Sob um novo Sol escrita por Sasusakunatica


Capítulo 1
Capítulo único




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A plantação de arroz  dançava de um lado pra o outro ao ritmo inaudível da sinfonia do vento. Sakura observava em silêncio melancólico o espetáculo natural, seus pensamentos dançando tão frenéticamente quanto a seara que contemplava.

Já se passara um ano desde que deixara a Vila da Folha, sua casa, para uma viagem épica de aventuras e desenvolvimento pessoal. Sua mentora, a Godaime Hokage, percebendo seu estado de ânimo cada vez mais deprimido desde o fim da Quarta Grande Guerra Ninja e, então, sua despedida dolorosa de seu ex-companheiro de time, e único amor de sua vida, incentivou-a a sair mundo a fora, conhecer lugares, se colocar a prova, aperfeiçoar-se como ninja e como mulher.

Tsunade sabia bem como era desperdir-se contra sua vontade, de alguém que você ama, e foi apenas sua preocupação com sua mais brilhante discípula que a levou a lhe fazer tal proposta. Sakura estava relutante em deixar a Vila, pois sentia que poderia ser necessária ali, mas a perspectiva de aprender mais com lendária Iroy-nin a tirou de tal dilema.

Mas depois de tanto tempo viajando a ermo, a jovem médica se perguntava se já não estava na hora de voltar, apesar de tudo aquela era sua casa, e quanto mais do mundo ela conhecia mais ela percebia qual era verdadeiramente o seu lugar. E claro, havia também a possibilidade de Sasuke ter retornado à Vila durante sua ausência. Pensar nele ainda doía como ferida inflamada. E suspeitava que não deixaria de doer um dia.

Foi ele quem escolheu partir, não eu.

Refutou os pensamentos dolorosos. Sasuke era seu passado. Ele partiu inúmeras vezes, ele nunca escolheu voltar. Nem antes, nem agora. Sakura esperou por mais de um ano por ele, antes de se dá conta que ele talvez não voltaria mais. Ela finalmente entendeu que ele estava além do seu alcance, sempre esteve. Foi quando decidiu desistir de procurar por ele e decidiu ir em busca de si mesma. Sasuke seguiu em frente. Ela também o faria.

XXX

Enquanto isso, em algum lugar no País do Arroz, Sasuke tomava uma decisão crucial.

— Você tem certeza que precisa voltar? Eu posso arranjar um lugar para você na Vila. Seria perfeito ter alguém como você por aqui. - sugeriu Gon pela milésima vez.

Embora Sasuke tenha se afeiçoado àquela gente, tampouco pretendia criar raízes ali. Quando decidiu se hospedar na casa do velho ancião, não tinha mente passar ali mais do que o tempo necessário para resolver o seus problemas com vigaristas da Vila que roubavam suas colheitas.
Mas foi observando a pacata vida familiar de Gon e sua esposa Harumi, que o ninja finalmente decidiu.

— Está na hora de voltar para minha casa - na mente de Sasuke uma imagem de um belo par de olhos verdes surgiu sem pedir licença. Pra ele aqueles olhos passaram a significar cada mais coisas. Um dia quente de primavera, a bruma leve de um dia preguiçoso. A definição de saudade estava ali.

Será que eles eram tão verdes mesmo?

  Depois de dois anos sem ve-los pessoalmente, Sasuke temia que sua  memória o traísse. Essa vadia caprichosa, ao passo que o torturava com imagens cada mais recorrentes daquela pessoa, também apagava de sua mente os detalhes mais preciosos. Isso era inadmissível. Ele precisava voltar imediatamente para descobrir por si mesmo quantas malditas peças sua memória lhe pregou. Movido por essa nova urgência Sasuke pegou seus limitados pertences, e com os sinceros desejos de boa sorte do velho casal, partiu.

Sua viagem de volta demorou mais do que ele desejava. Ou talvez fosse só a relatividade lhe pregando mais peças. Não importa. Agora que finalmente atravessava os portões de Konoha sentiu que poderia respirar novamente. Quanto tempo até a unidade sensorial reconhecer meu chackra? Se perguntou. Mal dera dez passos e um esquadrão de elite o cercou, desconfiados, sobre o que traria o infame nukeninn Sasuke Uchiha de volta à Vila que ele traiu e jurou destruir. Que ele já tivesse sido julgado e perdoado por seus crimes, pouco lhes importava. O Uchiha não era bem-vindo.

Eu deveria ter mandado uma carta ao Hokage notificando meu retorno. Pensou, sua negligência o irritou mais que a recepção hostil, saíra às pressas do País do Arroz, e em nenhum momento lhe ocorreu que poderia não ser bem-vindo em casa.

— Pare aí mesmo Uchiha- vociferou o líder do esquadrão.

— Afastem-se, eu só desejo falar com o Hokage. - retorquiu Sasuke com impaciência. Tudo que ele queria era encontrar um certo par de olhos verdes, mas aqueles paspalhos desajustados o atrasavam.

— O Hokage não está na Vila. - cuspiu - Você não devia ter voltado Uchiha. - completou como se tivesse a necessidade de deixar claro seu desgosto com a presença do ninja.

Sem o Hokage na Vila Sasuke precisaria encontrar com o próximo em comando, seja lá quem for, mas estes homens não pareciam estar dispostos a deixá-lo passar. Estava ponderando sobre a sensatez de quebrar alguns ossos. Kakashi o perdoaria por tal descuido? Ele não se importava, mas se fosse preso de novo não poderia ver Sakura. Quando decidiu que seria melhor se esconder às margens da floresta até o retorno do antigo sensei, ouviu ao longe uma voz estridente e familiar.

— Sasukeeeeeeeeeeeee - Naruto gritava a plenos pulmões, no rosto o sorriso mais idiota que ele já viu.  Seu coração apertou. Sim, ele estava em casa.

— O que vocês estão fazendo? É só o Sasuke! Pra que essa comoção toda?- disse o velho amigo ao se aproximar do esquadrão que cercava Sasuke com desconfiança.

Naruto emanava um brilho  alaranjado de sua pele e cabelo, seus olhos formavam um padrão característico de sua transformação sábia envolvido com o chackra da kyuubi. Sua aura de poder sobrepujou todos ali, e até mesmo o Capitão do esquadrão, superior direto de Naruto, baixou ligeiramente os ombros. Sasuke tinha que admitir, Naruto era um ninja formidável, ele trazia em si as evidências disso, talvez seja o único homem vivo que poderia  bater de frente com ele, e mesmo assim aqueles guardas de cancela, o desafiavam como iguais, enquanto a mera presença de Naruto os suplantava.

— Hmpf - sua irritação alcançava outros níveis. E quando Naruto finalmente dispensou os guardas relutantes. O ninja renegado passou por ele mau humorado, em direção ao Hospital de Konoha.

— Oe, Sasukeeee aonde você vai? - Naruto gritava enquanto corria para o alcançar. - Por que você não disse que estava voltando? - continuou seu monólogo, ignorando completamente o mau humor do amigo. - Aaah cara, você tá com cara péssima, sério! Por onde você andou esse tempo todo? Kakashi-sensei, digo o Rokudaime Hokage foi a Vila da Areia, uma reunião da cúpula dos Kages, alguma coisa assim, se tivesse nos avisado poderíamos ter nos preparado melhor pra sua volta. Uaaaau cara, eu estava treinando quando senti seu chackra, eu mal pude acreditar' tebayo. Mas a divisão de sensores é mesmo impressionante ttebayo. Você viu aqueles caras? Mas não se preocupe com isso, eles são chunins novos, logo eles se acostumam, você sabe como é que é ttebayo. Oe, Sasuke, você tá me ouvindo? Aonde você tá indo? …Ela não está aí... - declarou Naruto, percebendo finalmente aonde Sasuke os estava levando.

O outro parou de chofre, escutando pela primeira vez o que o seu companheiro tagarela falava.

— Ela está em missão? Onde? - Sasuke se amaldiçoou mais uma vez por não ter tido a diligência de avisar seu retorno. Se Sakura estivesse fora da vila ele precisaria ficar e esperar seu retorno ou sair para procura-la e arriscar mais um desencontro. Ele não sabia qual idéia o desagradava mais.

— Eu não sei onde ela está. Há mais de um ano que eu não sei notícias dela. - confidenciou Naruto com uma nota de decepção na voz.

O sangue de Sasuke virou gelo em suas veias. Que tipo de missão duraria tanto tempo? E por que nem mesmo um ninja de elite como Naruto tem notícias suas depois de tanto tempo? Algo estava  muito errado.

— O que você quer dizer? Como você não sabe onde ela está?  - exigiu Sasuke com a voz cada vez mais fria e distante, que só alguém como Naruto poderia interpretar como sinal de sua ansiedade.

— Venha comigo, eu vou lhe explicar tudo. - acalmou-o Naruto, passando o braço por seus ombros e o guiando na direção oposta.

A casa de Naruto era ampla e bem arejada e muito mais limpa e perfumada que o seu antigo apartamento de solteiro. Um cheiro de biscoitos pairava sobre o ar, Hinata deveria estar na cozinha. Naruto a cumprimentou ao entrar e imediatamente se jogou sobre uma poltrona repolhuda. O ambiente era todo muito familiar e intimista, mas Sasuke se sentiu imediatamente desconfortável ali. Sua capa preta desbotada, suas botas gastas e sujas, seu cabelo mal cortado, e seu aspecto em geral lhe davam uma aura feroz e sombria que não combinava com aquele clima aconchegante.

— Ora, Sasuke, o que você tá fazendo? Sente aí - mas antes que Sasuke pudesse repreender o amigo por sua descontração tola e exigir respostas, Naruto saiu em direção à cozinha para pegar bolinhos.

— Hinataaaa, você não vai acreditar em quem eu encontrei hoje- Sasuke ouviu o amigo falar da cozinha, uns 10 decibéis acima do adequado para uma conversasão civilizada, qualquer que fosse a reposta de Hinata, se perdeu em meio à risada exuberante de Naruto.

Minutos depois Naruto ressurgiu na sala trazendo Hinata a tira colo, com uma bandeja de biscoitinhos de nata e uma jarra de suco. A visão dos dois era mesmo impressionante. Casais recém casados sempre são desconfortáveis de olhar, Sasuke preferiria se poupar desse constrangimento, mas Naruto e Hinata possuíam uma dinâmica quase magnética, eles se moviam em sintonia e era quase  impossível tirar os olhos deles. Imediatamente reconheceu a felicidade doméstica de Naruto, e se permitiu ficar feliz pelo amigo. Não havia ninguém que ele desejasse mais que fosse feliz.

Bem, talvez, só uma pessoa, mas essa felicidade dependia totalmente das informações que seu ex-companheiro lhe daria.

Só foi após comer pelo menos uma dezena de biscoitos e beber o equivalente a 1l de suco, que Naruto se dispôs a tocar no assunto que os trouxera até ali. O amigo parecia estar tentando ganhar tempo, e Sasuke ficou em alerta. Hinata se despediu timidamente com a desculpa de que precisava visitar seu pai, deixando -os a sós para conversar.

— Então? - insistiu Sasuke, sua paciência se esgotara há muito. Na verdade, estava ridiculamente impulsivo ultimamente.

— Quando você partiu, Sakura-chan ficou arrasada. - começou Naruto - mas durante muito tempo ela se consolou com a ideia de que você voltaria, mas você não voltou.

O coração de Sasuke apertou. Ele sabia que tinha imposto uma distância dura entre ele e seus amigos mais queridos, mas esperava que a maior parte do castigo recaísse sobre seus ombros. Pensar que ele foi autor de mais decepção à Sakura…

— Ela trabalhou muito duro no hospital, na reconstrução da vila, até ajudou outras aldeias, mas eu via, todos víamos que ela…bem ela não era mais ela mesma. Sempre que ela ouvia notícias de você, ela ficava feliz só pra depois ficar novamente frustrada. Eu juro que ela tentou ser paciente, ela queria estar aqui quando você chegasse, mas era simplesmente demais, então Vovó Tsunade sugeriu que fizessem uma viagem pelo mundo para treina-la. Desde então, eu não recebi mais notícias das duas. Depois de um tempo eu tentei entrar em contato com elas, mas ou elas não querem ser encontradas ou estão muito além do meu alcance. Eu sinto muito Sasuke, eu não faço ideia de quando ela volta ou se voltará um dia. Eu só sei que elas estão vivas por aí em algum lugar. - o sorriso encorajador de Naruto não teve efeito em Sasuke.

— Como você pode ter certeza? - perguntou carrancudo.

— Bem, você já viu aquelas duas lutando ttebayo - sua risada preencheu o ambiente, mas vendo que não combinava com o humor do amigo, completou dizendo em tom mais sério - Elas estão bem, cara. Se não estivessem saberíamos com certeza. Tô certo.

—--

O humor de Sasuke estava em baixa, sua irritação dando lugar à miséria. Ouvir o relato de Naruto o fez perceber quão tolo foi. Deveria ter voltado antes. Não, nao deveria nem ter partido. Mais uma vez colocou seus amigos, Sakura, em uma posição difícil, mais uma vez virou as costas para eles. Era justo que ele sofresse agora. E se o aperto no seu peito não fosse tão duro e não machucasse tanto pensar em Sakura ferida, ele se resignaria ao seu destino, mas ele não podia fazer isso. Ele precisava encontrar Sakura, nem que fosse pra lhe dizer que não havia mais nada pelo que esperar. Ela merecia ao menos isso. Ele faria isso por ela.

Então no dia seguinte à sua chegada, novamente ele saía pelos portões da Vila, mas dessa vez com objetivo diferente. Ele só retornaria àquele lugar trazendo Sakura consigo. Ele a procuraria do nascer ao por sol, de uma ponta a outra  desse mundo imenso e hostil, mas só descansaria quando pudesse vê-la outra vez.

Sasuke sabia que seria difícil encontrar o paradeiro de Sakura, dado o relato de Naruto, mas imaginava que após dois meses de buscas já teria ao menos alguma informação útil. Não é como se duas ninjas médicas de alto calibre viajando sozinhas não chamasse atenção, o cabelo exuberante de Sakura era notório aonde quer que ela fosse. Ao longo das últimas semanas ele ouviu mais de uma indicação de seu paradeiro, rumores de vilarejos isolados que passavam por crises e era prontamente socorrido por duas kunoichis com formidáveis habilidades médicas, mas sempre que ele chegava a esses lugares elas já haviam partido. Estava sempre um passo atrás. Sempre atrasado demais. Sasuke se sentia frustrado além da compreensão. Sentia -se como um maldito gato perseguindo o próprio rabo.

Durante os últimos dois anos em que percorreu o mundo perseguindo alguma rendição pros seus pecados, Sasuke tentou manter os pensamentos distantes daqueles de quem mais queria ver. Ele não se sentia dignos deles, então não foi difícil se convencer de que era o melhor para todos se manter afastado. E quando a saudade se insinuava em seu peito, se apegava a essas convicções para conseguir ir ainda mais longe no dia seguinte. Mas o que era esse vazio em peito que ameaçava sobrepujar sua força de vontade? Por que a distância de repente se tornou tão insuportável?

Pela primeira vez na vida ele não sabia o que faria a seguir. O desânimo se abateu sobre o ninja, e por mais que desistir lhe parecesse inimaginável, tampouco sabia o que fazer para continuar. "Se Sakura sentiu metade disso durante o período em que esperou por mim, eu realmente não consigo entender como aguentou tanto tempo. "

Sua última tentativa frustrada de encontrar as duas mulheres drenou seu ânimos. Então se encontrava caminhando cabisbaixo pelas ruas vazias de um vilarejo vazio no interior do Pais da Terra. Hoje não dormiria na floresta, iria a uma taberna na Vila e tentaria sufocar esse colossal vazio em seu peito com todo álcool que pudesse.

Como shinobi disciplinado que era, Sasuke nunca antes se entregou a nenhuma dessas paixões que os homens comuns as vezes usufruem. Ele não precisava de entorpecentes, e considerava covardes os homens que recorriam a tais artificios. Hoje, porém, sentia -se muito mais empático a eles, e francamente não conseguia reunir determinação nem para impedir os próprios pés de continuar buscando esse conforto frugaz. Ele iria se arrepender amanhã, mas no momento não poderia se importar menos com isso.

Entrou na primeira taberna que encontrou e buscou a mesa mais isolada que pôde. Geralmente ele se adequava bem a esses ambientes insalubres. A iluminação baixa, a conversa alta, o cheiro de fritura e Deus sabe lá o que mais, se encaixavam perfeitamente na sua aura sombria e esfarrapada. Ninguém notou sua entrada, a não ser a garçonete alta e morena, que bamboleou insinuante em sua direção  assim que ele sentou -se à mesa.

— O que vai querer hoje? - disse com uma voz arrastada. A forma como enfatizou a última palavra, e o modo como apoiou seu quadril ma mesa, sugeriu a Sasuke que não era só uma refeição que ela estava se oferecendo.

Sasuke estava acostumado com esse tipo atenção descarada. Muitas mulheres o achavam atraente, desde sua época na academia.  O cabelo escuro e espesso característico dos Uchihas, contrastando com sua pele clara, ainda que um pouco mais bronzeada agora que ele passara tanto tempo sob o Sol, eram atributos desejáveis segundo o que ele mesmo já ouvira diversas vezes. No entanto, ele sempre considerou tais mulheres tolas e ignorantes. Será se elas ainda ficariam tão interessadas se soubessem que ele é um homem amaldiçoado?

— A bebida mais forte que você tiver. - disse sem saber exatamente o que pedir.

— Dia difícil? - insistia a garçonete, sentindo-se mais corajosa agora que sabia sua intenção, talvez imaginando que o belo homem a sua frente também fosse apreciar companhia.

Sasuke sentindo -se frustrado e irritado não queria ter que lidar com os desejos frustrados de ninguém mais, então lançou um olhar malicioso à jovem, que ficou petrificada por um momento, e saiu aos tropeços logo em seguida.

Que ela interprete como quiser.

Minutos depois Sasuke ouviu passos às suas costas, imaginando que seria a garçonete com sua bebida, não se deu trabalho de olhar para trás. Ela despejou  sua jarra de saquê com força sobre a mesa. Acho que ela se irritou com a sua rejeição, pensou, mas quando Sasuke imaginou que ela simplesmte iria embora, a mulher a puxou uma cadeira a sua frente e disse:

— Você estava procurando por mim Sasuke-kun?

O ninja mal podia acreditar em seus olhos. Sakura estava realmente ali? Bem diante dele? Como? Ele estava tão distraído que sequer notou a presença dela quando entrou? Ou ela acabara de chegar? Mais uma vez percebeu como tem sido descuidado ultimamente, a urgência de encontrar Sakura tem rebaixado suas defesas, mas deixaria pra se repreender depois, pois agora Sakura estava finalmente com ele.

Seu olhar percorreu toda a taberna tentando entender de onde ela veio, e sua postura relaxou imediatamente. Sua busca acabara. Um peso de mil kg foi tirado de seu peito.  Mas ao olhar atentamente para Sakura, sentiu algo estranho. Seu cabelo estava mais curto, ainda menor do que ele lembrava, um estilo moderno e masculino, e a cor...o que ela fez com o cabelo? Estava num tom escuro avermelhado, como se a cor original, rosa pálido, estivesse tentando se rebelar contra qualquer que fosse o produto que ela usou para deixá-lo assim. Mas essa nem era a sua maior mudança, sua expressão outrora doce e otimista, estava severa e intrigada, como se ela não pudesse imaginar nenhum motivo para tê-lo procurando por ela durante as últimas 8 semanas, mas o que mais chocou o ninja foi sentir o chackra de Sakura, antes caloroso e energizante, agora era frio e até mesmo obscuro. Tão diferente do que ele conhecia que mal pôde reconhecer, se não tivesse olhando para a médica jamais poderia dizer que aquele era seu chackra.
O que aconteceu com você, Sakura?

— Finalmente achei você. - disse o ninja com um sorriso de canto.

Sua expressão parece ter chocado Sakura, pois a médica se remexeu desconfortável em sua cadeira. Um silêncio esmagador se instalou entre  eles. A médica cruzou os braços a sua frente e virou o corpo ligeiramente para saída, como se estivesse se preparando pra fugir a qualquer momento. Sua atitude ressabiada tornou o clima mais denso, e Sasuke não sabia como interpretar nada disso. Enquanto procurava por ela, imaginou diversos cenários, inclusive um onde ela estaria mais do que feliz...com outra pessoa, e se fosse esse o caso ele não interferiria de modo algum. Mas encontrá-la tão desconfiada, como se sua presença a incomodasse, o magoou mais do que ele poderia imaginar.

— O que aconteceu com seu cabelo? - Perguntou finalmente, numa tentativa vã de quebrar o gelo, mas percebeu imediatamente que foi a coisa errada a se dizer. Sakura fez uma careta ante à pergunta tão direta e levou a mão a uma mecha na sua testa. Talvez ela também não tivesse gostado do novo visual.

— Ele chamava atenção demais. - disse com desgosto.

Com isso Sasuke concordava, o cabelo de Sakura possuía uma cor única, um rosa tão pálido quanto as flores de cerejeira, que lhe emprestavam o nome. Era tão singular quanto ela mesma, e tão delicado quantos as flores homôninas. Não havia uma única pessoa, homem ou mulher, que Sasuke já tenha visto igual. Por isso olhar para cerejeiras em flor era como olhar para Sakura, e Sasuke perdia muito do seu  tempo em contemplação nostálgica quando tinha a sorte de se deparar com uma.

— E por que você desejava passar despercebida?_ perguntou capturando o significado de sua resposta curta. Aliás por que ela estava tão econômica nas palavras? Isso não parecia nada com ela.

— Porque tinha alguém me seguindo. _ sua resposta veio carregada de sarcasmo, acentuado pela curva insinuante de uma sobrancelha questionadora.

Ela não estava se referindo a ele, estava? Então ela sabia o tempo todo que ele a estava procurando e só veio se revelar agora? Por quê? Sasuke baixou os olhos constrangido. Esse tempo todo ele estava fazendo papel de bobo. O sensação de ser um gato correndo atrás do rabo lhe ocorreu novamente. Por que Sakura faria isso? Quem era essa mulher a sua frente?

— Eu não sabia que era você, eu só sabia que alguém estava me seguindo. Não quis esperar para ver, então tomei precauções extras e esperei o momento certo para embosca-lo. Não foi até ve-lo entrando na taberna que eu percebi que na verdade era você quem me procurava. _ se apressou a médica a explicar ao ver que  Sasuke tinha interpretado errado sua insinuação.

O estado de ânimo do outro ganhou outra injeção de euforia. Ela não estava o evitando, afinal. Ainda havia esperança. Ele só precisava atravessar essa parede de gelo que Sakura construiu entre eles. Ele tentou olhar as coisas da perspectiva dela. Dois anos atrás ele partiu sem data para voltar, e nas poucas vezes que quase  tiveram um encontro casual, ele a evitara deliberadamente. Ela deve ter se sentido rejeitada, até humilhada. E agora ele atravessa meio mundo pra procura-la? Ele também estaria cauteloso.

Tentando adotar uma postura descontraída e acolhedora, sorriu e disse

— Você é mais evasiva do que eu pensei.

Mas Sakura ficou ainda mais confusa com essa atitude refrescante. Ela deveria estar se perguntando o que aconteceu com ele tal qual ele fazia há alguns instantes. Mais uma vez sentiu inveja de Naruto, ele com certeza saberia o que fazer, bastava ele dizer alguma coisa idiota, ela riria e tudo ficaria bem. Mas isso não combinava com ele, então decidiu parar de tentar. E foi direto ao ponto

— Eu estava procurando você. _ esclareceu

— Isso eu notei. _ rebateu sorrindo _ Eu quero saber porquê? _ o clima se adensando novamente.

Era uma pergunta simples, mas Sasuke não sabia como responder, embora soubesse exatamente a resposta. Ele não conseguia mais prever as reações de Sakura. Ela não era mais a mesma, e ele temia descobrir a profundidade da sua mudança. O amor que uma vez lhe ofetara talvez não estivesse mais disponível, suas atenções talvez fossem desconfortáveis pra ela agora. Talvez fosse tarde demais. De repente se sentiu inseguro, apenas mais um gatinho assustado, como Naruto acusou uma vez.

Mas o olhar de Sakura exigia uma resposta. Ela parecia ansiar por aquela reposta tanto quanto ele temia em da-la. Determinado a encerrar sua agonia.  Tomou coragem e disse.

— Porque eu senti sua falta.

O olhar decidido de Sakura vacilou, e ele viu que ela lutava para se manter no controle de suas reações talvez temendo revelar uma vulnerabilidade. Mas já era tarde demais, sua bochechas adoravelmente rosas não a deixavam mentir. Mas em questão de segundos sua expressão mudou. Ela se levantou de súbito e disse fria.

— Tarde demais para isso. _ E saiu porta a fora.

Se Sasuke não tivesse visto suas faces corarem ou o tremor sutil em suas mãos quando se levantou, ele talvez tivesse se deixado abater pelas palavras duras. Mas ambos sabiam que não era tarde demais. A faísca ainda estava lá, queimando mais intensa do que nunca esteve.
Então esquecendo a bebida sobre a mesa seguiu-a noite adentro com um sorriso idiota nos lábios.

—--
A noite escura não era obstáculo para seu sharingan, e agora o que ele sabia o que procurava era muito mais fácil segui -la na penumbra. Mas Sakura era veloz e especialista em evasão, e estava determinada a fugir dele. Então quando ela caiu sobre ele de uma árvore alta, o shinobi experiente foi pego de surpresa. Para sua sorte Sakura só queria  despita-lo, não mata-lo, ou força desse impacto o teria destroçado. Caramba ela era boa.

Recuperando -se da investida Sasuke ficou de pé em posição de alerta, mais uma vez Sakura veio em sua direção, mas desse vez ele estava pronto e segurou pelos punhos, e com a perna esquerda a derrubou no chão, colocando -se sobre ela para prender seus joelhos. O Uchiha sabia que não poderia vence-la em força física, não sem machuca-la, então disse:

— Por que você está tão determinada a fugir Sakura? Do que você tem medo? - Sakura se remexia debaixo dele, tentando se livrar do seu aperto firme, e o seu corpo delgado se insinuava sob ele, tentando- o além das suas forças. Sasuke nunca imaginou que fosse possível tão vulnerável e tão animado com isso ao mesmo tempo. Então afrouxando o aperto, esperou uma resposta.

A kunoichi não perdeu a oportunidade e assumiu a posição de domínio, imobilizando Sasuke com punhos pernas, como ele havia feito instantes atrás.

— Você é muito arrogante não é?  Você some quando quer, volta quando quer, e apenas espera que todos o recebam de volta como se nada tivesse acontecido, como se você não tivesse partido meu coração. _ Sua voz era ácida, mas suas lágrimas a traíam, e mais uma vez Sasuke se sentiu um lixo por causa-las. _ Eu o odeio Sasuke Uchiha, EU TE ODEIO. _ finalmente desistindo de controlar as lágrimas, se entregou ao seu desgoto, enquanto empurrava seu peito freneticamente.

Sasuke a abraçou forte para se livrar de seus golpes, não que achasse que não os merecia, mas porque Sakura estava visivelmente abalada, e tudo o que ele queria era chance de mostrar que sentia muito. Seus soluços foram se acalmando e seu corpo relaxando em seu abraço. A noite fria os açoitava, e Sasuke se sentia grato por poder pelo menos aquece-la um pouco. Quando ela finalmente conseguiu se controlar, ergueu a cabeça de seu peito e buscou seus olhos. Ele duvidava que ela enxergasse muito, mas ele sim podia, ele viu seus olhos inchados e vermelhos o encararem, o trajeto das lágrimas marcado em seu rosto, a boca rosada entreaberta, o vapor de seu hálito roçando em seu queixo. Ele viu quando ela ergueu uma mão, mas baixou-a imediatamente, como se quisesse toca-lo, mas desistisse da ideia no meio do caminho.

De repente, eles se tornaram hiper conscientes um do outro, seus corpos entrelaçados, suas bocas tão próximas que quase podiam se tocar. Sakura foi a primeira a interromper o contato visual, levantando-se súbito e sacudindo a poeira de suas roupas, pegou sua capa que jazia descartada ao seus pés devido seu pequeno embate, vestiu-a e disse olhando para baixo, onde Sasuke ainda estava sentado aturdido.

— Não me siga _ com isso partiu a passos instáveis. Mas Sasuke não estava disposto a perde-la de vista novamente e seguiu-a de pronto.

— Hmpf, faça o quiser. _ retorquiu mau humorada a médica quando viu que Sasuke não a deixaria.

Sasuke sorriu satisfeito. Isso já era um avanço, não era?

Depois de uma caminhada longa e silenciosa ele já não tinha mais certeza. Sakura estava levando -o para uma zona desconhecida da floresta, as vezes ela dava voltas em círculo tentando fazê-lo desistir de segui -la, mas bufava mau humorada quando isso não acontecia. E durante todo tempo de percurso eles não trocaram nenhuma única palavra, as vezes ele a ouvia suspirar em frustação, mas sem nunca tentar entabular uma conversa. Sasuke estava acostumado a longas caminhadas silenciosas, na verdade ele preferia assim, mas imaginando que aquilo deveria ser imensamente difícil para Sakura, dado a sua natureza tagarela e comunicável, sentiu que devia fazer uma tentativa.

— Eu pensei que você estivesse viajando com Tsunade…_ lançou a sugestão esperando que ela esclarecesse sua dúvida.

Sakura sobressaltou-se com com a pergunta súbita, ela ainda estava ressabiada e desconfortável com a sua presença. Sasuke tentou não se importar muito com isso.
Depois do que pareceu uma eternidade, ela finalmente respondeu.

— Eu estava, mas Tsunade-sama queria voltar para Konoha. Não havia nada que ela ainda pudesse me ensinar, então disse a ela que fosse, isso foi há um mês. _ Sasuke absorveu essa informação com cautela, Sakura saíra em viagem com intenção de treinar com a lendária sanin e mesmo assim, ainda se recusava a voltar mesmo quando seu treinamento terminara. Por que ela não quer voltar à Konoha, mas quando ele perguntou sobre isso ela disse somente.

— Não é da sua conta. _ E saiu apertando o passo.

Quando Sasuke começou a pensar que Sakura os levara por um caminho sem volta, a floresta começou a rarear dando espaço para uma clareira de onde, ele agora podia ver, havia um casebre de madeira com aspecto abandonado. O shinobi imaginou que era ali que a companheira pernoitava durante sua estadia no condado. Ao se aproximar da cabana, percebeu que o aspecto abandonado era uma mera fachada, o interior parecia limpo e aconchegante, Sakura deveria saber que assim ela poderia manter seu abrigo seguro de ocasionais olhos curiosos. Deus ela era esperta.

Ele a seguiu até a porta do casebre, mas Sakura o barrou.

— Você fica aí _ E batendo a porta em sua cara se encerrou em seu esconderijo.

Hmpf, não tem jeito. Sasuke suspirou resignado, ele dormiria ao relento, não era novidade para ele, mas o ninja lamentou não ter podido comer alguma coisa na taberna. Se aconchegou em um canto junto a porta, para não dá chances para Sakura fugir na surdina, se enrolou em sua capa, que infelizmente era fina demais para o proteger do frio, e vasculhou em seu saco de viagem por alguma ração ou carne seca que ainda tivesse. Ele pretendia dormir no vilarejo e se abastecer pela manhã, então só encontrou algumas tiras de carne, meia garrafa de água e duas pílulas de energia. Pretendia dividir com Sakura, mas ele a ouvia mexer nas panelas lá dentro, logo um cheiro suave de ensopado chegou às suas narinas, e seu estômago protestou em revolta.

Deus, essa mulher é diabólica

Comeu seu pobre jantar e tentou ignorar o frio, a fome e o fato de que Sakura estava a uma porta de distância fazendo de tudo para que ele fosse embora. Ah, mas ela precisaria de muito mais do que isso para fazer Sasuke Uchiha desistir.

O shinobi já passara muitas noites como essa, tampouco era novidade para ele sentir frio ou dormir de estômago vazio, sua viagem de redenção foi longa e cheia de desafios. Não era nada demais, mas ele sentia que aquela noite estava especialmente difícil, pois em algum momento entre as 3h ou 4h da manhã, começou a chover e a pobre varanda de palha do casebre, que já encontrava um enorme desafio em protege-lo do vento, fazia ainda menos para protege-lo da chuva torrencial. Tentar dormir era perda de tempo agora, ele só queria não morrer congelado por enquanto. Em outra situação ele procuraria abrigo em uma caverna ou gruta, numa floresta como aquela não deveria ser difícil encontrar, mas ele não queria sair de perto de Sakura e correr o risco perde-la novamente, então ele se obrigava a dar pulinhos no mesmo lugar na tentativa de manter-se aquecido.

— Você ficou louco? O que está fazendo? Por que ainda está nessa chuva? _ Sakura o surpreendeu a abrir a porta de rompante, aparentando estar furiosa e preocupada ao mesmo tempo.

Ela afastou-se da porta em convite, e ele adentrou sem hesitar, grato por apenas ter um teto sobre a cabeça.

— Não acredito que você ia ficar pulando na chuva ao invés de procurar um abrigo. O que você tem na cabeça? Não sabe quão rápido uma pneumonia pode matar? Isso sem falar na hipotermia…_ ela soava completamente lívida, mas ao mesmo tempo lançava uma coberta para ele, enquanto servia uma porção fumegante de ensopado.

Sentando defronte o ninja ensopado e trêmulo, cujos lábios adotaram uma cor roxa desagradável e o cabelo, escuro como a céu ruidoso lá fora, pingava em sua testa, Sakura o observou atentamente.

— Por que você não foi embora? _ perguntou mais uma vez a médica, mas agora com o tom se voz mais suave.

Sasuke imaginava que ela já soubesse a reposta, mas queria ouvir mesmo assim. Então se concentrou em escolher bem suas próximas palavras, talvez fosse sua última chance. Abandonando sua sopa, tentou transmitir toda a profusão de sentimentos que guardou para si durante todo esse tempo. E desejou de todo seu coração que isso bastasse.

— Eu não poderia perde-la de novo, Sakura…eu não queria…eu sinto muito. _ mordeu sua língua em frustração, bagunçadando o cabelo em agonia. Deus, era horrível com palavras.

Sentiu os dedos de Sakura tocar-lhe a fronte. A pele quente de seus dedos roçando a sua tez fria, o contraste era um choque, mas não tão grande quanto ter Sakura tão perto de si. Ele envolveu-lhe a mão com a sua, e levou seu pulso à boca, onde depositou um beijo casto e suave. Ele temia que ela pudesse afasta-lo a qualquer momento, e se ela o fizesse ele tinha quase certeza de que era capaz de sair por aquela porta e deixá-la viver a vida que a faz feliz. Céus, como ele queria que essa vida o incluísse.

Ele esperou pela rejeição de Sakura, mas ela não veio. Ao invés disso o que ele sentiu foi o seu cabelo ser afagado gentilmente, enquanto a médica erguia seu queixo com a outra mão.

— Eu também senti sua falta, Sasuke-kun. _ sussurrou como se temesse que ao menor ruído aquele momento se desvisesse, mas para Sasuke aquele era o som do paraíso.

Logo sentiu-se revigorado e mais aquecido do que cem fogueiras poderiam fazer. Cautelosamente encerrou a distância entre eles, ainda em um estado quase sonâmbulo, não totalmente inconsciente, nem realmente no controle. Sakura parecia imitar suas reações, pois ainda estava congelada na mesma posição. Estavam tão próximos que seu hálito quente fazia cócegas em seu rosto, o ninja moveu uma mão sobre aquele rosto querido, tentando absorver com todos os seus sentidos a beleza dela, memorizar com seus dedos cada detalhe de seu rosto. Olhou aqueles olhos primaveris e constatou que de fato se enganara, eles eram muito mais verdes do que ele lembrava, e agora tão de perto podia notar minúcias que nunca reparou antes, como o halo castanho bem no centro que se diluía nas profundezas esverdeadas de suas íris.

Sentia -se quase sufocado com a urgência que  sentiu de beija-la. Essa era uma fome totalmente diferente de qualquer coisa que já experimentara. Todas as suas necessidades básicas pareciam obsoletas diante disso. Não suportando mais qualquer distância entre si e aquele botão rosado, ele a beijou com paixão. Sakura despertou de seu torpor e o correspondeu com entusiasmo. A urgência dela alimentando a sua própria, suas bocas se entregavam numa dança frenética tão antiga quanto a própria vida.

Deitou-a sobre o assoalho de madeira tomando cuidado para não machuca-la no chão duro, mas Sakura não estava preocupada com sutilezas ao passsar-lhe as coxas fortes por sua cintura e traze-lo com violência para si. Eles ficaram nariz a nariz e Sasuke quase bateu a cabeça na dela, mas a outra meramente riu de seu erro, e puxou-o para mais um beijo frenético. A sua atitude atrevida despertou um monstro em seu peito. Ele queria provoca-la por sua ousadia, e recompensa-la por seu entusiasmo, e apesar da parca experiência, ele tinha uma leve noção de quais botões apertar para isso.

Começou por se livrar da coberta emprestada com urgência.  A camisa ensopada foi a próxima a sair, no entanto não sentiu o frio que esperava. Sakura absorveu a visão do seu afeto diante dela. Ele possuía um físico forte e bem definido, a brancura de sua pele não perdia sua beleza apesar das cicatrizes ocasionais. Pelo contrário, elas o faziam parecer forte e másculo. Elas diziam: aqui lutei, aqui venci. Passando os dedos por uma cicatriz particularmente extensa, que ia da borda inferior de seu peito até o cós de sua calça e além, sentiu Sasuke tremer sob seus dedos e se perguntou o quão perto aquele golpe o levou da morte.

Pensar que esteve tão perto de perde-lo para sempre abriu um talho em seu peito. Quantas vezes ao longo desses anos ele  esteve tão perto da morte? Quantas e quantas vezes seus caminhos se cruzaram e se afastaram novamente? Como duas retas paralelas fadadas a andarem sempre lado a lado, mas sem nunca se cruzarem. Era um completo milagre que pudessem estar juntos agora. Fez um agradecimento silencioso a qualquer que fosse a divindade que olhara dos céus para dois amantes tão desafortunados e decidira que, enfim, mereciam a felicidade de estar nos braços um do outro.

Sakura abraçou aquela benção com alegria, e se o seu futuro fosse tão difícil quanto fora seu passado, ela nao teria arrependimentos. Se deu conta que ao tentar não se ralar na aspereza acabara ferindo a si mesma. Ela se acostumou a uma vida vazia, e esvaziando-se de si mesma, a cada dia um pouco mais, não se deu conta de que perdia a pessoa mais importante da sua vida: ela mesma.

—Obrigada. _ disse entre beijos sufocados.

—Pelo o quê? _ perguntou Sasuke surpreso.

— Você me devolveu algo que eu nem sabia que tinha perdido. Mas agora que sei nunca mais deixarei que escape das minhas mãos.

Sakura sabia que não estava fazendo sentido, imaginou que Sasuke estaria confuso com uma declaração tão vaga. Afinal, como ele entenderia quão perto ela esteve de abandonar a si mesma, e desistir totalmente do amor?

Mas o ninja sabia perfeitamente o que ela queria dizer, não fora ele que diversas vezes tentara se livrar dos seus laços preciosos? Não fora ele o tolo que encontrava fraqueza no amor e por isso fugiu de todos que o amavam e se tornou odiável e infame para que ninguém mais o amasse? E que mesmo assim viu estendida para ele a mão da amizade. Uma corda salvadora na qual ele pode segurar quando estava muito perto de tomar um caminho irreversível.

Sakura o amou. E o seu amou o salvou.

Esse entendimento os sobrepujou. Eles se abraçaram numa dança ancestral, tão antiga quanto a própria vida e deixaram que seus corpos falassem as palavras que suas bocas não poderiam mais expressar. Nessa linguagem inefável declararam sua devoção, seu amor um ao outro. Uma promessa silenciosa de que jamais se perderiam novamente.

Sasuke caiu inerte sobre Sakura, e ela o abraçou enquanto beijava o topo da sua cabeça e lhe dizia o quanto o amava. Adormeceu ali mesmo sem se dar conta.

Acordou no outro dia com Sakura ainda em seus braços o sorriso travesso atravessando sua boca, conferindo-lhe a beleza de um anjo.

— O que você acha de Sakura Uchiha? _ perguntou maliciosa.

Sasuke sorriu ao ouvir seu nome ligado ao dela tão irremediávelmente ligados como estavam agora, indissociáveis, permanentemente unidos.

— Eu acho maravilhoso. _ disse beijando o topo de sua testa onde o losango violeta, marca da seu trabalho duro, estava.

O Sol ressurgia no céu anunciando um novo dia e com ele a promessa de um novo recomeço,  de novo, e de novo, e de novo. Até o fim das suas vidas.

Epílogo

A garotinha corria pela campina nas suas perninhas curtas de bebê alegremente ansiando por seu prêmio: o colo do pai que a esperava do outro lado pronto para toma-la nos braços. Mas o seu equilíbrio não correspondia ao seu entusiasmo, levando-a ao chão aos berros.

A mãe que observava tudo da cozinha correu em seu auxílio, mas o pai chegara primeiro tomando-a nos braços e consolando-o com um beijo na testa.

A garotinha inconsolável não se conformava com injustiça que era machucar-se tão duramente só porque queria abraçar quem ama.

— Eu só queria pular no papai. _ dizia entre soluços.

— Eu sei meu amor, vem aqui deixa a mamãe consertar isso pra você. _ disse a mulher levantando a palma da mão ja é envolvida numa brilhante luz verde até o joelho esfolado da menina.

Os olhos da garotinha pareciam pratos enquanto observava hipnotizada o mãe curar magicamente seu machucado terrível.

— Uau mamãe, você é incrível. _ disse impressionada. A mulher riu sonoramente. Onde sua filha aprendia essas coisas?

— Onde você aprendeu essa palavra, Sarada? _ perguntou ainda rindo.

A garotinha interpretando o riso da mãe como zombaria, apontou, zangada, o dedo para o pai

— Foi o papai que disse outro dia. _ O homem imediatamente corou, e baixou os olhos constrangido. Ele ainda se sentia tímido em elogiar a esposa em público, teria que tomar cuidado com o que fala diante da filha de agora em diante.

A mulher apenas sorria para o marido, já passara 3 anos desde que se reencontraram para não mais se separarem, e não houve nem um só dia em que ela não se sentisse feliz e plenamente satisfeita ao seu lado, com a família que construíram. Ela sabia que chegaria o dia em que se despediriam mais uma vez, mas nunca definitivamente, pois estava certa que nem o tempo, nem a morte poderia afasta-los um do outro.


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