Scientist escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 35
Capítulo 35 – Nova geração




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Capítulo 35 – Nova geração

                Era noite agora. As trigêmeas estavam hipnotizadas, sentadas no chão em frente ao berço do irmão, observando-o dormir e sussurrando comentários entre elas, às vezes estendendo as mãos para acariciar o bebê. Ainda dormiriam na casa dos tios essa noite, mas tinham se recusado a dormir até ver o irmão, então Philip e Jane as tinham trazido para um primeiro contato e para buscar algumas coisas, já que os planos tinham mudado de repente.

                - Ansioso pra ter o seu? – Gwen perguntou enquanto segurava a mão de Philip, sentado ao seu lado na cama.

                - Vai com calma – ele respondeu rindo.

                - Quando nos estabilizarmos e estivermos trabalhando, vamos discutir tudo isso – Jane falou do outro lado da cama.

                Do lado de fora do quarto eles conseguiam ouvir May, Helen, Simon, Howard e Richard conversando, após todos já terem surtado conhecendo o bebê.

                - Tenham seu tempo, daqui a pouco arrastamos as meninas pra casa – Philip disse, beijando a testa da irmã e saindo do quarto com Jane.

                Gwen os ouviu falar com Peter no corredor, que entrou no quarto em seguida.

                - Peter, eu quero sentar.

                - Você tem que ficar em repouso – ele sentou cama, puxando a mão da esposa para beijá-la.

                - Assim vou ficar entrevada. E você sabe – ela sussurrou – Não sou uma mulher comum.

                Ele riu.

                - Tem certeza? O que você tá sentindo?

                - Só cansaço.

                - Vou pegar mais travesseiros. Você é assim, mas ainda passou por um parto, e sem planejamento algum. Precisa e vai ficar de repouso, sua teimosa.

                Ela sorriu, sabendo que isso o desarmaria completamente. E como estava certa! Peter sorriu de volta e se inclinou para beijá-la.

                - Espera um pouco – ele pediu, indo até o guarda-roupas e trazendo mais dois travesseiros e algumas almofadas.

                Arrumou os objetos macios nas costas de Gwen, para que ela conseguisse se inclinar e ainda permanecer deitada.

                - Ei, vocês – Peter chamou – Deixem seu irmão dormir e venham cá, com cuidado.

                As três meninas subiram na cama, se acomodando ao lado da mãe. Todas já tinham conseguindo segurar Andrew no colo, quando Gwen precisou amamenta-lo novamente, logo que elas chegaram.

                - Queremos ficar aqui ajudando – Emma pediu.

                - Vão com seu tio Philip, querida, amanhã à noite vocês voltam, pra eu e sua mãe termos tempo de nos adaptar e estabelecer alguns horários. Ele tá quietinho agora, mas ainda vai nos acordar várias vezes de madrugada pra comer e trocar a fralda. Vocês não iam conseguir dormir. Amanhã vocês voltam e suas avós vão se revessar pra vir dormir aqui e nos ajudar por alguns dias. Vocês são quatro agora, querem que fiquemos loucos?

                As meninas gargalharam baixinho.

                - O cheiro do quarto tá tão bom – Destiny comentou, se referindo ao aroma do bebê e dos vários produtos infantis de banho e perfumaria perto da banheira portátil.

                - Também foi assim quando vocês nasceram – Gwen acariciou o cabelo castanho da filha deitada ao seu lado – Durou por meses.

                Enquanto fazia isso, Gwen entrelaçou os dedos da mão livre com os de Peter, e sentiu o coração apertar de felicidade e nostalgia ao se lembrar da primeira vez que os dois passaram por isso em Oxford. Estavam lá há seis anos, mas ainda parecia tão novo, tão mágico. Um mundo onde o Casal Aranha estava conseguindo existir sem ser constantemente ameaçado por psicopatas e policiais com complexo de superioridade. Às vezes ela se sentia mal pensando que seu pai fora um deles, e de como tudo acabou, apesar de ele ter demonstrado o quanto confiava em Peter. Mas era impossível controlar tudo, e estava tudo bem, ela e Peter estavam acima disso agora.

                Um bip do celular chamou a atenção de todos enquanto Peter pegava o aparelho no criado mudo e sorria ao ver o visor.

                - Olha, elas responderam – ele disse, entregando o celular a Gwen, que abriu um sorriso radiante.

                - As tias Spyce? – Hope perguntou, se sentando com as irmãs para verem as mensagens.

                - Sim, amor – Gwen respondeu – Elas tão encantadas com a fofura do seu irmãozinho, que nem ficaram com a de vocês. Querem saber se estamos bem, e se podem nos visitar daqui algumas semanas.

                - Sim! Sim! Sim! – As meninas imploraram juntas, fazendo os pais rirem, e Gwen gravar o áudio para mandar para as amigas.

                Os seis tiveram bons minutos de paz enquanto ouviam as conversas baixas da família do lado de fora, e o som de um ou outro veículo que passava na rua de vez em quando, e acabaram todos adormecendo juntos, o que May fez questão de registrar com uma foto quando Simon os encontrou assim.

                - Ei – Gwen ouviu seus irmãos mais novos chamarem, abrindo os olhos e vendo Simon e Howard a sua frente.

                As trigêmeas estavam conversando com o irmão, agora acordado e observando as três.

                - Tá ficando tarde. Philip e Jane querem saber se podem levar as meninas agora – Howard disse – Tia May vai ficar com vocês hoje. Quando as meninas voltarem ficam as duas e depois revezam.

                - Ok – Peter perguntou ainda sonolento – Vou verificar se elas pegaram tudo que precisam.

                - Meninas, é hora de ir – Gwen lhes disse.

                - Posso pegar ele? – Simon pediu, apontando para o sobrinho.

                - Pode, mas com cuidado extremo, você sabe.

                O louro pegou o sobrinho enquanto as trigêmeas se despediam dos pais, levando-o para Gwen e beijando a bochecha da irmã. Howard a abraçou e houve mais uma pequena festa enquanto todos queriam se despedir do pequeno Andrew.

                - Está tarde. Vão logo pra casa ou vamos expulsar todos – May brincou enquanto acompanhava os Stacy e as netas até a porta.

                - Não pode nos expulsar da nossa própria casa, vovó – Destiny falou, seguida de risadas.

                Peter voltou a se sentar ao lado da amada, que brincava com o filho.

                - Você consegue ser ainda mais fofo do que seu pai, minha nossa... – Gwen falou para o pequeno, ouvindo o marido rir.

                - Crianças fofas são um perigo, você tem muita dificuldade de dizer não pra elas.

                Gwen riu.

                - Não pra mim. Eu já fiz esse treinamento sete vezes.

                - Sete?

                - Com vocês, as meninas e todos os meus irmãos.

                Peter riu e a aconchegou em seus braços enquanto brincavam com o filho. Ocasionalmente tia May entrou e sentou-se para conversar com os dois e colocar o neto para dormir novamente.

******

                Peter e Gwen se esgueiraram pelos telhados após mais uma noite derrubando criminosos. Os índices de criminalidade na cidade realmente haviam caído junto com a Oscorp, mas ainda eram altos em alguns períodos.

                Peter abriu a janela para os dois passarem, encontrando tia May com Andrew acordado em seu colo e parecendo irritado.

                - As meninas tão acordadas também?

                - Não – a mais velha respondeu a Peter – Estava indo esquentar uma das mamadeiras dele quando ouvi vocês na janela.

                - Não precisa, tia May. Peter, me ajude com o traje – Gwen pediu, já removendo sua máscara.

— Mamãe! Papai! – Andrew sorriu, falando as palavras ainda um pouco desajeitadas, mas compreensíveis.

— Oi, lindão! – Peter removeu rapidamente sua máscara e beijou a bochecha do filho, depois se voltando para Gwen para ajudá-la a remover a parte superior do traje rapidamente.

— Espero sinceramente que ele não se lembre que nós somos o Casal Aranha depois – a loura falou.

                - As lembranças mais nítidas começam aos três ou quatro anos, não se preocupem com isso agora.

                Gwen sentou-se na beirada da cama, recebendo o filho nos braços e o posicionando no colo para amamentá-lo. A agitação do bebê parou enquanto Gwen o ninava em seus braços. Andrew tinha dois anos agora e era incrivelmente parecido com o pai, apesar dos cabelos serem de um lindo castanho claro.

                - É melhor você tirar esse traje. Se as meninas acordarem, vão estranhar não encontrar nenhum de vocês dois.

                - Tem razão – Peter lhe disse, puxando a parte superior da veste vermelha e azul sobre a cabeça.

                - Você parece preocupado. Aconteceu alguma coisa? – May parou para perguntar quando estava saindo.

                - É que... Eram criminosos comuns, apesar de serem meio barra pesada. Mas um deles... Olhou pra mim como se me reconhecesse.

                - Mas estavam de máscara... Não estavam...?!

                - Sim – Gwen lhe disse – Ele não quis dizer exatamente ele, Peter. O Homem Aranha.

                - Você não lembra dele?

                - Não, tia... Eu não sei. Como vou lembrar do rosto de todos os criminosos que já enfrentei? Vou falar com meu pai sobre isso.

                - E fale rápido. Não viemos pra cá pra recriar pesadelos.

                Peter assentiu, vendo-a sair, e terminou de tirar o traje, escondendo-o para lavar daqui a pouco.

                - Você quer que eu te ajude a tirar o restante do traje?

                - Quero.

                Ele se abaixou para tirar as sapatilhas da esposa, depois abrindo mais alguns zíperes da roupa para facilitar seu trabalho, e puxando o tecido por seus quadris quando Gwen se ergueu momentaneamente para ajudá-lo. Com os dois trajes guardados, Peter sentou-se ao lado dela, envolvendo um braço em seus ombros. Gwen sorriu para o filho, que riu para ela de volta e continuou a mamar.

                - Você acha que é alguém da Oscorp de novo?

                - Não sei – Peter lhe disse – Tem muitos criminosos que nunca vi, mas que já viram o Homem Aranha e sabem da carreira dele.

                - Vamos mesmo mudar de novo se as coisas ficarem feias?

                - Não tenho dúvidas sobre isso. E se Emma quer atuar, Los Angeles é melhor do que aqui, e temos que acompanhar tudo. Ela só tem sete anos. Mas se for o caso... Temos que descobrir o que tá acontecendo antes, pra não deixar pra trás nada mal resolvido e nenhuma faísca que pode virar uma bomba no futuro.

                - Será que essas coisas nunca vão parar de acontecer? E que esses criminosos não tem o que fazer? Desde que você surgiu, começou a aparecer um maníaco fantasiado atrás do outro, sempre com objetivos gananciosos aleatórios, mas você, e agora nós, sempre acabamos virando o alvo.

                - Você acabou de nos chamar de maníacos fantasiados indiretamente? Quem será que copiou de quem?

                Gwen riu.

                - Você entendeu.

                Peter beijou seu cabelo louro e deixou Andrew agarrar o polegar de sua mão livre antes de continuar.

                - Eu não sei, amor. Você acha que se nós parássemos de fazer isso, eles parariam também? – Peter questionou.

                - E nós conseguimos parar? Com todas as pessoas desprotegidas lá fora? Eu odeio admitir, e eu sou filha de um policial, mas se a polícia desse conta de tudo completamente sozinha, não haveria tantas vítimas e crimes nas estatísticas. Mesmo quando estamos no jogo, muita coisa ainda acontece. Somos só dois.

                - Eu espero – ele completou, ouvindo Gwen suspirar de tensão com tal pensamento – Mas não somos imortais. Um dia... Querendo ou não, precisando ou não, o mundo vai ficar sem o Casal Aranha de novo. E sinceramente, apesar de todas as nossas super habilidades, não me imagino voando pelos prédios aos novena anos de idade.

                Gwen gargalhou.

                - Espero que estejamos vivos pra rir disso de novo nessa idade – ela disse.

                Peter a abraçou mais firme.

                - Eu não sei como vamos conseguir isso, mas... A nossa vida é minha prioridade agora. Não sou mais aquele adolescente inconsequente. Mesmo que eu não consiga salvar todo mundo, eu tenho que salvar você, nossos filhos, nossas mães e irmãos, meu pai. Se estivermos seguros, encontramos um jeito de lidar com o resto. Acho que aguentar tudo que nós passamos me transformou num herói egoísta, mas... Eu nunca mais quero viver aquilo. De que adianta se eu morrer ou ficar incapacitado?

                - Você não é egoísta. Só tem uma boa noção do que dá conta ou não, e isso é tão importante quanto a força, a coragem e o altruísmo do Homem Aranha.

                A resposta de Peter foi beijá-la demoradamente, ambos se sentindo confortados com o filho no colo, sem a menor ideia de que o que mais temiam para o futuro de suas crianças não demoraria muito para acontecer.

******

— Peter... Você terminou aí? Eu preciso que você volte pra casa!

Gwen ouviu mais alguns sons de luta e um suspiro de alívio até Peter falar novamente.

— Agora eu terminei. O que aconteceu, meu amor? – Ele questionou, já voando pelos prédios depois de deixar o criminoso enrolado por teias para a polícia encontrar.

— Eu nem sei como te dizer isso, mas... Emma... Provavelmente todas elas...

— Mamãe!! – Peter escutou Hope gritar do outro lado da linha.

— O que aconteceu com Emma?!

— Ela tá bem, mas precisamos finalmente ter aquela conversa. Venha pra casa.

— Chego em menos de cinco minutos! Eu te amo, não se desespere.

— Eu sei – Gwen respondeu, fazendo um sorriso transparecer em sua voz.

 Peter desligou, apressando seu caminho para casa tanto quanto possível sem se colocar em risco. Finalmente alcançando a janela do quarto deles, a abriu e entrou, de repente ouvindo Gwen em pânico falando com alguém na sala, e o sentido aranha que já apitava em seus instintos desde o telefonema, ficou mais forte.

— Não, mamãe, nós estamos bem.

— Querida, eu acabei de ver uma das minhas netas literalmente grudada numa parece sem razões compreensíveis e tudo que você diz é que estão bem?

O tom de Helen não era severo, apesar da descoberta. Peter gelou ao começar a compreender o que estava acontecendo, e estremeceu com a sensação familiar de quando ele e Gwen sentiam a presença um do outro, mas também muito mais forte que o comum.

— Papai?! – Destiny perguntou de algum lugar.

— Ah, não... – Peter murmurou para si mesmo.

— Meu amor, assim vão acordar seu irmão – Gwen advertiu.

— Desculpa.

— Peter está em casa? – Helen perguntou, agora parecendo um pouco atordoada.

— Mamãe...

Peter ouviu a mais velha se sentar e ficar um longo tempo em silêncio.

— Tudo bem... – Helen falou – Eu sei. Eu sempre desconfiei que havia algo errado com os sumiços repentinos de vocês.

— Tá com raiva?

— Não, docinho – ela respondeu a Hope – Só... Surpresa. Temos muito pra conversar.

Gwen soltou um suspiro pesado e olhou na direção das escadas, vendo Peter a encarando, e após uma longa troca de olhares, a loura acenou positivamente de onde estava ajoelhada no chão com Emma no colo. Destiny e Hope sentadas ao lado do berço portátil do irmãozinho de três anos, do lado oposto da sala.

Peter caminhou lentamente para o andar de baixo, recebendo olhares chocados das filhas, que ficaram mudas por um instante.

— É o Homem Aranha!!! – Emma exclamou num sussurro, abrindo um enorme sorriso, sendo imitada pelas irmãs, mas logo sua esperteza superou sua admiração – Estamos em perigo?

— Não, meu amor – Peter respondeu.

— Papai?! – As três questionaram em choque.

Peter olhou para Helen, que assentiu calmamente, e puxou a máscara de sua cabeça. A mulher mais velha o olhou em silêncio por um longo tempo antes de falar.

— Seus problemas com Gwen, a recuperação milagrosa dela, a cisma de George, o incidente no mercado em Oxford oito anos atrás, o quão fácil foi a primeira gravidez dela, apesar de serem três bebês, todos os sumiços repentinos de vocês dois em horários aleatórios... Tudo... Tem a ver com isso?

Peter trocou um olhar com a esposa antes dos dois olharem para Helen de novo e Gwen assentir.

— Me desculpa, mãe... Não é que não confiamos em você. Foi só... Segurança.

Helen assentiu, ainda parecendo estar num sonho.

— May sabe?

— Ela descobriu me observando... Como você. Mas quando aquilo aconteceu com Gwen eu entrei desesperado em casa pra me trocar e voltar pra ela. E ela viu.

— Aquilo também teve a ver com o Homem Aranha?

— Sim, mas... Se Peter não estivesse lá eu teria morrido, mãe. O Duende Verde fez aquilo. Mas Peter me pegou e correu comigo pra o hospital. Por ironia do destino também fui picada por uma aranha modificada lá. Foi isso que me curou tão rápido, e que talvez me impediu de morrer naquela mesma noite.

— Tia May sempre se sentiu mal por você não saber – Peter disse a sua sogra – Mas nós ficamos com medo... Ela descobriu sem querer. E quando Harry ficou louco e percebeu que Gwen sabia....

— Não só isso. Eu tava no lugar errado na pior hora possível. Eu devia ter descido a torre e ido embora depois de reiniciar o sistema, eu devia ter ouvido você. A culpa foi minha – Gwen falou – Ele descobriu que eu sabia sobre você e eu era a única presente além de vocês dois pra ele usar contra você, Peter.

— Aquela foi a pior noite de toda a minha vida... – ele respondeu – Pior do que a noite em que percebi que meus pais não iam voltar mais.

Os olhos de ambos brilharam com as emoções que começaram a queimar dentro deles, mas deram seu melhor para se conter, eles poderiam chorar juntos e cuidar um do outro depois.

— Quem é Harry? – Emma perguntou – E como um duende pode ter machucado vocês se são tão pequenos, papai?

                Peter ficou mudo por um instante, tentando absorver o que a filha tinha acabado de perguntar.

                - Não, querida... Duende Verde era só... Um apelido, que nem o Homem Aranha, entende? Ele era uma pessoa como nós, do mesmo tamanho que nós.

                - Como vocês sabiam a identidade dele? – Hope perguntou.

                - É que... Antes de enlouquecer ele era meu melhor amigo.

                Um silêncio incerto se abateu sobre a sala por quase um minuto.

                - Por que ele machucou você e a mamãe então? – Destiny perguntou.

                - Você lembra do que seu tio Simon disse sobre os animais semana passada? Que quando eles se machucam e sentem muita dor, ficam com tanto medo que isso os deixa confusos, então eles não conseguem saber quem quer ajuda-los e quem quer machucá-los, e acabam mordendo pra tentar se defender.

                - Sim.

                - É a mesma coisa. Nós sabemos nos controlar melhor, mas às vezes algumas coisas nos machucam tanto que ficamos sem forças pra entender o que tá acontecendo a nossa volta, e sem querer machucamos os outros. Temos que tentar nosso melhor pra não deixar isso acontecer, mas às vezes ainda acontece. Ele tava muito doente, e achou que o Homem Aranha sabia curá-lo, mas eu não sabia. Ele ficou muito triste e com raiva, e... Quando vocês forem mais velhas, e souberem mais do que sabem agora, vão entender melhor o que aconteceu.

                - E onde ele tá agora? Se ele quiser machucar a mamãe de novo?

                - Não vai. Pouco tempo depois disso ele foi pra o céu, Dest. Lá podem curá-lo.

                - Mas ele morreu.

                - Quando as pessoas morrem, elas só trocam de lugar, querida. Como é muito longe não conseguimos mais vê-las daqui, mas elas continuam vivas. E todas se curam – Helen falou com um sorriso para a neta.

                - Por que tem que ser tão longe?

                Os três adultos se entreolharam, mal acreditando que suas crianças conseguiam ser tão curiosas num momento crítico como esse.

                - Hope... Lembra quando perdeu seus dentes ano passado? – Gwen perguntou.

                - Sim, o que tem a ver?

                - Você os perdeu porque não precisava mais deles, surgiram novos no lugar, que vão ser mais adequados pra quando você crescer. Tudo que acontece na nossa vida é do mesmo jeito. Chegam momentos em que não precisamos mais fazer alguma coisa ou estar em algum lugar, ou que já passamos tanto tempo aqui que ficamos muito cansados, então precisamos mudar, ir pra outro lugar pra descansar e começar algo novo, e ficamos lá esperando os que ainda estão aqui chegarem, quando for a vez deles.

                A pequena assentiu.

                - Você é a Mulher Aranha?

                Gwen emitiu um risinho, surpresa com a mudança repentina de assunto.

                - Sim, eu sou.

                As três crianças arregalaram os olhos novamente por um instante.

                - Então agora vamos bater nos bandidos junto com vocês?! – Destiny perguntou com empolgação.

                - De jeito nenhum. Não é assim que funciona – Peter respondeu – Nós vamos ter um longa conversa sobre isso mais tarde, e não podem contar pra ninguém. Graças a Deus é período de férias... – ele passou a mão enluvada nervosamente pelo rosto.

                - Podemos ver sua máscara? – Emma pediu, levantando-se do colo da mãe.

                Peter assentiu, estendendo a peça vermelha para a filha mais nova, que a segurou com fascinação enquanto suas irmãs corriam para perto para fazer o mesmo. Por alguns minutos ninguém falou nada, e as três reviraram a máscara em suas mãozinhas, querendo assimilar todos os detalhes da peça antes de devolvê-la ao pai.

                - Querido... Por que você não troca de roupa e volta aqui pra conversarmos? Andy já tem três anos e pode a qualquer momento começar a se lembrar das coisas. Não vamos arriscar.

                Peter assentiu.

                - Com licença, Helen.

                A mulher concordou e o viu se encaminhar para as escadas novamente.

                - Papai.

                Ele se virou para encarar Destiny.

                - Pode subir de teia? Ou pela parede?

                Emma e Hope sorriram junto com a irmã para reforçar a pressão.

                - Não... Eu não vou dar ideias suicidas pra vocês.

                - Mas você não morreu até hoje – Hope reclamou como se estivesse falando de algo corriqueiro do dia a dia, fazendo seus pais se encararem e rirem.

                - Você... Não faz ideia do que tá dizendo – o herói respondeu.

                - Então pelo menos dá um mortal pra gente ver – Destiny insistiu.

                - O barulho vai acordar Andrew.

                - Eu passei meses treinando antes de começar a fazer o que faço – Gwen falou, tentando chegar a um acordo – Nós vamos treinar vocês e ensiná-las a usar bem tudo que ainda vão descobrir que são capazes de fazer. E não tentem fazer nada sem algum de nós por perto antes de aprenderem, porque temos meios de descobrir se vocês tentarem, e não vamos ficar nada felizes em saber que se colocaram em risco ou se feriram sem necessidade. Essas habilidades são maravilhosas, mas também têm consequências. Antes de usá-las, qualquer um que as tenha tem que ter noção de que com grandes poderes, vem grandes responsabilidades. Vocês só têm oito anos, então terão tempo suficiente pra entender o que isso significa sem precisarem passar por todas as coisas difíceis que eu e seu pai passamos. Ainda haverão momentos sombrios, tensos, tristes, e talvez até se sintam sozinhas às vezes, mas vão aprender a lidar com eles.

                - É disso que a esperança consiste, afinal – Peter completou sorrindo, vendo a esposa sorrir de volta.

                Suas meninas ainda não compreendiam o que eles estavam falando além do significado superficial daquelas palavras, mas agora teriam uma montanha de histórias para ouvir sobre o Casal Aranha, e descobririam no caminho.

                - Eu vou até lá em cima andando pelo teto e pela parede, e só. E espero que fixem muito bem o que sua mãe acabou de dizer. Não quero nenhuma das três tentando fazer isso antes de nós ensinarmos.

                As três tiveram um pequeno surto silencioso, já habituadas a fazer isso quando o irmãozinho estava dormindo, e observaram maravilhadas quando Peter saltou para o teto e caminho pelas paredes até sumir no topo das escadas.

                - Podemos fazer isso também? – Hope perguntou para a mãe.

                - Depois que nós treinarmos vocês muitas vezes.

                - A senhora também faz isso, vovó?!

                Helen riu.

                - Não, querida. Espere seu pai voltar. Temos muito a ser respondido sobre isso.

                Gwen finalmente levantou do chão e sentou-se ao lado da mãe, não sabendo como conduzir uma conversa com ela sobre o assunto a partir dali, até que Helen segurou sua mão.

                - Ainda sou sua mãe, não importando o que me contem sobre isso.

                Gwen sorriu e assentiu, aceitando o abraço da mais velha.


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