A fada que o escreva escrita por Creeper


Capítulo 27
Extra III: O aniversário de escorpião


Notas iniciais do capítulo

Hello!
Não sei aí onde vocês moram, mas aqui fez um frio essa semana! Eu já tenho as mãos frias naturalmente, então elas viraram pedras de gelo, então nesse aspecto sou parecida com Dante (outros também, mas deixa isso para depois ashusha).

Espero que gostem e boa leitura ♥



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Hibisc

— Acho que você vai querer saber que minha passagem foi adiada para hoje à noite. – comentei.

Gaspar interrompeu sua típica cantoria de preparação do café da manhã, virou-se para mim e soltou um resmungo de indignação. Dei de ombros e apoiei o rosto na mão, revirando em minha mente o que precisava colocar na maleta.

O rapaz desviou do buraco no chão da cozinha feito por uma de suas novas invenções: a panela de viagem com forno embutido que pesava mais do que nós dois juntos. Gaspar precisava parar de querer embutir forno nas coisas, tendo em vista que a máquina de tortas assadas virou uma máquina de tortas geladas.

— E acho que você vai querer saber que o bebê de Adna nasceu nessa madrugada. – ele pulou por cima de Alicat que dormia no meio do caminho.

— Hoje começam os bebês de escorpião, não? – bocejei.

Se antes eu não estava acordado o suficiente, o estalo em minha cabeça fez o favor de me despertar por completo. Dei um sobressalto na cadeira, arregalei os olhos e anunciei afobado:

— Céus, eu preciso ir a um lugar!

Que já precisava ir, no caso. Mas agora eram dois motivos.

— O quê? – Gaspar fez um biquinho. – E a comida? – colocou os pratos na mesa.

Paralisei ao ver que minha refeição formava um rostinho com olhos de ovos fritos, sobrancelhas de cenoura, bochechas de pão e boca de ervilhas.

Mordi o lábio inferior, oscilei o olhar entre a porta e meu prato e então me rendi a tentação. Voltei a sentar-me, agradeci a comida e enfiei tudo na boca. Gaspar riu de minha pressa, apesar de que ele conseguia ser ainda mais mal-educado quando comia, já que mastigava tudo de boca aberta e às vezes usava as mãos ao invés do garfo.

— Oliver me mandou uma carta.

— Uau, como ele está? – levantei as sobrancelhas.

Fazia alguns meses desde que Oliver deixou nossa casa e foi morar no internato da guilda para as aulas de reforço. Devo dizer que eu gostaria de ter passado mais tempo com ele e tenho certeza de que Gaspar também.

— Apaixonado. – o inventor suspirou. – Por mim. Era uma carta de declaração.

Engoli em seco e subi lentamente os olhos pela figura de meu melhor amigo. Ele estava com o rosto apoiado na mão, encarando uma das caixinhas de música na prateleira de temperos.

 - E e-então? – indaguei bobamente.

— Eu gosto dele. – Gaspar corou e adquiriu uma expressão emburrada.

— Era óbvio. – soltei uma risada abafada. 

— Sou mais lento para romances do que pensei. – Gaspar cruzou os braços e inclinou-se para trás na cadeira. 

— Bem, o que pretende fazer agora? – cutuquei as ervilhas com meu garfo.

— Eu quero namorar com ele, é claro. – confessou. – Mas só depois que ele se formar. Preciso que ele se dedique de alma e coração aos estudos, relacionamentos podem esperar.

Levantei-me em silêncio, dei a volta pela mesa e abracei Gaspar fortemente, aproveitando para bagunçar seus cabelos.

— Você fica fofo quando está sendo responsável! – provoquei.

— Vai achar fofo quando eu te obrigar a comer as ervilhas? – ele franziu as sobrancelhas e apontou para o meu prato.

Deixei meus ombros caírem e choraminguei:

— Sabe que não gosto de ervilhas, Gasp. 

— Achei que fosse comê-las se elas fizessem parte de um rostinho! – Gaspar gesticulou incrédulo.

Torci a boca, respirei fundo e peguei as ervilhas com a mão, enfiando-as na boca e engolindo-as de uma vez. O inventor assentiu satisfeito e sorriu vitorioso.

— Agora você pode ir. – ele exclamou.

Revirei os olhos, deixei um beijo em sua testa e avisei que não iria demorar.

 

***

 

Não ficava muito distante de minha casa, conseguia ir a pé facilmente, talvez em 20 minutos de caminhada. Encontrei diversos conhecidos no percurso, desde senhoras que gostavam de apertar minhas bochechas até crianças que me chamavam para brincar com elas.

Cumprimentei a todos com um sorriso e me esquivei educadamente, porém, uma pessoa em especial me fez parar.

— Ei, Suichiro! 

A garota de cabelos cinzas e olhos lilases interrompeu seus passos e acenou alegremente para mim. Aproximei-me dela em êxtase e a ouvi reclamar enquanto abanava-se com a mão e desabotoava seu casaco:

— Como vocês aguentam morar aqui? É tão quente!

— Na verdade, Olpo é que é frio demais. Hibisc tem um clima ameno. – ri baixinho. – Se você fosse a Dragonean, provavelmente derreteria.

— Obrigada, ficarei longe. – Sued balançou a cabeça. – Soube na guilda que sua pesquisa está para ser aprovada. – colocou uma mão na cintura.

Não consegui disfarçar meu sorriso, se possível até daria pulinhos em volta da garota, mas me controlei.

— Graças a você que veio me ajudar. – assenti. – E meus parabéns por ter se juntado a turma de magos.

Sued ruborizou levemente e fitou seus pés.

— Mesmo assim, sinto saudades de casa, principalmente de Úrsula e Leona. Não tenho nenhum amigo na guilda. – massageou seu braço e suspirou.

Torci a boca, ponderei um pouco e estalei os dedos ao ter uma ideia.

— Tem um garoto genial na turma de inventores, o nome dele é Oliver Valentine. Você devia tentar conversar com ele. – recuei alguns passos. – Agora, se me der licença, eu preciso ir!

A garota adquiriu uma expressão pensativa, despediu-se com um aceno e também continuou sua caminhada.

Cheguei ao bairro silencioso onde a maioria das residências era cinza e parei em frente à casa de dois andares pintada em um tom de chumbo e com janelas cobertas por cortinas escuras.

Segurei a aldrava em formato de gárgula e bati na porta mais vezes do que pude contar. Antes que eu iniciasse outra sequência de batidas, a porta se abriu ligeiramente.

— Dante, eu... – comecei, todavia, minha voz sumiu ao perceber o torso desnudo do exorcista.

Ele revirou os olhos com minha frase pela metade, puxou-me para dentro e fechou a porta atrás de mim, então agarrou a camisa que repousava nas costas de sua poltrona e indicou com a cabeça para que eu me sentasse no sofá.

Obedeci prontamente, coloquei as mãos entre os joelhos e passeei os olhos pela casa, disfarçando meu olhar sobre seus músculos.

— Você sempre atende a porta assim? – pigarreei.

— Só quando eu sei que é você. – ele sorriu de canto e vestiu-se.

— E como sabia? – arqueei uma sobrancelha.

— Suas batidas são irritantes. – Dante sentou-se no braço da poltrona. – Quase quebrou minha aldrava.

Inflei as bochechas, virei o rosto e perguntei em um resmungo:

— Que seja, quando é seu aniversário? 

— Hoje.

Meu queixo cairia se eu não o tivesse segurado. Continuei a encará-lo no fundo dos olhos, esperando a hora em que ele diria que estava brincando, mas ele apenas pareceu confuso com minha reação.

— E quando pretendia me contar? – questionei perplexo.

— Quando você perguntasse. – passou a mão por seus cabelos.

— Dante, precisa parar com essa mania de só me contar as coisas se eu perguntar, somos noivos agora! – levantei-me depressa.

— Desculpe, não sabia que era tão importante para você. – ele ergueu as sobrancelhas. – Eu não costumo comemorar meu aniversário, então...

Fiz um biquinho, sentei-me novamente e cruzei os braços e as pernas.

— Eu queria te dar algum presente, pelo menos. – expliquei. – Mas eu lhe entendo, também houve uma época em que eu não quis comemorar meu aniversário. – murmurei.

O exorcista inclinou a cabeça, me instigando a falar mais sobre aquilo. Respirei fundo, fechei os olhos e contei:

— Em todos os meus aniversários, mamãe me desenhava alguma coisa e nós íamos acampar. Quando ela faleceu... A-Amy tentou continuar com a tradição, porém, eu não queria mais saber de comemorações.

Encolhi os ombros, pressionei os lábios e fitei meus pés. A imagem de minha mãe sorrindo e me abraçando ao me entregar um desenho preencheu minha mente, contudo, logo foi substituída pela memória de Peach ressuscitada me dando aquele retrato de quando eu era bebê. 

Semicerrei os olhos por um instante e agitei a cabeça para afastar aqueles pensamentos.

— Quando vim para Enginóvia com Gaspar e o Sr. Arendel, também não contei sobre meu aniversário. Eles apenas descobriram porque houve um mês em que papai mandou dinheiro a mais para que me comprassem um presente. – dei um sorriso amarelo. – Também porque Gaspar fazia aniversário no mesmo dia, assim fiquei mais motivado a voltar a comemorar.

— Uau. – Dante arregalou os olhos. – É uma bela história.

Às vezes eu não sabia se ele estava zombando de mim ou não. Tentei esconder meu rosto vermelho, até que o vi caminhar em minha direção.

Ele sentou-se ao meu lado colocando o braço no encosto do sofá atrás de minha cabeça. Observei-o em silêncio, um pouco sem graça, pois nunca havia contado aquela história para outra pessoa.

— E está dizendo que quer me dar um presente? – Dante aproximou-se ainda mais.

— Nada de coisas pervertidas. – pousei a mão em seu peito e afastei-o.

Ele revirou os olhos e respondeu:

— Não era isso que eu ia pedir. Quero um desenho.

— Claro, do quê? – fiquei boquiaberto.

O exorcista olhou para frente, torceu a boca e murmurou:

— Da Sybelle.

Arregalei os olhos e não consegui evitar meu riso.

— Awnt, você sente falta dela. Que fofo! – apertei sua bochecha. – Pode deixar comigo, papai.

Dante franziu o cenho e seu semblante disse claramente que eu estava morto. Antes que eu conseguisse saltar para fora do sofá, o rapaz colocou seu peso sobre mim e suas mãos percorreram todo o meu corpo em um ataque de cócegas.

Gargalhei até me faltar o ar e tentei miseravelmente empurrá-lo para longe, entretanto, era impossível. A única coisa que podia fazer era me remexer e contorcer a cada risada, levando-nos ao chão gelado de sua sala.

— Você é muito atrevido, sabia? – ele me deu uma trégua, mesmo que permanecesse em cima de mim.

— Já me disseram isso. – puxei-o para um beijo rápido. – Feliz aniversário.

Fiz menção de levantar-me, porém, Dante me trouxe de volta e ditou:

— Ainda não. Preciso de mais vinte e três desse, regra de aniversário.

— Estou começando a achar que o atrevido aqui é v...

Não pude terminar minha frase, pois o exorcista logo colou sua boca na minha. Coloquei minhas mãos em seu pescoço e diverti-me ao enroscar os dedos nos cabelos de sua nuca e arrancar-lhe um riso abafado ou outro entre os beijos.

 

***

 

Definitivamente foram mais de vinte e três. Foi o que eu pensei enquanto ajeitava meu cabelo e abotoava meu colete. 

— Ah, eu vim aqui te dizer outra coisa também. – rangi os dentes ao me lembrar.

Dante cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha, perdido.

— Se lembra da exploração para as tocas gigantes? – massageei minha nuca. – Adiantaram minha passagem para hoje à noite. Poxa, eu queria ficar com você no seu aniversário. – suspirei pesadamente.

O exorcista piscou os olhos devagar e perguntou:

— As tocas gigantes ficam em uma fazenda em Pietria, não? 

Concordei e Dante continuou:

— E você se esqueceu de que eu vou para lá hoje à noite?

— Vai?!

— Lhe avisei ontem que precisaria viajar para fazer um exorcismo, seu cabeça de vento. – ele cutucou minha testa. – Posso fazer meu trabalho e depois te ajudar no seu, assim ficamos juntos. 

— Um acampamento! – ergui os braços e meus olhos brilharam como estrelas. – A-Ah, desculpe, o aniversário é seu… – pigarreei.

Ele sorriu de canto e afagou meus cabelos de modo exagerado, deixando-os ainda mais bagunçados. 

— Nos encontramos na estação. – deu-me um último beijo na bochecha e fechou a porta quando saí.

 

***

 

Pietria não ficava muito longe de Hibisc, de forma que chegamos por volta das 9 da noite. Durante o tempo que Dante dormiu em seu assento, eu ocupei-me em rabiscar Sybelle em meu bloco de desenhos, suspirando de saudades a cada traço.

Onde foi que aquela fada se meteu?

Descemos na plataforma e caminhamos por uma estrada de terra até chegarmos a cerca quilométrica que rodeava um enorme casarão de madeira. Empolguei-me feito uma criança ao avistar as inúmeras tocas espalhadas pelo gramado, todavia, me contive quando uma senhora veio abrir a porteira carregando uma vela.

— Obrigada por ter vindo. Meu nome é Frida, fui eu quem lhe chamei. – ela engoliu em seco. – Minha netinha está muito mal… A minha preciosa Violet. – fungou.

— Netinha? – Dante apertou a alça de sua bolsa. – Quantos anos ela tem exatamente? 

— Treze. – com dificuldade, a senhora subiu os degraus da varanda. – E esse outro rapaz, é? – piscou os olhos marejados.

— Suichiro Whitlock. Eu lhe enviei uma carta pedindo permissão para explorar as tocas. – puxei minha insígnia.

Frida assentiu perplexa, gesticulou para o pasto e disse que eu poderia ficar à vontade enquanto abria a porta da frente.

— Entro em um minuto. – Dante falou para a senhora. – Preciso me preparar.

Ela encostou a mão em seu peito, olhou-nos uma última vez de maneira apreensiva e entrou no casarão cabisbaixa. O exorcista respirou fundo, cobriu a boca e escorregou as costas pela parede, caindo sentado no chão da varanda.

— Ei, o que foi? – agachei-me imediatamente ao seu lado.

— Não me disseram que era uma adolescente. – engoliu em seco e fechou os olhos. – Da mesma idade daquela… Daquela cujo exorcismo falhou.

— O da neta da bruxa que lhe amaldiçoou? – toquei seu ombro.

Ele confirmou em silêncio, apoiou os cotovelos nos joelhos dobrados e sustentou o peso da cabeça na mão. 

— Céus, e se der errado de novo? – sua respiração ficou pesada.

Levantei as sobrancelhas, sentei-me perto dele e passei os dedos por seus cabelos, colocando-os atrás da orelha.

— Da outra vez, não deu errado porque você não era capaz. – sussurrei. – Deu errado porque a avó da garota tardou em chamar um exorcista. É diferente dessa vez, Frida parece muito preocupada, aposto que o chamou a tempo de salvar Violet.

O rapaz semicerrou os olhos, rangeu os dentes e soltou um suspiro trêmulo. Ao sentir meu peito apertar-se, ajoelhei-me e rodeei seu pescoço com meus braços, puxando-o para um abraço apertado.

— Agora você precisa ir. – falei baixinho e afastei-me.

O exorcista encarou-me com os olhos tremeluzindo de ansiedade. Meneei com a cabeça em direção a porta, motivando-o a levantar-se e expirar. Ele não olhou para trás ao entrar, mas de relance pude ver seu semblante determinado.

Suspirei aliviado, deixei minha maleta na varanda e me aventurei pelo gramado. Conforme eu andava, mais distante ficava das luzes do casarão e mais a escuridão envolvia meu corpo. Virei-me para a construção, ainda que andando de costas e pensei em como Dante estaria se saindo.

Só mais uma de minhas péssimas ideias.

Não havia mais chão sobre meus pés e o céu se fez distante quando meu corpo deslizou para dentro de uma toca. Tentei dizer ao meu coração acelerado que estava tudo bem pois caímos na terra fofinha, mas a dor em meu torso e a sujeira por toda minha roupa disseram o contrário.

— Como eu vou voltar agora? – ergui a cabeça para analisar o buraco onde me meti. 

Ponderei um pouco, lembrando-me de que outros exploradores haviam contado que as tocas estavam interligadas por caminhos subterrâneos e que em algum deles havia uma escada. 

Tateei meu sobretudo e peguei uma das novas invenções de Gaspar composta por um cano de aço com um espelho e um cristal luminoso preso em uma de suas extremidades. O nome era “lanterna”.

Andei pelo túnel jogando a luz nas raízes do teto, ervas daninhas e cascalhos coloridos. Procurando por algo interessante, abaixei-me ao encontrar um pontinho brilhante no chão. Depois de conseguir cavar com os dedos, analisei o objeto que se assemelhava a um dente pontiagudo.

— Dente brilhante? – franzi as sobrancelhas e cerrei o punho. – Mas…

Não pude concluir minha frase, porque senti uma respiração quente em minha nuca e tive a mais plena certeza de que não era Dante. Voltei-me para trás já sem fôlego e pálido feito um fantasma, avistando a criatura gigante que provavelmente morava naquela toca.

Um coelho-de-luxo, mas sem a parte de ser fofo. Seu pelo era rosa, os bigodes pareciam finas penas e os dentes triangulares cintilavam igual diamantes. Sabia que sua espécie estava em risco de extinção por causa dos caçadores que buscavam as pedras preciosas em seus estômagos, no caso, seu alimento, o que me fez imaginar que nunca veria um daquele na vida.

— Tudo bem, você só come joias, não é mesmo? – estendi minha mão lentamente e ri de hesitação.

A resposta veio em forma de dentada. Meu peito subiu e desceu com a respiração descompassada ao vê-lo recuar por ter mordido minha mão de aço. A fim de não perder algum dedo de verdade, engatinhei desesperado e consegui erguer-me em um pulo, correndo até uma bifurcação.

— Céus, é claro que eles ficaram violentos com os humanos! – balancei a lanterna.

Escorreguei ao virar por um dos caminhos e aproveitei para olhar para trás, vislumbrando os saltos raivosos que a criatura dava para me alcançar. Gritei em pânico e continuei a correr com a esperança de uma hora encontrar a tal escada.

— Suichiro, é você?!

Parei bruscamente ao ver um buraco acima de minha cabeça. Semicerrei os olhos e berrei de volta:

— Dante?!

O exorcista surgiu do lado de fora, encarando-me de cima com um ar de incredulidade. Sei que ele queria me perguntar como eu me meti ali, porém, arregalou os olhos ao ouvir os passos da criatura e estendeu-me o braço rapidamente.

Agarrei sua mão e ambos rangemos os dentes enquanto Dante esforçava-se para me puxar para cima. As presas do coelho rasparam na sola de minha bota e no segundo seguinte eu estava deitado sobre Dante no gramado.

O rapaz abraçou minhas costas e pousou a mão em meus cabelos, respirando de modo ofegante assim como eu. Escutei a criatura soltar um grunhido de irritação e seus saltos de quem estava voltando para o fundo do túnel.

— Você me enche de preocupação. – Dante resmungou afobado.

Respirei fundo, escondi o rosto em seu peito e fechei os olhos por um momento até que o embrulho em meu estômago passasse. Então estiquei os braços para me erguer, afundando as mãos ao lado de cada ombro seu e pressionando os joelhos em sua cintura.

— Você também me preocupa às vezes. – franzi as sobrancelhas e fitei-o no fundo dos olhos.

Sob a luz da lua, percebi a vermelhidão espalhar-se pelas bochechas de Dante e a forma como seus lábios permaneceram entreabertos mesmo que incapazes de falar alguma coisa.

— Não precisa guardar tudo para si mesmo o tempo inteiro! Eu nem imagino o quanto você devia estar remoendo essa história de exorcismo e… – disparei. – Ei, não vai me interromper ou algo assim? – algumas mechas de cabelo caíram sobre meu rosto.

Com uma expressão abobada, Dante comentou:

— Acabou de quase ser comido por um coelho e mesmo assim está extremamente sensual gritando comigo.

Prendi a respiração, senti minha face ferver ao reparar na posição em que nos coloquei e exclamei:

— P-Pare de mudar de assunto, seu cabeça dura!

— Por isso nós damos certinho, seu cabeça de vento. – Dante deu um peteleco em minha testa. – Não sei se já notou, mas não sou muito bom em expressar sentimentos.

Grunhi de frustração, dei um soquinho em seu peito e deitei o rosto em seu pescoço. Ainda queimando em vermelho, repeti a palavra “idiota” mil vezes em minha cabeça, sem saber exatamente qual de nós dois eu estava xingando.

— O exorcismo funcionou. – ele brincou com os cabelos de minha nuca. – Eu estava com medo, mas você me ajudou. Como sempre ajuda, mesmo que não perceba. 

— Ah, você sabe mesmo como ganhar o meu coração de manteiga. – sentei-me em sua barriga e abri o sobretudo. – Aqui, seu presente. – puxei o papel de dentro de um dos bolsos e entreguei-lhe junto do dente brilhante.

Dante analisou o dente sem entender muito bem, guardou-o e então observou o desenho de Sybelle com uma feição admirada.

— Pelos deuses, ficou igualzinha. Obrigado mesmo, foi um ótimo presente. – sorriu sincero. – Agora sai de cima de mim. – franziu as sobrancelhas.

Ri travesso sabendo que havia o deixado desconcertado demais para brigar comigo sobre eu não olhar por onde andava. Às vezes eu era mais esperto do que ele. 


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Notas finais do capítulo

Esses dois, hein? Me contem o que acharam!
Peço desculpas por não ter respondido os comentários ainda, essa semana foi corrida!

Até o próximo.
Beijos.
—Creeper.



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