Unexpected Date. escrita por Saori


Capítulo 1
Wake up your Sleeping Heart.


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é baseado na música "Wake Up", do The Vamps.
https://www.youtube.com/watch?v=e12KryuLcbs



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/804859/chapter/1

Never stopped being someone who could love you well
Had to show you the hard way
Only time will tell
Revelations and heartaches make you realize
That I was always in front of you.

 

Dezembro estava chegando e, com isso, vinha a melhor época do ano. Não era o Natal, como a maioria pensaria. Na verdade, era algo muito mais grandioso. Era a época em que Teddy e Victoire se sentiam mais trouxas do que nunca, mas, definitivamente, também era o melhor fim de semana de todos. O fim de semana da maratona de Star Wars.

Não estava nos planos de Victoire se tornar uma geek, como diziam os não bruxos, mas ela tinha que admitir que o cinema bruxo tinha filmes de excelente qualidade. A sequência de Star Wars, certamente, era a melhor, e Teddy a havia feito pensar assim quando ela atingiu os seus catorze anos. Ele havia descoberto o filme graças ao seu padrinho, Harry Potter, que o mencionou uma vez, gerando curiosidade em Ted.

Assim aconteceu, Edward Tonks perturbou Victoire Weasley até que ela assistisse o episódio IV e, como o esperado por ele, ela se apaixonou. Afinal, segundo o próprio rapaz, não havia nada melhor do que guerras intergaláticas. Toire cedeu e, desde aquele dia, eles têm o fim de semana anual de Star Wars, toda primeira semana de Dezembro, em que assistem os filmes em sequência.

— Victoire, você está aí? — perguntou Alice, movimentando as mãos para cima e para baixo na frente do rosto da menina, como se quisesse despertá-la.

— Sim, estou. — Ela rolou os olhos de um lado para o outro e suspirou, exausta. — Não. A resposta é não.

— Por favor, Toire, dá uma chance! É só isso que eu peço. Quer terminar mais um ano encalhada?

Victoire Weasley lançou um olhar quase fuzilante para Alice, que estremeceu e engoliu seco.

— É o fim de semana da maratona de Star Wars com o Teddy. Eu não vou deixar de viver isso para sair em um encontro com alguém que eu nem conheço! — Os ombros da menina afundaram-se quando ela finalmente falou aquelas palavras, livrando-se de um enorme peso.

Alice murchou e, por um instante, levou uma das mãos até a testa, massageando-a. Victoire Weasley provavelmente era a pessoa mais teimosa que ela conhecia, mas, ainda assim, era uma de suas melhores amigas.

— Por favor, eu nunca mais vou te pedir nada, só isso! Vocês não podem assistir esse filme trouxa outro dia?

 

Mais uma vez, a loira a lançou um olhar crítico, como se a amiga tivesse cometido um erro fatal.

— Star Wars — corrigiu. — E não, eu não vou acreditar nessa sua mentira de que nunca mais vai me pedir nada. Eu e Teddy fazemos isso todos os anos, sempre no primeiro fim de semana das férias de Dezembro.

— Você é uma chata! — exclamou, chateada.

— Alice, não fique chateada. — Victoire suspirou. — Isso seria loucura. Eu nem conheço esse tal cara. Vai que ele é um esquisito.

— A minha fonte disse que é um garoto incrível — proferiu Alice, convicta de que com aquelas palavras superficiais seria capaz de convencer a loira. Estava completamente enganada. 

— Então por que a sua fonte não namora com esse garoto incrível? — rebateu a Weasley. 

Alice sentiu-se ultrajada por um momento, mas tinha a resposta na ponta da língua. 

— Porque a minha fonte já tem namorado — retrucou, sentindo-se vitoriosa. — Ao contrário de um certo alguém. 

— Não é só porque você começou a namorar o Fred na semana passada, que a vida de solteiro é horrível. 

— Mas é horrível. A gente chorava vendo filmes de romance trouxas. Tem coisa mais deplorável que isso?

Pela primeira vez em muito tempo, Victoire pegou-se sem palavras. Ela mordiscou o próprio lábio inferior, pensativa, e, por fim, suspirou. 

— Por favor, Toire. Eu só estou te pedindo para dar uma chance. Não estou falando para se casar. É dar uma chance ao amor, só isso. — Aquela era a última cartada de Alice, se não funcionasse, ela não saberia mais o que fazer. 

Victoire fechou os olhos, tentando se acalmar. Não sabia se era culpa de Fred II por ter colocado na cabeça de Alice que um relacionamento é melhor do que estar solteira, mas estava disposta a debater com o primo se fosse necessário. Ele era muito chato quando queria e não era segredo para ninguém que ele e Victoire adoravam implicar um com o outro gratuitamente. Era tipo um passa tempo de família. 

— Isso é coisa do Fred? — disse ela, desconfiada. 

— Juro que não é coisa do Fred. — Alice ergueu as mãos, como se fosse um juramento sério e muito importante. 

— Então eu vou pensar no caso — amoleceu Victoire.

— Isso é um sim? — Os olhos dela pareciam brilhar.

— Isso é um talvez. 

— Bom, é melhor que um não — disse a amiga, um pouco mais conformada.

 

...

 

A tarde chegou com rapidez, mesmo que o dia tivesse sido entediante. Era o último dia antes das férias de Natal, então não havia muita coisa para fazer antes de irem para casa. Victoire perdera a conta de quantas mensagens recebera de Alice durante aquele dia e, sinceramente, não conseguia entender tamanha insistência. Era um pouco chato, mas ela entendia que sua amiga só queria o seu bem, mesmo que aqueles não fossem exatamente os planos da Weasley. Ainda assim, já estava quase inclinada a aceitar a oferta, apenas para ter um pouco de paz e para, talvez, rachar a muralha que colocara ao seu redor sem motivo algum, fechando-se para qualquer situação romântica. 

Era deplorável e um pouco triste. Victoire detestava o seu sangue veela e o que ele lhe proporcionava. Ela odiava isso com todas as suas forças, porque, muitas vezes, as pessoas não a viam como ela realmente era, mas sim como um rostinho bonito. Definitivamente, ela era muito mais que isso. Ela era força, coragem, honestidade e, acima de tudo, generosidade. Não havia ninguém mais gentil do que Toire no mundo e era pesaroso que algumas pessoas se prendessem apenas a sua aparência. 

Haviam as exceções. Sua família, Alice e, principalmente, Teddy. Edward Lupin a via por inteiro, além de todas as barreiras e de todos os muros que ela havia construído durante a vida. Ele era seu alicerce, seu porto-seguro em forma de pessoa, e tudo o que ela precisava para ser feliz. 

Victoire não precisava de um namorado, embora tivesse o desejo de encontrar alguém que a amasse por completo. Não precisava, mas, ainda assim, queria. Sua cabeça estava prestes a dar um nó. Ela sentia que poderia colapsar a qualquer instante. Era uma sensação de agonia, e ela não gostava nem um pouco dessa dualidade dentro de si. 

— No que está pensando? — Teddy aproximou-se de súbito, despertando-a de seus devaneios. 

A menina automaticamente sorriu, reconhecendo a voz do seu melhor amigo de imediato.

— Na nossa maratona de Star Wars! — falou ela, claramente animada. — Eu estava pensando, esse ano podíamos comprar sapos de chocolate para acompanhar a pipoca e os feijõezinhos mágicos. O que acha? 

— Acho ótimo — disse ele, parecendo um pouco sem jeito. Victoire percebeu logo de cara, assim que ele desviou o olhar para o chão. — Inclusive, eu vim falar sobre isso. Será que não podemos adiar só dessa vez? Deixar para o segundo fim de semana? Eu prometo que nunca mais vou adiar. — De alguma forma, ele parecia se sentir culpado por fazer aquele pedido. 

A garota ficou sem reação por um momento. Ela levou as mãos até os fios de cabelo loiros e ajeitou-os, colocando para trás da orelha, como se estivesse processando aquela mensagem. Era uma tradição, e Teddy estava querendo adiá-la? Ok, ela não deveria ser egoísta, mas, ainda assim, havia doído um pouquinho no seu peito. 

— Claro, se for melhor para você... — disse, um pouco contrariada. 

— Eu sinto muito. Eu prometo que vai ser só dessa vez. E eu vou comprar quantos sapos de chocolate você quiser! 

Victoire tentou prender um sorriso. Aquele era o seu doce favorito de todo o mundo. 

— Promete? 

— Prometo. — O menino ergueu um dedinho no ar. 

Aquela era a forma mais genuína de se fazer um juramento, promessas de dedinho não podiam ser quebradas. Nem mesmo juramentos de sangue chegavam aos pés. Victoire copiou o gesto do amigo e entrelaçou o seu dedinho no dele, selando a promessa.

— Já arrumou as malas? — indagou a menina, erguendo as sobrancelhas. 

Teddy engoliu seco. 

— Você sabe, eu odeio arrumar as malas. — Ele fez uma careta engraça, e Toire riu. 

— É, não vai atrasar todo mundo como no ano passado. 

O rapaz revirou os olhos. 

— Ok, eu não vou fazer isso de novo. 

— Então vai arrumar a sua mala logo! — esbravejou ela, e Teddy pareceu ligeiramente assustado. Ele tinha um pouco de medo de quando ela ficava brava. 

— É para já — respondeu de prontidão e bateu continência. — Até mais, Toire. 

— Até, Teddy — disse ela, entre risos, e observou atentamente conforme ele se afastava. 

 

 

Era hora de voltar para casa. Durante as duas próximas semanas, ela receberia o aconchego da melhor família que poderia ter, das pessoas favoritas da sua vida. Victoire sempre ficava ansiosa ao voltar para casa, tanto quanto para retornar para Hogwarts. Era uma via de mão dupla, seus dois lugares favoritos no mundo todo. 

Aconchegou-se no assento do trem, jogando-se contra o estofado confortável. Logo depois, Alice adentrou a cabine e sentou-se de frente para a amiga, encarando-a intensamente. Victoire tentou ignorar, mas era bem difícil. Alice conseguia ser bem incisiva quando queria. 

— Então, você pensou no assunto? — Ela uniu as palmas das mãos e levou-as até o rosto, indicando ansiedade. 

— Ah, não vamos falar sobre isso na volta para casa. — Revirou os olhos. — Cadê o seu namorado? 

— Foi ajudar o seu melhor amigo a fazer as malas e disse que me encontraria aqui. — Suspirou, um pouco frustrada. 

— Ah — emitiu, nem um pouco surpresa. Teddy era ótimo em deixar as coisas para última hora. — Eles não devem demorar. 

— Então, o que você vai fazer nesse fim de semana além dessa maratona esquisita de filmes trouxas? 

— Na verdade, não vai mais ser nesse fim de semana. — Victoire se arrependeu das suas palavras assim que elas saltaram da sua boca. 

 

— Isso quer dizer que você não tem nada para fazer amanhã? — Um sorriso travesso fez-se presente nos lábios da morena. 

— Ah. Não. — Victoire movimentou a cabeça de um lado para o outro, em negação. — Por favor, não comece. 

— Dê uma chance ao amor. Uma chancezinha e eu te deixarei em paz para sempre — implorou Alice, em um tom de voz manhoso. — Por favor. 

— Para sempre? — As sobrancelhas de Victoire se ergueram em atenção. 

Alice repensou as suas palavras, mas, por fim, assentiu. 

— Para sempre — reafirmou. 

— Ok, eu aceito ir nesse encontro estúpido então. — Deu-se por vencida. — Mas, depois desse, você nunca mais vai poder falar a palavra encontro na minha frente novamente. 

— Feito. 

Alice ergueu a mão na direção de Victoire, que a apertou, selando aquele pacto. De repente, ambas escutaram um estrondo e, sobressaltadas, encararam a porta do vagão, que encontrava-se fechada. Teddy estava com uma careta em sua face, alisando sua testa, que havia batido contra o vidro quando o trem começou a se mover. Fred, no fundo, ria de toda a cena, como se fosse a coisa mais engraçada que já vira na vida. 

— Está doendo muito? — perguntou Victoire, com uma careta tomando conta de sua face. 

Teddy moveu a sua cabeça de um lado para o outro, em negação e, em seguida, encarou Fred de cara feia. De um segundo para o outro, o seu cabelo, que possuía um tom azul turquesa, mudou para vermelho. Victoire automaticamente prendeu um sorriso. Ela achava adorável a forma como o cabelo de Teddy sempre mudava de cor de acordo com as suas emoções, era tão genuíno. O Lupin, por outro lado, detestava isso. Ainda não conseguia controlar-se cem por cento com relação à metamorfomagia e sentia que, às vezes, era mais uma maldição do que um dom. 

— Acho que eu o irritei um pouco — murmurou Fred, um pouco temeroso por ter ultrapassado os limites. — Enfim, o que vocês estavam fazendo aí? Vi que estavam apertando as mãos, fizeram algum trato por acaso? — Era perceptível sua curiosidade, mas a verdade é que ele queria mudar de assunto. 

— A Victoire… 

— Não é nada! — a loira quase gritou, interrompendo a amiga. Ambos os rapazes a encararam intrigados, e ela limpou a garganta, tentando se recompor. — Nós vamos fazer compras de Natal no sábado, é isso, e finalmente conseguimos decidir uma loja! Foi muito difícil, não temos o mesmo gosto.

Fred pareceu convencido daquela desculpa ridícula, mas Teddy Lupin a encarava de maneira duvidosa e, embora Victoire soubesse que ele não havia acreditado em sua ladainha, resolveu permanecer quieta, como se aquela fosse uma verdade absoluta. Ela detestava, de todo o seu coração, ter que mentir para o seu melhor amigo, mas ele não precisava saber da sua vida amorosa catastrófica, tampouco desse ridículo encontro às cegas. Afinal, só estava fazendo isso para livrar-se das tentativas irritantes de Alice de arranjar um namorado para ela. Apenas isso. Ou, ao menos, era disso que tinha se convencido. 

— Ei, você não está chateada sobre a nossa maratona de Star Wars, está? — ele indagou, verdadeiramente preocupado. Certamente estava se sentindo culpado. — Se você quiser, eu posso cancelar o meu compromisso e ficar com você. É sério. 

— Não, não precisa. — Victoire sorriu, um pouco sem jeito. Ela detestava, com todas as suas forças, ter que mentir para o seu melhor amigo. — Eu vou sair com a Alice amanhã, então está tudo bem. — Deu de ombros, fingindo que não era grande coisa, embora, no fundo, se sentisse incomodada. — O que você vai fazer no sábado, afinal?

— Ah, sobre isso… — começou ele, completamente sem jeito. — Eu vou ajudar a minha avó com algumas coisas bem chatas e depois eu vou passar um tempo com o James Sirius, ele me pediu para… Jogarmos beisebol. Parece que ele gosta disso agora. 

— Você está esquisito — decretou a menina. — E por que eu não posso ir ajudar com a sua avó? Eu adoro ela. E sobre o beisebol, por que não posso tentar jogar? Parece divertido. 

— Ah não, você não vai querer fazer essas coisas chatas com a minha avó — falou ele, sem dar mais explicações. — E sobre o James, vai ser um dia dos garotos, entende?

— Vocês são muito chatos — resmungou a loira, indignada. — Mas entendo, eu também tenho os meus dias de garota com as minhas primas. De qualquer forma, eu já tenho planos também, mas cancelaria se você precisasse de mim. 

— Você é a melhor amiga do mundo, sabia? — Teddy sorriu e aproximou-se dela, puxando-a para um abraço lateral. 

— Sabia. Eu sou a melhor de todas — falou ela, convencida. 

— Não é para tanto, também — constatou o rapaz. — Você tem muitos defeitos. 

— Ah, é? — Ela ergueu a sobrancelha, desafiadora. — Cite um, então. 

— Você fica com um péssimo humor quando está com fome. É terrível. Eu tenho que gastar todos os meus galeões para te alimentar, apenas para não aguentar o seu mau humor, é extremamente injusto. — Deixou um suspiro escapar, completamente frustrado. 

— Isso não é defeito, é inteligência, Teddy — Victoire o lançou um olhar de reprovação. — Você é tão ingênuo. 

— Quer dizer então que é tudo fingimento? — questionou, indignado. 

— Não é fingimento, mas é ótimo ganhar comida de graça.

— Você é impossível, cupcake.

— Não comece, você sabe que eu detesto que me chame assim — reclamou a Weasley e, em seguida, revirou os olhos. 

— E eu detesto segundas-feiras, mas a vida é injusta e elas continuam chegando, não é mesmo? — disse, irônico. 

Victoire deu um tapinha fraco no ombro dele. 

— Céus, você é muito chato. 

— Esse é o trabalho de um melhor amigo — proferiu Teddy, vitorioso. 

 

 

Victoire havia chegado em casa na sexta-feira, no final da tarde. Visitara a sua avó no mesmo dia, juntamente com Teddy. Aquele era o seu lugar preferido no mundo inteiro e o mais aconchegante de todos. Era o seu lar, um local acolhedor, onde crescera e convivera com os seus primos e com Teddy, que também era parte da sua família. Um local repleto de amor e de pessoas calorosas para te receber e cuidar de você, tanto nos dias mais felizes, quanto nos mais tristes. Tendo a família Weasley ao seu lado, é impossível se sentir sozinho. 

Quando passamos o dia fazendo coisas boas, que amamos, ele passa rápido e, com a menina, não foi diferente. Já era sábado, e o dia estava passando tão rápido quanto o anterior. Passara parte dele brincando com a sua irmã mais nova, Dominique e outra parte desenhando com Louis. Assim, a noite chegou, tão rápida quanto um piscar de olhos. 

Recebera incontáveis mensagens de Alice durante o dia inteiro, que parecia mais ansiosa para aquele encontro às cegas do que a própria Victoire. Foi só quando se olhou no espelho, que sentiu o nervosismo apossar-se do seu estômago e as mãos tremerem levemente. Ela odiava aquela sensação, especialmente porque estava se sentindo assim por um estranho, alguém que nunca vira na vida. Era esquisito e desnecessário, mas havia prometido para a sua amiga, e uma Weasley nunca quebrava promessas.

Encarando o seu reflexo no espelho, conseguia ver os fios de cabelos loiros perfeitamente arrumados jogados para os lados. Eles eram longos, batiam na altura de sua cintura e caíam graciosamente sobre os ombros. Victoire estava usando um vestido preto, bem simples, que batia na altura do joelho e possuía uma saia rodada. Nos seus pés, havia uma sapatilha da mesma cor do vestido e sua maquiagem resumia-se a um batom de tom de rosa bem claro, quase imperceptível. Talvez fosse devido a sua genética veela, que ela odiava, mas Victoire não precisava de muito para se destacar, então usava sempre o básico, e isso lhe bastava.

— Por que você está tão arrumada? — Dominique perguntou, apoiada contra o batente da porta do quarto da irmã mais velha. — Você tem um encontro?

— Não, não é nada disso — negou veementemente. — Eu vou sair com a Alice, só isso. 

— Tão arrumada assim? — questionou Dominique, ainda desconfiada. 

— É, tão arrumada assim. — Engoliu seco. Dominique era uma ótima espiã, tinha que admitir. — Bem, eu estou atrasada, então acho que já vou. Não quero deixar a Alice me esperando.

— Ei, espera, você e o Teddy não vão assistir aqueles filmes esquisitos que assistem todo ano?

— Não são filmes esquisitos, é Star Wars — falou Victoire, séria. —  E não, não vamos assistir hoje, vamos marcar outro dia. 

— Esse ano está muito esquisito, tem que acabar logo. — Dominique suspirou, impaciente. — Enfim, bom encontro. 

— Não é um encontro, vou sair com a Alice. 

— Tanto faz. — Ela deu de ombros e saiu. 

Victoire riu baixinho assim que sua irmã saiu do quarto. Era impressionante como ela tinha um fato excelente para detectar mentiras. A menina olhou para o relógio pendurado na sua parede e, novamente, sentiu o estômago revirar. Precisava sair de casa para a lanchonete, mas tudo o que sentia era vontade de se enfiar em um buraco. Contudo, tudo o que ela precisava era aguentar aquela noite. Apenas algumas horinhas, para que Alice te deixasse em paz para sempre. 

Não demorou muito para sair de casa, tampouco para chegar na lanchonete. Ficava próxima da sua casa, a dois quarteirões, mais especificamente, e cerca de sete minutos. Olhou curiosamente por fora, mas não conseguiu identificar ninguém dentro do ambiente, que parecia mais cheio do que o de costume, o que provavelmente era culpa do final de ano. Sentiu uma vontade enorme de sair correndo dali e desistir daquele encontro estúpido. Seria mais fácil. Ela poderia aguentar Alice falando em seus ouvidos por mais alguns anos e, de repente, aquela não parecia mais uma má ideia. Parecia melhor do que encontrar com um cara estranho, em um lugar lotado e ter que passar uma noite inteira se forçando para rir de piadas sem graça. Deplorável. 

Em um ato de coragem, ela abriu a porta do estabelecimento e adentrou o local, buscando por um rosto desconhecido que parecesse estar esperando pelo seu par para um encontro às cegas. A princípio, pensou que seu parceiro tinha esquecido do encontro, já que todas as mesas contavam com a presença de mais de uma pessoa, exceto por uma, na quina do local, isolada das demais. Sentado sozinho, movimentando a perna direita para cima e para baixo, em um claro sinal de nervosismo, havia um rapaz de cabelos castanhos, cujo rosto escondia-se por detrás do cardápio. 

Victoire parou por um instante, fechou os olhos, respirou fundo e contou até o número dez. Focou os seus olhos na única mesa em que havia um garoto solitário e caminhou em sua direção, convencida a não desistir. Assim que chegou lá, parou de pé, de frente para o rapaz, cujo rosto ainda não conseguia ver. Aparentemente, ele ainda não havia notado a sua presença, já que o menu continuava erguido em sua face. 

 — Uh, olá — ela começou a dizer, completamente sem jeito. — Meu nome é Victoire e, bem, eu vim para um encontro às cegas e estou procurando pelo meu par, mas se não for você, eu peço desculpas e… 

Victoire interrompeu a própria fala assim que conseguiu ver a face do rapaz, quando ele finalmente abaixou o cardápio. Devia ter identificado aqueles fios de cabelo desgrenhados assim que seus olhos repousaram sobre o rapaz, assim como a mania de tremer a perna que ele tinha quando ficava nervoso. Seu coração disparou por um instante e a sua cabeça pareceu dar um nó. Na sua frente, estava o seu melhor amigo, que havia cancelado a maratona de Star Wars para passar um tempo com a sua avó e jogar beisebol com James Sirius. O seu melhor amigo, Teddy Lupin, que definitivamente não havia lhe contado nada sobre um encontro às cegas, ainda que ele sempre lhe contasse tudo. 

— O que está acontecendo? — Victoire estava sem palavras, mas não tanto quanto Teddy Lupin, que a encarava incrédulo. 

Os fios de cabelo do menino subitamente trocaram de cor, adquirindo o mais habitual tom de azul turquesa, que ele costumava usar com maior frequência. Ele demorou um tempo razoável para entender o que estava acontecendo. Sua perna direita continuava a se movimentar intensamente debaixo da mesa, e ele pareceu respirar fundo antes de dizer qualquer coisa.

— Eu acho que esse encontro às cegas somos… Eu e você? — Teddy tinha uma feição extremamente confusa e engraçada, e Victoire até riria, se não estivesse quase entrando em pânico. 

— Como assim… Quero dizer, o que? Você não ia jogar beisebol com o James Sirius? — Aquele quebra-cabeça estava confuso demais para que Victoire pudesse terminá-lo. 

— Sim, e você não ia sair com a Alice? — retrucou ele, tão confuso quanto a sua amiga. 

— Eu não acredito. Será que a Alice sabia? — perguntou a loira, em tom alto, mas a pergunta era mais para si mesma, do que para Ted.

— O quê?

— Espera, quem teve a ideia deste encontro às cegas? — questionou a menina, que parecia ter cada um de seus neurônios trabalhando naquele instante. 

— Foi um garoto do meu ano, o Ed. 

— Eu aposto que isso foi coisa dos meus primos. Isso foi coisa do Fred. Mas a Alice disse que não, então… — resmungou para si mesma. — James Sirius?

— Talvez. — Teddy não parecia nem um pouco preocupado com quem estava por trás daquele encontro. — Por que você não se senta?

— Sentar? Eu vou matar o James Sirius! — ela exclamou, fervendo, mas logo em seguida se sentou de frente para Teddy, que parecia estar prendendo o riso. — O que tem de engraçado?

— É tão ruim a ideia de ter um encontro comigo, Toire? — Ele pareceu sem jeito assim que aquelas palavras saíram dos seus lábios. 

— Não é isso! — retrucou, quase desesperada. — É que eu odeio quando os meus primos me fazem de idiota.

— Eles não te fizeram de idiota. Só querem te ver feliz.

— Eu sou feliz — respondeu ela, emburrada feito uma criança. 

— Eu sei, cupcake.

— Não me chame de cupcake, Teddy! Isso já tem tanto tempo, não sei como ainda se lembra! 

— Mas é divertido de ver irritada, você fica vermelha da cabeça aos pés e é adorável — disse ele, com um sorriso tomando conta dos seus lábios. — Bem, a culpa não é minha se quando você descobriu a existência dos cupcakes, decidiu comê-los de café da manhã, almoço e janta. Você se recusava a comer qualquer coisa que não fosse um cupcake, Toire. 

— É, mas eu tinha oito anos! Dá um desconto. — Bufou, irritada. 

— Ok, sem cupcake por hoje. 

Victoire revirou os olhos e ignorou aquela fala por completo.

— E então, o que fazemos agora?

— Agora temos um encontro — respondeu ele, convicto de sua decisão. 

— Um encontro? Um encontro de verdade? Daqueles que lanchamos juntos, depois caminhamos por aí, tomamos sorvete e damos as mãos, como em um daqueles filmes de romance trouxas?

— Por que não? 

— Porque nós somos… melhores amigos? — soou como uma pergunta, mas era uma afirmação. 

— Justamente, somos a melhor companhia um do outro. Por que não um encontro? — Teddy parecia um pouco tímido, ao contrário de como se comportava normalmente.

— Você não acha que vai ser esquisito? — Victoire soava um pouco receosa, como se estivesse com medo. 

— Talvez seja. — Mordeu o próprio lábio inferior. — Mas não vamos saber se não tentarmos. Só por essa noite, podemos esquecer desse encontro amanhã. O que acha? — sugeriu, ainda um pouco envergonhado. 

— Só por essa noite então? — Seu tom de voz soava hesitante. 

— Sim. — Assentiu, movendo a cabeça para cima e para baixo. 

— Ok. — Deu-se por vencida. — E o que fazemos agora?

— Escolhemos alguma coisa para comer, boba. — Ele deu um peteleco fraco na testa da menina. — Nunca foi em um encontro antes?

— Ouch, Você está mais chato do que o normal hoje. — Ela esfregou a testa, com uma careta na face. — E não, eu nunca fui em um encontro, ok?! 

— Então fico feliz que o seu primeiro encontro seja comigo. — Um sorriso largo surgiu em seus lábios, fazendo o coração de Victoire quase perder uma batida. O que havia de errado com Teddy naquela noite? — Então, eu sei que você gosta de cerveja amanteigada, então cerveja amanteigada e bouillabaisse? São seus favoritos, não são?

— Parece bom — ela concordou e colocou as mãos nos bolsos do casaco. 

— Ok, então eu vou fazer o pedido. 

Teddy acenou para um dos garçons e pediu a comida. Após isso, eles ficaram quietos por um tempo, apenas fitando um ao outro. Quando a menina se sentiu um pouco sem jeito, ela desviou os olhos para o chão, retirou as mãos dos bolsos e começou a brincar com os dedos.

— Está nervosa? — Ele a observava atentamente e a conhecia bem o suficiente para saber que, caso negasse, estaria mentindo. — Por que está nervosa? 

— Eu preciso mesmo responder? Isso é constrangedor. — Victoire encolheu os ombros, um pouco tímida e relaxou as mãos sobre a mesa. 

— Ei. — O rapaz chamou a sua atenção, mas a menina estava tão constrangida que se negou a olhar. Foi só quando sentiu os dedos suaves das mãos alheias tocarem os seus que os profundos olhos azuis voltaram-se para ele. — Não precisa ficar nervosa. Eu sou o seu melhor amigo, lembra? A pessoa em que você mais confia no mundo todo. 

Esse era o problema. Teddy Lupin e Victoire Weasley eram os melhores amigos do mundo. Inseparáveis, completavam um ao outro como almas gêmeas. Não existia Teddy sem Victoire, e Victoire não poderia viver sem Teddy. Tão simples quanto dois mais dois são quatro. Por isso estava tão nervosa, porque tinha medo de destruir a coisa mais bela e importante da sua vida, a amizade que cultivara ao longo de belíssimos anos. Era algo que não estava disposta a perder, mesmo que soasse e egoísta, mas sentia que com aquele encontro estava colocando tudo em risco, mesmo por uma noite. 

Então por que aceitara aquela proposta idiota? Por que não dissera não como já falara inúmeras vezes antes para Teddy? Não era certo, assim como não era certo o seu coração estar batendo tão rápido simplesmente por ele ter tocado a sua mão ou pelo sorriso que ele carregava em seus lábios. Não era justo, nem um pouco justo que o seu coração estivesse traindo-a bem naquele momento, quando mais precisava ser racional. 

Victoire sempre amou Teddy. Desde que se lembrava, dos primórdios da sua existência, ela sempre teve três certezas: ela amava a sua família; a casa da vovó era o melhor lugar do mundo e ela queria partilhar toda a sua vida com Teddy Lupin, até o seu último suspiro, porque ela o amava. No entanto, ela sempre o viu apenas como o seu melhor amigo, mesmo quando seu coração saltava uma vez ou outra ao senti-lo se aproximar ou quando as borboletinhas no estômago resolviam bater as asas simplesmente porque ele havia sorrido. Mesmo assim, ele ainda era o seu melhor amigo, e ela estava feliz vivendo naquela zona de conforto que criara para si mesma. 

— Toire? — ele finalmente a despertou de seus devaneios. Seus dedos quentes ainda tocavam os dela.

— Certo. É só por essa noite, não é? Amanhã não nos lembraremos de nada. — Victoire sorriu, nitidamente sem graça, e Teddy suspirou. 

Em poucos segundos, o garçom chegou com os pedidos fazendo com que as mãos dos dois se separassem, e Victoire sentiu como se tivesse segurado o ar em seu pulmão durante todo esse tempo e agora pudesse respirar novamente. 

— Está uma delícia — disse Teddy, logo após provar a primeira colherada de sopa. — Mas não é como a da sua mãe.

Victoire levou a primeira colherada até os lábios e finalmente experimentou a refeição. Estava ótima, de fato, mas nada se comparava ao original sabor da França da bouillabaisse que a sua mãe preparava. Era como se ela automaticamente se teletransportasse para o país sempre que comia. Era mágico. 

— Não mesmo — concordou a loira, com um sorriso. — O que vamos fazer depois de comermos?

— Andar por aí? Sorvete? Como nos filmes trouxas? — sugeriu, um pouco inseguro. 

— Você nunca foi em um encontro antes? — falou ela, em tom zombeteiro, imitando Teddy. 

— Talvez eu nunca tenha ido — respondeu, despreocupado. — Isso importa?

Sim. Foi o que ela pensou, mas recusou-se a falar. Não queria que ele pensasse que estava interessada na vida amorosa dele. 

— Não — respondeu, tentando esconder o seu interesse. — Mas achei que tinha se planejado para esse. 

— E eu tinha. 

— Então por que não seguimos o seu roteiro? — Ela tomou um gole de sua cerveja amanteigada. 

— Porque o meu roteiro era para uma garota que eu não conhecia e não para você.

— O que quer dizer com isso? — Ela soou ligeiramente irritada. — Acha que não vale à pena ter um roteiro para sair comigo só porque eu sou sua melhor amiga?

Ele riu baixinho, quase incrédulo. 

— Não, Victoire — disse, ainda com a pontada de um sorriso em seus lábios. — Quero dizer que você não é como as outras garotas. Você me conhece de verdade, sabe tudo sobre mim, ou quase tudo, então você merece um roteiro só seu, porque você é única na minha vida.

— Ah. — Foi tudo o que ela conseguiu emitir antes de comer mais um pouco da sopa. Ela estava completamente envergonhada pelas suas palavras anteriores, mas negava-se a pedir desculpas. — Por que você estava com o cabelo castanho? Por que não estava azul?

— O que? — Sua expressão demonstrava confusão. 

— Quando eu cheguei, você sabe, seu cabelo estava castanho. 

— Ah, claro. — Ele sorriu. — Acho que porque parece mais normal, é. 

— Não para mim. — Ela moveu a cabeça de um lado para o outro, em desaprovação. — Eu gosto do azul. 

— É o seu favorito? 

— Sim. 

— O meu também. 

— Por quê? — questionou, curiosa. Ela sabia muitas coisas sobre o Teddy, mas nunca haviam conversado sobre a cor de cabelo favorita dele antes.

— Por nada. Eu só gosto — desconversou, e Victoire logo soube que havia algo de errado. 

— Não minta para mim, Edward Remus Lupin! — disse ela, mandona, e Teddy gargalhou. 

— Não estou mentindo, cupcake — falou ele, apenas para irritá-la. 

Victoire viu-se vermelha de raiva da cabeça aos pés, ela amava Teddy, mas detestava aquele apelido infantil e desnecessário. A menina adotou uma feição extremamente emburrada, feito uma criança, e comeu mais um pouco da sua sopa. 

— Ok, ok, sem mais cupcakes por hoje, eu me esqueci. — Ergueu as mãos ao ar, como se estivesse se rendendo. 

— Ótimo — retrucou, vitoriosa. 

— Já acabou? — indagou Teddy, espiando o prato de Victoire, que parecia vazio. 

— Ótimo. — Ele se levantou e estendeu uma das mãos na direção dela. — Vamos? 

A menina hesitou por alguns segundos, mas logo segurou a mão do rapaz. Primeiro, ele pagou o restaurante e, depois, começaram a caminhar pela cidade. Estava frio, o céu encontrava-se nublado e uma corrente de ar mais agressiva do que o esperado causava arrepios na pele de Victoire, que parecia tremer. Teddy não sentia muito frio, por isso, quando percebeu que a Weasley parecia incomodada, colocou o casaco que segurava em suas mãos sobre os ombros da loira, que silenciosamente agradeceu, através de um sorriso. 

— O que vamos fazer agora? — perguntou a menina, curiosa. 

— Andar por aí. Eu diria para tomarmos sorvete, mas acho que você congelaria. — Ele riu sutilmente, e ela suspirou. 

— Mas eu adoro sorvete — resmungou, frustrada. 

— Que tal sapos de chocolate? Eu sei que não é como em um daqueles filmes trouxas, mas acho que teremos que improvisar. 

— Isso é jogo baixo. — Seus lábios formaram um bico. — Sapos de chocolate são meus favoritos, mas ainda quero sorvete. 

— Certo, mas se você congelar, a culpa não é minha. 

— Está bem. — Ela sorriu, como se aquela fosse uma grande conquista. 

Eles caminharam um pouco mais, em silêncio, até que flocos de neve caíram sobre os fios de cabelo loiros de Victoire, fazendo-a sorrir. Ela adorava neve. 

— Tem certeza que ainda quer um sorvete? — Teddy ergueu as sobrancelhas, desconfiado. 

Ela assentiu. 

— Mesmo nevando? — reforçou. 

— Sim! 

— Você é esquisita — disse Teddy, com uma careta em sua face que logo se desfez em um sorriso. 

— Falou o garoto de cabelo azul — ela brincou, sorridente. 

Em meio à conversa, não demorou muito para que eles chegassem na sorveteria favorita de Teddy, que, por sinal, ficava bem próxima da lanchonete. O rapaz já parecia completamente decidido sobre o sabor que iria tomar, mas Victoire formou um bico em seus lábios, como se estivesse indecisa. 

— Qual sabor você vai querer?

Ela contorceu os lábios de um lado para o outro, e Teddy prendeu o riso. 

— O azul. Parece com você. 

— Eu pareço um sorvete?! — sobressaltou-se. 

— Bastante, é fofinho igual. 

— Vou aceitar isso como um elogio. — Rolou os olhos de um lado para o outro. 

— Ótimo, porque é um elogio. Agora, vamos, estou doida para comer esse sorvete. 

— Ok, ok — fingiu impaciência. 

Teddy Lupin foi até o balcão e não demorou muito para retornar com duas casquinhas, uma delas com uma tonalidade rosada, que Victoire julgava parecer com o sabor de yogurt de morango a outra de coloração azul, que entregou nas mãos da menina. Ela não demorou nem um pouco para provar o doce e, assim que o fez, soltou um suspiro de pura satisfação.

— Esse é o melhor sorvete que eu já tomei na minha vida.

— É, eu sei, você sempre diz isso quando nós viemos aqui. 

— Porque é verdade! — respondeu, como se fosse óbvio. — O que fazemos agora?

O rapaz não respondeu de início, pelo menos, não com palavras. Sutilmente, ele deslizou uma das mãos pelo pulso da menina, até que encontrasse a alheia e, assim que encontrou os dedos suaves e macios dela, entrelaçou-os aos seus. De repente, foi como se tudo se encaixasse. Todas as peças daquele quebra cabeça, que ela até então não sabia que existia, se encaixaram tão perfeitamente quanto as mãos entrelaçadas.

Era como se Victoire Weasley houvesse acordado o seu coração adormecido e, finalmente, tivesse se dado conta de que o amara durante toda a sua vida. Não como um amigo, mas como a sua alma gêmea, a pessoa mais importante da sua vida, com quem queria compartilhar todos os seus sorrisos e felicidade. Sua felicidade e a sua segurança em um ser só, bem na sua frente. 

Quão sortuda ela teria sido por ter encontrado tudo isso em Teddy? Especialmente por ter compartilhado todos os seus melhores e piores momentos com a pessoa que mais amava. Definitivamente, Victoire não podia negar tamanha sorte. Ela era uma felizarda por tê-lo tão perto, quando algumas pessoas demoravam tanto para encontrar o seu alguém especial. Victoire sempre o teve consigo. 

— Caminhamos de mãos dadas. — Ele sorriu, um pouco tímido, depois de alguns segundos de silêncio. 

Era possível observar as bochechas levemente avermelhadas do menino, mas ela não sabia se era vergonha ou o tempo frio.

— Hm, Teddy? — começou ela, um pouco hesitante. O rapaz rapidamente repousou os seus olhos sobre Victoire. — Por que estamos fazendo isso? 

— O que? Andando de mãos dadas? Bem, porque você disse que iríamos andar por aí, tomar sorvetes e andar de mãos dadas. — Um sorriso largo brotou em seus lábios. — E eu quero que essa noite seja perfeita para você. 

Victoire suspirou, mas, no fim, sorriu. Essa noite. Tudo se resumia a uma única noite, e esse era o maior problema de todos. Algo dentro dela detestava saber que no dia seguinte fingiriam não se lembrar de nada. Por outro lado, outra parte dela sentia-se aliviada, porque tudo voltaria ao normal e Teddy continuaria sendo o seu melhor amigo e porto seguro. Tudo o que ela precisava em um único ser. 

— Eu acho melhor eu te levar para casa. Está ficando tarde e seus pais me matariam se eu te levasse tarde. — Ele gargalhou baixinho. — Eu não quero que o seu pai me mate. — Constatou. 

— Ele não te mataria por nada, ele te ama. 

— É, eu sei, mas é melhor não arriscar. 

O resto do caminho foi feito em silêncio, enquanto ambos se deliciavam dos sorvetes anteriormente comprados. Quando chegaram à residência dos Delacour-Weasley, pararam um de frente para o outro, a alguns metros da porta. Victoire, que já havia terminado o seu doce, assim como ele, voltou o seu olhar tímido para o chão, enquanto mordiscava o próprio lábio inferior. 

Era esquisito. Ela não era assim. Nunca. Ao menos, não com Teddy. E agora ela estava envergonhada, encarando o chão, só por causa de um encontro que só seria lembrado em uma noite. Havia sido uma ideia estúpida, ela tinha que admitir, e agora estava em um labirinto onde não via saída. 

— Então… — Teddy limpou a garganta, completamente despreparado. — Eu acho que é isso. 

— É, eu acho que sim. — Ela ergueu o rosto, olhando para Teddy. — E amanhã tudo volta ao normal… 

— É, seremos os velhos Teddy e Victoire. 

— Como se nada tivesse acontecido. — Ela forçou um sorriso. 

— Exatamente assim. Como se nada tivesse acontecido — reforçou. — Bem, então… 

Teddy se aproximou de Victoire, um tanto quanto desajeitado. Ele cambaleou e curvou consideravelmente o corpo, até que ficasse mais próximo da menina. Não era sua intenção, mas ele estava próximo demais. A ponto de fazer Toire automaticamente prender a sua respiração, em um instinto. Os olhos fitavam-se intensamente, e Edward quase se sentiu perdido no oceano azul de Victoire. Era uma sensação única e extremamente boa. Ele não se importaria nem um pouco de se perder na imensidão de Victoire. 

A Weasley, por sua vez, sentiu o seu coração bater fortemente contra o peito, como nunca antes. E o seu estômago se revirava por causa das borboletinhas que batiam asas sem pudor. Ainda assim, ela se sentia bem. Sentia como se estivesse no local certo, na hora certa, e o resto do mundo já não tinha mais importância. Apenas Teddy importava. Ao vê-lo tão próximo, ela quis que ele a beijasse. Desejou arduamente por isso e sentiu-se culpada no mesmo instante. 

Afinal, ele era o Teddy. O garoto que mudava a cor de cabelo de acordo com o seu humor, que todo ano quebrava alguma coisa quando ia para Hogwarts e que adorava chamá-la de cupcake simplesmente para tirá-la do sério. O menino com o qual crescera junto, que visitara a Toca tanto quanto ela e o primeiro a colocar um band-aid no seu joelho ralado. Sua melhor companhia, que sempre a fazia sorrir, mesmo quando tudo o que ela queria fazer era chorar. Esse Teddy, o seu melhor amigo inconsequente e desastrado, mas que cuidava dela como ninguém. Ele jamais a beijaria assim. E ela jamais conseguiria fingir que aquele encontro nunca acontecera. 

Quando ele se aproximou ainda mais e depositou um beijinho no topo de sua testa, Victoire fechou os olhos e prendeu o ar. Era como se pudesse reviver aquilo centenas de vezes, porque ela nunca se cansaria. Então ele se afastou, e a menina sentiu o seu coração se partir. Mas como poderia estar partido? Era a decisão mais prudente que eles haviam tomado. Um encontro de uma noite, uma amizade de uma vida. Era o que parecia certo. Ainda assim, por que doía tanto? 

— Te vejo amanhã, Toire. Obrigada pela noite, foi incrível. 

— Até amanhã. — Ela acenou e sorriu. 

Em poucos minutos, Victoire entrou em casa e, da janela, assistiu conforme Teddy se afastava. Assim que ele sumiu de seu campo de visão, ela subiu as escadas correndo e trancou-se no seu quarto. Ao jogar o corpo sobre o colchão macio, sentiu-o relaxar, como se o peso do mundo saísse dos seus ombros. 

Pensando e repensando na noite que tivera, ela chegou a duas importantes conclusões. 

Número um: Victoire Weasley amava Teddy Lupin, definitivamente, mais do que uma melhor amiga ama o seu melhor amigo. 

Número dois: Victoire Weasley jamais seria capaz de esquecer daquele encontro. 

So wake up

Your sleeping heart

I know sometimes we'll be afraid

But no more playing safe, my dear

I'm here

So wake up


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Unexpected Date." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.