A fada que o escreva escrita por Creeper


Capítulo 14
Uma parada em Dragonean


Notas iniciais do capítulo

Oie! Consegui postar no dia ♥.
Espero que tenham uma boa leitura e me contem o que acharam no final!

Edit: como postei pelo FireFox, não consegui colocar a imagem do capítulo. Mas vou arrumar no Chorme quando ele voltar a funcionar para mim :P



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Calíope aproximou-se a passos pesados, colocou as mãos na cintura e olhou de mim para Dante, analisando-nos como se fosse arrancar nossas almas. Encolhi-me em meu lugar, desejando que Victória fosse capaz de me esconder.

— Quer dizer que você entra em Saintenia com um explorador e sequer visita a casa Vulpecula? – Calíope bufou indignada. – O que você faria se eu não tivesse te encontrado? Ia andando até o porto?

— Era uma opção. – Dante deu de ombros e cruzou os braços. Sybelle estava tão assustada quanto nós dois ao escrever as palavras de Calíope.

— Francamente. – a moça balançou a cabeça em sinal de desaprovação. – E você, baixote. – suas irises azuis caíram pesadamente sobre mim.

Engoli em seco e apertei a alça da maleta. Ah, eu ia morrer.

— Não sei como conseguiu laçar Dante, porém, tem meu respeito. – soltou um suspiro. 

— Laçar? – eu e Dante resmungamos juntos.

— Agora, vão logo. – Calíope agitou a mão. – Deixe Victória com Roy no porto, vou buscá-la quando terminar meu trabalho.

— Para onde vai agora? – o rapaz guardou Sybelle em seu bolso e ajeitou os cintos da cela. 

— Ajudar o pai e a mãe em Azalea. – ela jogou seus cabelos para trás. – Se eu te contasse, não acreditaria quem precisa ser exorcizada dessa vez.

Dante fez uma expressão de contrariedade, arrumou a bolsa em seus ombros e montou em Victória.

— Quem? – torceu a boca e gesticulou com a cabeça para que eu subisse também.

— A bruxa que te amaldiçoou. – Calíope cruzou os braços. – Pensamos em pedir como pagamento que ela retirasse a maldição, mas no momento ela não está apta para negociações. – mordeu o lábio inferior.

Coloquei as mãos delicadamente na cela e impulsionei meu corpo para cima, jogando uma perna para cada lado de Victória. A égua soltou outro pequeno relincho e bateu um dos cascos no chão.

— Não se preocupem comigo. – Dante segurou as rédeas. 

— Você vai ser sempre assim, Dan? – ela lançou-lhe um olhar de repreensão. – Apesar de ter mudado um pouco desde a última vez em que te vi… Onde foi mesmo? Hibisc?

— Dan? – dei uma risadinha travessa. Quem diria que ele tinha um apelido.

Dante bufou e inclinou-se para trás, empurrando-me com suas costas. Arregalei os olhos ao me sentir desequilibrar e agarrei sua cintura instantaneamente, retornando ao lugar.

— Pode largar. – ele mandou.

— Nem pensar. – cerrei os dentes.

Enquanto isso Calíope observava a cena com um semblante pensativo, o que me deixou levemente constrangido. Pigarreei para disfarçar e subi as mãos para os ombros de seu irmão, assumindo uma pose mais recatada, pois já bastava um Vulpecula me achar atrevido, dois eram demais. Apesar de tudo, ela assentiu lentamente como se seu foco estivesse distante de nós, voltou a segurar sua espada e nos deu as costas.

— Tenham cuidado. Até uma próxima vez, baixote. – acenou.

Para falar a verdade, Calíope devia ser apenas 2cm mais alta do que eu, todavia, não era eu quem iria contestá-la.

Com essa despedida, Dante bateu as rédeas e Victória deu início ao seu galope. Deixamos a cidade de Saintenia pelo grande portão de ferro e percorremos a estrada de terra que cruzava as próximas cidades, rezando para que nenhum dos nossos inimigos estivesse nos esperando.

Aproveitei a sensação do vento batendo em meus cabelos e fechei os olhos, deixando o rosto ser banhado pela luz da lua. Dante não disse nada até chegarmos ao porto, pelo contrário, ficou mais quieto do que antes.

Descemos de Victória ao enxergamos o enorme navio de madeira que nos levaria para a ilha de Hasi. As pessoas se reuniam próximo ao ancoradouro, prontas para embarcarem com suas enormes malas e passagens em mão.

Engoli em seco e senti uma pontada de ansiedade em meu estômago em meio a aquela atmosfera. Respirei fundo e mantive a calma, dizendo a mim mesmo que não tinha motivos para aquilo.

Em questão de segundos, um homem ultrapassou a multidão com gestos exagerados e pedidos rápidos de licença, assim parando em nossa frente com um sorriso ladino. Cheirava a tabaco e possuía uma cicatriz em seu olho direito, além de carregar a insígnia de exorcista em seu peito e uma pistola na cintura.

— Espero que saiba que esse navio para em Dragonean antes de ir para Hasi, Dante. – ele pegou as rédeas de Victória.

— Eu sei, Roy. – o rapaz murmurou. – Mas é só uma parada de pouco menos de um dia.

— Corajoso. – Roy assoviou. – E essas palavras douradas aparecendo no ar? São obra do seu acompanhante? – apontou para mim e acenou como se eu fosse uma criança.

— Você não tem outros cavalos para cuidar não? – Dante bufou.

— Tem um bem na minha frente. – o homem gargalhou e deu um tapinha no ombro do rapaz.

Confesso que oscilava entre me despedir da égua com um afago na crina e prestar atenção na conversa dos dois. Roy mandou-me uma piscadela, acendeu um cigarro com uma destreza absurda e guiou Victória com a mão livre até um pequeno estábulo.

Compramos nossas passagens e o restante das horas passou rapidamente até que enfim pudéssemos entrar na fila para o embarque. Fizemos outra encenação quanto a nossa prova de dupla (a qual graças aos céus foi aceita), e subimos pela grandiosa rampa, atravessando o convés e entrando no cubículo que seria nosso quarto pelos próximos sete dias.

Deixei minha maleta em um canto e sentei-me em uma das camas compactas, torcendo para que não sentisse enjoos.

— Não gosta de Dragonean? – retirei as botas.

Dante não me respondeu, havia se deitado em sua cama e deixado a esfera de Sybelle rolar por seu peito, somente franzindo as sobrancelhas e fechando os olhos para minha pergunta. Torci o nariz, insatisfeito.

Como sabia que não conseguiria dormir, peguei meu diário e despejei ali tudo o que vinha sentindo. Ou quase, porque bufei e afastei a pena da folha no meio do processo, achando aquilo tão ridículo que fazia minhas bochechas queimarem. Arrancei a página, amassei-a e guardei-a no bolso, deitando-me na falha tentativa de adormecer e esquecer as borboletas que devoravam meu estômago.

 

***

 

Passaram-se seis dias e naquela noite iríamos fazer uma parada de 12 horas em Dragonean, depois seguiríamos viagem para a ilha de Hasi. Dragonean era um pequeno país cujo a maioria dos habitantes eram magos de fogo, além de ser conhecido por sua culinária composta em sua maior parte por frutas, desde as mais exóticas até as mais comuns.

Ainda de manhã, passeei pelo convés e observei os outros passageiros, reparando em mães que tentavam acalmar seus filhos que choravam de tédio ou enjoo até aventureiros que usavam lunetas e comemoravam seja lá o que tivessem visto. Dei um meio sorriso e caminhei até a borda do navio, apoiando os braços ali e me deixando hipnotizar pelas ondas escuras do mar.

Inspirei o ar fresco e vi uma gaivota ou outra cortar o céu claro, logo desaparecendo entre as nuvens.

— Acordou cedo. – uma voz soou ao meu lado. 

Não me virei para encará-lo, apenas continuei vislumbrando a extensão azul abaixo de nós.  

— Suichiro. – ele chamou. – Acho que preciso te contar uma coisa antes de atracarmos em Dragonean.

Meu coração falhou uma batida e eu não aguentei mais ficar sem olhar para o rapaz, mas quando o fiz, ele desviou o olhar e torceu a boca, envergonhado. Em sua mão, Sybelle revirou os olhos com um ar de impaciência.

— O que é? – coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— É complicado. – Dante suspirou.

— Bem, se é complicado... – encolhi os ombros. – Eu posso te contar algo também.

O exorcista levantou as sobrancelhas de maneira curiosa e aproximou-se minimamente. Respirei fundo, esbocei um sorriso travesso e exclamei:

— Eu nunca aprendi a nadar. As pessoas acham que exploradores tem que saber fazer tudo ligado a natureza, mas não é bem assim, entende?

— Francamente. – Dante revirou os olhos.

— Só falei para ficar menos tenso. – ri baixinho. – Consegue me contar a coisa complicada agora? – dei um passo para o lado, chegando mais perto dele.

— É que...

Sua frase foi interrompida pelo tombo do navio, movendo nossos corpos para o lado em um solavanco e deixando nossas pernas trêmulas. Agarrei-me firmemente a borda e rangi os dentes enquanto as crianças berraram apavoradas e as mães voltaram a tentar acalmá-las tão desesperadas quanto.

Assustado, olhei ao redor e avistei um rochedo cinzento a centímetros de distância do casco do navio. Suspirei aliviado ao me dar conta que não batemos naquilo, então voltei-me para Dante, reparando em sua expressão de pânico e sua mão vazia.

Eu queria gritar apenas uma única palavra: Sybelle. Entretanto, nada saiu de minha garganta.

Tomado por um impulso, espalmei as mãos na borda e levantei o corpo, pronto para saltar, contudo, Dante usou seu braço para me empurrar para trás e em um piscar de olhos, era seu corpo que ultrapassava a madeira.

Seu som atingindo a água foi ouvido por todos, fazendo com que os passageiros e a tripulação se aproximassem afobados. Minha respiração tornou-se descompassada e a visão ficou turva.

— Homem ao mar! – gritaram.

A cabeça de Dante surgiu da escuridão, revelando o rapaz completamente encharcado e ofegante. A primeira coisa que ele fez foi erguer o braço para mostrar que havia conseguido pegar a esfera de vidro, porém, eu ainda não conseguia pedir ao meu coração para que voltasse a bater normalmente.

— Dante! – bradei com todas as minhas forças mesmo sabendo que ele não escutaria e me inclinei sobre a borda.

Um dos tripulantes desceu em um bote de madeira e ajudou Dante a subir, sua voz era tão alta que era possível escutar as perguntas que ele fazia ao exorcista. Os dois retornaram ao convés e um círculo de curiosos se formou para presenciar a cena.

— Ficou maluco?! – minha voz saiu esganiçada.

Vendo como seu peito subia e descia pela respiração entrecortada e como uma poça de água se formava em seus pés, outro dos tripulantes cobriu Dante com uma manta e tentou conversar com ele, todavia, o exorcista caminhou em minha direção, agarrou minha palma aberta e me entregou a esfera molhada.

Sybelle tremia de frio e esfregava seus bracinhos na tentativa de se aquecer. Tremi os lábios, apertei a esfera entre as mãos e disparei:

— Por que fez isso? Eu podia ter pegado ela, é minha responsabilidade...

— Eu fiz isso porque essa coisa é importante para você. – Dante ergueu o tom de sua voz. – Ela te odeia e mesmo assim você ama essa fada. Ia até pular para pegá-la se eu não tivesse te impedido, sendo que você nem sabe nadar!

As palavras sumiram de minha garganta. Ou talvez tivessem sido barradas pelo nó nela. Abaixei a cabeça, encolhi os ombros e corri o mais rápido que pude para o quarto.

Sentei-me no chão com as costas na parede e aninhei a esfera em minha camisa para esquentá-la. Pequenas lágrimas escorreram por meu rosto e eu sabia que estava vermelho de constrangimento.

— Você está bem? – passei o polegar pela esfera e arregalei os olhos.

Havia uma rachadura no vidro. Pequena e singela, entretanto, ainda era uma rachadura. Não foi a queda no mar que fez aquilo, as esferas tinham o poder de partirem-se sozinhas.

— Está chegando a hora de você ser liberta, não é? – choraminguei.

Sybelle desviou o olhar e assentiu.

— Por favor, tente esperar apenas mais um pouco. Pelo menos até Dante recuperar a audição. – pedi em um sussurro. 

A fadinha suspirou e sentou-se de braços cruzados. Nós dois sabíamos que abrir a esfera não dependia da sua vontade e sim da magia da fada boa que a prendeu.

Conversei com Sybelle por mais uma hora, recebendo apenas caretas em resposta. Dante não voltou para o cubículo, contudo, eu torcia para que ele estivesse sob os cuidados da tripulação, devidamente seco e aquecido.

— Ah, eu fui um mal-agradecido, não fui? – inclinei a cabeça para cima.

Eu precisava agradecer direito e pedir desculpas pelo jeito que falei com ele, mas estava envergonhado demais para isso, então resolvi escrever.

Tateei meus bolsos em busca de algum pedaço solto de papel e encontrei um totalmente amassado. Ignorei a parte já usada e depositei toda a minha sinceridade no verso.

 

***

 

O navio atracou em Dragonean no final da tarde quando o céu se encontrava em uma mescla de laranja e lilás. Ao descermos pela rampa, cutuquei Dante timidamente e entreguei-lhe o papel. O rapaz estranhou, mas guardou-o no bolso, tendo em vista que éramos acotovelados a cada momento pelos outros passageiros e precisávamos descer logo se não quiséssemos ser empurrados.

Dante estava terrivelmente inquieto, olhando para todos os lados como se fosse um fugitivo, o que me preocupou. E se o que ele queria me contar mais cedo fosse aquilo? Franzi as sobrancelhas e pressionei os lábios, tomando coragem para perguntar o que estava acontecendo.

Todavia, a resposta logo veio. Em formato de um leão gigante de silhueta rosa que veio correndo de dentro da cidade, derrubando barris e caixas e arrancando gritos da população.

— Mas o quê… – arregalei os olhos.

Aquele era a magia do karma de leão. Entretanto, quem seria o maluco a estar invocando um tão gigantesco e jogá-lo na direção do navio?

Dante rangeu os dentes, soltou a alça da bolsa e uniu as mãos rapidamente. Algo surgiu de trás de suas costas e colocou-se acima de sua cabeça: um escorpião de tamanho mediano que brilhava intensamente na cor roxa, assim como os peixes de Sued em Olpo.

Rosa e roxo se misturaram quando o leão avançou contra o escorpião. Dante separou as mãos por um breve instante e juntou-as novamente com mais impacto, ordenando ao seu escorpião que dobrasse de tamanho e fosse capaz de empurrar o leão para trás.

— Eu disse que se você pisasse aqui novamente, eu iria saber, Vulpecula. – uma voz feminina bradou da entrada da cidade.

Abrindo espaço entre as pessoas, uma mulher desfilou majestosamente, esbanjando toda a sua beleza em um conjunto de seda verde. Seus longos cabelos castanhos caíam em uma trança sobre seus ombros e os olhos café transbordavam imponência.

— Mai, pare com isso, está assustando as pessoas. – Dante rosnou.

— Claro, contanto que possamos continuar no Quimera. – ela parou a poucos metros de nós e colocou uma das mãos na cintura.

O exorcista soltou um suspiro trêmulo e desfez seu escorpião. Mai sorriu diabolicamente e um estalar de dedos fez seu leão desaparecer, permitindo que a população respirasse aliviada.

— Dante… – fitei-o de soslaio, esperando por explicações após ver uma briga de karmas.

— Era isso que eu queria te dizer. – ele franziu as sobrancelhas ao encarar a mulher. – Essa é minha ex-noiva.


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Notas finais do capítulo

Sentimentos aflorando, Sybelle quase sendo liberta, ex-noiva... E agora?

Até semana que vem com novas faces dos nossos rapazes!
Beijos.
—Creeper.



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