Alguns dias se passaram. Uma jovem garota tomava o trem, sozinha, na estação Minami-Kofu. Enquanto viajava, uma sensação de liberdade tomava conta de si. Esta sensação só não era maior do que o medo que lhe acompanhava, justamente por estar indo para um local desconhecido por si. Pela janela, uma mistura de plantações e casas, com o ocasional verde.

Em um momento, a voz do metrô anunciava a estação de Joei, na qual ela saltaria, e ao descer, deparou-se com um estacionamento para bicicletas. Olhou no mapa e logo para seu papel ao qual estava anotado algumas referências. Seguiu seu caminho a passos firmes, e após alguns minutos, conseguiu encontrar a casa a qual procurava, tocando a campainha.

— Já vai…

A voz de uma mulher ressoou de dentro da casa. A surpresa veio ao abrir da porta que dava para o lado de fora.

— Ara! Akane-chan… quanto tempo…

— Já fazem dez anos, Kaa-san…

— Como você cresceu. Você realmente ficou uma moça linda…

— Obrigada…

— Ah, por favor, entre.

— Então, me perdoe a intromissão…

Akane então entrou, e a mãe de Yuuki a recebeu de forma aconchegante. Ela olhou em volta por um momento, prestando atenção na casa a qual o rapaz morava antes de ir para o dormitório. A mãe queria chamar Yuuki pelo telefone, mas imaginou que este estaria ocupado no colégio naquele horário, e desistiu.

A menina almoçou e conversou com a mulher, colocando alguns assuntos em dia com ela, assegurando como o filho dela estava ansioso pela sua vinda, o que levantou o interesse dela. Ao perguntar a respeito de moradia, Akane a respondeu dizendo que estava planejando se mudar para um lugar próximo da casa do menino, mas que ao saber sobre este ter se mudado para o dormitório, ela estava planejando fazer o mesmo, já que não teria apoio familiar para alugar uma casa e nem aonde ficar enquanto procurava um emprego, a qual a mãe do menino se disponibilizou, mas ela gentilmente recusou.

— Kaa-san… na verdade, vou precisar um pouco da sua ajuda…

— Com o que, querida?

— É que eu sozinha não vou poder me matricular, pois sou menor de idade, preciso de um responsável comigo…

— Eh? Mas e quanto ao seus pais?

— Meus pais…

A menina então olhou os papéis, com um olhar um pouco vazio, como se viajasse em sua mente antes de retornar a si…

— ...Não daria certo com eles… por isso estou pedindo a senhora.

— Hmm… Não estou entendendo muito bem, mas se precisa da minha ajuda quanto a isso, não vou recusar seu pedido.

— Obrigada. E me desculpe o incômodo.

— Que nada, só estou fazendo o que creio ser o certo.

…

— Com licença… boa tarde. Eu gostaria de fazer a transferência dessa menina para essa escola.

— Certo, vou precisar dos documentos de transferência para poder concluir o processo.

— Ah, aqui estão.

A mãe de Yuuki então entregou os papéis da menina à diretora, que verificava a respeito.

— Muito bem… Ensino Médio… 16 anos… Temos uma classe que tem um lugar vago. Vocês deram sorte, pois era a última. Aqui, este é o uniforme que você usará.

— Quando que ela começa?

— Depois de Amanhã.

— Entendo… Ah, e mais uma dúvida. Ela se informou a respeito, e gostaria de saber se o dormitório da escola tem uma vaga para ela também.

— Bom, vou ligar para lá para saber…

Pegando o telefone, discou um número e aguardou alguém atender. Após um instante de conversa, o telefone fora desligado, e informou que havia sim um quarto disponível no dormitório. Tendo recebido o uniforme, retornaram para a casa do garoto.

— Que bom, não é, Akane-chan… Agora você vai poder finalmente reencontrar o Yuuki.

— Espero que eu tenha a sorte de cair na classe dele… Já faz tanto tempo…

— Ele também anseia bastante te ver… Tanto que escreveu um cartaz, no qual dizia que o objetivo de vida dele era te reencontrar.

— Entendo… Kaa-san, como ele está atualmente?

— Curiosa?

— Um pouco…

— Bom, eu prefiro que você mesmo o veja com os próprios olhos ao invés de eu te dizer.

Dois dias se passaram desde então. Akane já estava vestida em seu uniforme, e se olhava no espelho do banheiro, antes de pegar sua mochila e, despedindo da mãe de Yuuki, partiu de volta à estação de Joei, em direção à Fujinomiya, aonde saltou e em passos apressados correu em direção ao colégio. Chegou esbaforida, mas tomou seu fôlego antes de ir para sua classe. Naquele dia, não chegou a esbarrar com Yuuki, mas acabou por o ver distante, e o reconheceu de cara, porém, não chamou sua atenção, pois tinha planejado algo.

A mesma fora apresentada na sua sala, que para azar dela, não era a mesma do rapaz, que a desapontou um pouco. Todavia, isso não importava, pois estava feliz de estar no mesmo colégio que ele.

…

O soar do sinal indicava que o período de intervalo estava começando. Yuuki, como sempre, ia para o refeitório para poder comprar algo para comer. E desta vez, ele estava um pouco pensativo e apreensivo. A garota o observou e se escondeu, ainda se mantendo próximo do rapaz.

— Minha mãe disse que era provável que a Akane-chan fosse transferida para a minha escola… Quando que ela será que vem?

— Talvez devesse perguntar a ela. Ela deve saber, não?

Uma voz diferente da qual ele estava acostumado a ouvir, mas que pareceu um pouco familiar a seus ouvidos veio por detrás dele. Quando se virou, lá estava ela: sua altura era igual a dele, seus cabelos haviam crescido um pouco além do busto, sua voz estava diferente da que era na sua infância assim como sua mãe lhe dissera. Olhos cor de mel, cabelos castanhos, um porte esbelto para sua idade e com um encantador sorriso em seu rosto.. O rapaz não podia acreditar em quem estava diante de seus olhos. Mas não havia de se enganar: era ela.

— Você… Você é…

— Quem mais eu poderia ser?

— Akane...chan?

— Há quanto tempo… Yuuki-kun…