Um Reino de Monstros Vol. 1 escrita por Caliel Alves


Capítulo 6
Capítulo 1: Páginas em branco - Parte 5




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Tell e o seu improvável amigo corriam desesperadamente.

O garoto achou aquele local um tanto estranho, não havia pessoas, apenas paredes com reboco mofado e estranhas pichações, para ele não era só vandalismo, e sim uma espécie de código. A fuga continuou desenfreada até que a dupla se deparou numa viela.

— Droga, mas essa agora.

— Não tem como a gente pular o muro?

O encapuzado achou a pergunta de Tell um desaforo.

— E você é raciado com gafanhoto?

— Não é...

— Vamos voltar e arrumar outra saída.

Foi isso o que fizeram, mas não a encontraram. Na rua e no entorno, dezenas de monstros esperavam. Voltar ao beco sem saída não ajudaria a dupla em nada.

— Vamos ter que lutar, guri. Sabe algum estilo de luta?

Tell respondeu timidamente:

— Não.

— Você sabe usar alguma arma?

— Não.

O encapuzado já começava a ficar impaciente.

— Sabe usar magia pelo menos?

O mascarado perguntou com um fio de esperança.

— Não muito.

— Mas você é praticamente um inútil!

— Eu não tenho culpa se não completei o treinamento e me perdi do meu mestre.

— E eu com isso, seu pivete idiota?

Nesse momento quem perdeu a paciência foi o pacato Tell. Ele tinha se perdido do seu avô e não sabia como achá-lo, agora estava sendo perseguido sem motivo nenhum.

— Olha aqui, seu encapuzado vestido de agente funerário, graças a você eu estou sendo perseguido por um grupo de monstros e cada vez mais longe do meu avô.

As caveiras ficaram assistindo a briga e não atacaram. Aquilo deixou Nipi furioso.

— Ataquem agora, suas caveiras imprestáveis.

Os monstros deram um grito de guerra e saltaram sob os dois acuados fugitivos. Por instinto, o encapuzado se colocou à frente de Tell, agitando o seu cajado, ele proclamou:

— Oh deusa Nalab, senhora da escuridão eterna, conceda-me tua força...

Nipi ficou impressionado com a quantidade de energia reunida na arma, o mascarado estava conjurando uma magia divina das sombras.

— Raer Umbrátil.

A energia mágica na ponta do cetro se transformou numa onda de sombras, que derrubaram as caveiras e as desmontaram como se fossem quebra-cabeças.

— E agora, macacão, o que vai fazer?

— Huhuhuhuhuhuhuhuhuhu. Eu não vou fazer nada, observe com atenção, conjurador.

Os ossos das caveiras começaram a se mover pelo chão. Os crânios trajados de capacetes com pequenos chifres se juntavam a coluna. Os braços ossudos logo se conectavam aos ombros e ao tórax, com duas faixas de couro espinhosas em formato de X no abdômen ossudo.

A bacia em volta de um saiote de couro se conectava ao resto do corpo, e logo as caveiras estavam lá de novo, com as suas lanças e espadas nas mãos.

— Ah não, mas eu os derrubei agora a pouco.

— Não é isso não, seu encapuzado, é que...

— Cala a boca, seu fedelho. É por causa de você que estamos aqui perdidos.

— O quê? Mas foi você que guiou o nosso caminho.

As caveiras partiram para cima de Tell e do conjurador que batia com o cajado no rosto de um e dava pontapés em outros. O garoto apenas tentava fugir das espadas afiadas e das lanças do inimigo.

— Peguem eles. Eu não quero que deixem esses dois escapar, ouviram bem?

Com Nipi incentivando, os guardas passaram a atacar com mais vontade. Uma caveira golpeou com sua espada a cabeça do conjurador, mas, este se desviou e desferiu um golpe no queixo da caveira. O crânio caiu gargalhando no solo. Seu corpo continuou lutando, tudo aquilo se tornara surreal e perigoso demais para o encapuzado.

Tell tentava proteger o livro a todo custo, e por isso, quando não se defendia, ele recuava. Uma caveira tentou espetá-lo com a lança, o jovem desviou. A lança golpeou outra caveira. Dois pares de olhos e um sorriso de dentes afiados apareceram ao lado de Nipi.

— Aquele garoto está dando muita importância a aquela mochila.

— Também reparei, Nipi. Eu vou roubá-la.

O sorriso gatuno que flutuava no ar desapareceu. Nipi passou a refletir a sua posição.

Mesmo que o conjurador não precise de energia mágica, ele ficará cansado logo. Estamos em maior número e nenhuma ajuda virá de Tell.

O garoto quase teve a barriga cortada por uma caveira, ao invés de acertá-lo, a espada cortou uma das alças da mochila e ela acabou escorregando para longe. Tell saiu desesperado atrás, mas quando chegou perto, alguém chutou a mochila para longe.

Quando finalmente pôde chegar perto dela, duas patas de gato enorme apareceram do nada e pegaram a mochila.

Tell ficou impressionado, não esperava por aquilo. Depois um sorriso apareceu, logo após um corpo humanoide foi se formando em sua frente. Era a alma de gato Leona. Se não fosse pela cauda, as orelhas, as garras e os olhos, o monstro poderia se passar por um ser humano.

— Desculpa, mas esse livro não te pertence mais, miau.

— Pertence sim, ele foi herança de meu avô.

Iniciou-se um verdadeiro cabo de guerra entre Tell e Leona. O pesado livro fez os olhos da alma de gato arder de cobiça.

Com certeza esse livro deve conter magias poderosas, meu rei ficará satisfeito comigo se eu o levar...

— Solte-o, eu preciso entregar esse livro ao meu avô.

Tell ficava cada vez mais irritado com a disputa, mas não soltava o livro.

O raciocínio de Leona só foi cortado ao ler o título da capa.

Não pode ser! O rei Zarastu está há muito tempo a procura desse livro, e agora eu o encontro aqui... isso já virou uma questão de honra.

Aproveitando o momento de distração, e aplicando toda força nos braços, Tell conseguiu se soltar. Ele caiu com o livro no chão, aberto encima de seu peito. De modo inesperado, uma luz intensa saiu do livro.

O próprio garoto achou aquela energia mágica familiar. Era a mesma de seu avô. Ele pôs o livro no chão, enquanto todos ao seu redor assistiam o fenômeno. Feixes de luz azul espiralaram de dentro do livro e subiam pelo ar. Depois formaram uma figura humana translúcida, que Tell conhecia muito bem.

— Vovô Taala!

— Tell, meu querido neto, se estiver ouvindo está mensagem é porque já não posso mais trilhar a jornada junto com você, mas você nunca estará sozinho. O livro que carrega, o Monstronomicom, é a ferramenta que salvará o mundo da Horda, este é o meu legado. Para que você possa utilizá-la de maneira sábia, eu criei um mecanismo para defender o livro e que servirá como um manual para você, ele se chama Index, não tenho muito tempo Tell. Não pare nunca de lutar pela justiça, eu amo você...

— Vovô, não vá, eu preciso do senhor.

Com a voz embargada e chorando, ele estendeu os braços como se para aplicar o último abraço. A imagem sorriu e espelhou o gesto, mas ao tocar a imagem, ela desapareceu, e quando Tell percebeu, uma criatura repousava em seus braços. Os dois se olharam fixamente, analisando um ao outro.

—...

— Olá Tell, eu sou Index, o Guardião do Monstronomicom.

A criatura era branca, com orelhas grandes como as de um coelho. E em seu dorso, havia caracteres como números e letras embaralhadas. Seu corpo formava um oval horizontal. Seus olhos eram grandes e expressivos. Os seus membros eram curtos.

Os monstros não sabiam o que dizer, nem o que pensar. Nipi estava reticente.

Mas o que é tudo isso!? Primeiro esses dois baderneiros nos trazem aqui e esse garoto surge com o tesouro mais cobiçado por nosso rei, quem ele é afinal?

De modo inesperado, uma flecha acertou uma caveira. Nipi ficou alerta, esquecera que tinha chegado longe demais dentro dos territórios dos rebeldes. Em cada janela e porta, apareceram humanos apontando arcos e espadas para os monstros. Os rebeldes deram início a um ataque e Nipi ordenou:

— Recuem, seus idiotas.

Dezenas de centenas de rebeldes apareceram. Mesmo com a sua extrema confiança, o mapinguari não esperava um ataque tão massivo. O que ele podia fazer no momento era recuar. Depois pensaria numa maneira de revidar a humilhação.

Atrás de Tell e o conjurador, um espadachim surgiu com um sabre. Ele tinha um colete escuro. As calças eram rasgadas na altura das coxas e seu cabelo era grande, cacheado e castanho. Os olhos eram amendoados.

— Não acharam que invadiriam o nosso território sem que revidássemos? Estavam enganados. Eu quero que todos os que portam espadas, não deixem um monstro de pé... isso é uma ordem!

Agora a luta não havia se equilibrado, se tornara um massacre. As caveiras ficaram praticamente indefesas, esperavam uma ordem e quando ela veio, causou mais agitação.

— Vamos suas, caveiras inúteis, já disse para recuar.

A confusão se seguiu entre as fileiras das caveiras. Enquanto isso, o ataque rebelde continuava. Prevendo o pior, Leona sumiu em meio à multidão de monstros. Nipi também fugiu ao ver o futuro resultado daquela batalha.

O espadachim que liderava o ataque bateu com o seu afiado e longo sabre nos ombros do conjurador e nas pernas de Tell, como se fosse um cassetete.

— Não é hora para lamentar, estamos em combate, mexam-se!

— Olha só, pivete, de “perseguidos” passamos a “marionetes” do cabelo de macarrão aqui.

— Se não quiser lutar do lado dos humanos, conjurador, vamos considerá-lo inimigo.

— Puxa! Que clima pesado. Estamos lutando contra os monstros, por isso estamos do mesmo lado, vamos ajudar, seu encapuzado... E pare de me chamar de pivete, meu nome é Tell, Tell de Lisliboux.

Ao ouvir o sobrenome do garoto, o espadachim observou Tell atenciosamente com Index no colo, como se fosse um bicho de pelúcia, e começou a se perguntar como ele provaria o que tinha dito. Afinal de contas, de acordo com os registros, os Lisliboux deixaram de existir há muitos e muitos anos.

— Só paro de te chamar de pivete se parar de me chamar de encapuzado, ou mascarado ou qualquer coisa que envolva o meu vestuário, fico parecendo até um assaltante de quinta categoria. O meu nome é Saragat, o conjurador da deusa das sombras, Nalab.

— Mas com esse vestuário ridículo, realmente, você parece um bandidinho de quinta.

O queixo de Saragat caiu com as palavras do espadachim. O punho da sua mão direita se fechou com tanta força que as luvas quase se rasgaram. Quando ele preparou o soco, várias caveiras os atacaram.

Pondo o sabre acima da cabeça em posição vertical, o espadachim esperou até o último momento para atacar. Quando parecia que as caveiras iriam cobrir o trio, ele atacou.

— Coup de Foudre.

Shuinfh, o golpe da lâmina foi tão rápido que quando ela foi embainhada novamente, só as cinzas das caveiras caíram no chão. O espadachim ajeitou o seu cabelo e retirou as cinzas do ombro com a mão.

Tell achou incrível a rapidez com que tantos monstros haviam sido derrotados com um único golpe de espada. O garoto não distinguiu o estilo de esgrima dele. Ele que conhecia muitas histórias de heróis, se impressionou com aquele ataque. Admitiu para si mesmo que aquele não era um espadachim comum.

Com recitações e cânticos, Saragat removeu os inimigos que apareciam pelo caminho. Os rebeldes também fizeram os seus inimigos recuar, quando não caiam mortos no chão. Tell não foi preparado para aquilo, era apenas um aprendiz de mago.

Não sendo bom em combate corpo a corpo, no uso de armas e nem com a própria magia, não conseguiria sequer se defender. Seu corpo travou por completo. Suas pernas tremiam a cada passo, o espadachim viu o medo no rapaz.

— Não tenha medo, Tell, o valor de um homem é medido por sua bravura.

Saragat não acreditava que devia a sua vida a alguém tão narcisista.

— Vamos, “Tell sei lá das quantas”, mostre a esse cabelo de spaghetti o que tu sabe. Não podemos deixar a diversão toda para ele.

— Tá, Index, eu preciso que você me ajude a combater os monstros, como o Monstronomicom funciona?

— Essas são as regras para utilizar os poderes do Monstronomicom: 1º Procure um monstro; 2º Derrote o monstro; e em 3º Recite o seguinte verso, “Eu te purifico”.

— Tá, e o que mais?

— Só isso.

O garoto ficou com o queixo caído. Index flutuava pelo ar batendo as suas orelhas como se fossem asas. Tell ainda imaginou a possibilidade de aquilo tudo ser uma piada de mau gosto do seu avô, mas para tanto trabalho, devia ser verdadeiro.

Os monstros estão aqui, então se eu os derrotar... Como se fosse assim tão fácil.

Com certo desânimo, o pequeno mago olhou em volta e assistiu algumas cenas da batalha campal. Uma gota de suor escorreu pelo seu rosto.

Vovô, eu espero que o senhor esteja certo.

Tell pigarreou e olhou para Index que, mantinha seu olhar de autoconfiança.

— Tudo bem, vamos lá então.

Segurando o livro na altura dos olhos e se concentrando. Tell percebeu que já havia vários monstros no chão, ele proclamou:

— Eu vos purifico.

Uma luz multicolorida saiu do livro e formou vários feixes. Os feixes, como tentáculos de um polvo, penetravam no peito de um monstro e aos poucos a luz se tornava fosca.

Com espanto, todos perceberam que quanto mais a luz se tornava fosca, mais humanizado ficava o monstro. Quando o livro terminou de absorver a monstruosidade, as caveiras se tornaram humanas, completamente humanas.

Na primeira página do tomo, surgiu à figura de uma caveira, o típico soldado que abarrotava as cidades do Reino dos Monstros. Entretanto, o garoto percebeu que os monstros que estavam mortos não se transformavam em humanos.

— Alguns deles não se transformaram! Por que, Index?

— O livro remove a essência monstruosa, mas não funciona como necromancia. Sendo assim, após a morte, não há como humanizar o que já está morto.

Mas que tipo de magia é essa!

O espadachim estava encantado, nunca na sua vida poderia imaginar que os monstros podiam se transformar em humanos. A inesperada revelação o fez pensar no ressurgimento dos monstros após a sua extinção.

— Isso explica tudo...

As caveiras ficaram tão amedrontadas que fugiram de modo vergonhoso.

Saragat tentou esconder a sua admiração, estava cansado demais para comemorar qualquer coisa. Arf-urf-barf, de todos os sons, esse era o mais ouvido entre os rebeldes.

O mascarado não se aguentava em pé. Mesmo para um conjurador, lutar por tanto tempo é cansativo. E como ele quase sempre se esquecia de fazer as orações noturnas a sua deusa, ele acabava não recuperando o seu vigor mais rapidamente, nem tão pouco cicatrizando as suas feridas.

— Você os botou para correr, Tell. Até que você não é tão pirralho.

— Obrigado, eu acho.

— Bem, agora que eu ajudei a botar as caveiras para correr, já terminei aqui. Até mais.

O espadachim o segurou pela capa, e com o puxão, Saragat caiu de cara no solo.

— Nada está acabado aqui. Nós precisamos saber que tipo de gente são vocês.

— Que negócio é esse? Escuta aqui cabelinho de macarronada, nós somos do tipo que não te devem nada, morou? E quer saber do que mais, odeio essa tua cara burguesa.

— Desculpe se meu porte nobre não lhe agrada. Mas, tudo isso me pareceu um tanto... teatral demais. Dois humanos estranhos fugindo de um grupo liderado pelo próprio capitão Nipi da Guarda Municipal de Monstros de Flande, sinceramente, isso é muito estranho. Parecem que ambos são espiões. No mínimo, vocês fazem parte de um plano para nos expor, como no caso de hoje. E assim aquela maldita alma de gato colheria dados de nosso esconderijo.

O espadachim arqueou as sobrancelhas, como se exigisse uma resposta.

— Não, seu espadachim. Eu e o Saragat apenas fomos perseguidos por esses monstros, eu não sabia que estávamos em Flande...

Tell dividiu as sílabas da palavra, depois colocou as mãos na cabeça e começou a gritar.

— Aaaaaaaaaaaaaaagh! Mas isso é longe demais, como vou chegar até o meu avô?

— Você foi aliciado por este maléfico conjurador? Ele tem cara de quem faz essas coisas... não confio em homens mascarados. Não estamos no carnaval, sabes? Mas se vocês dois estiverem corretos, uma pessoa pode dar o veredicto.

— QUEM?

Tell e Saragat perguntaram ao mesmo tempo. O espadachim respondeu com um sinal de mão que não tivessem pressa.

— Se vierem comigo vocês terão oportunidade de nos explicar como conseguem transformar monstros em humanos, e poderíamos até ajudar vocês. Mas agora temos outras questões para resolver.

E voltando os seus olhos para o campo de batalha, dezenas de homens e mulheres se abraçavam. Agora não havia inimigos entre eles, apenas humanos.

Muitos reconheceram parentes e até amigos entre os ex-monstros. Aquela informação de monstros virarem pessoas era desconhecida até então. Quando havia corpos de monstros, eles não mudavam de forma, permanecendo como monstros até a decomposição.

Um grupo de rebeldes suspendeu Tell no ar e fez um hip-hip hurra! Index e Tell se mostraram felizes. Para os rebeldes, aquilo era mais que uma vitória, era um milagre.

— Vamos, precisamos ir para o nosso esconderijo. Nós carecemos de nos reagrupar. Tell e Saragat, venham conosco.

O espadachim temia um reagrupamento de novos monstros, e a habilidade de Tell não tinha sido analisada. Liderando o grupo, Tell, Saragat e o restante seguiram Dumas, o espadachim.

Passando entre velhas construções tombadas, eles entraram numa ruela e chegaram perto de um bueiro. O espadachim abriu-o e o que se viu foi um fosso profundo e escuro. Ratos chiaram lá embaixo quando uma tocha foi acesa.

— Não quer que eu entre aí, né?

Ninguém respondeu a Saragat. Um a um, todos foram entrando. E seguiram-se longas caminhadas por corredores de pedra maus cheirosos.

— Esse lugar é frio e sujo, a companhia é desagradável e eu não gosto de você, spaghetti.

— O sentimento é recíproco, nobre conjurador das sombras.

Das ruas em ruínas, o grupo de rebeldes literalmente desceu pelo esgoto. Flande tem uma grande rede de esgotos, com túneis e mais túneis correndo por baixo de suas ruas. Em tempos de guerra se tornavam refúgio para os flandinos.

Um labirinto de tijolos e concretos. Só os seus habitantes conhecem o seu segredo e os rebeldes agora fizeram dos seus subterrâneos um lar. Usando isso como uma estratégia. Em qualquer lugar da cidade é possível que eles ataquem de surpresa ou escapem.

— Viu só, seu moleque desgraçado, ainda tinha que concordar com o spaghetti.

— Não tínhamos escolha, se fugíssemos seriamos atacados por monstros. Se enfrentássemos os rebeldes, declaramos a nossa culpa. Só nos restou obedecer, quem não deve não teme.

— Que menino mais cândido, sabe como eu estou me sentindo agora, Tell?

— Um futuro rebelde?

— UMA OVELHA ENTRANDO NO MATADOURO.

— Tell, seu amigo aí nunca cala a boca não?

Index se mostrava preguiçoso no colo de Tell. Um dos rebeldes lhe entregara uma nova mochila, e agora o Monstronomicom estava seguro... ao menos por enquanto.

Saragat tomou Index das mãos de Tell e apertou-o, dividindo a sua cabeça e o seu tórax. Os olhos de Index se esbugalharam.

— Me largue, seu assassino!

— Reclama agora, sua bolinha de carne.

Um dos homens se achegou até o líder do grupo e lhe disse ao ouvido:

— Senhor, eu compreendo que eles devem ser levados ao líder, mas pelo menos o conjurador não poderia ir com uma mordaça, juro que se ele falar de novo eu vou...

— Sábio conselho.

O espadachim de cabelos ondulados pegou um lenço do bolso da calça jeans e amarrou a boca de Saragat. Mesmo assim ele continuou a murmurejar.

— O próximo que trouxermos para cá, lembrem-me de trazê-lo desacordado.

Os homens passaram a rir. Mesmo Tell não aguentou a piada do espadachim. Saragat olhou para o garoto, os olhos assustadores, a boca lhe rogava alguma praga.

— Que foi? A piada foi engraçada!

— Deixe meu caro Tell, ele não tem um humor tão nobre como o meu.

Index flutuou até a cabeça do garoto e pediu para que ele abrisse o livro. Tell o abriu e Index adentrou em suas páginas, sumindo nelas.

— Aonde você vai?

— Quando precisar, é só me chamar.

O jovem fechou o livro e agradeceu a ajuda, estava cansado demais para raciocinar. Só esperava chegar logo ao QG dos rebeldes. A caminhada continuou com resmungos e reclamações até que uma entrada luminosa apareceu. Havia música e um aroma de comida saindo do forno. O grupo adiantou-se.


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