Cursed escrita por Daroon


Capítulo 6
Capítulo V: No Seu Tempo




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Depois de retornarem para a residência do vampiro, Bakugou ficou no canto em sua forma de lobo, num claro sinal para que não o incomodasse. As palavras de Shinso pesavam em seu coração. Desde o momento em que ficou na floresta, sozinho, teve muito no que pensar, mas pensar na possibilidade de ir contra aquilo do que lhe fora ensinado era diferente.

Viver em harmonia com o seu lobo, seria aceitar o seu lado emotivo. E sua mãe sempre dizia que ser o melhor lobo era ter o seu lado racional falando mais alto, deixar suas emoções de lado e focar nos instintos. Seu lobo interior sempre fora mais afetivo, Katsuki sentia a preocupação dele a cada instante, sendo difícil controlá-lo no início.

E depois de tanto treinamento e concentração, superando aquilo tudo que a família Bakugou queria para o mundo sobrenatural, teria que abandonar suas práticas. Porque ela foi a causa de sua ruína. Olhando por um lado, aquilo sempre esteve nítido, afinal, foi apenas Katsuki que conseguiu fazer a família ser reconhecida, o restante, jamais conseguiu; porque esse método de manter seu lobo afastado de si seria o fim da linha em algum momento.

Pensar que foi uma Fada Negra que lhe fez chegar nesse fim era drástico. Imaginar-se tendo seguido um caminho diferente ao longo de sua vida era difícil. Não conseguia. Mas ver o vampiro o ajudando, de sua maneira, era tentador. Shinso era aquele tipo de indivíduo severo que ao mesmo tempo era atencioso. 

Por mais que estivesse em sua forma de lobo, para que o outro não viesse falar consigo, Katsuki conseguia sentir o seu olhar a cada instante; mas ainda o respeitando. Isso era bom. Era diferente de como estava na Instituição e, certamente, quando ensinado por sua mãe. A diferença entre o respeito era gritante de uma forma que o fazia se encolher ainda mais.

Era num momento como esse, que Bakugou queria chegar no vampiro e questionar. 

Queria saber porque ele ainda não o expulsou, porque ele claramente não ligava para o que o Conselho queria, então porque mantê-lo ali? Queria, de certa forma, saber porque o seu lobo agia daquela maneira perto dele; mas talvez o vampiro não soubesse responder isso. Tinha medo de descobrir. Medo de falar com seu lobo interno.

E o pior disso era saber que sempre engolira esses medos. Mas agora, nessas condições, era difícil não pensar neles. Tão inerte em seus sórdidos pensamentos, Katsuki ficou tenso ao sentir algo macio ser jogado em cima de si, delicadamente. Uma manta. Olhou para o vampiro, que permanecia encarando-o.

— Mesmo em sua forma de lobo, a noite é fria. 

Bakugou moveu levemente a cabeça em forma de agradecimento, não entendendo o motivo daquela atitude. Era estranho. Em um momento, ele o desafia; em outro, age grosseiramente; e agora, atencioso. Instável. Como qualquer um. 

— Não me olhe dessa forma como se eu fosse estranho. — O timbre rouco e severo chamou a sua atenção. Era singular como o vampiro o entendia sem precisar falar algo. Era como se ele lesse a sua alma. 

Ele sabia que alguns vampiros possuíam algum poder, mas eles eram raros, no entanto, Shinso era um vampiro que existia desde antes do início da criação do Conselho, Katsuki não ficaria surpreso de ele ter. E pensar nisso não o deixava com medo. Seu lobo insistia em dizer que estava tudo bem.

E o começo estava ali: aceitando pela primeira vez o que o lobo dizia. Confiando em seu outro lado.

Shinso ainda não tinha saído, apenas acendeu o fogo na lareira, próximo de si, e sentou-se ao seu lado, sem pronunciar nada. O silêncio de alguma forma tornou-se agradável, reconfortante. Era diferente, por isso deitou a cabeça sobre suas patas e deixou seu olhar vagar nas chamas. E mesmo quando escutou um suspiro escapar do outro, não ousou em levantar a cabeça.

— Eu sei que fui grosso com você na biblioteca; mas essas coisas me estressam e não foi certo eu descontar. Mas para alguém que viveu muito, perceber que não importa quantos anos tenha se passado, ninguém evoluiu. Os mesmos erros vivem sempre se repetindo: a ganância, a falta de empatia… Se não fosse pelo Conselho, entraríamos em guerra diversas vezes, você sente isso, no fundo se parar para prestar a atenção. Eu sei que você é o tipo de estudante prodígio que o Conselho gosta. Margaret era uma dessas alunas, e eu sempre senti a ganância borbulhar de dentro dela; mas, mesmo eu sendo um dos antigos, não tenho poder. Estou mais para um Conselheiro que ninguém ouve. E os membros atuais são todos ignorantes que não olham o mundo de uma maneira geral, eles diminuem sua linha de visão. Essas coisas me irritam, mas ainda não é uma desculpa para eu descontar em você, afinal, você não tem culpa de ser assim. — E Bakugou finalmente o olhou. — A culpa é da sociedade com a sua sede de poder.

Katsuki queria tanto perguntar se o poder não era bom. E Shinso o entendeu.

— Poder é bom, e todos têm. Mas ele não deve ser moldado por outrens. Todos devem atingir o seu potencial no seu tempo, e se o indivíduo quiser ultrapassar os seus limites, foi por sua própria escolha e não pelas influências e exigência alheias. Há muito tempo isso foi tirado dos sobrenaturais: O direito de fazer as coisas no seu tempo. E eu não posso exigir uma mudança sua bruscamente, é errado, estou sendo como os outros. Leve no seu tempo, às vezes, pode ser rápido ou devagar; mas você não precisa ir no tempo dos demais e sim no seu. 

E com isso, Shinso acariciou sutilmente os fios louros e se levantou indo em direção ao quarto, deixando Katsuki em seu canto, borbulhando mais uma vez em seus pensamentos, mas, dessa vez, refletindo nas palavras do vampiro.


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