Minha vida de gato vira lata - SasuSaku escrita por SrtaAthena


Capítulo 3
Capítulo III - No covil do lobo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/804621/chapter/3

O barulho dos pneus do táxi soaram em meus ouvidos assim que saí do carro, encarando o casarão de cima a baixo mais uma vez. Meus dedos suavam, minha garganta seca denunciava minha ansiedade em tocar naquele pedaço da minha história, esquecida bem no fundo do baú chamado vida.

Apanho todas as minhas forças, soltando um suspiro pesado, apertando a campainha incrustada na pedra lisa do pequeno muro que separava o terreno do casarão da rua pública, conseguindo ouvir os sinos suaves tocando ao fundo daquelas paredes duras. 

Não contei nem dois minutos para que uma das serventes da casa viesse abrir os portões pra mim. Uma mulher alta, magra e com vestes de empregada surgiu por trás da madeira escura da porta da frente, com os cabelos escuros alinhados em um coque alto, com muito gel para deixar do gosto dos patrões. Os saltos medianos fizeram barulho no caminho de pedra lisa, mantendo um sorriso simpático nos lábios sem um pingo de maquiagem - nem um cacau pra deixar hidratado, nossa, como eram ressecados.

— Srta Haruno, mestre Neji estava lhe aguardando_ ergo uma sobrancelha, tentando catar alguma informação de que o moreno tivesse adquirido uma bola de cristal para saber da minha “visita”.

Talvez fosse a carta que nem abri. 

— Hum_ respondo ao passar pelo portão de ferro, não esperando que a jovem me guiasse por aqueles corredores escuros. Fui entrando sem rodeios, mesmo que no fundo estivesse tremendo.

 

O cheiro de coisa velha agoniou meu nariz assim que adentrei ao lugar. O fedor de ácaro veio forte, atiçando minha renite de imediato, a sala grande com os móveis antigos da família estavam cobertos por panos brancos, deixando apenas os quadros luxuosos e o enorme relógio vintage de fora da censura dos tecidos limpos e arrumados. Não demorou pra ouvir o barulho dos saltos alfinetando meu cérebro, assim como o perfume de lavanda velha que exalava de seu uniforme preto e branco.

— Por que os móveis estão protegidos? _ questionando, vendo-a fechar a porta devagar, limpando as mãos no avental não tão branco, me encarando com os olhos grandes e castanhos. 

— Não tenho permissão de dizer nada a Senhorita, nada que não seja permitido pelo mestre Neji, perdoe-me _ ergo uma sobrancelha com aquelas palavras desconfortáveis, me perguntando por que tanto segredo. Se bem que, foda-se, não ligo também.

— Entendi.

— Por aqui, por favor_ a morena me indicou o corredor que dava acesso aos cômodos do fundo, indo na frente, como um guia turístico de viagem barata.

O corredor era largo e dava acesso até o quintal se seguisse reto. Ao redor algumas portas fechadas, quadros, bustos cobertos para não ficarem cheios de poeira, assim como as outras peças daquela casa. Me pergunto se Neji iria me esperar vestido como um fantasma, de vestido branco, pronto para me assustar até o último fio de cabelo da minha cabeça. 

Ao chegarmos no meio, quase chegando nos fundos do casarão, dobramos na cozinha, atravessando o cômodo estranhamente silencioso, passando por mais duas portas até ficar de frente com uma porta dupla, de centro a uma encruzilhada, na qual dava a mais corredores, andares e locais vazios - já ocorreu de passar horas desbravando o mundo que residia em cada saleta daquele lugar, como se fosse uma aventureira em busca de tesouros escondidos atrás de quadros e lareiras frias, com brasas tão escuras quanto o céu em período de tempestade.

— Qual seu nome?_ pergunto no momento que a jovem levantou o braço para anunciar nossa chegada. Seu pescoço exposto se virou o suficiente para me olhar de soslaio.

— Tenten_ arregalo os olhos de leve, lembrando automaticamente do nome e da pessoa, mas não consegui pronunciar o que ficou entalado na minha garganta. Neji era um doente filho da…

Tenten bateu na porta com a mão fechada, recebendo a permissão quando a voz rouca do Hyuga soou por detrás da madeira depois de meio segundo. Os dedos longos da mulher esguia apertaram o par de maçanetas brilhantes, puxando ambas ao mesmo tempo, ouvindo as portas deslizarem suavemente para o lado em sincronia, junto com o som irritante de tic tac do relógio da sala, parecendo uma alma solitária que apenas tentava ter o mínimo de atenção dos moradores daquele lugar.

Apoiando-se nos saltos grossos, a jovem se virou nos calcanhares, me dando passagem para o antigo escritório do velho Kizashi. Aperto minha bolsa devagar, dando um passo de cada vez, encarando a silhueta bem vestida, sentada atrás da mesa grande, cheia de papéis e pastas de cores distintas. 

A porta se fechou atrás de mim, conseguindo ouvir as batidas frenéticas do meu coração, tentando não olhar diretamente para ele, principalmente agora que estávamos sozinhos.

Caminhei pelo escritório, olhando as estantes abastadas de livros de capa dura, com tons frios e quentes se mesclando entre as prateleiras largas, com separadores de livros e outros objetos decorativos perfeitamente alinhados - como se estivessem uma posição certa para ficar eternamente. Sinto o olhar do Hyuga me queimando por trás, como se fosse milhares de agulhas finas, chamuscadas como ferro em brasa, mas não o olhei, continuei naquela nostalgia, mesmo que a maioria dos objetos de minhas lembranças estivessem no porão daquele lugar. 

A lareira apagada estava perfeitamente limpa, como se nunca tivesse sido usada na vida. Os tijolos avermelhados, o piso brilhante pela cera, as paredes em tons claros para deixar o ambiente mais iluminado. Caminhei um pouco mais, acariciando o acolchoado da cadeira de veludo escuro, sentindo o cheiro de madeira antiga, misturado com produto de limpeza, trazendo minhas memórias olfativas a tona, querendo me afundar em dias ensolarados de quando ficava horas desenhando naquele lugar enquanto papai trabalhava.

— Já parou com a nostalgia? _ abro os olhos suavemente, levantando o olhar para o dono da voz irritante, encontrando os olhos acinzentados me analisando minuciosamente.

— Você já foi mais educado _ debocho, puxando a cadeira devagar, deixando minha bolsa em cima.

— Perdão, acho que deveria medir minhas palavras com a minha querida priminha rebelde _ ergo uma sobrancelha, cruzando meus braços na frente do peito_ Mas, na minha opinião, acho que ela já está acostumada com esse tipo de palavreado.

— Vá a merda seu burguês filho da puta_ escancaro meu “palavreado”, sendo Neji soltar risadinhas pelo nariz empinado. Como ele me irrita.

— Você gostava da minha mãe.

— Realmente, se quiser eu posso usar outros xingamentos que lhe cairiam melhor, tipo, parasita, sobrinho de um escroto matador de mulh-

— Meça suas palavras para falar do meu tio, sua mulher promíscua _ sou interrompida, sentindo meu sangue ferver pelo uso daquela palavra, com meus dedos coçando para estalar os 5 naquela cara pálida e esnobe.

— Prefiro ser promíscua a ser uma pessoa sebosa como você e sua família de parasitas, comedores de felicidade e tudo de bom que aparece no caminho de vocês.

Neji parou, bufando de raiva, totalmente fora da sua caixinha de homem sedutor e alheio ao que acontecia ao seu redor. Passou a mão nos cabelos escovados, suspirando uma ou duas vezes para não perder o controle - não mudou nada nesses anos, continua o mesmo riquinho mimado de sempre.

— Chega, não é disso que temos que discutir, Sakura_ reviro os olhos, puxando minha bolsa, tirando o envelope de dentro da zona arrumada.

— Realmente, eu só vim te devolver essa merda_ jogo o envelope na cara do Hyuga, me contendo para não ir junto a minha mão fechada _ Eu não quero nada que venha de vocês.

— Está agindo como a criança que você sempre foi _ ele apanhou o envelope amassado, colocando-o em cima da mesa, como se tivesse toda a paciência do mundo. Quem estava bufando a segundos atrás mesmo?

— Falou o homem de 30 e poucos anos que ficou correndo pras saias da mamãe até não sei quando, pode ser que ainda corra não é mesmo? Nunca se sabe.

Dou um sorriso de canto, não tirando minha atenção daquele projeto de homem nem por um segundo. Neji arrastou a cadeira alta para trás, levantando em um único movimento, abotoando o blazer branco que usavam, balançando a cabeça negativamente. 

— Pelo menos a minha mãe ainda está viva, não é verdade? _ aquelas palavras soaram como o pior soco no estômago que já recebi em toda a minha vida de merda. Minhas barreiras caíram no instante em que Neji se calou, mantendo um sorriso cínico nos lábios, mantendo as mãos nos bolsos, como se tivesse ganhado na loteria. 

— Você é nojento, Neji _ sussurro, apertando meu braço com força, ouvindo as fibras do casaco se partindo com a força da minha unha, segurando para não chorar na frente daquele homem escroto.

— Não tanto do que sua querida mamãe, priminha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Minha vida de gato vira lata - SasuSaku" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.