Romione - You Belong With Me escrita por overexposedxx


Capítulo 1
Capítulo Único - You Belong With Me


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores! Espero que estejam bem!
Como muitos de vocês tiveram reações lindas à minha primeira one-shot Romione, inspirada na música "Say You Won't Let Go", fiquei bastante motivada a fazer mais uma nesse estilo: uma songfic de Romione e de capítulo único, só que agora da perspectiva da Hermione e pela música "You Belong With Me", da Taylor Swift.

Espero que gostem bastante e me deixem saber o que acharam, foi feita com muito carinho! Boa leitura! ♥



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Fevereiro, 1997

Hermione honestamente nunca havia pensado que estar no sexto ano de Hogwarts seria uma tarefa tão difícil.

É claro, a cada ano que se passava ela obrigava-se a elevar os esforços para o próximo - que, pela lógica em sua cabeça, prometia ser sempre mais desafiador do que o anterior. Mas, especialmente agora, no que se tornara típico para uma noite de terça-feira, sentada em sua cama no dormitório vazio e ouvindo mais da gritaria de Lilá Brown na sala comunal do que da música que tocava em seu pequeno rádio bruxo sobre a cabeceira, ela estava certa de que havia subestimado a capacidade de justamente seu penúltimo ano trazer novidades mais estressantes do que as usuais - e agora estava pagando por isso, vendo a si mesma ficar cada vez mais ciente da infelicidade que ser uma sextanista havia se tornado.

A essa altura não eram os muitos deveres de casa, a preocupação com as provas, e nem mesmo os deveres de Monitoria que a estavam testando, tirando seu tempo e sua paciência. Mas, sim a odiosa existência de Lilá Brown e Ronald Weasley juntos, todos os dias, pelo que parecia uma eternidade torturante e cada vez pior.

Hermione simplesmente não podia suportar a ideia, e ainda menos a vista que se tornara rotineira, de Rony beijando aquela garota por todos os cantos em que ela olhava, ou segurando sua mão, ou só acompanhado por ela o tempo todo, como se Lilá estivesse sob um tipo de feitiço que só a permitia existir a um raio de, no máximo, quinze centímetros de distância dele.

 Era mais incômodo do que gostava de admitir, a sensação ácida em seu estômago e fervilhando todas as vezes em que colocava os olhos nos dois, quando simplesmente sabia que estavam no mesmo cômodo que ela, ou ouvia suas vozes ao longe, tão nitidamente juntas uma da outra.

Agora, Hermione pegava a si mesma esquivando de todas essas coisas e dividida entre o pensamento, repleto de raiva, de que havia sido uma enorme besteira sequer considerar que Rony pudesse gostar dela de volta, da forma como ela gostava dele; e o oposto, de que devia ser possível porque, afinal, ele não podia estar completamente feliz com Lilá ainda àquela altura - a exemplo da nova discussão alta demais no andar de baixo, que podia ouvir bem.

E nessas situações ela não podia mentir: havia um tipo de satisfação discreta que ganhava mais espaço em seu peito toda vez que os dois se desentendiam pelos motivos mais estúpidos possíveis, que só mostravam as centenas de maneiras - que Hermione, por sinal, já havia listado em sua cabeça - como eles eram completamente incompatíveis um com o outro.

You're on the phone with your girlfriend, she's upset
She's going off about something that you said'
Cause she doesn't get your humor like I do

—Ah, pare com isso, Lilá, você sabe que não foi o que eu quis dizer! - ela ouviu Rony dizer com um tom exausto, mas alto, se esforçando.

—Oh, até parece que não foi, Ronald! Foi exatamente o que você quis dizer! - Lilá gritou de volta e mais alto do que ele, os sons de passos na escadaria do dormitório parando abruptamente, como se ela tivesse se virado de volta para ele por um segundo - E eu pensando que você me elogiaria, diria algo sobre como, realmente, sua namorada tem um dom incrível para Adivinhação... - Hermione rolou os olhos enquanto ouvia - Mas, é claro, você me chamou de infeliz e louca ao invés disso!

—Lilá, escute, eu não te chamei de nada disso, você está exagerando! - Rony protestou antes mesmo que ela terminasse de dizer e assumiu um tom de explicação que, no entanto, foi interrompido.

—Ah, agora eu estou exagerando! - ela riu no que Hermione achou um tom levemente histérico, e continuou. - Pois, você disse, Ronald! Você disse que as pessoas têm que abrir mão de serem felizes e sãs para serem boas em Adivinhação! Ou melhor, - e então disse muito rápido, enquanto Hermione se empertigava na cama, curiosa para saber o restante. - para ficar o dia inteiro "procurando o futuro em folhas de chá estúpidas", não foi?! E adivinhe no que eu sou boa!

—Eu estava falando da Trelawney, Lilá, não de você! Era dela que eu estava falando! - ele disse mais alto, como se pudesse impedir a garota de protestar assim.

E então, Hermione não pôde evitar de rir alto, jogando a cabeça para trás e as mãos sobre a boca conforme, simultaneamente, processava e imaginava a cena do que acabara de ouvir - o que só tornava seu riso mais entusiasmado.

Ela não pôde evitar de pensar, quando se fez parar de gargalhar e reorganizar sobre a cama, que apesar de entender a forma como Rony devia ter soado para a garota, ela não só concordava com ele no que dissera, como teria entendido o que queria dizer se estivesse naquela conversa: mesmo quando o achava inapropriado, ela entendia o humor de Rony - e essa era uma capacidade que Lilá indiscutivelmente não tinha.


I'm in the room, it's a typical Tuesday night
I'm listening to the kind of music she doesn't like
And she'll never know your story like I do

Depois do episódio que ouvira entre Rony e Lilá, Hermione não se deu ao trabalho de ouvir como os dois haviam se acertado, mas soube que havia acontecido quando a garota chegou ao dormitório com seu sorriso tipicamente apaixonado - ou, para Hermione, débil - nos lábios, seguida por Parvati Patil.

Antes que elas entrassem, ao som dos passos na escada, Granger lançara um Abaffiato ao redor de sua cama e cabeceira, para que pudesse continuar ouvindo o rádio sem as reclamações de Lilá - que já havia deixado claro mais de uma vez que não gostava das músicas que ela costumava ouvir no quarto -, se aproveitando também da certeza de que as garotas não se incomodariam em falar com ela.

Mesmo assim, no entanto, Hermione não pôde evitar de ouvir a conversa que houve entre elas, pouco depois que a porta do dormitório fora fechada.

—...E estava pensando em uma touca bonita e um cachecol para o aniversário dele, agora que está fazendo bastante frio, bordadas com seu apelido para combinar com o colar que dei a ele. - ela disse com grande satisfação e rapidez, gesticulando para a amiga, quando olhou para o alto, suspirando audivelmente. - Ah, e é claro, naquele tom castanho avermelhado que ele sempre usa no Natal, com certeza sua cor favorita, e que fica tão bem nele!

Exceto pela última parte - que era verdadeira porque, para ser sincera, ela nunca achara que Rony ficara mal em qualquer cor -, Hermione teve tanta vontade de rolar os olhos que sentiu que, se o fizesse, eles poderiam ter ido parar atrás de sua cabeça.

Será possível que Lilá não sabia mesmo nada sobre Rony? Sobre o que queria dizer com certas coisas, sobre o que realmente gostava ou não? Afinal, como é que ela queria se gabar de que Rony era seu namorado quando ela nem mesmo sabia coisa alguma certa sobre ele?

Isso enquanto Hermione, por outro lado, sabia - e há anos - que Rony detestava a "cor de tijolo", como ele mesmo dizia, em que seus suéteres Weasley vinham todo ano, mas os usava mesmo assim porque eram realmente quentes e porque eram uma tradição carinhosa de sua mãe.

Ela sabia também que as cores de que ele mais gostava eram azul e laranja, já que, embora ele não gostasse muito de vestir a última cor - porque, como o castanho avermelhado, combinava bizarramente com a cor de seus cabelos, cílios, sobrancelhas, deixando-o "de uma cor só" -, gostava da cor em geral - por exemplo, em seu quarto predominantemente laranja, e nas roupas do seu time de quadribol favorito -, enquanto o azul se encaixava em todas as coisas.

But she wears short skirts
I wear T-shirts
She's Cheer Captain, and I'm on the bleachers
Dreaming about the day when you wake up and find
That what you're looking for has been here the whole time

Hermione, no entanto, deteve o impulso de dizer todos esses apontamentos em voz alta apenas pra que Lilá soubesse - como ela mesma sabia e Rony deveria saber - que ela quem deveria estar no seu lugar, e somente desligou o rádio com um aceno da varinha, fechando as cortinas vermelhas ao redor de sua cama em seguida, a tempo de ver Lilá mostrando orgulhosamente à amiga Parvati seu novo short-saia vermelho e ouro - segundo ela, feito especialmente para quando fosse assistir aos jogos da Grifinória no verão.

Se as discussões e outros comentários estúpidos entre Lilá e Rony a faziam sentir, senão um pouco satisfeita, ao menos certa de que não haviam motivos pra que ele ainda estivesse gostando daquela relação, esses outros, onde Lilá exibia suas roupas tão diferentes das dela - e na verdade, tão indiscretamente diferentes das que se costumava usar na escola, mas que ficavam bem nela (coisa que Hermione não planejava dizer em voz alta) -, a faziam se perguntar se essa era uma das coisas que poderia fazer diferença entre ela e Lilá.

Se, por exemplo, o fato de Lilá parecer uma líder de torcida nos jogos da Grifinória, e ela uma daquelas pessoas invisíveis na arquibancada, tornava mais fácil e legal gostar de Lilá do que dela. Afinal, ela era só uma sabe-tudo - e ninguém realmente gostava de uma sabe-tudo, ela já havia ouvido falar.

Ainda pensando nisso, Hermione se esforçou, no entanto, para desviar os pensamentos, tão logo quanto deitara a cabeça em seu travesseiro e fechara os olhos, sabendo que sonharia com a mesma coisa que, embora inadmissivelmente, sonhava acordada também: o dia em que Rony finalmente percebesse que ela era a pessoa por quem ele estava procurando, que estivera bem ali o tempo todo.

If you could see that I'm the one who understands you
Been here all along
So, why can't you see?
You belong with me
You belong with me

Ao passo que março se aproximava, Hermione pegava a si mesma pensando em duas coisas que deviam acontecer no mesmo dia: o aniversário de Rony e a ida à Hogsmeade.

Ela não conseguia ver como desejaria "feliz aniversário" para ele, com o distanciamento inevitável que houvera entre eles, além de Lilá, que já estava planejando passar aquele dia inteiro com ele.

E é claro, sua vontade de, ao invés de desejar-lhe qualquer coisa, enfiar-lhe goela abaixo um Veritaserum que o obrigasse a cair em si por ao menos alguns minutos - quem sabe assim ele terminasse com Lilá e deixasse de ser estúpido demais para dizer como se sentia sobre ela. 

Ou ao contrário, e ao menos dissesse de uma vez que nunca teria nada a ver entre eles.

Pesarosamente, ela observou pela janela do dormitório, enquanto vestia o uniforme para aquele dia, que a neve cobria os terrenos lá fora, deixando a paisagem tão branca e monótona como em todo inverno.

Hermione viu algumas árvores se balançando ao vento e não pôde evitar de se lembrar de quando haviam ido a Hogsmeade em outubro - quando estava quase tão frio quanto agora -, o que havia ocorrido a Cátia Bell, e imaginou se, mesmo assim, ainda iriam no dia do aniversário de Rony: talvez a ida tornasse mais fácil se convencer de que não devia parabenizá-lo, já que ele estaria grudado em Lilá o dia inteiro.

Afinal, Hermione também jamais admitiria em voz alta, mas já sentia falta de como costumava ser antes, sobretudo nos passeios em Hogsmeade e nos dias de verão que passava n'A Toca: apenas ela, Rony e Harry passando tempo juntos e geralmente confabulando sobre alguma coisa a respeito de Você-Sabe-Quem, a Armada de Dumbledore, e coisas do gênero - que, em geral, ao menos os uniam mais do que distanciavam.

Walk in the streets with you in your worn-out jeans
I can't help thinking this is how it ought to be
Laughing on a park bench thinking to myself
Hey, isn't this easy?

And you've got a smile
That can light up this whole town
I haven't seen it in a while
Since she brought you down

Flashback: verão de 1996. 

—Rony, sua mãe disse especificamente para limpar o armário de vassouras, e não ficar montando nelas! Vamos, desça daí! - Hermione exclamou pela décima vez, de braços cruzados e olhos no garoto ruivo que voava baixo a pouca distância dela.

—Hermione, relaxe um pouco! Fred e Jorge faziam isso o tempo todo quando estavam aqui. Mamãe já os pediu para limpar esse armário dezenas de vezes, e depois de cada uma eles ficaram tão limpos quanto sempre estiveram. - Rony respondeu arqueando as sobrancelhas, assumindo um pouco mais de altitude, quando torceu o nariz. - E será que você pode mudar de música? Eu preferia muito mais a outra fita, com aquelas bandas trouxas...

—Led Zeppelin e Rolling Stones, sim, eu sei. - a garota, que estava com seu walkman nas mãos e duas outras fitas sobre a grama ao seu lado, rolou os olhos e completou, embora um sorriso quisesse alongar seus lábios por antecipar tão bem os favoritos do ruivo: ela quem apresentara aquela tecnologia trouxa a ele em um dos verões passados e, desde então, nunca esquecera as bandas que ele sempre queria que se repetissem.

 -Bom, - ela continuou, sob o olhar satisfeito de Rony quando "Out on the tiles", do Led Zeppelin, começou a tocar. - eu só acho que você devia saber mais do que se espelhar em Fred e Jorge para esse tipo de coisa, não é? E também, aposto que ela não vai ficar nada feliz quando vir esse armário exatamente do jeito que estava antes.

Rony parou de murmurar a letra da música, ao que Hermione assistia reprimindo um sorriso muito dado, e suspirou com um tom de obviedade.

—Ela nunca checa esse armário, Hermione, é por isso que Fred e Jorge sempre tiveram sorte com isso, e eu também posso ter dessa vez. Ela nunca vai saber, a menos que você conte. - e seu olhar voou para o da garota, com um tom de expectativa longo, ao que ela cedeu insatisfeita, rolando os olhos e desviando o olhar. - E além do mais, preciso treinar para os testes de quadribol desse ano.

—Tudo bem, faça o que quiser. - ela deu de ombros, cobrindo com os dedos a parte de uma das fitas em sua mão, aonde estava escrito com sua letra cursiva, "Mixtape do Rony, Vol. 2". - Mas, você sabe que tem tempo suficiente para treinar o resto do verão.

—Eu teria, você quer dizer, se não tivéssemos sido privados de tantos treinos no ano passado e eu não estivesse realmente enferrujado desde então. - ele retrucou com um semblante insatisfeito e ansioso, e continuou a falar em tom de aviso, parando de simular movimentos de goleiro no ar. - Dias atrás eu sonhei que ia realmente muito mal nos testes desse ano, o que só pode ser um aviso! Preciso fazer muito melhor se quiser estar na equipe esse ano. - e a última parte saiu quase como um lamento, ao que ele piscou muitas vezes consigo mesmo.

—Rony, me escute: você vai se sair bem, - Hermione afirmou, certa do que dizia, e de repente odiando vê-lo com o tom desanimado na voz e na forma como seus olhos deixaram de cintilar. - e é claro que isso não é um aviso. Foi só um sonho porque você está com medo. - ela o tranquilizou, ao que o garoto a olhou de relance, pouco satisfeito com a constatação que, porém, era inegável. - Agora, é sério, desça já daí e finja que está fazendo alguma coisa antes que sua mãe apareça.

E assim, para a surpresa de Hermione, o garoto realmente o fez, aterrissando com leveza no gramado e descendo da vassoura. Ele estava vestindo uma camisa xadrez escura de mangas curtas e botões, o primeiro de cima ficara aberto, e uma de suas calças surradas de sempre.

 Hermione assistiu a forma como ele puxou o tecido da camisa uma ou duas vezes, descolando-o do calor do corpo e dos ombros largos por um instante, e depois passou a mão nos cabelos para trás, enquanto a outra segurava a vassoura de pé ao seu lado, fazendo seu rosto mais evidente e, de repente, mais tocado pelo Sol. 

Ele estreitou os olhos ao toque da luz, e Hermione já estava se deixando perder nas sardas em suas bochechas em companhia do azul em suas íris, quando o garoto começou a caminhar para mais perto, o que a fez esquecer de respirar por alguns segundos, perturbando seu coração que pareceu bater contra as costelas, e então despertar ao vê-lo tomar rumo, na verdade, até o armário de vassouras.

—Não foi só um sonho, Mione, você não entende. - Rony recomeçou a falar, sob um suspiro impaciente, e depois de livrar-se da vassoura, virou-se para ela, gesticulando. - No verão antes de entrarmos para o quinto ano eu sonhei com um sapo horrível, e dias depois estávamos sendo apresentados à Umbridge em Hogwarts. - e fez uma pausa, em expectativa, ao que ela não respondeu e ele, assim, completou, como se fosse evidente. - Foi um aviso.

A partir disso, Hermione não pode evitar de rir, jogando a cabeça para trás com graça, e voltando com um sorriso ao colocar os olhos nele, que parecia dividido entre admirar sua diversão e rir dela, com gosto.

—Bom, nesse caso, eu acho que você tem um talento sobrando. - ela instigou, deixando de rir gradativamente, e Rony olhou-a com um sorriso reprimido e curvado, arqueando as sobrancelhas em curiosidade. - Talvez as Parcas realmente estejam querendo te dizer coisas. Você devia agradecer por não ter, como eu, uma mente irreparavelmente terrena. 

Hermione lembrou com um tom de desdém e ironia, ao que Rony, afinal, não pôde segurar o riso, e a cena anterior se repetiu ao inverso: ele riu abertamente e a garota o assistiu, contagiando-se da risada dele enquanto o assistia livremente - o que colocou toda a tensão anterior sobre o quadribol, os medos e expectativas, para trás.

****

De volta da memória, Hermione sorriu longamente: ela adorava se lembrar de todos os momentos do verão na Toca, e todos os que havia com Rony, em geral, mas, havia algo de especial naquele, e ela sabia que era, sobretudo, a ideia de tê-lo feito  se divertir e descontrair um pouco, como ele quem costumava fazer com ela e Harry. 

Não havia nada no mundo que tiraria de sua cabeça a lembrança do rosto dele iluminando-se com um sorriso honesto e sua risada livre, refletindo-se pelo jardim, pela casa e, na verdade, por todo lugar aonde ele estivesse, iluminando o que poderia ser a cidade inteira. 

Ela sentia falta dessa vista e daqueles momentos, da sensação tênue entre leveza e a tensão incerta de algo a mais quando estavam à sós, e de Rony em si, como realmente era, por mais que tentasse odiá-lo profundamente há semanas.

Não só o seu sorriso absolutamente deslumbrante e genuíno - como não via há tempos, desde que Lilá e ele entraram naquele mau estado -, mas também o mau humor dele pela manhã, subitamente melhor quando se sentavam para o café; as bochechas com sardas que coravam muito no frio e os lábios que ficavam bem vermelhos e marcados no calor. 

Também, por mais oposto ao seu que fosse, o jeito desleixado e característico como ele se afundava nas poltronas da sala comunal enquanto conversavam, e a gravata da Grifinória que sempre ficava um pouco solta, só até estar completamente desfeita sobre sua camisa branca, o que dizia tanto sobre seu desleixo e impaciência desde cedo, e agora ficava tão absurdamente bem nele. 

Agora, fazia tempo demais que Hermione não provava de todas essas coisas e embora achasse que ele merecia parte disso e, de longe, fingisse não ver, não havia passado despercebida sequer por um minuto a forma como ele parecia evitar Lilá ultimamente - e como quando não o fazia, estavam quase sempre discutindo -, e nem a forma mais mal-humorada do que o usual como ele estava se comportando nos últimos dias.

You say you're fine, I know you better than that
Hey, what you doing with a girl like that?

Ela havia visto mais de uma vez quando Harry, ou Fred e Jorge em tom de provocação, haviam perguntado a ele se estava mesmo bem, e ele respondera sempre, sem paciência alguma, que estava, quando ela não precisava de muito para saber que isso era uma bela mentira: Hermione o conhecia melhor do que isso, e tudo o que passava em sua cabeça quando testemunhava esses momentos era a enorme vontade de dizer a ele o quão óbvio estava sendo e perguntar, afinal, o que é que ele ainda estava fazendo namorando aquela garota.

She wears high heels
I wear sneakers
she's Cheer Captain,
And I'm on the bleachers
Dreaming about the day when you wake up and find
That what you're looking for has been here the whole time

If you could see that I'm the one
Who understands you
Been here all along
So, why can't you see?
You belong with me

Afinal, se ele queria alguém que estivesse ao seu lado de verdade, que realmente o conhecesse e gostasse de todas as coisas sobre o seu jeito, mesmo quando as odiasse, seria dela, que estivera ali o tempo todo, de que estaria falando.

Era Hermione quem o entendia, mesmo quando não gostava de admitir para não deixá-lo se gabar demais, e que estivera por perto desde tão cedo que, no seu lugar, estava tão claro quanto uma poção da sorte bem preparada: como ele podia não ver? 

Oh, I remember you driving to my house
In the middle of the night
I'm the one who makes you laugh
When you know you're 'bout to cry

And I know your favorite songs
And you tell me 'bout your dreams
Think I know where you belong
Think I know it's with me

Can't you see that I'm the one
Who understands you?
Been here all along
So, why can't you see?
You belong with me

Hermione se lembrava bem de caminhar com ele pelos corredores da Escola à noite, fazendo a tarefa de Monitoria, conversando tão fácil e tão perto sobre muitas das coisas que cruzavam suas cabeças àquela altura e depois voltando à Sala Comunal, geralmente exaustos mas, ela se lembrava também, com alguma relutância em se despedir à beira das escadas para os dormitórios, porque dizer que gostava tanto de passar aquele tempo com ele era, realmente, um eufemismo bem dado. 

Ele até ria de algumas coisas de que ela falava, às vezes de suas preocupações exageradas - e Hermione realmente não se importava tanto mais, desde que pudesse ver a forma como seu rosto relaxava quando o fazia e seus olhos se tornavam frestas de um azul brilhante inexplicável. 

Mas ela, é claro, ria muito mais vezes porque, afinal, Rony era tão melhor que ela com humor, sem se esforçar - era algo seu. 

E no entanto, ela repassaria na memória mesmo assim e, se pudesse, para todas as pessoas do mundo, os dias em que ela quem o fizera rir e distrair de todas as preocupações alheias - como naquele verão de 1996, no jardim da Toca. Isso era ela, e não Lilá: era ela quem fazia Rony rir; ela quem entendia seu jeito e era para ela que ele contava seus sonhos, mesmo antes daquele último verão, em todas as conversas no café da manhã e pela Sala Comunal.

De todo jeito, Hermione tornou a pensar, ela provavelmente ficaria o dia todo se perguntando a mesma coisa sem resposta, e ainda nem era chegado o aniversário de Rony - que fora um agravante para a sua mania de acordar pensando nele, ultimamente. -, então, quem sabe até lá, por um milagre ou coisa parecida, as coisas podiam se acertar de alguma maneira.

(...)

Maio, 1997

De fato, as coisas haviam se acertado: de uma maneira peculiar talvez e, em certo ponto, absolutamente indesejada, mas haviam. 

O aniversário de Rony fora extremamente conturbado, incluindo o envenenamento do garoto, que deixara Hermione tão preocupada e aflita que, é claro, não pudera mais colocar raiva alguma à frente das outras emoções, o que havia contribuído para que voltassem a se falar - sobretudo depois que ele havia murmurado seu nome enquanto dormia, na enfermaria: uma cena que Hermione repetia em sua cabeça sempre que podia.

E, para alegria da garota, dali para frente muitas coisas também contribuíram para que Rony ficasse, finalmente, de saco cheio de Lilá, e para que eles, enfim, terminassem: quando ela os havia visto descendo aparentemente sozinhos - Harry estava coberto pela Capa da Invisibilidade - do dormitório dos garotos.

Isso era uma coisa que Hermione não diria em voz alta, mas havia achado realmente satisfatório e, em certo ponto, engraçado.

Agora, ela e Rony estavam bem outra vez: é claro, Hermione continuava desejando que ele percebesse todas as coisas que se avivaram tanto para ela enquanto ele estivera com Lilá, mas, passado tudo o que havia acontecido naquele ano, ela achava que o modo ao qual estavam de volta era tanto quanto podia pedir por ora.

Sobretudo, considerando a vitória impossível da Grifinória sobre a Corvinal, que praticamente fechara aquele ano letivo com um gosto especial. Ela podia não entender de quadribol mas, havia ouvido Rony e Harry falarem demais sobre isso nas últimas semanas e as contas eram óbvias: quatrocentos e cinquenta a cento e quarenta era mais do que tudo o que precisavam para ganhar a Taça de Quadribol daquele ano, e de alguma maneira milagrosa, era exatamente o que haviam conseguido.

Ao fim do jogo, Hermione duvidava que pudesse sequer falar direito, tendo gasto tanto sua voz aos gritos: havia sido um jogo realmente emocionante, com defesas incríveis de Rony, grande competitividade entre artilheiros e batedores de todos os lados e uma notável liderança de Gina a todo o tempo, na ausência de Harry. 

E enfim, ela viu Rony erguer a Taça de Quadribol e berrar em meio à multidão de grifinórios que cercava a ele e a todo o time da Casa; a festa na Sala Comunal quando, sob vivas e palmas que ecoavam por todo o castelo, haviam chegado até lá; e depois Harry e Gina - finalmente! - se beijando à beira do retrato da Mulher Gorda, para a surpresa não dela, mas de muitos: estava sendo um dia cheio de boas surpresas e acontecimentos memoráveis - o que, é claro, apenas dava mais alento e energia à sua vontade de encontrar Rony em meio a todas aquelas pessoas.

Pra essa última parte, devia admitir: talvez a cerveja amanteigada que surgia magicamente a toda hora em sua caneca, pega de Hogsmeade de alguma forma ilegal com que ela não iria compactuar se estivesse cem por cento sóbria, estivesse contribuindo de alguma forma também. Afinal, Hermione não era de fazer coisas impulsivamente, sem pensar muito antes e, no entanto, ela estava começando a nutrir um tipo de coragem inconsequente para ir atrás de Rony logo, correndo o risco de dizer a ele o que quer que viesse à cabeça na hora em que o visse. 

Standing by and waiting at your backdoor
All this time how could you not know, baby?
You belong with me
You belong with me
You belong with me

Enquanto processava esse sentimento junto a toda a euforia, no entanto, ela conseguiu se manter parada à beira da escada que dava para o dormitório dos garotos, esperançosa de que ali, quem sabe, Rony a encontrasse primeiro do que ela, e sua felicidade gritante, a ele. 

Esse era o tipo de felicidade que a fazia se dar conta das partes muito boas, do que quase sempre detia em nome de atitudes mais racionais e coerentes com os devidos momentos, e que quando se deixava sentir era realmente libertador, com um quê de adrenalina que dava coragem para todas as suas vontades e ideias favoritas, como a que estava agora. 

Agora, quando ela queria simplesmente abraçar Rony de verdade e dizer a ele que estava tão orgulhosa e feliz, que ele jogara tão bem, como ela sabia que iria e era totalmente capaz - ao contrário do que parecera há jogos atrás, quando pensara que ele havia tomado a sorte líquida. 

A verdade era que, por mais que houvesse se esforçado para odiá-lo e tivessem se afastado tantos nos últimos meses até que ele e Lilá terminassem, aquela fora provavelmente uma das coisas mais difíceis que fizera na vida até então. 

Ela gostava tanto de estar perto de Rony, até mesmo quando ele dizia coisas estúpidas, quando era teimoso demais para considerar que estava errado, e terrivelmente orgulhoso também. Ele a fazia rir tanto, céus, até mesmo das coisas erradas, mesmo quando não ria em sua frente para não lhe dar o gosto. A lealdade que havia nele, a coragem que ele não reconhecia, mas que ela podia jurar, vira tantas vezes desde cedo, como quando ele se sacrificara no xadrez-bruxo de McGonagall no primeiro ano, eram algumas das coisas que mais adorava conhecer.

Além disso, mesmo quando não estava ao seu redor, Rony estava em sua cabeça, lá e cá, o tempo todo, e ela não sabia se podia ser mais óbvia do que tentara por tantos anos desde que havia entendido o que sentia, mas queria dizer isso a ele, queria que ele percebesse - como até mesmo Lilá percebera, porque havia terminado com ele apenas por vê-los sozinhos.

Ainda assim, de alguma forma, ainda que tivesse a sensação, a intuição provavelmente, de que Rony se sentia da mesma forma - talvez só um pouco mais confuso, porque ela sabia, ele podia ser realmente péssimo com coisas sutis e exigentes, como os sentimentos eram -, a ideia de que poderia reagir mal à qualquer coisa que dissesse não estava fora de sua cabeça, e ela definitivamente não queria arruinar aquela amizade - não agora que haviam acabado de voltar a se falar.

Essa ideia, no entanto, assim como todas as outras, sumiu no exato momento em que avistara uma figura alta de cabelos ruivos vindo em sua direção. 

Hermione largou a caneca quase vazia na mesma hora, sobre a mesa de canto onde uma criança acabava de largar pequenos doces de embalagens coloridas, e quando encontrou aquele par de olhos azuis sorrindo para ela, o único no mundo, seus lábios se esticaram sem esforço e seu coração palpitou exageradamente na cavidade. 

Ele inclinou a cabeça, sorrindo de volta e abriu um pouco os braços enquanto andava lentamente: poderia ter sido apenas para gesticular, mas Hermione nunca saberia, porque noutro instante estava correndo e se jogando neles com ânimo.

Depois disso, todas as coisas ao redor pareceram simplesmente desaparecer, perder toda a importância, e subitamente doar suas cores e o ar com que se tornavam vivas para ele, e a forma como a abraçou de volta, tirando seus pés do chão de uma forma que agitou seu estômago e a fez rir gostosamente, sem previsão.

E de repente, mesmo que aquela pudesse ter sido uma reação imediata e impensada dele, não importava para Hermione: qualquer que fosse o sentimento ou ideia que o tivesse feito agir naquele retorno, ela aceitaria porque não havia nada no mundo que, de repente, se comparasse ao impacto contra o corpo alto e caloroso dele, o perfume sutil nos cabelos ruivos dele tão perto de seu rosto quando alcançou seu ombro, e a nuca quente e firme sob seus braços fechados ali, mais todas as coisas que poderia decorar sobre aquele momento se não estivesse tão ocupada, impossivelmente, o vivendo tão bem quanto podia. 

O que durou até o momento em que ele a colocou de volta no chão, quando ela sentiu as borboletas finalmente abaixarem o voo agitado em seu estômago, e então conseguiu dizer antes que se afastassem:

—Foi um jogo esplêndido, Ron! - ela disse , sorrindo largo, e Rony sorriu quietamente, pousando-a de volta no chão.

E quando o fez, à frente dos dois, houve uma distância pequena, para a qual hesitantemente deram meio passo para trás. 

Ela viu Rony esfregar a nuca, mas o sorriso ainda em seu rosto que agora se tornava escarlate, e Hermione sentiu suas bochechas esquentarem também, baixando os olhos só até retomar o que queria dizer.

—Você foi incrível. - ela disse, erguendo os olhos para ele, que segurou um esboço de sorriso no rosto, corando mais, quando Hermione se corrigiu, não podendo evitar - Todos vocês, é claro, mas você foi... Brilhante.

—Ah, imagine, eu... - ele encolheu os ombros, umedecendo os lábios, e ela o viu balançar a cabeça levemente. - Ah, obrigado, Mione. Fico feliz que você ache... que você tenha... - ele gaguejou, desconcertado, e Hermione segurou o riso, sorrindo com a cena.

Ela realmente achava que ele ficava ainda mais bonito daquele jeito, e realmente adorável. 

E não sabia se estava encarando demais, mas a forma como suas bochechas ficavam muito coradas, sem saber o que dizer: havia uma graciosidade em particular, ela achava. Era quase como se pudesse ver seu coração daquele jeito, sem todo o tom orgulhoso e indelicado que ele podia ter às vezes. 

Apenas Rony, sensível, mesmo sem o jeito certo de expressar, mas que estava sempre lá.

Have you ever thought just maybe
You belong with me?
You belong with me

E para o qual, com sorte e algo um pouco mais forte do que a cerveja amanteigada, que realmente desse a ela a coragem que achava ter sentido antes - e que agora estava longe, turva pelos efeitos de todas as outras emoções que ele fazia agitar em seu peito -, poderia dizer melhor a única coisa que passava por sua cabeça:

Será que você já pensou, só talvez,

Que o seu lugar é comigo?

O seu lugar é comigo.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem até aqui! Espero que tenham gostado.

Se cuidem, beijos e até a próxima! ♥



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