Aconteceu diferente na primeira vez escrita por Jupiter vas Normandy


Capítulo 1
You look as good as the day you died


Notas iniciais do capítulo

Encontrei essa ideia pegando poeira em um canto esquecido da minha mente e decidi fazer ela existir em algum outro lugar kkkk
Narração em 2a pessoa direcionada ao Peter Quill.
Sugiro ler acompanhado da música The Night We Met (Lord Huron): https://www.youtube.com/watch?v=KtlgYxa6BMU



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Você ainda a ama, não é?

Não importa quanto tempo se passou. Às vezes você ainda se pega refletindo sobre a bênção que recebeu por ela ainda estar ali. Nem todos tiveram a mesma sorte, nem todos voltaram para casa com as famílias intactas e todos os seus entes queridos reunidos. Mas outras vezes, tudo isso parece apenas muito estranho. A convivência. Gamora ainda está ao seu lado, mas não é como antes. Por mais despretensiosos que sejam seus comentários, por mais cordiais que sejam os dela, todos sentem que a situação é diferente.

É por isso que prefere observá-la de longe. Quando não estão em missão alguma, e todos os outros se retiraram, quando a pouca iluminação na nave mal permite que a veja, e você quase acredita que ela é a sua Gamora. Quase acredita que pode estender a mão e segurar a dela como antes, tudo o que precisava era ir até ela. Quantas vezes não se imaginou indo até ela… E dizer o quê? “Você está tão linda quanto no dia em que morreu”?

E é assim que começa. Você inspira fundo e pensa: “Não faça isso, Peter, não se torture pensando assim…” Mas já é tarde para evitar a espiral conflituosa que se desenrola em sua mente.

Porque foi o que aconteceu. Gamora – a sua Gamora – morreu. E você não é nenhum gênio teórico da viagem no tempo, mas entende uma verdade básica: as pessoas não são nada mais que as experiências que tiveram. Ninguém entra duas vezes no mesmo rio, como disse aquele filósofo terráqueo. As águas, como o próprio ser, mudam constantemente. A Gamora que estava ao seu lado vinha do passado, de uma época em que ainda não lhe conhecia, e mesmo que fossem “a mesma pessoa”, os anos que faltam entre vocês são perceptíveis. Ela pensa diferente, age diferente, não tão diferente assim, mas o bastante para lhe fazer pensar. Não é ela quem está em seu coração, e nenhuma versão sua, do presente ou do passado, jamais esteve no dela.

No começo, você achou que as coisas seriam iguais. Que você teria de volta a pessoa que amava, como se nunca a tivesse perdido. Mas não podia fingir que nada daquilo aconteceu. Logo percebeu que o luto que sofreu não podia ser mascarado. Foi algo concreto, foi algo real. Você a perdeu. Você lamentou. E acima de tudo, você teve raiva de si mesmo por se sentir assim quando Gamora estava bem ali. Talvez não tivesse o direito de lamentar. Outros perderam pessoas queridas, e perderam para sempre. Você recuperou a sua, e continuou de luto por ela.

Nos seus melhores dias, você vai até ela. Sorri. Graceja como sempre fez antes. Apresenta uma música que sabe que ela vai gostar, pois já passou por isso antes. Quando ela aceita, você não pensa muito sobre o assunto, mas quando ela lhe surpreende com uma resposta inesperada, isso lhe lembra de todas as pequenas e grandes coisas que aconteceram diferente na primeira vez. Nos seus melhores dias, você sorri, brinca. Flerta com ela. Às vezes ela retribui, às vezes não. Não importa muito, em ambos os casos você se sente errado. Trapaceiro. Indigno.

Porque você não merece isso. Não merece essa segunda chance.

Ela sorri ouvindo a música, alheia aos sentimentos confusos que a visão do sorriso dela lhe provoca. Você sente culpa porque não conseguiu salvá-la. Porque está vivo e ela não. E principalmente porque se permitiu apaixonar-se novamente, por alguém que mesmo sendo igual a ela, ainda é uma pessoa diferente.

Quanto tempo vai levar até que perceba que tem o direito de seguir em frente?


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler ♥



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