse algo que ofendeu ou...?

 Cecilia negou com a cabeça, ainda embasbacada. Eu nunca tinha chegado nessa parte, como é que eu poderia prosseguir?

— Na verdade, eu estava esperando você parar de falar, mas também... Você fica bastante atraente quando fica tagarela desse jeito, aí eu fiquei só prestando atenção.

Pisquei em completa confusão. Aquela realmente era uma parte onde eu não tinha chegado.

— Foi uma tagarelice gentil e atraente — ela acrescentou com um sorriso maroto.

— Ora, sua...

E então, ela gargalhou.

Gargalhou, a peste.

Daí, eu me lembrei da origem daquela conversa. Fui um pouco lento ao conectar um ponto ao outro, principalmente por ter de desfazer um nó no meio do caminho.

— Eu falei sério — me aventurei a erguer uma mão e acariciar sua bochecha. Para quem estava acostumado a partir direto para a ação, aquele era um tremendo avanço. — Eu... Vou entender se realmente não quiser, só que... Não precisa sentir medo de mim. Não vou te machucar, eu prometo...

Esperei por uma reação melhor que o silêncio de antes. E ela veio. Gloriosamente. Decidi que eu preferia fazer uma mulher sentir-se acanhada do que provocar alguém que reagiria no mesmo tom.

Ou talvez eu só preferisse Cecilia, fosse como fosse. Que pensamento aterrorizante.

— Matt...? Pode me dar um beijo?

Senti o calor subir pelo pescoço. Não tinha nenhum significado oculto, apenas o idioma claro e escrachado.

Preferi não responder, só assenti com a cabeça. Como eu poderia recusar um pedido daqueles?

Cecilia permaneceu me observando com expectativa. Ouvi seu coração bater forte contra o peito, e tive de me conter para não sorrir ao noticiar aquilo – era bem provável que Cecilia ficasse constrangida se fosse o caso. Emoldurei seu rosto com as mãos, trazendo-a mais para perto. Cecilia mal conseguia acompanhar os movimentos, porque tropeçou em seus próprios pés ao chegar para frente.

Eu não era nenhum príncipe, mas não significava que Cecilia não merecia meus esforços para ser um por alguns minutos.

Tomara que sejam minutos muito longos...

Primeiro, beijei-a na bochecha esquerda. Senti-a ofegar e seus cílios baterem contra a minha bochecha. Sorri e passei para a bochecha direita. Meu queixo roçou em seus lábios, e senti que eles estavam trêmulos. Daquela vez, não consegui não sorrir com o gesto.

— Isso é tortura — ela murmurou, engolindo em seco. — Por que é que...?

— Não faz ideia do que é tortura, Ceci — devolvi o tom, rindo contra sua bochecha. Passei o toque para sua testa, me demorando um tanto ali. — Se soubesse me consideraria um santo. Apesar de que já saiba que não sou um.

Cecilia palpitou, conforme senti na ponta dos meus dedos em seu pescoço. Beijei também as pálpebras com gentileza, afastando seus cabelos e aproveitando o apoio para sustentar seu rosto com os ossos da mão. A visão de seu rosto corado de expectativa foi a melhor inspiração para uma musa num quadro feito por um pintor apaixonado.

Não, não. Apaixonado, não.

Vamos com calma.

Então, eu a beijei. E, apesar de Cecilia hesitar quanto a corresponder, ela o fez deslizando as mãos pelas minhas costas para aprofundá-lo. Foi difícil não enrijecer as costas sob o seu toque, principalmente sentindo o calor de seu corpo emanando pelo rosto. Não foi nada espalhafatoso, repleto de batalhas de línguas, respirações ofegantes ou mãos bobas; pelo contrário, foi um gesto breve e simples, ainda assim...

Desconcertante.

Ao menos, para mim.

Pelo amor de Deus, foi só um beijo. Eu não entendia o motivo para tanta agitação.

Teoria nº1: Cecilia era a Hera Venenosa.

Hum... Não, isso implicava na existência de uma Arlequina.

Melhor deixar quieto.

Cecilia emitiu um meio resmungo, abrindo os olhos aos poucos. Pareciam mesmo asinhas de beija-flor...

— Ruim? — indaguei, dando um passo para trás para que ela voltasse aos eixos.

— Hm-hm...

— Que bom!

Cecilia aquiesceu, engolindo em seco. Passou a mão pelos cabelos e ajeitou a postura, como se nada tivesse acontecido. Mal me movi para ela não notar que eu também não estava em melhor estado.

— Eu consigo lidar com isso — após um suspiro, ela esfregou as palmas das mãos umas nas outras. — Quero ver alguém quebrar o meu coração agora, se ele for de ferro...

Não ri por educação. Eu mesmo lhe beijaria mais vezes, se não tivesse concordado com os termos. Sentei-me à mesa com um sorriso tranquilo.

— Muito bem, então.

— É, hã... A quiche vai esfriar. Eu... Vou pegar os pratos. Obrigada.

— Pode me agradecer com outro beijo, não se preocupe.

Felizmente, ela riu e deu meia-volta em direção ao armário. Eu não era um especialista em música, mas aquela risada era de deixar qualquer um com um sorriso bobo no rosto.


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Notas finais do capítulo

pega fogo, cabaré! rs



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