O sinal tocou ao meio dia e o mar de alunos se espalhou pelos corredores rumo ao refeitório. Indo contra a multidão, Hinata se espremia entre os colegas a fim de chegar até seu armário, era uma das poucas alunas que trazia o almoço de casa. Evitava a todo custo ficar em lugares lotados porque sempre tropeçava ou derrubava algo no chão tamanha era sua timidez. 

Os corredores foram se esvaziando aos poucos e ao alcançar seu armário colocou a combinação já tão conhecida destravando a porta, assim que abriu um pequeno papel caiu em seus pés chamando sua atenção. 

“Poderia esmiuçar inúmeras de suas qualidades em uma longa carta de amor. Poderia passar o dia ao seu lado escutando-a falar sobre seu dia e tenho certeza, ficaria empolgado com qualquer detalhe que decidisse compartilhar. Te observo desde o nosso primeiro ano e sinto que preciso me permitir revelar meus sentimentos antes de nossa formatura. 

                                               Com amor, seu admirador secreto.”

Hinata ficou rubra da cabeça aos pés e olhou ao redor esperando encontrar quem fizera aquela brincadeira de mal gosto. Tinha-se em tão baixa conta que não acreditava mesmo que existisse alguém capaz de um amor como aquele descrito. 

Não era popular e certamente não se comparava com Ino e Sakura em inteligência e beleza. E estava tudo bem, sentia que daquela forma nunca seria o centro das atenções e isso por si só já bastava. 

De qualquer forma se apressou a esconder o bilhete dentro do armário rapidamente e com o almoço em mãos caminhou atordoada até o pátio onde costumava se sentar sempre na mesma mesa sozinha. 

Ainda que não acreditasse na veracidade do bilhete, olhava por sobre o ombro com a sensação de que estava sendo observada, e isso era deveras incômodo. 

— Devo estar ficando louca mesmo. — Murmurou consigo mesma distraída mexendo a comida. 

As aulas da tarde eram eletivas e isso fazia com que o número de alunos que permanecia na escola reduzisse pela metade. A Hyuuga caminhava a passos rápidos até o estúdio de pintura onde passava boa parte da tarde de todos os dias. Via a arte como uma grande companheira onde podia contar seus preciosos segredos através dos pincéis e tintas e ninguém jamais seria capaz de desvendá-los. 

Não notou de imediato, mas em sua maleta de tintas outro bilhete tinha sido colocado, e quando o percebeu mordeu o próprio lábio ansiosa para ler o que havia ali. 

“Suas pinturas são sempre muito expressivas e sinto que há tanto em você escondido por trás da sua timidez. Qual seria sua reação ao descobrir que sou seu admirador? Me pergunto isso diariamente com mais esperanças do que gostaria de admitir. De qualquer forma acho que preciso descobrir isso pessoalmente. Se estiver disposta, é claro. 

Vou estar amanhã na mesa onde você costuma almoçar, espero finalmente poder dizer pessoalmente o quanto te admiro. 

                                               Com amor, seu admirador secreto.”

O primeiro pensamento foi o de que certamente iria faltar no dia seguinte. Todavia estava estampado no rosto da Hyuuga a curiosidade para saber quem estava por trás dos misteriosos bilhetes. A morena olhou ao redor da sala, o tal admirador tinha comentado sobre suas pinturas e o único modo de saber sobre elas era frequentar aquela sala. 

No entanto, nenhum rosto ali presente parecia sequer se importar com sua presença.  Certamente era uma brincadeira de mal gosto. 

O resto do dia passou num piscar de olhos e enquanto todos iam alegres para sua casa, Hinata mexia os dedos inquieta demais. Ao pisar na entrada de sua casa se deparou com um embrulho em papel pardo com os dizeres “Para Hinata” em caligrafia cursiva, a mesma caligrafia dos bilhetes. Rapidamente a morena pegou o embrulho e correu para dentro antes que alguém a visse e perguntasse a respeito. 

Ofegante ela fechou a porta atrás de si e colocou o pacote sobre a cama, antes de abri-lo pegou o bilhete preso com um adesivo. 

“Para deixar seu dia um pouco melhor, me conte amanhã o que achou do presente. 

                                              Com amor, seu admirador secreto.”

Rasgou o papel pardo sem cuidado algum, estava ansiosa com toda aquela história e aos poucos a ideia absurda de que alguém realmente a amava ia se assentando em sua mente. Afinal seria tão impossível assim? 

Dentro da caixa uma quantidade enorme de doces, seus preferidos, a fez sorrir imediatamente. Fosse verdade ou não os sentimentos descritos tinha que admitir que a pessoa a conhecia muito bem. 

(...)

Hinata olhava para o relógio a cada cinco minutos, ainda indecisa sobre ir conhecer ou não seu admirador. Se ao menos fosse Naruto Uzumaki seu sonho poderia então se tornar realidade. 

Olhou para o loiro no lado oposto da sala, estava concentrado no exercício de matemática e fazia uma careta fofa ao olhar para o caderno. Dificilmente seria ele, Hinata tinha certeza disso. 

Naruto era popular demais para cogitar olhar para ela, e era amigo de todos além de claro ser o capitão do time de vôlei. Segundo os comentários que corriam pela escola seria graças a ele que o time conseguiria chegar ao nacional esse ano. 

Assim que Kakashi sensei liberou os alunos, a Hyuuga se empertigou pela porta deixando até mesmo de pegar o almoço. Escondeu-se atrás de uma das árvores do pátio e fixou o olhar na pequena mesa já tão conhecida. 

Conforme o tempo passava chegou até mesmo a duvidar de que alguém apareceria, no entanto assim que ele se aproximou, Hinata sentiu seu coração parar por um breve segundo. 

Seria possível?

Observou Naruto sentar em seu lugar e percebeu o loiro olhar ao redor como se procurasse alguém. 

— Não pode ser. — A Hyuuga sussurrou consigo mesma. Relutante caminhou onde Naruto estava e ao se aproximar um imenso sorriso tomou os lábios do loiro a deixando corada de imediato. 

— Hinata, você veio! — Ele se levantou ficando próximo da garota, sentiu o coração pular no peito por finalmente estar cara a cara com a garota de seus sonhos. 

— Foi… foi você? — A voz quase não saiu, Hinata estava nervosa demais. 

— Os bilhetes? Foi sim. — O loiro levou a mão à nuca, ligeiramente corado. — Gostou do presente? 

— Como sabia? — Por um segundo a confusão tomou a expressão de Naruto, então ela se apressou a explicar. — Como sabia que aqueles eram os meus doces preferidos? 

— Ah isso! Você sorri abertamente sempre que come um daqueles, imaginei que iria sorrir ao abrir a caixa. 

— Obrigada, foi muito gentil. — Hinata mordeu o lábio sem saber o que dizer mais, ainda se sentia perdida. Como Naruto poderia ser seu admirador secreto?

— Achei que seria fácil falar pessoalmente, mas confesso que estou envergonhado. — Naruto falou desajeitado. — É intimidante ficar cara a cara com quem se ama. — Ele riu, provavelmente sem perceber que havia usado a palavra amor. 

— Você me ama? — A Hyuuga não conseguiu segurar a pergunta e quando percebeu já havia escapado. 

— Amo. Desde aquele dia que você me ajudou com o exercício de literatura no primeiro ano. — Ela se lembrava com clareza daquele dia, tinha aceitado ajudá-lo porque Kurenai havia insistido, jamais poderia imaginar que ele tinha olhado para ela daquela forma. 

— Eu…

— Você aceitaria sair comigo em um encontro? — A frase saiu rápida demais deixando Hinata atordoada. — Desculpe, acho que nunca fiquei nervoso como estou agora. Vou entender se disser que não quer sair comigo…

— Eu quero. — A voz soou baixinha mas foi o suficiente para que o loiro sorriu abertamente. Apesar da vergonha, Hinata estava tão feliz quanto ele. 

— Tudo bem então, eu te mando mensagem mais tarde Hina. — O loiro se inclinou rapidamente selando seus lábios nos de Hinata a pegando completamente de surpresa. 

Antes que pudesse processar o que havia acontecido ele partiu pelo corredor, parando apenas para acenar para ela. 

— Meu primeiro beijo. — Hinata tocou os lábios com as pontas dos dedos e sorriu.