— Bem… é que… acho que você ficaria mais bonita com as roupas que você costuma vestir casualmente…

— Eh?! – Novamente, a menina se avermelhou como um tomate diante das palavras dele.

Não aparentava ser nada fora do comum para ela, pois independente do uniforme ou de roupas normais, ela permaneceria a mesma. Certamente não tinha a mesma visão a qual Hisashi tinha dela. Para ele, era como se ela fosse uma boneca viva, dado seu porte delicado, sua meiga voz, seu olhar puro. Tudo nela, mesmo sua vergonha, era motivo de encanto aos olhos do menino.

— Você… acha?

— Acredito que sim.

Retomaram a caminhar até a casa da garota, e pelo caminho, ela começou a pensar com cuidado a respeito daquilo. Vez ou outra, lançava um olhar de canto de olho para o menino, como se o examinasse, com o intuito de obter algo, até chegar em seu lar.

— É aqui.

— Não é tão longe do colégio. Mais ou menos um pouco mais longe do que o caminho de lá para o dormitório. Bom, então nos vemos semana que vem?

— Claro. Até…

Yuuki se virou para retornar para o dormitório. Todavia, poucos passos lhe foram dados antes de sentir alguém a segurar seu uniforme por trás: era ela, que ao mínimo contato visual entre seus olhares, o desviou ao chão.

— Você… está disponível domingo?

— Depois de amanhã?

— N-Não, não… no outro domingo…

— Ah… claro, não tenho planos para domingo que vem.

— C-Certo… se incomoda se… eu te pedir seu contato?

— Celular? Não, não vou me incomodar de forma alguma.

Eles então trocaram entre si informações de contato. Abruptamente, ela se despediu e correu para dentro de casa, o que ele achou um pouco estranho, antes de seguir seu rumo.

Na casa da garota, ela não deu nem chance para que sua mãe pudesse lhe cumprimentar: correu escadas acima e adentrou seu quarto, e fechando a porta atrás de si, perdeu a força nas pernas e acabou sentando no chão. Sua respiração estava um pouco ofegante, seu coração batia muito, seu corpo tremia de nervosismo, enquanto olhava para o próprio celular. O que para muitas meninas parecia algo corriqueiro, para ela era como uma enorme conquista.

Ela fez questão de se jogar na cama, e com seu celular ainda em mãos, conversou justamente com Shizue a respeito. A morena, claro, a parabenizou pelo feito de sua amiga, que morria de vergonha do outro lado da linha.

No caminho de volta para casa, Yuuki se deparou com Akane, encostada no muro dos portões do colégio; ela estava o fitando e pelo seu semblante, não estava nada alegre.

— Imagino que o passeio tenha sido agradável…

— Ainda está brigada comigo…

— Pra quem teve a sorte de ver duas calcinhas, está até de bom grado--

Ele então correu para silenciá-la, pondo a mão em sua boca.

— Fale baixo, alguém pode escutar. E também, não vi porque quis…

— Ah não, totalmente não foi o motivo de você ter ficado atrás delas, não é?

— Queria que eu visse a sua ao invés disso? – E ao dizer isso, a moça se envergonhou, ruborizando.

— Se você fizesse isso, eu te mataria! Vamos.

Ela então partiu dali com ele para o dormitório. Assim como com Ikehara, ele também a observou dos pés a cabeça durante o percurso; ela olhou para ele de canto de olho, antes de tornar a prestar atenção no caminho.

— O que?

— Nada, só estou percebendo como você é diferente no uniforme da escola e casualmente…

— Nada fora do normal, o uniforme tira o charme de muita menina por aí…

— Mas por que você usa meias pretas ao invés das meias brancas que dão na escola?

— Não tem muito motivo além de preferência. Além do mais, nunca reclamaram sobre isso, então…

E continuaram a conversar, colocando os assuntos em dia a respeito de ambos. Através daquele papo, Hisashi fora envolvido na energia positiva que emanava de Miyagi, mas ela logo cortou seu barato o fazendo lembrar do incidente ocorrido. O rapaz, para não perder a positividade, pediu desculpas a ela por aquilo, e de bom grado, ela o perdoou, avisando para que este tomasse mais cuidado dali adiante.

No dormitório, ao chegarem, banharam-se. Ao ver ela vestida de forma mais relaxada, fez questão de olhá-la de cima a baixo, lembrando do que sua mãe dissera sobre ela ter se tornado uma bela jovem; agora ele percebia nos mais intrínsecos detalhes o que sua mãe queria mesmo dizer.

— Algo atraiu seu olhar?

— Eh?! Ah, não, é que…

— Não? Parecia estar me encarando como se estivesse desacreditado, sonhando acordado…

Ele ficou sem palavras. Buscava por uma resposta para entregar, mas nada lhe vinha a mente. Bastou para que ela colocasse um sorriso jocoso em seu rosto.

— Yuuki-kun, que tal aproveitarmos o dia de amanhã para passearmos?

— Passear… tipo um encontro?

— ...se quiser ver dessa forma…

Combinaram então um horário para se encontrarem no dia seguinte, e seguiram a jantar aquela noite. Durante o jantar, Shiori bateu o olho em Yuuki e em Akane, que ao perceberem, perguntaram se havia algo em seus rostos, para o qual ela respondeu “nada”. A sensei viu aquele momento como uma oportunidade para poder jogar fogo na lenha, e provocou os dois. Miyagi parecia estar preparada, pois para cada oportunidade da mulher, ela conseguia virar o jogo. Somente quando a mais velha começou a aumentar a temperatura dos tópicos foi que não somente a moça quanto Yuuki se desestabilizaram. Suas demonstrações de vergonha a respeito do assunto fez a mulher rir, já que ela tratou aquilo como uma brincadeira. Brincadeira essa que para eles parecia algo bem sério, afinal, tocar naquele assunto ainda lhes era tabu.

Após o jantar, foram cada um para seus quartos. O celular de Yuuki tocou, e ao olhar a notificação, este viu que era Ikehara, que lhe enviou uma mensagem.

— Yuuki-kun, como vai nessa noite?

— Emiko-chan. Vou bem, e você?

— Também vou bem.

— Você parece diferente pela internet.

— É porque você não está me vendo. Estou nervosa.

— De falar comigo?

— Sim.

— Ansiosa pelo Domingo que vem?

— Por favor, nem diga isso. Quanto menos na minha memória, melhor.

— Apesar de que vai ser impossível né…

— Ainda temos uma semana.

Ficaram ali por algum tempo, jogando conversa fora. As conversas foram ficando cada vez mais esparsas, já que a menina não era muito de falar, por conta de sua introversão. Depois de algumas mensagens, pararam. Cada um estava na sua cama, pronto para poder dormir. O garoto, antes de fechar os olhos, acabou se imaginando dormindo com uma das garotas ali, abraçado, e balançou a cabeça, de forma a tirar aquela imagem da mente, a fim de poder dormir.

Na outra manhã, Yuuki permanecia adormecido, até um som de cortina, seguido de um clarão o despertou em surpresa.

— Vamos levantar, belo adormecido, já está de manhã.

— Akane… mas é domingo e de manhã ainda…

— Independente do dia, é bom você se acostumar a acordar cedo. Quem acorda cedo, não se atrasa pra vida.

— Ah céus… como que você conseguiu entrar, hein?

— Eu pedi a Sensei a chave do seu quarto emprestado. Ela disse que eu poderia fazer uma cópia se quisesse.

— Iya iya iya iya, isso parece muito errado…

— Não quer que eu te acorde toda manhã?

— Não, não é isso que eu quis…

Ela então o empurrou de volta a cama, e como um charme, puxou seu cabelo de lado, para trás da orelha, e o olhou pelo lado da cama.

— Não quer mesmo que uma linda garota te desperte pela manhã?