Love fades (mine has) escrita por Martell


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olha eu de novo kkk
Enfim, mais uma fic para esse projeto maravilhoso que é o November Hinny, um pouquinho diferente, mãos curtinha do que as outras, mas espero que vocês gostem.

Como sempre, uma playlist: https://open.spotify.com/playlist/0yV3o2vX8LnWu5bSA3dJrR?si=qxaanHyLT36TqUOgldimWw

Não foi betada, we die like all the marauders e etc…
Enfim, boa leitura!



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Ginny soube, desde a primeira vez que ouviu o seu nome, que iria se casar com ele. Era uma crença boba e infantil de uma garotinha deslumbrada com histórias de um herói forte, corajoso e galante, mas algo dentro de si pulsava com uma certeza que não conseguia explicar.

Estava certa, é claro, como costumava estar sobre suas intuições. Na verdade, havia casado com o garoto de óculos quebrados e roupas grandes demais que vira pela primeira vez com 10 anos, não com o príncipe que havia criado em sua cabeça. Ele era tão dolorosamente real que tornava impossível esquecer que ele, Harry, a amava, não o herói das histórias de ninar — porque o Harry que Ginny achava que iria se casar não existia.

O Harry real era teimoso e sarcástico a ponto de beirar o cruel, odiava perder, estar errado e quando o contrariavam deliberadamente. Não prestava muito atenção nas pessoas que não fossem os seus amigos e estes ele poderia contar em uma mão, soando insensível ou arrogante para quem não o conhecia. Sua vontade de carregar o mundo inteiro em suas costas o colocava em risco constantemente, a ponto de parecer que ele estava apaixonado com a ideia de uma morte violenta.

Ginny havia se casado com o homem que acordava cedo todos os dias e preparava café para os dois, a enchendo de beijos preguiçosos quando demorava a levantar da cama, traçando delicadamente o seu rosto como um artista observando a mais pura arte, seus dedos calosos de anos de trabalho manual. Havia se apaixonado pelo Harry que a carregava para a banheira, que secava e penteava o seu cabelo todas as noites antes de dormir, parecendo deslumbrado com o tom de ruivo — ou apenas deliciando-se com a forma que derretia em suas mãos.

Era muito mais do que havia sonhado — porque o Harry que desejava se casar quando era uma criança era mais abstração que pessoa, um ser direto das histórias de sua mãe, perfeito, imutável em sua glória. Mas havia visto o garotinho magrelo perdido na plataforma 9 e ¾ , tão diferente da imagem absurda que formara em sua cabeça, e mesmo assim soube, naquele instante, que esse seria o seu futuro marido.

Não importava quantas pessoas conhecesse ou namorasse, quantas ameaças e guerras e perdas precisasse enfrentar: no fim do dia, acabariam se voltando um para o outro. Ela raramente estava errada, não quando era sobre algo importante como o seu futuro. 

Ginny sempre soube, em seu íntimo, que se casaria com Harry Potter e assim o havia feito. O que não havia previsto era estar dizendo adeus ao seu marido após um casamento de quinze anos, mediada por inúmeros advogados de cada lado, o odiando na mesma intensidade que havia o amado.

Não que seus sentimentos positivos por ele tivessem desaparecido, na verdade nem mesmo era justo dizer que havia parado de amá-lo, pois ainda o fazia com uma intensidade destrutiva, que levava lágrimas aos seus olhos todas as vezes que deitava em uma cama sem ele. O perfume amadeirado que costumava usar a muito havia sumido do travesseiro em que dormia e o seu lado do guarda-roupa estava vazio a alguns meses. Ginny havia aprendido a fazer o próprio café.

Sabia, também, que Harry a amava, não mais ou menos do que antes, sofrido e genuino, um pedaço do seu coração que havia entregado anos atrás e nunca pedira de volta. Talvez por isso ele não conseguisse a olhar nos olhos, reconhecendo os fragmentos de si que deixara para trás que Ginny guardava gananciosamente, como se ainda tivesse algum direito de possuir qualquer parte dele.

Porque eles se amavam, tanto, a ponto de não conseguirem suportar o que sentiam. E talvez por isso as brigas costumavam ser tão violentas, rasgando pedaços um do outro em seu desejo de nunca se separarem — porque Harry e Ginny se amavam e se odiavam e não havia maneira de viverem juntos sem se destruírem no processo. 

Eram parecidos demais e diferentes demais, concordando por motivos errados e discordando em pontos fundamentais. O relacionamento era explosivo de uma forma que havia deixado de ser saudável muito antes da reta final, mas ambos eram teimosos, incapazes de aceitar que o conto de fadas não fazia mais sentido. Porque Harry odiava estar errado e Ginny sempre estava certa, então como poderiam admitir que o seu casamento estava em ruínas?

E, quando parava para pensar profundamente, quando era tarde da noite e deitava-se com seus cabelos em nós na cama que haviam dividido, sabia que o problema não era amor ou a falta dele, porque não havia uma parte de Ginny que não fora devota a Harry desde o momento em que a salvara — quando, com apenas 11 anos, havia acordado em uma câmara escura e ensopada nos braços do amor da sua vida. Mas devoção não era paixão, não de verdade, e havia cansado de fingir que estava apaixonada por Harry. Não tinha certeza se Harry algum dia havia se apaixonado por ela.

Amavam-se profundamente, isso era óbvio, mas não se gostavam muito, pelo menos não mais. Hábitos que costumava achar fofos ou engraçados gradualmente tornaram-se insuportáveis, seu sarcasmo não soava mais divertido e sim irritante, suas mãos em seu corpo a deixavam desconfortável.

Sabia que Harry não suportava mais o som da sua risada, quando chegava do trabalho cansado, seu rosto se contorcendo involuntariamente em uma careta de desgosto que logo era substituída por culpa.

À noite ele não queria mais pentear seus cabelos, mais entretido com um dos livros de ficção que seu colega havia indicado — um que verdadeiramente gostava e não fingia gostar para aplacar Ginny, com suas escolhas de livro que nunca o agradavam.

Os beijos de manhã se transformaram em um sacudir de ombros fraco, até ela levantar da cama e o seguir para a cozinha. Ginny não era mais a escultura perfeita que havia moldado, apenas um modelo defeituoso que não tinha coragem de descartar.

Mas nenhum dos dois estava pronto para encerrar a farsa que chamavam de casamento, não quando sabiam que se amavam de uma maneira dolorida, beirando o masoquismo — Ginny, as vezes, olhava para Harry e via o homem a quem dissera sim no altar, anos antes, quando eram jovens demais para entender as escolhas que estavam fazendo. Harry, algumas noites, ainda a beijava como se fosse tudo o que desejava no universo, como se a tocar fosse um privilégio que não sabia como havia conseguido.

Mas as brigas depois desses momentos eram ainda piores, lembrando que nada estava resolvido e que horas de harmonia não apagavam o ressentimento que pairava entre eles. E não havia motivo concreto para as discussões, não era por ciúmes ou por insegurança, nem uma questão de infidelidade ou coisa do tipo. Brigavam por brigar, por Harry não querer ir no jogo de quadribol após um caso particularmente difícil ou por Ginny se recusar a cancelar os seus planos só porque ele havia decidido não a acompanhar. Discutiam por Harry ficar muito tempo no trabalho ou por Ginny ter que viajar com o seu time, nenhum dos dois querendo colocar o outro como prioridade.

A verdade é que haviam se casado cedo demais, Ginny com apenas 20 anos e Harry apenas um ano mais velho, ainda entrando na fase adulta, deslumbrados demais um com o outro para entender que teriam que fazer compromissos que não estavam prontos se quisessem equilibrar o matrimônio com as suas carreiras promissoras. E em cima disso ainda tinha as crianças.

Os seus filhos que nunca mereceram presenciar a bagunça que era o casamento dos pais, menos ainda serem usados como muletas emocionais ou pior, culpados pelos erros que Harry e Ginny haviam cometido. A casa que haviam escolhido juntos para viverem o resto das suas vidas, transformada em uma zona de guerra. 

Era trágico o quão rápido ela e Harry haviam quebrado todas as promessas que fizeram um para o outro.

Prometeram amor e respeito, prometeram um futuro, prometeram tantas coisas — um para o outro, mas também para cada um dos pequenos milagres que haviam criado juntos, a melhor coisa que Harry já havia feito por ela, talvez a única coisa verdadeiramente boa que restara do relacionamento que tiveram.

Mas reconhecia que não eram os pais que eles mereciam ou precisavam, principalmente porque boa parte do ressentimento que sentiam um pelo outro acabavam respingando nas crianças, que em nada tinham a ver com a frustração dos dois por a vida que haviam imaginado não ter se tornado realidade — Ginny não tinha mais 18 anos, suas feridas haviam curado para dar espaços a outras, menores e mais profundas, todas com a marca do homem que amava.

Harry não era mais um garoto traumatizado, deitado em um altar, um sacrifício de sua própria vontade, pronto para deixar os corvos deleitarem-se em sua carne. Ele não precisava mais de uma âncora ou um farol, havia conseguido erguer-se e achar o seu caminho e Ginny não servia como nada além de um lembrete do que agora era supérfluo.

Eram adultos, velhos demais para continuar nesse jogo de faz de conta, ambos fingindo que estavam apaixonados pelas pessoas que haviam se tornado, Ginny insatisfeita com a nova independência de Harry, ele incapaz de arrancá-la de sua pele sem a fazer sangrar.

Não era justo, costumava pensar, não era justo que tivesse dado a sua juventude para ele, como se Harry a tivesse escolhido especificamente para drenar tudo de bom que possuía, mesmo sabendo que ele nunca faria isso. Ginny havia escolhido namorar com Harry, mesmo com a ameaça de uma guerra no horizonte, assim como escolhera voltar para os seus braços de novo e de novo. Porque a versão de Harry que havia se apaixonado era doce e determinada, gentil mesmo após todos os horrores que havia presenciado. A Ginny de antes era uma coisinha feroz e corajosa, disposta a lutar com unhas e dentes pelo que queria e ela o queria.

Muita coisa havia mudado desde então. As defesas de Harry eram altas demais e nunca haviam caído, não de verdade, e Ginny passara anos desgastando-se nesses muros, sem saber quando parar. Até perceber que ele nunca a quis dentro deles, não realmente, porque Harry odiava a ideia de expor quem era e isso nunca havia mudado, ela apenas se iludira achando que era especial de alguma forma.

Harry continuava determinado, mas sua gentileza era reservada para as crianças, seus olhos perdendo o brilho quando levantavam de James para Ginny, assim como sabia que os seus perdiam o calor quando saiam da figura adorável que era Albus e o fitavam do outro lado da sala, Lily em seu colo, o pai perfeito durante as horas que ficava em casa — até uma nova onda de gritos e objetos jogados quebrarem o silêncio, por trás de feitiços abafadores de som que esqueciam cada vez mais frequentemente.

Nenhum dos dois pretendia pedir o divórcio, não seriamente, achando que poderiam ficar juntos e resolver os problemas que tinham eventualmente, mesmo que os problemas fossem apenas o fato de não serem mais compatíveis. Mas James, com apenas 10 anos e novo demais para se meter nesse tipo de coisa, havia intervido.

Uma mãe não deveria ter filhos favoritos e Ginny reforçava isso com convicção, mas nem mesmo ela conseguia negar que o laço que tinha com o seu primeiro filho era diferente. Não maior ou mais precioso, apenas diferente. Ele, mais do que ninguém, havia presenciado a ruína que o casamento de seus pais tornara-se ao longo dos anos. Fora ele, também, quem havia apontado que continuarem juntos "pelas crianças" só estava causando mais sofrimento. 

Ginny nem mesmo havia reparado que Lily estava chorando todas as noites antes de dormir, cansada de ouvir a voz furiosa do pai chamar a mãe de egoísta por ter voltado para a sua posição como artilheira no Holyhead Harpies ou presenciar a mãe acusando o pai de ligar mais para a sua ascensão no ministério do que para a sua família.

Harry sabia que ela voltara para o time para escapar da casa, sumir por algumas semanas, criar distância entre eles — mesmo sabendo que estava deixando os seus filhos também. Ginny sabia que ele afundava-se no trabalho nos dias em que ela estava em casa, saindo cedo e chegando tarde, mesmo que isso o deixasse com tempo limitado para brincar com as crianças.

Se vocês se odeiam tanto, perguntou James, então porque estão fingindo que isso ainda vai dar certo?

Porque eu amo o seu pai, quis gritar, porque eu o amei antes de o conhecer e eu não sei quem eu sou sem ele, não mais. Porque eu o amo desde que ele me salvou e nada do que eu fizer vai sanar essa dívida. Porque eu o amo, tanto que às vezes nem sei se consigo viver sem ele.

Mas nada disse, pois seu filho não precisava saber o que sentia — Jamie era tão novo, a mesma idade que tinha quando conhecera Harry, e como poderia colocar nele o fardo da bagunça que eram os seus pensamentos? Ele merecia pais melhores, mais competentes, mais preocupados com a felicidade dos filhos do que em fugir um do outro.

Depois de anos achando que o seu futuro seria envelhecer ao lado de Harry, cercada de filhos e netos, feliz e realizada, entender que nunca aconteceria foi uma realização dolorosa e James nunca conseguiria entender isso e Ginny não pretendia tirar a sua inocência explicando todos os motivos de estar tão decepcionada com o que a sua vida tinha se tornado.

Mas estavam machucando os filhos, muito mais do que achara ser possível. Ginny beirava a negligência com Lily, a amando com todo o coração, mas deixando com que Harry praticamente a criasse sozinho, tendo voltado para o quadribol profissional quando ela tinha apenas dois anos — grande o suficiente para não precisar da mãe constantemente ao seu redor, pequena demais para entender porque sua mãe só estava presente durante duas semanas do mês.

 Nas duas semanas em que estava presente, Harry saia para o trabalho cedo, deixando o café da manhã das crianças pronto, Albus o único que acordava em um horário que permitia que comesse junto ao pai, e chegava em casa tarde, o seu jantar separado no forno, mas que só comia após ler uma história para Lily antes dela dormir e dar um beijo na testa dos meninos, seguindo para a cama logo em seguida com um cumprimento seco na direção de Ginny.

Era uma rotina enlouquecedora, se estivesse sendo sincera consigo mesma, porém preferível às brigas violentas que chacoalhavam a casa. Nesses dias, Harry dormia no quarto de Lily, com uma cama transfigurada que havia aprendido a aperfeiçoar ao longo dos anos de casamento — não era de se espantar que ele soubesse de como a menina se sentia em relação ao casamento deles e Ginny não.

Mas Harry tinha uma maturidade emocional comparável a de uma criança às vezes e ele nunca iria confrontá-la de maneira séria, para exigir uma separação. Ao mesmo tempo em que ele era maduro, tendo que assumir responsabilidades cedo demais, no que dizia respeito a relacionamentos românticos Ginny fora a única pessoa da sua vida e, além disso, boa parte do que entendia do relacionamento dos pais era que eles brigavam e discutiam e se amavam, então como poderia entender que a relação deles era completamente diferente?

Ginny teria que tomar o primeiro passo, mas não sabia como. Nenhum dos seus amigos tinha conhecimento do que vinha acontecendo entre os Potter, não além de notarem uma tensão superficial nos jantares de família ou como ambos pareciam tão dedicados às próprias carreiras que pareciam negligenciar as necessidades do parceiro. Procurar ajuda parecia o mesmo que admitir que cometera um erro e que havia escolhido permanecer no erro durante anos.

Tentava se consolar com o fato de que se tivesse pedido um divorcio anos antes não teria nem Albus nem Lily, mas sabia que a relação com os seus filhos mais novos era, na melhor das hipóteses, complicada — não por culpa deles, eram apenas crianças, mas apenas ficava tão pouco tempo ao redor dos dois, usando a sua mãe como babá para as crianças a maior parte do tempo enquanto escrevia artigos para o jornal que ainda trabalhava mesmo com a sua ascensão como artilheira. 

Se continuasse desse jeito, perderia os filhos de toda forma — e parecia moralmente errado usar as crianças como desculpa para permanecer em um relacionamento falido.

E foi por isso que decidiu esperar por Harry uma noite com um jantar especial e uma garrafa de vinho na mesa, sabendo que ele chegaria tarde e que poderiam conversar após ele colocar as crianças na cama. Quis rir na hora, pensando que a única coisa remotamente próxima de um jantar romântico que teriam em meses seria para pedir o divórcio. Era estranhamente apto para o seu casamento disfuncional.

Nessa noite conversaram como não haviam conversado há anos, dançaram a luz das velas e beijaram-se como se ainda existisse algum pingo de paixão entre eles. Dormiram juntos, o sexo com gosto de despedida e lágrimas, o banho com ar de melancolia. Quando Harry pediu para escovar os seus cabelos uma última vez, não conseguiu segurar o choro. 

Deitaram-se abraçados, as mãos calosas desenhando padrões em suas costas nuas, o cheiro do perfume que ele usava ainda em seu pescoço, grudado em sua pele, grudado na mente de Ginny. Acordou com beijos em seu corpo e com o café pronto, do jeito que gostava, e o ajudou a colocar parte de suas roupas em uma mala, assim como seus objetos essenciais.

Chorou o dia todo e não escreveu uma linha da reportagem sobre o novo goleiro da seleção inglesa — havia mandado os filhos para casa de George mais cedo, sabendo que não conseguiria focar a sua atenção neles.

Nesse dia se odiou profundamente, por ser tão fraca, por ter se colocado nessa situação em primeiro lugar. Odiou Harry, por não conseguir a amar como ela queria, por não precisar mais de sua ajuda, por tratá-la como uma estranha em sua própria casa durante anos, por nunca ter dado uma oportunidade de o conhecer verdadeiramente.

Odiou Harry por não ser suficiente para fazê-la se apaixonar por ele, o odiou por não a pedir para ficar, por não dar nenhum motivo para a fazer querer ficar.

E parecia que tudo se encaminharia com certa facilidade até chegar na divisão da guarda dos filhos. Em princípio parecia óbvio: as duas semanas em que Ginny estava com o time as crianças ficariam com Harry, as duas em que estava em casa eles ficariam com ela. Mas Harry não estava disposto a deixá-la com uma guarda parcial, não quando Lily o implorara para ficar com ele.

Ser rejeitada pela própria filha foi uma das piores dores que já sentira na vida e nem mesmo poderia a culpar, primeiro por ela ter apenas oito anos, sem saber o quanto as suas palavras a machucaram, depois por ser o resultado das suas ações. Não havia sido a melhor mãe do mundo e sabia disso, além de ter sido especialmente ruim para a sua filha mais nova. Só não esperava que fosse ao ponto de ser negada o direito de conviver com ela.

James era simples, já que estava indo para Hogwarts em alguns meses e passaria a maior parte do ano na escola, podendo passar os meses do verão entre as casas dos pais e dos primos. Albus o seguiria em apenas um ano e estaria satisfeito com qualquer acordo que chegassem, mesmo que Ginny soubesse que era mais próximo do pai e que não hesitaria em o escolher caso fosse necessário. Lily… Lily só iria para Hogwarts depois de três anos, nada imediato, e era velha o suficiente para ter uma opinião — e essa opinião havia colocado Harry em modo de ataque.

Os encontros de conciliação em sua maioria terminaram em gritos e lágrimas, coisas horríveis sendo ditas, porque ele não iria ceder, não quando a sua princesinha havia pedido para morar exclusivamente com ele.

Você ainda pode a ver nos fins de semana, Harry havia insistido, e nos jantares de família. E quando Ginny bradara que não era o suficiente e nunca seria, ele havia se tornado cruel, com o sorriso irônico que odiava torcendo os seus lábios, você passa a maior parte do mês longe, passa os dias que está aqui no escritório, apontou maliciosamente, porque está lutando tanto para ter a presença de uma pessoa que você nem conhece, Gin? Porque você nunca pareceu ligar para a Lily antes.

E mesmo que não fosse verdade — amava a sua filha, não conseguia nem descrever o quanto a amava — doía saber que era isso que pensava, que todos eles pensavam, até mesmo Albus, com seus olhos sérios e inteligentes demais para ter só 10 anos. Até mesmo James, que a escolheria se fosse preciso, o seu doce filho mais velho, a mistura perfeita de todas as melhores qualidades de Harry e Ginny.

O divórcio fora uma bagunça do começo ao fim, com a mídia perseguindo a família constantemente, com os seus amigos insistindo em se meter na relação já complicada que tinham, com a disputa da guarda dos filhos matando qualquer respeito que sentiam um pelo outro. Odiou Harry como nunca havia odiado alguém antes, profundamente, ainda mais quando ele ganhou não apenas a guarda permanente de Lily quanto a de Albus — porque ele estava tirando dela os seus filhos, filhos que havia perdido anos atrás por conta das suas próprias ações, mas Harry não era um pai perfeito, tão emocionalmente ausente quanto ela ou mais, então não entendia porque o mundo estava determinado a inclinar-se aos seus desejos.

Al a prometera que visitaria com frequência, mas ambos sabiam que era mentira. James, no meio do fogo cruzado, escolhera ficar com Ginny durante as duas semanas que estava em casa até começar Hogwarts — e seu filho estava tão grande, tão, tão grande, o tempo havia passado rápido demais.

E então Ginny Potter havia voltado a ser Ginny Weasley, mãe de três filhos, artilheira do time de quadribol da Inglaterra e divorciada com apenas 35 anos — jovem, muito jovem, considerando que média de vida de um bruxo chegava aos 100, desde que não estivessem em guerra.

Passara meses odiando Harry enquanto o amava, odiando quem havia se tornando e quem estava se tornando, até um dia, enquanto lia mais uma revista de fofoca em que seu ex marido estampava, com especulações ridículas sobre seus supostos casos amorosos, percebeu que havia sumido — o rancor, a frustração, tudo o que a fazia cerrar os dentes para não gritar com ele como havia se acostumado a fazer nos últimos anos de seu casamento.

Ginny sempre soube que acabaria se casando com Harry Potter. E talvez fosse essa certeza absoluta que a cegara para todas as suas falhas, uma confiança de que, não importava o que acontecesse, continuariam juntos. Mas ela estava errada — e o seu orgulho ferido doía quase tanto quanto olhar para o homem que havia escolhido para passar o resto da sua vida e não sentir nada.

Ginny Weasley tinha 35 anos, estava divorciada, e não odiava mais Harry Potter — nem sabia se continuava o amando para além do fato dele ser o pai de seus filhos e parte da família Weasley muito antes de ser o seu marido. E não sentir nada por Harry a fazia se sentir oca, como se o espaço em que ele estivera em seu coração nunca houvesse fechado completamente, mesmo não tendo mais lugar para ele em sua vida.

Decidiram vender a casa que haviam comprado juntos, ambos tentando se livrar das memórias associadas aos móveis, as paredes que haviam pintado à mão, o quarto dos meninos que haviam montado durante meses — o escritório onde Ginny havia quebrado uma garrafa de Firewhiskey ao jogar na direção de Harry no meio de uma briga, o quarto de Lily onde ele costumava dormir quando não suportava olhar na cara da esposa, a cama enorme em que viravam as costas um para o outro, ambos ignorando a existência do parceiro a centímetros de distância.

Na sua nova casa, comprada com o seu salário de repórter e jogadora na parte residencial do distrito mágico de londres, Ginny havia preparado quartos para os três filhos, mesmo que o de James fosse o único realmente utilizado com alguma frequência. Sabia que Harry escolhera uma casa confortável em Hogsmead, com uma posição de professor já reservada para o dia que Lily começasse na escola. O futuro dele parecia brilhante, finalmente largando um trabalho que o deixava emocionalmente drenado para seguir a sua paixão — e esse futuro não a incluía.

Viam-se em jantares e almoços de família, Harry tão parte quanto Ginny, mesmo com todo o desconforto dos Weasley durante e após o divórcio. 

Hermione acreditava que eles ainda poderiam ser amigos um dia, o que não descartava, mas ainda estava muito fresco — o divórcio, o sentimento de traição quando ele dera as costas à história que tinham e arrancara dois de seus filhos das mãos de Ginny. Porque nem tudo havia sido ruim, Harry havia sido bom para ela no começo, em algum nível, e verdadeiramente acreditava que ele era o amor da sua vida, mas certas coisas não foram feitas para durar.

E teria que aceitar, mais cedo ou mais tarde, que havia se apaixonado por uma pessoa que não existia mais ou talvez nunca tivesse existido em primeiro lugar. Havia se apaixonado pelo Harry que não era um herói galante como das histórias, mas que era tão fruto da sua imaginação como o outro — e estava pagando o preço por ter apostado o seu futuro em alguém que nunca conhecera.

Talvez estivesse sendo injusta com ele e consigo mesma — talvez houvesse conhecido o Harry de verdade, profundamente, e simplesmente não gostara do que estava do outro lado do véu, não havia ficado satisfeita com a realidade nua e crua, havia o amado, mas nunca se apaixonado por ele. Nunca saberia a resposta.

E Harry… ele estava indo bem, pelo que parecia, após recolher os pedaços de si mesmo que sobreviveram à catástrofe que fora o fim do casamento. Tinha planos, inúmeros, estava explorando a si mesmo, estava apaixonado não por alguém, mas pela pessoa que vinha se tornando — Ginny estava feliz por ele, ou tentava se convencer que sim, mesmo que uma parte de si sempre quisesse perguntar o que tinha dado errado ao seu lado; sua sombra havia sido tão grande que o impedira de crescer?

Mas não importava, não no grande esquema das coisas, porque estava tentando trabalhar em si mesma, em entender como existir sem isso – porque havia amado Harry desde que tinha 10 anos e estava correndo por uma plataforma e haviam se passado 25 e continuava o amando, mesmo que o odiasse, mesmo que não sentisse nada.

Ginny sempre soube que se casaria com Harry Potter e estava certa, como de costume. Ela apenas não havia previsto ter que sobreviver a dor da separação.


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Notas finais do capítulo

Então, como sempre: aceito críticas, sugestões, comentários - tudo, desde que seja constitutivo.
Aviso logo que escrevi pelo celular então qualquer erro podem comentar também que a gente vai melhorando.
Enfim, nos vemos na próxima!



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