A maré do seu coração - Sukuita escrita por Daroon


Capítulo 1
Capítulo 1 - Acordo




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Os olhos castanhos perfuravam o caixão escuro de madeira do antigo Rei. Ao longo de sua vida, Wasuke sempre se preocupou com o bem estar do seu povo. Ele faria qualquer coisa por eles. Esse legado tinha sido passado para o seu filho, Jin, quando entregou seu trono a ele. E, após longos anos, faleceu. A cidade inteira banhada pelo silêncio do luto. Naquele ambiente minúsculo, preces eram feitas pelos próximos de Wasuke, até mesmo a Rainha, esposa de Jin, orava pelo falecido Rei; mas Jin, naquele momento, apenas observava, com uma ânsia em seu anterior, crescendo, crescendo e crescendo, o qual o perturbou por longos e tortuosos anos: a busca pelo seu filho.

Seu pai culpava-se constantemente pelo ocorrido, algo que Jin jamais faria, pois ele entendia. A ingenuidade de Wasuke quando assumiu o trono aos 16 anos o levou até aquele momento. Ele pensou em seu povo, não pensando no que poderia acontecer no futuro, não tinha como culpá-lo. Principalmente com ele querendo consertar seus erros. A diferença era que Jin não gostava da forma de busca do seu pai, no entanto, respeitava enquanto permanecia vivo. Porém, as coisas mudaram. Fushiguro Toji, Comandante da Marinha, aproximou-se de forma sorrateira do atual Rei, respeitando os outros que estavam de luto.

— Vossa Majestade, mandou-me chamar? — indagou, ao ficar com a postura ereta, com as mãos atrás de suas costas. Pelo canto dos olhos, Jin notou a bainha vazia, assim como a falta da pistola. Jin voltou seu olhar para sua esposa que orava para o seu pai. Estavam em uma distância segura.

— Chamei, sim, Comandante. Irei fazer um anúncio amanhã cedo e precisarei de apoio.

— Apoio?

— Sobre meu filho. Faremos mudanças sobre as buscas. Respeitei as decisões do meu pai de usar a Marinha, mas agora que ele se foi farei do meu jeito. — E encarou Fushiguro. — Você sabe qual é o meu plano, Toji. Sem formalidades agora, de um pai para outro, você também faria de tudo por Megumi.

O Comandante da Marinha ficou sério. E naquele momento não havia hierarquia, apenas dois pais preocupados. Fushiguro conhecia Jin desde criança, ele acompanhou de perto toda sua trajetória. Seu sofrimento com a perda do filho. Sua dor quando sua esposa quase pereceu pela perda. Toji admirava a força de Jin por todos aqueles anos. Se algo assim tivesse acontecido com ele, certamente estaria agindo como o outro. 

— Como irá explicar isso para os outros? — respondeu apenas isso. Jin cruzou os braços.

— Se nada foi mencionado sobre a utilização da Marinha nas missões suicidas, não dirão nada sobre os piratas.

Fushiguro sabia que ele tinha razão. E, no fim, teria o seu apoio.

— Qual será o comunicado?

— Avise sobre a busca de Yuuji, e os piratas que comparecerem ao palácio dentro de três semanas e derem a sua palavra de que irão trazer meu filho de volta terão uma recompensa.

— Recompensa? — Toji questionou.

— O pirata que conseguir trazê-lo de volta receberá uma quantia significativa em ouro. Além da Marinha ficar um ano fazendo vista grossa com as atitudes da tripulação inteira.

— Um ano?! — Toji engasgou-se. Arregalou os olhos, chocado demais com a fala do Rei. — Jin, isso é muito. Dependendo do pirata que conseguir, vai ser um ano de terror. 

O olhar morto do Itadori foi o suficiente para que o Comandante parasse de falar.

— Já tem 19 anos que a Marinha faz sua busca. Já tem 19 anos que muitos morrem por essa busca. Piratas conhecem cada canto do mundo, cada perigo. Mas isso não impedirá que muitos acabem morrendo. Oferecer algo assim é o mínimo. — E olhou profundamente para Toji. — Estarei livrando a escória do mundo enquanto terei a chance de ter meu filho de volta. Um ano de terror não é nada. E, além disso, quando o ano da "liberdade" acabar, todos serão caçados e mandados para a forca. A Marinha fará vista grossa, mas irá marcar a cada coisa que fizerem.

Toji soltou uma risada curta. Não tinha como contrariar.

— Tudo bem. Faremos do seu jeito. Porém, para cada capitão que se apresentar, enviarei um oficial da Marinha — falou sério, praticamente autoritário. Calou-se ao ver Kaori, a Rainha, olhar para trás e estreitar o olhar, certamente o tom de voz dos homens atraiu a sua atenção. Ao seu lado, Jin apenas suspirou, enquanto que ele balançou a cabeça em forma de respeito. Foi quando ela virou para frente que Jin o respondeu:

— Não envie os seus melhores homens. Não podemos perder eles.

— Sim, Vossa Majestade. 

~~~

O que mais era falado entre as várias regiões, principalmente nas tabernas que os piratas mais frequentavam, era a declaração feita por Itadori Jin. Em uma cidade mercante, conhecida apenas por alguns viajantes e por piratas que aproveitavam a oportunidade para ancorar ali por uns dias, já que a Marinha não passava por aquele lugar. Na taberna mais reclusa da cidade, as risadas estridentes eram ouvidas mesmo antes de entrar no beco; o assunto em questão era sobre o Rei Itadori e a sua busca infinita pelo filho.

— Aquela criança já deve ter sido devorada pela Bruxa do Mar — debochou um dos bêbados, arrancando mais risadas dos moradores.

Por ser uma cidade isolada, esquecida pelos reinos e independente, eles não se importavam em dizer o que realmente pensavam.

— Mas a recompensa é bem generosa — comentou outro morador. — Será que algum pirata foi ou vai até o palácio?

A pergunta simplesmente foi jogada. Resmungos eram ouvidos sobre a possível resposta. Sobre o quão estúpidos seriam se eles aparecerem; ou até mesmo a possibilidade de ser uma armadilha. Porém, o bêbado que tinha debochado sobre a criança estar morta virou a caneca de cerveja de uma única vez e bateu sobre a mesa, atraindo atenção de todos.

— Eu  iria! É dinheiro fácil, bastava enrolar por uns dias e pegar uma criança qualquer que fosse parecida com eles. Simples, nem saberiam da verdade. Em 19 anos a pessoa muda, não tem como saber como ele ficaria.

O que alguns tinham dito sobre a péssima ideia de ir até o rei, passaram a concordar com o homem. Como se fosse realmente algo fácil de se fazer. A única notícia que não tinha se espalhado era que na busca um oficial da marinha iria acompanhar a tripulação. No canto da taberna, dois homens apenas ouviam atentamente: um sério, praticamente ignorando todo aquele alvoroço enquanto bebia com fervor sua bebida. O que fazia seu acompanhante sorrir malicioso, este que tinha longos cabelos pretos, sendo metade dele amarrado num coque. Seu nome era Geto Suguru, o Imediato da Domain Expansion. Qualquer um que olhasse com atenção poderia reconhecê-lo, mas esse era o bom daquele lugar, não ligavam. Por isso era o lugar preferido do Capitão da D.E, Sukuna Ryoumen, que não gostou nem um pouco do olhar de Suguru.

— O que foi, Suguru? — Ryoumen rosnou, odiava quando seu imediato dava esses sorrisos.

— Nada. Eu só acho admirável a forma tola que os moradores têm de pensar.

Sukuna apenas deu uma risada debochada.

— Melhor os moradores por pensarem em algo tão estúpido, do que os piratas irem atrás dessa missão suicida.

— A recompensa é boa, não ouviu? — comentou Suguru, bebendo o restante de sua cerveja.

— E você ouviu a parte do suicídio? — retrucou raivoso, o que fez o outro sorrir. — Achei que eram apenas rumores, mas realmente os imbecis caíram na ilusão do Rei e da Marinha. — Antes de chegarem até a cidade, alguns rumores eram ouvidos de piratas se aventurando pelo oceano na busca do filho perdido de Itadori, assim como a recompensa. Por estarem atrás de um tesouro, Ryomen ignorou os possíveis rumores, mas, ouvindo tão de perto, não conseguia acreditar.

— Mas não deixa de ser interessante.

Ryoumen levantou-se, deixando algumas moedas sobre a mesa e riu.

— São apenas idiotas iludidos, assim como o próprio rei. Vamos, precisamos voltar antes que os outros resolvam encher a cara, não quero passar mais tempo na cidade do que o necessário.

— Sim, Capitão.

O retorno para o Navio foi tranquilo, algumas meretrizes conhecidas se ofereceram para passar outra noite com Sukuna, que prontamente negou. Se tinha algo que o pirata mais odiava era agir contra seus planos. E ele já estava nervoso por ter sido obrigado a ficar um dia a mais do que o planejado, porque um dos seus homens resolveu curtir em algum lugar e perdeu o horário. Se não fosse por Suguru teria abandonado o outro na cidade por um tempo, para que aprendesse a lição. E, por mais que ele achasse a companhia das mulheres para aquela noite tentadora, infelizmente teria que deixar para a próxima.

Para Sukuna, ficar um dia a mais do que o planejado sempre era um sinal de que algo ruim poderia acontecer. E estava certo. Parado em frente ao seu navio estava o famoso Almirante da Marinha, Gojo Satoru, com a sua tripulação subjugando a de Ryoumen.

— Ora! Interessante — Suguru comentou casualmente, o que arrecadou um olhar furioso do capitão.

Sukuna rosnou diante da petulância de Satoru, com o seu sorrisinho debochado, como se tivesse dominado um dos piratas mais temidos da Costa Leste; mas ele era Sukuna Ryoumen, ele poderia bater de frente contra o Almirante. E Satoru sabia disso, por isso seu sorriso se alargou ainda mais antes de levantar as mãos.

— Vamos relaxar, Ryoumen. Estou aqui apenas para conversar. 

Parecia palavras de uma víbora prestes a dar o bote. E definitivamente era. Satoru sempre estava ciente dos movimentos do pirata. Ele sempre sabia onde encontrá-lo, não importa onde fosse. Seus homens estavam prontos para receberem as suas ordens, mas ele estava se divertindo à beça. Quando seu superior e o rei ordenaram que não fizesse nada contra Sukuna e que não dividisse a informação sobre como conseguia achá-lo, era tudo parte de um esquema. Uma carta na manga. Satoru adorou esse momento.

— Então mande os seus homens abaixarem as armas — rosnou em resposta. — E não se dirija a mim com o meu nome, seu verme.

Satoru sorriu ao responder:

— Desculpe, é a minha garantia, afinal. Mas vamos direto ao ponto, Ryoumen. O Rei solicita sua presença, não é uma honra?!

Sukuna olhou em volta, principalmente para Suguru que estava desarmado, retornando o olhar para o outro. Não resistiu a tentação e gargalhou. Alto e debochado. 

— Seu rei está tão desesperado assim para me convocar?! Que hilário. E patético — disse sério. — Eu não sou tolo em ir atrás de um filho que certamente está morto.

Mas Satoru sorri, sabendo que venceu completamente aquela batalha.

— Mas irá. Porque é fácil ordenar a execução de todos neste momento.

E o olhar brincalhão e pretensioso sumiu, trazendo a seriedade da situação. Sukuna tinha apenas a sua pistola, mas Geto não tinha nada; sua tripulação também. Eles se folgaram demais, ele sempre avisou para estarem preparados, mas isso é o que acontece quando fica anos fora do radar da Marinha; ou era isso que pensavam. O ódio borbulhava dentro de si, saber que eles sempre souberam de seus passos, ficando na espreita, observando minuciosamente. Ele não tinha escolha, ou entregava o banho de sangue ali, ou na frente do Rei — o que seria mais interessante.

~~

Dias velejando para no fim estar diante de um rei. Estava sozinho, tinha deixado Geto com a tripulação. Estar na cidade principal não era a melhor ideia a se fazer quando se é pirata; apenas quando quer desafiá-los e estar disposto a perder 1/3 da tripulação. Algo que Sukuna não gostava, já que ele escolheu a sua tão meticulosamente. Ao lado de Itadori, estava outra pessoa que Sukuna odiava, Fushiguro Toji. Se tivesse a chance, enfiaria uma bala no meio da testa daquele homem. Autoridades sempre tão hipócritas, vivendo em seu mundinho.

— Fico feliz que decidiu vir. Posso chamá-lo pelo seu nome? 

Ouvindo a voz de Jin, Sukuna poderia jurar que era um homem de bem, mas pessoas assim sempre acabam se rebelando e mostrando quem eles realmente são. Ele já viu isso. Por isso não evitou de rir debochadamente.

— Claro, porque eu tive muita escolha em vir ser um suicida como os outros piratas. Se os burros caíram em sua laia, problema deles. Você não passa de um rei fútil desesperado pelo filho que certamente está…

— Basta — brandou Toji.

— Toji — chamou Jin, que sorriu. — Está tudo bem, ele tem o direito de expressar. — Levantou-se do seu trono, aproximando levemente do pirata. — Existe um motivo de jamais termos ido atrás de vocês. — Naquele momento, seu status não era nada, para Jin, tudo o que importava era o seu filho, apenas isso. — Meu pai jamais quis mandar piratas para a busca, diferente de mim. Quando soubemos que você estava na mira de Satoru, ordenamos que ele não agisse, mas que mantivesse sempre a guarda. Você é um dos temíveis piratas que muitos respeitam. Conhece cada parte do oceano melhor do que muitos. Cada perigo. Por mais que você ache que meu filho esteja morto, eu sinto que não. Isso me consome profundamente. 

A cada palavra, mais um passo. Toji estava em alerta para qualquer movimento do pirata, mas este… estava apenas apreciando a aflição do rei.

— Eu posso ter oferecido aquela recompensa para os outros, mas você sabe que é uma ilusão — continuou Jin. — Você me confirmou isso. Por isso, Sukuna, eu preciso de você. Eu irei lhe recompensar da melhor forma. 

Vê-lo implorando por sua ajuda era gratificante. Nostálgico de certa forma, alguém de uma patente superior implorando para si. Apesar dos motivos serem totalmente diferentes, este não implorava por sua vida. 

— Estou ouvindo — anunciou.

O sorriso aliviado de Jin incomodou Toji, que agradeceu pela Rainha não estar presente. Dentre os dois, ela era a racional. Jin era emotivo demais. E ser assim na frente de um pirata seria uma sentença.

— Além do ouro. Eu ofereço a liberdade plena para toda a sua tripulação, qualquer condenação imposta sobre vocês será retirada e jamais será feita. A marinha não irá caçá-los, não irá enfrentá-los. A Domain Expansion será livre.

Toji arregalou os olhos. Jin estava louco. Apenas isso se passava pela sua cabeça. Quando ele disse que tinha um plano para Ryoumen entrar nessa busca, Fushiguro não esperava por aquilo. E, para Sukuna, era maravilhoso. A proposta perfeita, algo que certamente valeria o risco.

— O seu desespero deve ser enorme para oferecer isso a mim — respondeu, sorrindo. — Foda-se os perigos. Eu aceito. 

Jin sabia dos riscos ao propor aquilo; mas o pirata tinha razão, estava desesperado e faria qualquer coisa para ter seu filho. E, por mais que sua esposa tivesse superado o fato de que jamais poderia vê-lo novamente, era algo que Jin não conseguia. Essa questão de herdeiro não era importante para si. Era seu primeiro filho. Lembrava-se perfeitamente de quando o segurou no colo: alguns fios pretos e rosados destacavam em sua careca, sua cara rechonchuda que o lembrava a um joelho; o seu sorriso banguela após um choro estridente e o aperto em sua mão. Era algo que muitos não entendiam. Nem mesmo o seu pai, que apenas continuou a busca devido a culpa que sentia.

E, se ele tivesse que fazer um contrato com o diabo para ter seu filho de volta, ele faria sem pensar duas vezes.

— Eu agradeço. E, como forma de honrar o acordo, um oficial irá acompanhá-lo.

— Tsc! — Se fosse uma forma de manter a boa fé, não poderia reclamar.

— Vai ser enviado o meu melhor homem — anunciou Toji, sério, atraindo o olhar do pirata, que pressentiu que coisa boa não viria. 


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